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quinta-feira, 26 de maio de 2016

The role of ego...





One may understand the cosmos, 
but never the ego; 
the self is more distant 
than any star.




Gilbert Chesterton





Most of us are satisfied with authority because it gives us a continuity, a certainty, a sense of being protected. 



But a man who would understand the implications of this deep psychological revolution must be free of authority, must he not? 



He cannot look to any authority, whether of his own creation or imposed upon him by another. And is this possible? 


Is it possible for me not to rely on the authority of my own experience? 


Even when I have rejected all the outward expressions of authority, books, teachers, priests, churches, beliefs, I still have the feeling that at least I can rely on my own judgment, on my own experiences, on my own analysis. 


But can I rely on my experience, on my judgment, on my analysis? 


My experience is the result of my conditioning, just as yours is the result of your conditioning, 
is it not? 












I may have been brought up as a Muslim or a Buddhist or a Hindu, and my experience will depend on my cultural, economic, social, and religious background, just as yours will. And can I rely on that? 


Can I rely for guidance, for hope, for the vision which will give me faith in my own judgment, which again is the result of accumulated memories, experiences, the conditioning of the past meeting the present? 


Now, when I have put all these questions to myself and I am aware of this problem, I see there can only be one state in which reality, newness, can come into being, which brings about a revolution. 


That state is when the mind is completely empty of the past, when there is no analyzer, no experience, no judgment, no authority of any kind.





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The role of ego...
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"Acho que muito importa a atitude com que comparecemos a estas reuniões, porque para mim elas são muito sérias. 

Não viestes aqui para encontrar-vos com os vossos amigos, o que podeis deixar para mais tarde, ou para passar uma hora entretida, num mero debate verbal, opondo uma ideia ou opinião a outra. 


Tentamos examinar o muito complexo problema do viver, e para isso requer-se muita seriedade de propósitos.


Em vista disso, não tem evidentemente nenhum cabimento o tirarem-se fotografias ou a solicitação de autógrafos, pois isso é uma das muitas coisas fúteis que fazemos quando não temos propósitos verdadeiramente sérios; 

e desejo pedir-vos não considereis esta nossa reunião como um curioso ajuntamento de pessoas excêntricas, mas como um concurso de pessoas muito seriamente interessadas em descobrir o pleno significado do viver.

Tal é pelo menos o meu ponto de vista, e a coisa me interessa muito seriamente. 


Há tanto caos, tanta miséria e confusão neste mundo;


e por menos numerosa que seja esta assembleia, se pudermos examinar este problema muito atentamente, não só durante cerca de uma hora, numa tarde de sábado ou manhã de domingo, mas continuamente, em todo o correr da semana, talvez então alcancemos um ponto em que nós mesmos seremos os missionários, e não simples ouvintes; em que começaremos a falar sobre estas coisas, das profundezas da nossa própria compreensão e experiência.

Assim, a minha intenção, quando vos falo aqui, não é a de pôr-me em destaque ou de `preencher-me´, o que evidentemente seria muito infantil, 


mas sim, de ver se não podemos, juntos, despertar aquela inteligência, aquela perspectiva integral da vida, que habilitará cada um de nós a ser a chama que produz a revolução fundamental e radical no nosso próprio pensar, e portanto, quiçá, no mundo que nos rodeia.



Se prevalecer aqui um espírito de serenidade, um senso de dignidade, um respeito mútuo, que exige atenção igual por parte de todos, talvez possamos examinar profundamente estes problemas, não nos satisfazendo com descrições, com o mero arranhar da superfície.

Desejo, se possível, discorrer nesta manhã sobre o problema da experiência, investigar o que é experimentar, e se não efectuarmos uma revolução fundamental no centro, que possibilidade existe de experimentarmos, sem darmos continuidade à experiência do passado. 


Pois bem. Que centro é esse ?

















Sem dúvida, é o `eu´, o `ego´, a mente, a mente que é tão sensível, de sobremodo hábil e capaz de compreender uma tão grande variedade de experiências, de armazenar inúmeras lembranças, que pode inventar, que sabe planear um avião capaz de voar a catorze mil pés de altura, a uma velocidade de seiscentas milhas horárias.


Este centro, máquina complexa, de potencialidades ilimitadas, está circunscrito pela ideia do `eu´: o meu prazer, a minha segurança, as minhas vaidades, as minhas posses, o meu progresso, o meu preenchimento. 

É um centro de afeição, de ódio, de prazeres efémeros, de inveja, avidez e sofrimento.












