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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Wasting life?








Question: Is our life predetermined, or is the way of life to be freely chosen?




- So long as we have choice, surely there is no freedom. 


Please follow this; do not merely reject or accept it, but let us think it out together. 


The mind that is capable of choosing is not free because in choice there is always conflict, conscious or unconscious, and a mind that is in conflict is never free. 

Our life is full of conflict; we are always choosing between good and bad, between this and that; you know this very well. 


We are always comparing, judging, evaluating, accepting, rejecting, that is the process of our life, which is a constant struggle, and a mind that is struggling is never free.






Jiddu Krishnamurti
“Hamburg 1956,Talk 4”



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Wasting life?

Wasting life?




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Are we wasting our lives? 

By that word `wasting´ we mean dissipating our energy in various ways, dissipating it in specialized professions. 


Are we wasting our whole existence, our life? 


If you are rich, you may say: `Yes, I have accumulated a lot of money, it has been a great pleasure´. Or if you have a certain talent, that talent is a danger to a religious life. 

Talent is a gift, a faculty, an aptitude in a particular direction, which is specialization. Specialization is a fragmentary process. 


So you must ask yourself whether you are wasting your life. You may be rich, you may have all kinds of faculties, you may be a specialist, a great scientist or a businessman, but at the end of your life has all that been a waste? 


All the travail, all the sorrow, all the tremendous anxiety, insecurity, the foolish illusions that man has collected, all his gods, all his saints and so on, have all that been a waste? 


You may have power, position, but at the end of it, what? 



Please, this is a serious question that you must ask yourself. 
Another cannot answer this question for you.




Jiddu Krishnamurti
"That benediction is where you are"







  


"1.


Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido, sem saber porquê. 


E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus.


Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. 


Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade.


Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal.


Este culto da Humanidade, com os seus rituais de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.


Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência.


A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida.



O coração, se pudesse pensar, pararia.



A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? 


Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida.


E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.


Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito a leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; 

e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.


Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. 


E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.


Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. 


E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.


Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. 


Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. 


Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.



Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada.



Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. 


Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim.


Sento-me à porta e embebo os meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, vagos cantos que componho enquanto espero.



Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro.



Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.
































2.



Tenho que escolher o que detesto, ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.


Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, mistura uma coisa com outra."




Fernando Pessoa 
"Livro do desassossego"









t.





























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