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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Cupiditas…






Cupiditas











Cupiditas























































Somos todos casos excepcionais. Todos queremos apelar de qualquer coisa!
Cada qual exige ser inocente, a todo o custo, mesmo que para isso seja preciso inculpar o género humano e o céu. Contentaremos mediocremente um homem, se lhe dermos parabéns pelos esforços graças aos quais se tornou inteligente ou generoso.
Pelo contrário, ele rejubilará, se se admirar a sua generosidade natural. Inversamente, se disssermos a um criminoso que o seu crime nada tem com a sua natureza, nem com o seu carácter, mas com infelizes circunstâncias, ele ficar-nos-á violentamente reconhecido. Durante a defesa, escolherá mesmo este momento para chorar.
No entanto, não há mérito nenhum em ser-se honesto, nem inteligente, de nascença!
Como se não é certamente mais responsável em ser-se criminoso por natureza que em sê-lo devido às circunstâncias. Mas estes patifes querem a absolvição, isto é, a irresponsabilidade, e tiram, sem vergonha, justificações da natureza ou desculpas das circunstâncias, mesmo que sejam contraditórias.
O essencial é que sejam inocentes, que as suas virtudes, pela graça do nascimento, não possam ser postas em dúvida, e que os seus crimes, nascidos de uma infelicidade passageira, nunca sejam senão provisórios. 
Já lhe disse, trata-se de escapar ao julgamento. 
Como é difícil escapar e melindroso fazer, ao mesmo tempo, com que se admire e desculpe a própria natureza, todos procuram ser ricos. Porquê? 
Já o perguntou a si mesmo? 
Por causa do poder, certamente.
Mas sobretudo porque a riqueza nos livra do julgamento imediato, nos retira da turba do metropolitano para nos fechar numa carroçaria niquelada, nos isola em vastos parques guardados, em carruagens-cama, em camarotes de luxo.
A riqueza, caro amigo, não é ainda a absolvição, mas a pena suspensa, sempre fácil de conseguir... 





Albert Camus
“A queda”




































































I have found out that reading is a slavish sort of dreaming.
If I must dream, why not my own dreams?



Fernando Pessoa





















Tito Colaço

XVI _ I _ MMXV
































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