Cognizable...
Cognizable...
O
homem, bobo da sua aspiração, sombra chinesa da sua ânsia inútil, segue,
revoltado e ignóbil, servo das mesmas leis químicas, no rodar imperturbável da
Terra, implacavelmente em torno a um astro amarelo, sem esperança, sem sossego,
sem outro conforto que o abafo das suas ilusões da realidade e a realidade das
suas ilusões.
Governa estados, institui leis, levanta guerras, deixa de si
memórias de batalhas, versos, estátuas e edifícios.
A
Terra esfriará sem que isso valha. Estranho a isso, estranho desde a nascença,
o sol um dia, se alumiou, deixará de alumiar, se deu vida, dará a si a morte.
Outros
sistemas de astros e de satélites darão porventura novas humanidades, outras
espécies de eternidades fingidas alimentarão almas de outra espécie, outras
crenças passarão em corredores longínquos da realidade múltipla.
Cristos
outros subirão em vão a novas cruzes.
Novas
seitas secretas terão na mão os segredos da magia ou da Cabala.
E essa
magia será outra, e essa Cabala diferente.
Só uma
obediência passiva, sem revoltas nem sorrisos, tão escrava como a revolta, é o
sistema espiritual adequado à exterioridade absoluta da nossa vida serva.
Álvaro de Campos
“Fernando
Pessoa - Páginas íntimas e de auto-interpretação”
All
things changing, says Heraclitus, no knowledge is possible.
My
answer is that, all things changing, myself change with them, and so am in a
relative stability.
Subject
and object changing perpetually are stable one in relation to the other.
The
world is only in perpetual change when contrasted to something immutable.
What
is this thing which does not change?
Descartes
will hope to answer with: “It is myself, as a thinking subject.”
I
believe that Descartes was in this nearly right. I believe that he is wrong in placing the principle of stability in an
“ego” changeable and sensible thing.
It
seems rather to me that the principle of unchange is not myself as a thinking
subject not even my thoght, but thought, pure reason, inconditioned and
absolute.
Fernando Pessoa
“Change”
“Time and space cannot by
themselves make individuality. Being is needed.
A dead man occupies Time and
Space, but has no individuality, no Being.”
Fernando Pessoa
Tito Colaço
III _ I _ MMXV
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