"Man
has always asked the question: what is it all about?
Has life any meaning at
all?
He sees the enormous
confusion of life,
the brutalities, the revolt, the
wars, the endless divisions of religion, ideology and nationality,
and with a
sense of deep abiding frustration he asks,
what is one to do,
what is this thing
we call living,
is there anything beyond it?"
“The
world accepts and follows the traditional approach.
The primary cause of
disorder in ourselves is the seeking of reality promised by another; we
mechanically follow somebody who will assure us a comfortable spiritual life.
It is a most extraordinary thing that although most of us are opposed to
political tyranny and dictatorship, we inwardly accept the authority, the
tyranny, of another to twist our minds and our way of life.
So, if we completely
reject, not intellectually but actually, all so-called spiritual authority, all
ceremonies, rituals and dogmas, it means that we stand alone and are already in
conflict with society; we cease to be respectable human beings.
A respectable
human being cannot possibly come near to that infinite, immeasurable, reality.
You have now started by denying something
absolutely false, the traditional approach, but if you deny it as a reaction
you will have created another pattern in which you will be trapped;
if you tell
yourself intellectually that this denial is a very good idea but do nothing
about it, you cannot go any further.
If you deny it however, because you
understand the stupidity and immaturity of it, if you reject it with tremendous
intelligence, because you are free and not frightened, you will create a great
disturbance in yourself and around you but you will step out of the trap of
respectability.
Then you will find that you are no longer seeking. That is the
first thing to learn, not to seek. When you seek you are really only window-shopping."
Jiddu Krishnamurti
“Freedom from the known”
The primary cause...
"Sucede que tenho precisamente aquelas qualidades que
são negativas para fins de influir, de qualquer modo que seja, na generalidade
de um ambiente social.
Sou, em primeiro lugar, um raciocinador, e, o que é
pior, um raciocinador minucioso e analítico. Ora o público não é capaz de
seguir um raciocínio, e o público não é capaz de prestar atenção a uma análise.
Sou, em segundo lugar, um analisador que busca, quanto em si cabe, descobrir a
verdade.
Ora o público não quer a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade.
Acresce que a verdade — em tudo, e mormente em coisas sociais — é sempre
complexa.
Ora o público não compreende ideias complexas. É preciso dar-lhe só
ideias simples, generalidades vagas, isto é, mentiras, ainda que partindo de
verdades; pois dar como simples o que é complexo, dar sem distinção o que
cumpre distinguir, ser geral onde importa particularizar, para definir, e ser
vago em matéria onde o que vale é a precisão — tudo isto importa em mentir.
Sou, em terceiro lugar, e por isso mesmo que busco a
verdade, tão imparcial quanto em mim cabe ser.
Ora o público, movido
intimamente por sentimentos e não por ideias, é organicamente parcial.
Não só
portanto lhe desagrada ou não interessa, por estranho à sua índole, o mesmo tom
da imparcialidade, mas ainda mais o agrava o que de concessões, de restrições,
de distinções é preciso usar para ser imparcial.
Entre nós, por exemplo, e em a
maioria dos povos do sul de Europa, ou se é católico, ou se é anti-católico, ou
se é indiferente ao catolicismo, porque a tudo.
Se eu, portanto, fizesse um
estudo sobre o catolicismo, onde forçosamente teria que dizer mal e bem, que
apontar vantagens misturadas com desvantagens, que indicar defeitos aliviados
por virtudes, que me sucederia?
Não me escutariam os católicos, que não
aceitariam o que eu dissesse de mal do catolicismo. Não me escutariam os
anti-católicos, que não aceitariam o que eu lhes dissesse de bem. Não me
escutariam os indiferentes, para quem todo o assunto não passaria de uma
maçadoria ilegível.
Assim resultaria inútil esse meu estudo, por cuidado e
escrupuloso que fosse — direi, até, tanto mais inútil, porque tanto menos
aceitável ao público, quanto mais fosse cuidado e escrupuloso.
Seria, quando
muito, apreciado por um ou outro indivíduo de índole semelhante à minha,
raciocinador sem tradições nem ideais, analisador sem preconceitos, liberal
porque liberto e não porque servo da ideia inaplicada da liberdade. A esse,
porém, que teria eu que ensinar?
Quando muito, certas coisas particulares sobre
o catolicismo, na hipótese que me serviu de exemplo, e no caso de lhe ser a ele
estranho o assunto.
E se a ele, perscrutador cultural como eu, o assunto é
estranho, é que nunca o interessou; se nunca o interessou, para que vai ler o
que escrevi sobre ele?
De aqui parece dever concluir-se que um estudo
raciocinado, imparcial, cientificamente conduzido, de qualquer assunto é um
trabalho socialmente inútil.
Assim de facto é. É, quando muito, uma obra de
arte, e mais nada. Vox et preterea nihil.
As sociedades são conduzidas por agitadores de
sentimentos, não por agitadores de ideias. Nenhum filósofo fez caminho senão
porque serviu, em todo ou em parte, uma religião, uma política ou outro
qualquer modo social do sentimento.
