“One may understand
the cosmos,
but never the ego;
the self is more distant
than any star.”
Gilbert Chesterton
“Most of us are satisfied with authority because it gives us a
continuity, a certainty, a sense of being protected.
But a man who would
understand the implications of this deep psychological revolution must be free
of authority, must he not?
He cannot look to any authority, whether of his own
creation or imposed upon him by another. And is this possible?
Is it possible
for me not to rely on the authority of my own experience?
Even when I have
rejected all the outward expressions of authority, books, teachers, priests,
churches, beliefs, I still have the feeling that at least I can rely on my own
judgment, on my own experiences, on my own analysis.
But can I rely on my
experience, on my judgment, on my analysis?
My experience is the result of my
conditioning, just as yours is the result of your conditioning,
is it not?
I
may have been brought up as a Muslim or a Buddhist or a Hindu, and my
experience will depend on my cultural, economic, social, and religious
background, just as yours will. And can I rely on that?
Can I rely for
guidance, for hope, for the vision which will give me faith in my own judgment,
which again is the result of accumulated memories, experiences, the conditioning
of the past meeting the present?
Now, when I have put all these questions to
myself and I am aware of this problem, I see there can only be one state in
which reality, newness, can come into being, which brings about a revolution.
That state is when the mind is completely empty of the past, when there is no
analyzer, no experience, no judgment, no authority of any kind.”
_____________________
The role of ego...
_____________________
"Acho que muito importa a
atitude com que comparecemos a estas reuniões, porque para mim elas são muito
sérias.
Não viestes aqui para encontrar-vos com os vossos amigos, o que podeis
deixar para mais tarde, ou para passar uma hora entretida, num mero debate
verbal, opondo uma ideia ou opinião a outra.
Tentamos examinar o muito complexo
problema do viver, e para isso requer-se muita seriedade de propósitos.
Em vista disso, não tem
evidentemente nenhum cabimento o tirarem-se fotografias ou a solicitação de
autógrafos, pois isso é uma das muitas coisas fúteis que fazemos quando não
temos propósitos verdadeiramente sérios;
e desejo pedir-vos não considereis
esta nossa reunião como um curioso ajuntamento de pessoas excêntricas, mas como
um concurso de pessoas muito seriamente interessadas em descobrir o pleno
significado do viver.
Tal é pelo menos o meu ponto de
vista, e a coisa me interessa muito seriamente.
Há tanto caos, tanta miséria e
confusão neste mundo;
e por menos numerosa que seja esta assembleia, se
pudermos examinar este problema muito atentamente, não só durante cerca de uma
hora, numa tarde de sábado ou manhã de domingo, mas continuamente, em todo o
correr da semana, talvez então alcancemos um ponto em que nós mesmos seremos os
missionários, e não simples ouvintes; em que começaremos a falar sobre estas
coisas, das profundezas da nossa própria compreensão e experiência.
Assim, a minha intenção, quando
vos falo aqui, não é a de pôr-me em destaque ou de `preencher-me´, o que
evidentemente seria muito infantil,
mas sim, de ver se não podemos, juntos,
despertar aquela inteligência, aquela perspectiva integral da vida, que
habilitará cada um de nós a ser a chama que produz a revolução fundamental e
radical no nosso próprio pensar, e portanto, quiçá, no mundo que nos rodeia.
Se prevalecer aqui um espírito
de serenidade, um senso de dignidade, um respeito mútuo, que exige atenção
igual por parte de todos, talvez possamos examinar profundamente estes
problemas, não nos satisfazendo com descrições, com o mero arranhar da
superfície.
Desejo, se possível, discorrer
nesta manhã sobre o problema da experiência, investigar o que é experimentar, e
se não efectuarmos uma revolução fundamental no centro, que possibilidade
existe de experimentarmos, sem darmos continuidade à experiência do passado.
Pois bem. Que centro é esse ?
Sem dúvida, é o `eu´, o `ego´,
a mente, a mente que é tão sensível, de sobremodo hábil e capaz de compreender
uma tão grande variedade de experiências, de armazenar inúmeras lembranças, que
pode inventar, que sabe planear um avião capaz de voar a catorze mil pés de
altura, a uma velocidade de seiscentas milhas horárias.
Este centro, máquina complexa,
de potencialidades ilimitadas, está circunscrito pela ideia do `eu´: o meu
prazer, a minha segurança, as minhas vaidades, as minhas posses, o meu
progresso, o meu preenchimento.
É um centro de afeição, de ódio, de prazeres
efémeros, de inveja, avidez e sofrimento.
