Páginas

domingo, 25 de janeiro de 2015

Scarecrow of life...











Scarecrow of life...







Scarecrow of life...













Scarecrow of life...

























A esperança, trunfo humano da miragem do bem que se quer, naquilo que se entende por força de vontade, em viver num mundo onde todos querem algo.
Todos, sem excepção, trazem desde cedo, sonhos, desejos, etapas a cumprir, desenhadas quase a régua e esquadro para semearem, a colheita esperada.
A projecção criadora da parte criada pela mão do Homem, imposta pelo seu pensamento, isto é, pela sua realidade, possível no seu mundo, é tangível ao que não domina, mas potencia, enquanto criador do mesmo.
As leis vigentes que sustentam este universo, quiçá, de todos os universos, a natureza, restantes animais, são na verdade, transpostas pela imaginação, fruto do pensamento, real ou irreal, dependendo da aceitação do imaginador, e traduzidas para a linguagem verbal humana. Tudo é humanamente configurado e caracterizado para ter a imagem e sentido humano.
Temos no mundo real, a ilusão realista, e no mundo da ilusão, a realidade ilusória.
Somos parte da realidade, como um todo fragmentado. Somos fracção, como uma parte irreal, onde tudo cabe no universo criado por cada pensamento, realidade desse domínio, que é o criador de si mesmo.
A criança humana nasce com a faculdade de se recriar, a partir da base que tem em seu poder, mas cresce com a que tem em seu redor, como base da sua civilização. É daí, que os grandes Homens são forjados, aqueles que conseguem crescer sem matar essa força criadora interior de novos mundos, ainda por criar.
Essa esperança, fruto da miragem do bem que se quer, naquilo que se entende por força de vontade, em viver num mundo onde todos querem algo, é da própria natureza humana, e tão humana, que a queremos, mesmo onde naturalmente não exista, como demonstrado em todas as criações artísticas humanas.
Por isso, até um espanta-pardais, tem esperança, naquilo que o seu criador quiser, sendo o que de mais humano tem...


                                


TITO COLAÇO

25.01.2015










             









Espanta-Pardais





“Era um boneco humilde de quem a cegonha vaidosa fazia troça. Tinha dois grandes braços sempre abertos, um casaco de remendinhos de todas as cores, um cachecol e um chapéu preto com uma flor no alto.
A única coisa que o Espanta- Pardais desejava na vida era, um dia, poder caminhar na Estrada Larga. 
Uma tarde em que estava farto dos dedos quentes do Sol, farto das mãos geladas da chuva, farto do silêncio e farto de estar sozinho, disse numa voz tão alta que as árvores estremeceram:
- Estou farto! Pronto! Estou farto de estar aqui de braços abertos.
- Com quem estás a falar, Espanta-Pardais?
O boneco ficou muito atrapalhado ao ouvir aquela voz. Olhou, olhou devagar como se fosse um girassol, e qual não foi o seu espanto ao ver, sentada num molho de trigo, uma menina linda como a madrugada.
- Então tu não me conheces?
- Não, nunca te tinha visto.
- Eu sou a Maria Primavera e venho aqui todos os anos. Mas porque estás a olhar para mim dessa maneira? Tenho cara de sapo?
- És tão bonita, Maria Primavera! Donde vens? - perguntou ele, muito baixinho, cheio de vergonha e de ternura.
- Eu venho da Estrada Larga.
Ao ouvir este nome, o Espanta- Pardais estremeceu. Depois gaguejou:
- Ah!... Da Estrada Larga!...Conta-me o que viste lá.
E Maria Primavera falou das cidades de cimento com pássaros de alumínio voando no céu azul; dos homens que trabalham nas minas, no fundo da terra; dos jornais que davam notícias às pessoas; dos meninos que iam para as escolas, e falou sobretudo nos mares com peixes de madeira que levam homens e saudades.
- Tu falas tão bem, Maria Primavera! E eu gostava tanto de ir contigo para a Estrada Larga!”
                         






Maria Rosa Colaço


Excerto da obra "Espanta-Pardais"

  



A obra de Maria Rosa Colaço “Espanta-Pardais” (1961), é unanimemente aclamado como a maior obra infantil da literatura portuguesa do século XX.
A procura que tem tido, a multiplicidade de trabalhos escolares que tem gerado, as várias representações teatrais, quer pelos alunos das escolas quer por companhias teatrais, a quantidade de referências que tem suscitado, tudo aponta nesse sentido.
A odisseia poética do Espanta-Pardais apostado em ser pessoa real, Maria Primavera e o Pássaro Verde são personagens inesquecíveis, e as suas aventuras na Estrada-Larga ficaram na memória de muitas gerações de leitores.









































                              

































Tito Colaço

XXV _ I _ MMXV







































0 comentários:

Enviar um comentário