E posso realizar uma revolução nesse centro, de modo que o `eu´ se torne inexistente? Porque o `eu´ é a fonte de todo o sofrimento, não é verdade?

Ainda que o `eu´ tenha satisfações passageiras, alegrias e afeições superficiais, está constantemente a multiplicar problemas e produzir sofrimento. 


Por mais alto ou em qualquer nível que coloque o `ego´, estará sempre compreendido no campo do pensamento; e o pensamento, para a maioria de nós, é dor, é sofrimento, é uma batalha constante entre o que sou realmente e o que deveria ser.


E, no entanto, esta máquina, esta mente, sempre a pensar em si mesma e na sua segurança, é também capaz de expansão infinita.

Não sei se já pensastes alguma vez na extraordinária significação, nas notáveis nuances e subtis profundezas que têm para a mente palavras como `amor´ e `morte´. 

E, entretanto, esta mente com todas as suas subtilezas e a sua ligeireza de movimentos está agrilhoada pela ideia do `eu´: o `eu´ que não é amado e deve ser amado, o `eu´ que deve amar, o `eu´ que terá de morrer. 


E é possível que esse `eu´, esse `ego´, deixe de existir completamente?


Tal é, fundamentalmente, o nosso problema, não achais? 


Todas as religiões, não as igrejas organizadas, mas todos os verdadeiros instrutores, todas as civilizações e culturas sempre lutaram para eliminar o `eu´, o senso do esforço separado.



Vários governos têm feito esforços extraordinários para destruir o `eu´, pela tirania da esquerda ou da direita, pela dominação totalitária sobre o pensamento do `eu´, com o propósito de criar uma civilização de trabalho cooperativo.
















Todavia, esse `eu´ está constantemente a afirmar-se, a traduzir toda a experiência, toda a reacção, todo o movimento do pensar em conformidade com o seu próprio centro. 


O `eu´, o `ego´ é a fonte de conflito e dor, de luta perene por vir-a-ser, realizar, alcançar, e enquanto não percebermos esse facto, a nossa mente, por mais hábil e subtil e ilustrada que seja, só criará mais problemas e produzirá mais sofrimentos.


Assim, pois, aqueles de nós que tiverem intenções realmente sérias devem evidentemente orientar a sua indagação, no sentido de descobrir se esse `eu´ pode chegar a um fim.


Ora, o que é esse `eu´? Um processo de reconhecimento, não é? Um centro de experiência, de temor, de alegria, de passageiro preenchimento, de memória.











Se não existe `eu´, não há experiência com que a mente possa identificar-se, chamando-a minha experiência.

Não vos estou a dizer nada de novo. Pelo contrário, apenas descrevo o que realmente se passa em cada um de nós. 


O que expresso verbalmente tem de ser, por força, muito limitado; mas se, enquanto escutais, observais esse processo em vós mesmos, começareis a perceber as complexidades, as extraordinárias subtilezas do vosso próprio pensar; tornar-vos-eis conscientes do vosso próprio centro, desse arrogante ou negativo estado da mente, que se chama `eu´ e que está sempre ávido de algum ganho, quer a aceitar, quer a rejeitar.



O `eu´, pois, é um centro de reconhecimento e experiência; e visto como cada experiência é traduzida pela mente de acordo com esse centro, está sempre a limitar-se a si mesma.













 Enquanto existir o `eu´, a mente não poderá passar além, por mais hábil e por mais fantasticamente subtil que seja.

Enquanto toda a experiência for traduzida em termos referentes ao `eu´, em termos de gosto e desgosto, como pode a mente passar além? 


Uma mente toda empenhada em buscar o prazer e evitar o sofrimento, que está sempre a limitar-se a si mesma com os seus esforços, as suas exigências e temores, como pode essa mente experimentar ou compreender aquilo que existe além dela própria?


E, entretanto, se temos inclinações sérias, é essa a coisa que estamos a procurar, não é verdade? 


Naturalmente, se estamos satisfeitos dentro da rotina dos prazeres e dores de cada dia, não existe então problema algum; continuaremos o nosso caminho, substituindo uma dor por outra, um prazer por outro, uma crença ou dogma por outro. 


























Porém, se desejamos ir mais longe, se queremos investigar, descobrir, então, por certo, o `eu´, que está perenemente a limitar a mente, tem de se acabar.