E posso realizar uma revolução
nesse centro, de modo que o `eu´ se torne inexistente? Porque o `eu´ é a fonte
de todo o sofrimento, não é verdade?
Ainda que o `eu´ tenha
satisfações passageiras, alegrias e afeições superficiais, está constantemente
a multiplicar problemas e produzir sofrimento.
Por mais alto ou em qualquer nível
que coloque o `ego´, estará sempre compreendido no campo do pensamento; e o
pensamento, para a maioria de nós, é dor, é sofrimento, é uma batalha constante
entre o que sou realmente e o que deveria ser.
E, no entanto, esta máquina,
esta mente, sempre a pensar em si mesma e na sua segurança, é também capaz de
expansão infinita.
Não sei se já pensastes alguma
vez na extraordinária significação, nas notáveis nuances e subtis profundezas
que têm para a mente palavras como `amor´ e `morte´.
E, entretanto, esta mente
com todas as suas subtilezas e a sua ligeireza de movimentos está agrilhoada
pela ideia do `eu´: o `eu´ que não é amado e deve ser amado, o `eu´ que deve
amar, o `eu´ que terá de morrer.
E é possível que esse `eu´, esse `ego´, deixe
de existir completamente?
Tal é, fundamentalmente, o
nosso problema, não achais?
Todas as religiões, não as igrejas organizadas, mas
todos os verdadeiros instrutores, todas as civilizações e culturas sempre
lutaram para eliminar o `eu´, o senso do esforço separado.
Vários governos têm feito
esforços extraordinários para destruir o `eu´, pela tirania da esquerda ou da
direita, pela dominação totalitária sobre o pensamento do `eu´, com o propósito
de criar uma civilização de trabalho cooperativo.
Todavia, esse `eu´ está
constantemente a afirmar-se, a traduzir toda a experiência, toda a reacção,
todo o movimento do pensar em conformidade com o seu próprio centro.
O `eu´, o
`ego´ é a fonte de conflito e dor, de luta perene por vir-a-ser, realizar,
alcançar, e enquanto não percebermos esse facto, a nossa mente, por mais hábil
e subtil e ilustrada que seja, só criará mais problemas e produzirá mais
sofrimentos.
Assim, pois, aqueles de nós que
tiverem intenções realmente sérias devem evidentemente orientar a sua
indagação, no sentido de descobrir se esse `eu´ pode chegar a um fim.
Ora, o que é esse `eu´? Um
processo de reconhecimento, não é? Um centro de experiência, de temor, de
alegria, de passageiro preenchimento, de memória.
Se não existe `eu´, não há
experiência com que a mente possa identificar-se, chamando-a minha experiência.
Não vos estou a dizer nada de
novo. Pelo contrário, apenas descrevo o que realmente se passa em cada um de
nós.
O que expresso verbalmente tem de ser, por força, muito limitado; mas se,
enquanto escutais, observais esse processo em vós mesmos, começareis a perceber
as complexidades, as extraordinárias subtilezas do vosso próprio pensar;
tornar-vos-eis conscientes do vosso próprio centro, desse arrogante ou negativo
estado da mente, que se chama `eu´ e que está sempre ávido de algum ganho, quer
a aceitar, quer a rejeitar.
O `eu´, pois, é um centro de
reconhecimento e experiência; e visto como cada experiência é traduzida pela
mente de acordo com esse centro, está sempre a limitar-se a si mesma.
Enquanto
existir o `eu´, a mente não poderá passar além, por mais hábil e por mais
fantasticamente subtil que seja.
Enquanto toda a experiência for
traduzida em termos referentes ao `eu´, em termos de gosto e desgosto, como
pode a mente passar além?
Uma mente toda empenhada em buscar o prazer e evitar
o sofrimento, que está sempre a limitar-se a si mesma com os seus esforços, as
suas exigências e temores, como pode essa mente experimentar ou compreender
aquilo que existe além dela própria?
E, entretanto, se temos
inclinações sérias, é essa a coisa que estamos a procurar, não é verdade?
Naturalmente, se estamos satisfeitos dentro da rotina dos prazeres e dores de
cada dia, não existe então problema algum; continuaremos o nosso caminho,
substituindo uma dor por outra, um prazer por outro, uma crença ou dogma por
outro.
Porém, se desejamos ir mais longe, se queremos investigar, descobrir,
então, por certo, o `eu´, que está perenemente a limitar a mente, tem de se
acabar.
