Abstract...
As crianças não entendem quando algo acontece fora do que já
sabem ser o correcto aprendido, pois é ensinado como ter de ser assim.
Lembro-me de me perguntarem a pergunta mais frequente quando
temos pouco mais de um metro: Então, o que queres ser quando fores grande? -
Para além das muitas versões, a que foi mais persistente, foi esta resposta:
- Arquitecto!
- Arquitecto!
- Ah sim? Então porquê? Gostas de desenhar casas? -
Os curiosos não ficavam satisfeitos com o meu estranho motivo, ficavam quase sempre em modo introspectivo.
Os curiosos não ficavam satisfeitos com o meu estranho motivo, ficavam quase sempre em modo introspectivo.
- Sim e também desenho a vida dentro
das casas. Desenho muitos prédios, uns mais altos que outros, e por dentro as
pessoas que lá vivem. Velhinhos sozinhos, e famílias com crianças como eu a
brincarem, quase todas sem irmãos, umas mães a cozinhar, os pais que chegam do trabalho, os passarinhos
e cães presos, depois jantam, dormem, de manhã saem de casa, e tudo de novo ao
fim da tarde.
- Mas gostas de desenhar as casas, por isso achas que vais ser
arquitecto, é isso? - Insistiam.
- Sim, mas com as pessoas, porque as casas sem as pessoas são
espaços vazios, sem sentido, por isso desenho tudo. Faço mal em fazer assim? -
Perguntava admirado.
- Não, claro que não. – Já contrariados.
Fazia confusão naquelas cabeças adultas, não ser objectivo,
limitado ao normal. Sem a imaginação de uma criança que outrora foram,
entretanto, emendadas pela formatação decorrente da desistência de se
encontrarem na liberdade fora do pensamento socialmente formatado.
A pintura e a poesia, podem ser assim abstractas na medida em
que forem abstractos os seus autores, famintos de uma liberdade sem limites,
criadores de linhas em branco, onde convidam a parceria de quem vê um desenho,
um quadro, ou lê uma poesia ou prosa, e completo ficará, nesta bela, livre e
completude abstracta.
Ora cada olhar tem um pensamento próprio, como cada diamante tem
o seu brilho. Sabemos que nem todos consideram o diamante, algo valioso. Porém,
nem por isso este deixará de brilhar.
O pensamento voa sem asa, como o pássaro a necessita para voar.
A cor do pássaro depende de quem o olha, o mesmo pode diferir consoante o sinta
na pintura ou poema que lhe criei.
Mantenha essa compreensão nas crianças que continuam a crescer
nesta formatação decorrente da desistência de se encontrarem na liberdade fora
do pensamento socialmente formatado.
E encontre o seu pássaro, feche os olhos, e verá que estará
sempre, onde afinal sempre esteve.
Boa semana.
TITO COLAÇO
19.01.2015
Comentário editado em: http://umjeitomanso.blogspot.pt/
Abstract...
Tito Colaço
XIX _ I _MMXV
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