Mas, como pode terminar esse `eu´, esse `ego´, esse mover-se do pensamento que se concentra e se fecha em torno do `eu´? Esse centro se alimenta pela experiência, não é verdade? E o que é experiência consciente ou inconsciente? Esta questão é importantíssima; pensemos nela juntos.


Experiência é continuação da memória, não é?


Se me encontro com uma pessoa completamente estranha, não há reconhecimento. Todavia, se já conheço a pessoa, funciona imediatamente o processo de reconhecimento: experimento prazer ou desprazer, lisonja ou insulto. 

A mente, por conseguinte, traduz sempre a experiência de acordo com o conhecido.


Consequentemente, o desconhecido, aquilo que não se pode investigar, torna-se temível, uma coisa de fazer medo: o amanhã, a morte, o futuro.




Sentindo medo, a mente constrói teorias, esperanças, ideais, e tudo isso vai dar mais força ao `eu´. 
Tal é o processo que conhecemos.


Mas, se pudermos descobrir a maneira de não nutrir o `eu´, em nível algum, nem alto nem baixo, então talvez possamos, negativamente, pôr fim ao `eu´. Isso não se pode fazer positivamente, apenas de maneira negativa, pela verificação de como o `eu´ se alimenta e subsiste.


Sem dúvida, o `eu´, a mente, só é capaz de pensar em função da experiência passada, em função do conhecido. 

As nossas religiões, a nossa cultura, a nossa visão das coisas, os nossos ideais, estão todos em relação com o conhecido, e a mente, o `eu´, apega-se a essas coisas, e se fortalece com a posse do conhecido.















Assim, uma vez consciente de todo esse processo, pode a mente libertar-se do conhecido e pôr-se num estado em que possa existir o desconhecido? 


Por certo, a única revolução verdadeira realiza-se quando não existe mais o medo ao desconhecido. E essa revolução só é possível quando a mente percebe a futilidade do conhecido.



Consciente ou inconscientemente, porém, andamos sempre em busca do conhecido; é o nosso desejo do conhecido que cria deuses, o céu, o ideal do futuro, o Estado perfeito. 

`Projectamos´ o que deveria ser e obrigamos o homem a ajustar-se ao conhecido, e essa é a nossa Utopia.


O homem jamais pode aperfeiçoar-se, porque a sua perfeição é sempre `o conhecido´. É muito importante pensar nisso profundamente, de princípio ao fim. 


Vivemos a lutar para nos tornarmos cada vez mais perfeitos, tanto tecnológica como psicologicamente. 
O esforço para a conquista da perfeição tecnológica é compreensível.



Mas o desejo de nos tornarmos mais perfeitos interiormente, psicologicamente, é sempre um esforço de ajustamento ao conhecido, a algo já experimentado, o que significa que a mente só pode aperfeiçoar-se em conformidade com o passado, ou de acordo com a reacção do passado.










Assim como a sociedade comunista é uma reacção ao Estado capitalista, ao qual está sempre oposta, assim também o esforço da mente para se aperfeiçoar é uma reacção ao seu próprio condicionamento; e a reacção nunca é perfeita, sendo como é, apenas um prolongamento do conhecido.


O `eu´ é uma entidade total. Ainda que falemos de `consciente´ e `inconsciente´, só existe de facto um estado: a consciência. 


Conhecemos a parte que chamamos `consciente´; a outra parte, porém, é muito difícil de conhecer-se; entretanto, a mente é um processo total que inclui tanto a consciência interior como a consciência periférica, o oculto bem como o manifesto.


Ora, pode uma pessoa tomar conhecimento dessa consciência total que é o `eu´ com os seus desejos, as suas ânsias, os seus temores, os seus impulsos, a sua luta constante para aperfeiçoar-se, a sua ânsia de preenchimento, pode uma pessoa tornar-se completamente conhecedora desse processo, sem fortalecer a actividade do `eu´?



E pode todo esse processo do `eu´ terminar? 












Por certo, não pode extinguir-se por um acto de volição, nem por meio de nenhum artifício, nem pela repetição de frases, de recitações monótonas, que é auto-hipnotização por meio de palavras, nem pela absorção nalguma fantasia idiota, tal seja a de nação, ou a fantasia de Deus.


Se começardes a examinar esta questão, vereis que esse exame é realmente muito importante, porquanto a solução dos problemas humanos não está em nenhum dos níveis conscientes. 


A nossa consciência está actualmente limitada pelo `eu´ e toda a solução proveniente do `eu´ produzirá apenas maiores malefícios e mais sofrimentos.