Mas, como pode terminar esse
`eu´, esse `ego´, esse mover-se do pensamento que se concentra e se fecha em
torno do `eu´? Esse centro se alimenta pela experiência, não é verdade? E o que
é experiência consciente ou inconsciente? Esta questão é importantíssima;
pensemos nela juntos.
Experiência é continuação da
memória, não é?
Se me encontro com uma pessoa completamente estranha, não há
reconhecimento. Todavia, se já conheço a pessoa, funciona imediatamente o processo
de reconhecimento: experimento prazer ou desprazer, lisonja ou insulto.
A
mente, por conseguinte, traduz sempre a experiência de acordo com o conhecido.
Consequentemente, o
desconhecido, aquilo que não se pode investigar, torna-se temível, uma coisa de
fazer medo: o amanhã, a morte, o futuro.
Sentindo medo, a mente constrói
teorias, esperanças, ideais, e tudo isso vai dar mais força ao `eu´.
Tal é o
processo que conhecemos.
Mas, se pudermos descobrir a
maneira de não nutrir o `eu´, em nível algum, nem alto nem baixo, então talvez
possamos, negativamente, pôr fim ao `eu´. Isso não se pode fazer positivamente,
apenas de maneira negativa, pela verificação de como o `eu´ se alimenta e
subsiste.
Sem dúvida, o `eu´, a mente, só
é capaz de pensar em função da experiência passada, em função do conhecido.
As
nossas religiões, a nossa cultura, a nossa visão das coisas, os nossos ideais,
estão todos em relação com o conhecido, e a mente, o `eu´, apega-se a essas
coisas, e se fortalece com a posse do conhecido.
Assim, uma vez consciente de
todo esse processo, pode a mente libertar-se do conhecido e pôr-se num estado
em que possa existir o desconhecido?
Por certo, a única revolução verdadeira
realiza-se quando não existe mais o medo ao desconhecido. E essa revolução só é
possível quando a mente percebe a futilidade do conhecido.
Consciente ou
inconscientemente, porém, andamos sempre em busca do conhecido; é o nosso
desejo do conhecido que cria deuses, o céu, o ideal do futuro, o Estado
perfeito.
`Projectamos´ o que deveria ser e obrigamos o homem a ajustar-se ao
conhecido, e essa é a nossa Utopia.
O homem jamais pode
aperfeiçoar-se, porque a sua perfeição é sempre `o conhecido´. É muito
importante pensar nisso profundamente, de princípio ao fim.
Vivemos a lutar para
nos tornarmos cada vez mais perfeitos, tanto tecnológica como psicologicamente.
O esforço para a conquista da perfeição tecnológica é compreensível.
Mas o desejo de nos tornarmos
mais perfeitos interiormente, psicologicamente, é sempre um esforço de
ajustamento ao conhecido, a algo já experimentado, o que significa que a mente
só pode aperfeiçoar-se em conformidade com o passado, ou de acordo com a
reacção do passado.
Assim como a sociedade comunista é uma reacção ao Estado
capitalista, ao qual está sempre oposta, assim também o esforço da mente para
se aperfeiçoar é uma reacção ao seu próprio condicionamento; e a reacção nunca
é perfeita, sendo como é, apenas um prolongamento do conhecido.
O `eu´ é uma entidade total.
Ainda que falemos de `consciente´ e `inconsciente´, só existe de facto um
estado: a consciência.
Conhecemos a parte que chamamos `consciente´; a outra
parte, porém, é muito difícil de conhecer-se; entretanto, a mente é um processo
total que inclui tanto a consciência interior como a consciência periférica, o
oculto bem como o manifesto.
Ora, pode uma pessoa tomar
conhecimento dessa consciência total que é o `eu´ com os seus desejos, as suas
ânsias, os seus temores, os seus impulsos, a sua luta constante para
aperfeiçoar-se, a sua ânsia de preenchimento, pode uma pessoa tornar-se
completamente conhecedora desse processo, sem fortalecer a actividade do `eu´?
E pode todo esse processo do
`eu´ terminar?
Por certo, não pode extinguir-se por um acto de volição, nem por
meio de nenhum artifício, nem pela repetição de frases, de recitações
monótonas, que é auto-hipnotização por meio de palavras, nem pela absorção nalguma
fantasia idiota, tal seja a de nação, ou a fantasia de Deus.
Se começardes a examinar esta
questão, vereis que esse exame é realmente muito importante, porquanto a
solução dos problemas humanos não está em nenhum dos níveis conscientes.
A
nossa consciência está actualmente limitada pelo `eu´ e toda a solução
proveniente do `eu´ produzirá apenas maiores malefícios e mais sofrimentos.