Se a obra de investigação, em matéria social, é
portanto socialmente inútil, salvo como arte e no que contiver de arte, mais
vale empregar o que em nós haja de esforço em fazer arte, do que em fazer
meia-arte.
Reconhecendo que todas as doutrinas são defensáveis, e
que valem, não por o que valem, senão pela valia do defensor,
concentrar-nos-emos mais na literatura das defensivas do que no assunto delas.
Faremos contos intelectuais onde, pelo primeiro e imprudente impulso, faríamos
estudos científicos.
Ser-nos-á indiferente a verdade da ideia: em si mesma; não
é mais que a matéria para um belo argumento, para as elegâncias e as astúcias
da subtileza.
Timbraremos, por um movimento idêntico em sentido
inverso, em mostrar a parvoíce das ideias aceites, a vileza dos ideais nobres,
a ilusão de tudo quanto o povo crê ou pode crer.
Salvaremos assim o princípio
aristocrático, que na ordem social se afundou, deixando atrás de si o vácuo de
uma universal, monótona escravidão.
Seremos dissolventes? Como dissolventes, se não temos
acção sobre o público, se nos não lêem senão os que lêem arte pela arte, arte
intelectual, arte feita com ideias em vez de ritmos, e esses, pequeníssimo
número humano, ou estão já dissolvidos, ou são fortes, pela. inteligência e a
cultura, contra toda a dissolução?
Dissolvente, socialmente, é a doutrina social do que
não está. Foi dissolvente e anti-social, no sentido de prejudicar a ordem e a
harmonia dos povos, o cristianismo quando o paganismo era a civilização.
Foi
dissolvente e anti-social a Reforma, quando a civilização de Europa era
católica.
Foi dissolvente e anti-social a doutrina da Revolução Francesa,
quando a civilização da Europa era o Antigo Regime.
São hoje dissolventes todas
as doutrinas sociais que reagem contra as dessa mesma Revolução.
Quem hoje
prega a sindicação, o estado corporativo, a tirania social, seja fascismo ou
comunismo, está dissolvendo a civilização europeia; quem defende a democracia e
o liberalismo a está defendendo.
Quer isto dizer que não há doutrinas dissolventes
senão por sua situação ocasional? Quer dizer isso mesmo.
A mais `radical´ das
doutrinas, desde que seja universalmente aceite, é uma doutrina conservadora; a
mais `conservadora´, se nessa altura se opuser àquela, será radical.
Quer isto dizer que não há princípios fundamentais na
vida das sociedades?
Não quer dizer isso; quer porém dizer que, se os há, nós
os não conhecemos. Não há ciência social, não sabemos como nascem, como se
conservam ou não conservam, como crescem ou decrescem, como se estiolam ou
morrem, as sociedades.
A existência da humanidade, se por ela se entende
qualquer coisa mais que a espécie animal chamada homem, é tão hipotética e
racionalmente indemonstrável como a existência de Deus.
Se, porém, por
humanidade, se entende a espécie animal chamada homem, então existe para os
biologistas, para os médicos — para todos quantos estudam, de um modo ou de
outro, o corpo humano; existe como existem os peixes e as aves, e mais nada.
Que princípio social se pode erigir em fundamental?
Todos e nenhum, conforme a habilidade do argumentador.
Há períodos de ordem que
o são de estagnação, como a longa vida morta de Bizâncio.
Há-os que são de
actividade intelectual, como os da Antiga Monarquia francesa. Há períodos de
desordem que são a ruína intelectual dos países em que se dão, como o Império
Romano em declínio, ou a época da Revolução Francesa, propriamente dita.
Há
períodos de desordem fecundos em produção intelectual, como o da Renascença nas
repúblicas italianas, como o que abrange o tempo de Isabel e de Cromwell em
Inglaterra.
Refiro-me à produção intelectual, supondo-a uma
vantagem, e, ao menos, parte da civilização. Não insisto nisso, porém, e posso
aceitar a doutrina de que a cultura e a arte são um mal, de que é paz e não
sonetos o que mais importa à humanidade.
Mas quais são as circunstâncias que
produzem a paz, quais as que a não produzem?
Encontraremos as mesmas causas
dando diferentes efeitos, ou, melhor, encontraremos as mesmas circunstâncias
com diferentes resultados — o que quer dizer que não são causas, mas coincidências,
que qualquer coisa que se considera uma vantagem social, seja uma sinfonia ou o
jantar certo, pode aparecer em circunstâncias sociais diferentes, sem que
saibamos nunca de onde veio a sinfonia, porque é que se conseguiu que o jantar
não faltasse.
Acresce que, assim como não há ciência social, assim
também não há arte social, finalidade certa da existência das sociedades.
Aqui
o problema, que era semelhante ao da metafísica, torna-se metafísica mesmo.
Para que fim existem as sociedades? Para fazer a felicidade dos que as compõem?
Não o sabemos, e o certo é que a felicidade varia de tipo de homem para homem,
e há muitos que de bom grado perderiam a mulher, desde que não percam a
colecção de selos."
Fernando Pessoa
"Páginas íntimas e de auto-interpretação"
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