Sabendo-se isso, e estando-se consciente do processo total do `eu´, é possível a sua extinção?


Compreendeis como temos tentado pôr fim ao `eu´, ao `ego´? 



Temo-lo tentado pela disciplina, por métodos de controle, de defesa, de resistência; tentamo-lo pela compulsão, pelo ajustamento a dogma e crença.















Temo-lo tentado por meio de várias formas de sacrifício, pela abnegação em favor do que consideramos mais importante: a nossa esposa e filhos, o Estado, o mundo. 

Temos tentado o auto-esquecimento, na guerra, nas obras sociais, na filantropia e por fim na ideia de Deus. 

Recorremos a todos esses artifícios, pois são de facto artifícios, e só temos produzido mais miséria, mais tirania e mais caos neste mundo.

Não precisamos ler muito para compreendermos tudo isso. Sois o resultado do passado, de toda a luta humana, de todas as realizações, alegrias e sofrimentos humanos. 


Toda a história da humanidade está contida em vós e se sabeis lê-la não precisais mais ler livro nenhum.



Para se descobrir isso, não é necessária nenhuma filosofia ou sistema. 

Assim, pois, a pergunta que me faço e que espero façais também a vós mesmos, é a seguinte: 

Pode essa coisa chamada `eu´, que, como um fio, permeia todas as nossas acções, todos os nossos pensamentos, todos os nossos movimentos afectivos, pode essa coisa terminar?


Fazei, por favor, esta pergunta a vós mesmos, em vez de procurardes uma solução, pois qualquer solução que encontrardes há-de ser uma solução positiva, e portanto, uma invenção da mente, que se tornará mais um meio de perpetuar o `eu´. 

Todavia, se vos fizerdes a pergunta, estando inteiramente conscientes de todo esse processo, encontrareis, não uma resposta verbal, mas aquela resposta espontânea que é uma revolução e que só pode apresentar-se quando fazeis a pergunta sem nenhuma volição; e esse é o verdadeiro `escutar´.


Se vos tornardes indiscriminadamente conscientes do `eu´, em todas as suas actividades; conscientes de todo o processo do vosso pensar, tanto o cognitivo como o oculto; se o perceberdes sem julgamento nem condenação, produzireis infalivelmente aquela revolução no centro. 

A mente se tornará então subtil num grau extraordinário, espantosamente activa e vigilante.



Por ora, as nossas mentes estão tolhidas pelos nossos temores, nossas frustrações, nosso desejo de bom êxito; 

mas se, sem julgamento, sem condenação e sem escolha, começarmos a perceber todo esse processo da consciência, que se desenrola continuamente, quer em despertos, quer a dormir, verificaremos que, apesar dos nossos conflitos, as nossas guerras e brutalidades, uma revolução opera no centro; 

e tal como uma onda que rola para longe e mais longe, a acção procedente do centro tem o poder de resolver-nos todas as dificuldades. 



Entretanto, se forem atendidos simplesmente do exterior, os nossos problemas nunca serão resolvidos.



É do centro que surgem todos os problemas humanos; e se houver um findar, uma cessação completa no centro, isso por si mesmo produzirá uma revolução total.


Mas uma mente que, deliberadamente, procura produzir uma revolução, desprezando o centro, só haverá de criar mais sofrimento. 


Porque então se cria um ideal; e o idealista nunca é revolucionário: ajusta-se simplesmente a um padrão da sua própria invenção.















Tende, pois, a bondade de prestar atenção a tudo isso, de absorvê-lo em silêncio, e vereis que a acção criadora é uma coisa que nasce quando a mente está tranquila, quando o `eu´ está totalmente ausente.

A actividade criadora que conhecemos ocasionalmente, resultante de agitação, não é a mesma coisa que a acção criadora livre do centro. 


A acção criadora livre do centro não é temporal, porque não é invenção da mente; e sem essa acção criadora, tem a vida muito pouca significação, ainda que tenhamos toda a prosperidade e todas as comodidades deste mundo. 

Depressa nos cansamos do que temos, e queremos mais comodidades, novas invenções.



Mas a criação a que me refiro não é para dar-nos satisfação, é algo totalmente desconhecido, que não pode ser concebido nem conjecturado.



E virá apenas quando a mente, perfeitamente consciente do processo total do `eu´, compreende a significação deste, e por conseguinte, não mais o nutre de experiência."




Jiddu Krishnamurti
"Percepção criadora"

















































t.































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