Sabendo-se isso, e estando-se consciente do processo total do `eu´, é possível
a sua extinção?
Compreendeis como temos tentado
pôr fim ao `eu´, ao `ego´?
Temo-lo tentado pela disciplina, por métodos de
controle, de defesa, de resistência; tentamo-lo pela compulsão, pelo
ajustamento a dogma e crença.
Temo-lo tentado por meio de
várias formas de sacrifício, pela abnegação em favor do que consideramos mais
importante: a nossa esposa e filhos, o Estado, o mundo.
Temos tentado o
auto-esquecimento, na guerra, nas obras sociais, na filantropia e por fim na
ideia de Deus.
Recorremos a todos esses artifícios, pois são de facto artifícios,
e só temos produzido mais miséria, mais tirania e mais caos neste mundo.
Não precisamos ler muito para
compreendermos tudo isso. Sois o resultado do passado, de toda a luta humana,
de todas as realizações, alegrias e sofrimentos humanos.
Toda a história da
humanidade está contida em vós e se sabeis lê-la não precisais mais ler livro
nenhum.
Para se descobrir isso, não é
necessária nenhuma filosofia ou sistema.
Assim, pois, a pergunta que me faço e
que espero façais também a vós mesmos, é a seguinte:
Pode essa coisa chamada
`eu´, que, como um fio, permeia todas as nossas acções, todos os nossos
pensamentos, todos os nossos movimentos afectivos, pode essa coisa terminar?
Fazei, por favor, esta pergunta
a vós mesmos, em vez de procurardes uma solução, pois qualquer solução que
encontrardes há-de ser uma solução positiva, e portanto, uma invenção da mente,
que se tornará mais um meio de perpetuar o `eu´.
Todavia, se vos fizerdes a
pergunta, estando inteiramente conscientes de todo esse processo, encontrareis,
não uma resposta verbal, mas aquela resposta espontânea que é uma revolução e
que só pode apresentar-se quando fazeis a pergunta sem nenhuma volição; e esse
é o verdadeiro `escutar´.
Se vos tornardes
indiscriminadamente conscientes do `eu´, em todas as suas actividades;
conscientes de todo o processo do vosso pensar, tanto o cognitivo como o
oculto; se o perceberdes sem julgamento nem condenação, produzireis
infalivelmente aquela revolução no centro.
A mente se tornará então subtil num grau
extraordinário, espantosamente activa e vigilante.
Por ora, as nossas mentes estão
tolhidas pelos nossos temores, nossas frustrações, nosso desejo de bom êxito;
mas se, sem julgamento, sem condenação e sem escolha, começarmos a perceber
todo esse processo da consciência, que se desenrola continuamente, quer em
despertos, quer a dormir, verificaremos que, apesar dos nossos conflitos, as
nossas guerras e brutalidades, uma revolução opera no centro;
e tal como uma
onda que rola para longe e mais longe, a acção procedente do centro tem o poder
de resolver-nos todas as dificuldades.
Entretanto, se forem atendidos
simplesmente do exterior, os nossos problemas nunca serão resolvidos.
É do centro que surgem todos os
problemas humanos; e se houver um findar, uma cessação completa no centro, isso
por si mesmo produzirá uma revolução total.
Mas uma mente que, deliberadamente,
procura produzir uma revolução, desprezando o centro, só haverá de criar mais
sofrimento.
Porque então se cria um ideal; e o idealista nunca é
revolucionário: ajusta-se simplesmente a um padrão da sua própria invenção.
Tende, pois, a bondade de
prestar atenção a tudo isso, de absorvê-lo em silêncio, e vereis que a acção
criadora é uma coisa que nasce quando a mente está tranquila, quando o `eu´
está totalmente ausente.
A actividade criadora que
conhecemos ocasionalmente, resultante de agitação, não é a mesma coisa que a
acção criadora livre do centro.
A acção criadora livre do centro não é
temporal, porque não é invenção da mente; e sem essa acção criadora, tem a vida
muito pouca significação, ainda que tenhamos toda a prosperidade e todas as
comodidades deste mundo.
Depressa nos cansamos do que temos, e queremos mais
comodidades, novas invenções.
Mas a criação a que me refiro
não é para dar-nos satisfação, é algo totalmente desconhecido, que não pode ser
concebido nem conjecturado.
E virá apenas quando a mente, perfeitamente
consciente do processo total do `eu´, compreende a significação deste, e por
conseguinte, não mais o nutre de experiência."
Jiddu Krishnamurti
"Percepção criadora"
t.
0 comentários:
Enviar um comentário