Advertere...
Aprender a ver, habituar os
olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós;
aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de
todos os lados.
Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir
imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem
obstáculos, que isolam.
Aprender a ver, tal como eu o
entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o
essencial nisto é, precisamente, o poder não “querer”, o poder diferir
a decisão.
Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na
incapacidade de opor resistência a um estímulo, tem que se reagir,
seguem-se todos os impulsos.
Em muitos casos esse ter que é
já doença, decadência, sintoma de esgotamento, quase tudo o que a rudeza afilosófica
designa com o nome de “vício” é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir.
Uma aplicação prática do
ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser
lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie
deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, afasta-se dele a mão.
O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o facto
pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto
para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa “objectividade”
moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.
Friedrich Nietzsche
"Crepúsculo dos ídolos"
Wake with the Sun, wake with the morn
Wake with the coming day,
Be with the dew and the flush new
born,
But, unlike them, stay!
Mists fall of from what thou art
They are what we see.
Come and enter into our heart
And let life be.
The morn belongs to the empty world
Men are later here.
Come and let life be slowly unfurled
Off thee like fear.
And in thy terrible being but thou
Sans body nor soul
Pour all thy balm on my saddened brow,
And make my hope whole!
Fernando Pessoa
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