Just simply you...
Just simply you...
Dia entre pescadores. Eles a pescarem sardinha
para a fome orgânica do corpo, e eu a pescar imagens para uma necessidade igual
do espírito.
Tisnados de saúde, os homens olham-me, e eu,
amarelo de doença, olho-os também.
Certamente que se julgam mais justificados
do que eu, e que o mundo inteiro lhes dá razão.
Mas da mesma maneira que eles, sem que ninguém
lhes peça sardinha, se metem às ondas, também eu, sem que ninguém me peça
poesia, me lanço a este mar da criação.
Há uma coisa que nenhuma ideologia pode tirar
aos artistas verdadeiros: é a sua consciência de que são tão fundamentais à
vida como o pão.
Podem acusá-los de servirem esta ou aquela
classe. Pura calúnia.
É o mesmo que dizer que uma flôr serve a
princesa que a cheira.
O mundo não pode viver sem flores, e por isso
elas nascem e desabrocham. Se olhos menos avisados passam por elas e as não
podem ver, a traição não é delas, mas dos olhos, ou de quem os mantém cegos e
incultos.
Miguel Torga
"Diário (1943)"
Já pensou nisto?
Nós queremos ser
famosos como um escritor, como um poeta, pintor, político, cantor, ou o que
quiser. Por quê?
Porque realmente não amamos o que
fazemos.
Se amasse cantar, ou pintar, ou escrever poemas, se realmente amasse
isto, não estaria preocupado em ser ou não famoso.
Querer ser famoso é enganoso, trivial,
estúpido, não tem significado, mas porque não amamos com o que fazemos?
Queremos nos enriquecer com fama.
A nossa educação actual está
deteriorada, porque nos ensina a amar o sucesso e não o que fazemos.
O resultado tornou-se mais importante
do que a acção.
Sabe, é bom esconder o seu
brilhantismo, ser anónimo, amar o que faz e não se exibir.
Isso não o torna famoso, não faz a sua
foto sair nos jornais. Os políticos não batem à sua porta. É simplesmente um
ser-humano criativo, que vive anonimamente, e nisso existe riqueza e grande
beleza.
J.
Krishnamurti
“The book of life”
Tito Colaço
IV _ I _ MMXV
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