The memory of happiness...
The memory of happiness...
Porque estamos em busca da
felicidade?
Porquê esse incessante esforço para
ser feliz, para ser alegre, para ser alguma coisa?
Porque existe essa procura, esse
imenso esforço feito para a encontrar?
Se pudéssemos entender isso e
mergulhar nisso completamente, talvez pudéssemos saber o que a felicidade é,
sem a procurarmos, porque em última análise, a felicidade é um subproduto, de
importância secundária.
Não é um fim em si mesma, não tem
nenhum significado se for um fim em si mesma.
O que significa ser feliz?
O homem que toma uma bebida está
feliz. O homem que lança uma bomba sobre um grande número de pessoas, sente-se
orgulhoso e diz que está feliz ou que Deus está com ele.
Sensações momentâneas, que
desaparecem, dão essa sensação de estar feliz.
Certamente, há alguma outra
qualidade que seja essencial para a felicidade.
A felicidade não é um fim, não mais
do que a virtude. A virtude não é um fim em si mesma, esta proporciona
liberdade, e nessa liberdade há a descoberta. Portanto, a virtude é essencial.
Com efeito, uma pessoa não virtuosa
está escravizada, em desordem, deslocada, perdida, confusa, entretanto, tratar a
virtude como um fim em si mesma ou a felicidade como um fim em si mesma tem
muito pouco significado. Portanto, a felicidade não é um fim.
(...)
A nossa vida é uma sucessão de
demandas por conforto, por segurança, por posição, por plenitude, por
felicidade, por reconhecimento, e também temos raros momentos de desejo de
descobrir o que é a verdade, o que é Deus. Portanto, Deus ou a verdade
tornam-se sinónimos da nossa satisfação.
Nós queremos ser gratificados,
portanto, a verdade torna-se o fim de toda a busca, de todo o empenho, e Deus
transforma-se no último lugar de descanso.
Movemo-nos de um padrão a outro, de
uma gaiola a outra, de uma filosofia ou sociedade para outra, esperando
encontrar a felicidade, não apenas a felicidade no relacionamento com as
pessoas, mas também, a felicidade de um lugar de descanso, onde a mente jamais
será perturbada, onde a mente deixará de ser torturada pelo seu próprio
descontentamento. Podemos colocar isso em palavras diferentes, podemos usar
diferentes jargões filosóficos, mas é isso o que todos queremos, um lugar onde
a mente possa descansar, onde a mente não seja torturada pelas suas próprias actividades,
onde não haja sofrimento nenhum
(...)
Vejam, senhores, podem observar um
pôr-do-sol encantador, uma bela árvore num campo, e logo que olham alegram-se
completamente, inteiramente, no entanto retornam a isso com o desejo de
deleitar-se de novo. O que acontece quando voltam com o desejo de alegrar-se
novamente?
Não há alegria nenhuma, porque é a
memória do pôr-do-sol de ontem que está agora a fazer voltarem, que os está a impelir, incitando-os a alegrarem-se.
Ontem não havia memória alguma, só
uma apreciação espontânea, uma resposta directa, no entanto hoje, estão
desejosos de recobrar a experiência de ontem, ou seja, a memória está a interferir
entre nós e o pôr-do-sol. Portanto, não há nenhuma alegria, nenhum esplendor,
nenhuma plenitude de beleza.
Novamente, têm um amigo que lhes disse alguma
coisa ontem, um insulto ou uma cortesia, retêm essa memória, e com essa memória
encontram esse amigo hoje. Realmente, não encontram o amigo assim só, porque carregam
aquela memória de ontem, que intervém, assim, continuamos a nos cercar a nós
próprios e às nossas acções com memória, portanto, não há nenhuma inovação,
nenhuma frescura. Essa é a razão pela qual a memória torna a vida cansada,
enfadonha e vazia.
(...)
Quando vêem uma coisa bonita, a
alegria é instantânea, vêem um pôr-do-sol e há uma imediata reacção de alegria.
Essa alegria, momentos mais tarde, torna-se uma memória. Essa memória da
alegria é uma coisa viva?
A memória de um pôr-do-sol é uma
coisa viva?
Não, é uma coisa morta. Portanto,
com essa impressão morta de um pôr-do-sol, através dela, querem encontrar
alegria.
Mas memória não é alegria, é apenas
a lembrança de algo que criou a alegria. Memória em si mesma não é alegria. Há
alegria, na reacção imediata à beleza de uma árvore, então vem a memória e sai
essa alegria, passa a lembrança.
Portanto, se existe uma constante
percepção de beleza sem o acumular de memórias, haverá então a possibilidade da
permanência da alegria.
Jiddu Krishnamurti
Excerpts
of “The collected works”
Tito Colaço
XVIII _ I _ MMXV
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