Perhaps explained...
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Nós não sabemos como se dão a passagem de momento a
momento que constitui a duração, e a passagem de lugar a lugar que constitui o
movimento; mas sabemos que, logicamente - note este termo - que logicamente a
duração e o movimento estão implicados nos conceitos de momento
e de lugar; em que de modo igualmente lógico, sabemos que se pode passar do
momento 1 ao momento 2, do lugar 1 para o lugar 2.
Como isso em si se faz, não sabemos, porque nada sabemos em si, nem o que em si é o número
nem o que em si são tempo e espaço. Sabemos apenas que são ideias.
Há, porém, uma conclusão ainda mais importante. É que
só o pensamento nos dá como mentáveis a duração e o movimento, mas a percepção
no-las dá também como realidades.
Daqui se conclui que o pensamento é a base da realidade,
que o mundo é uma coisa pensada.
O que é portanto a realidade?
A realidade é o pensamento; não provém dele; é-o.
Se as nossas alucinações, os nossos sonhos não são
realidade é que o nosso pensamento, não sendo absoluto, integra-os apenas no
mundo de nós mesmos, e não no mundo propriamente dito. Ainda assim um
pensamento muito forte, isto é, muito lúcido, (. . .)
O pensamento visiona; o visionar do pensamento absoluto
é o mundo.
É visionado por nós e em nós, numericamente; por isso o
vemos todos de um modo basilarmente igual e superficialmente diverso.
Quando visionamos uma coisa, o próprio visionar é
criá-la; a própria visão dela é ela existir. Como porém, o nosso pensamento não
é absoluto, essa criação não é absoluta - isto é, não pertence ao sistema do
mundo.
A percepção, a memória, a imaginação “continua o
próprio Serzedas”, são actos em nós idênticos ao acto criativo do mundo;
reproduzimos a criação, falhando em fazê-la uma criação absoluta, simplesmente
porque não temos o pensamento absoluto.
Ora, sendo o pensamento uno, chegamos à conclusão que
pensamos porque Deus pensa em nós, e pensamos limitada - porque diversamente, e
diversa porque numericamente.
Para Deus pensar o número foi realizar o número em si
totalmente, não em si, ainda que em si, em cada número individual.
Quando pensamos o universo, quando o visionamos, a
nossa visão do universo e esse universo como visionado são a mesma coisa. Se
concebermos em lugar do nosso pensamento, um pensamento absoluto, veremos que
ele, logicamente, não pode conceber senão uma coisa absoluta, não um universo
portanto, mas a ideia do universo, o infinito da série
quanto a universo, a possibilidade de todos os universos portanto. Essa
concepção, fragmentada por nós, dá o resultado que, sendo absoluta é criadora,
mas sendo limitada em cada um de nós diferente e individual, é não ideia, não
possível, mas realidade, real. Daí cada consciência ver um universo real, daí o
ver cada um, um universo
diferente, em graus e apenas graus de limites
diferentes, desde o átomo ao
homem.
O ser o pensamento divino absoluto, dá resultado serem
os nossos universos
basilarmente iguais nisto em serem reais , e
basilarmente parecidos nisto em serem pensados , portanto sujeitos a leis
(porque a lei é a forma do pensamento).
Daí a realidade que não é mais que o que de fundamento
comum há nos nossos pensamentos.
A verdade é a base comum a todas as consciências no ter
consciência.
Eu, raciocinando assim, remonto a Deus. Não posso
compreender intimamente, porque são parte do concebido, mas posso compreender,
dentro dos meus limites, até onde lhe mostrei que compreendi.
Tudo quanto pensamos é real, verdadeiro. . . A mentira,
a irrealidade é o nada, e o nada o nada é.
Tudo o que pensamos é real, porque o pensamos, e o
pensamento é a realidade e realmente Deus é que em nós diferenciadamente pensa.
Não é real porque diferentemente pensa, porque
numericamente
pensamos. . .
Por isso todos os sistemas filosóficos são certos, e
criados todos. Só certos no que afirmam, e errados no que
negam, porque negar é sempre erro metafísico - o único sofisma - pois é afirmar
que uma coisa não é , quando a própria discussão dessa coisa (que temos para
podermos afirmar que ela não existe) é, por pensada, existente.
É assim que o panteísmo tem razão em dizer que Deus
pensa em nós, e o
anti-panteísmo em dizer que pensamos fora de Deus;é assim que o materialista tem razão
porque o mundo é real, e o idealista também porque o real não é real . . .
A prova que Deus pensa em nós é que temos corpo. Deus
pensa-nos, por isso fisicamente somos; por isso também pensamos. O
nosso corpo é a mostra visual da nossa limitação.
Um fakir que, com uma lucidez que exclua tudo, se
visione suspenso no ar,
encontrar-se-á suspenso no ar. Pode não se lembrar da
intensidade com que viu, mas isso é mais uma prova: indica que a atenção foi
tão tomada que não deixa lugar à consciência da atenção, e à memória dessa
atenção portanto.
O fantasma, é, quanto a mim, possível. É uma enorme
visionação inconsciente, cuja intensidade, superior à normal, vai meio a
caminho de criar uma realidade.
- Mas no fantasma de facto desconhecido. . .
- Isso é mais complexo, mas explicável ainda assim. . .
Pero Botelho
“O vencedor do
tempo - Serzedas”
Tell me again the music of that tale
Thy nurse wit sang so oft by my soul's bed,
Whose words and persons from my memory fade,
But in the melody remembered.
Thou mightst shift all the pawns of that told
game
And, so the music made it far off be,
I shall still hear the tale as if the same,
Far bark on seas of the same melody.
What fairy castles and closed beauties lie
On moonlight of not‑life away from where
Loss is, truth kills, what charms must be put
by,
And but the still‑to‑be keeps fresh & fair.
What matter the song, so by it the soul weeps
Lost kinship with its antenatal sleeps?
Fernando
Pessoa
Tito Colaço
XXIII _ I _ MMXV
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