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sábado, 17 de janeiro de 2015

Thy will be done...









Thy will be done...







 Thy will be done... 












A maioria dos homens vive com espontaneidade uma vida fictícia e alheia. 
A maioria da gente é outra gente, disse Oscar Wilde, e disse bem.
Uns gastam a vida na busca de qualquer coisa que não querem, outros empregam-se na busca do que querem e lhes não serve, outros ainda se perdem...

(...)

Mas a maioria é feliz e goza a vida sem isso valer.
Em geral, o homem chora pouco, e, quando se queixa, é a sua literatura.
O pessimismo tem pouca viabilidade como fórmula democrática.
Os que choram o mal do mundo são isolados, não choram senão o próprio.
Um Leopardi, um Antero não têm amado ou amante?
O universo é um mal. Um Vigny é mal ou pouco amado?
O mundo é um cárcere. Um Chateaubriand sonha mais que o possível?
A vida humana é tédio. Um Job é coberto de bolhas?
A terra está coberta de bolhas. Pisam os calos do triste?
Ai dos pés dos sóis e das estrelas.
Alheia a isto e chorando só o preciso e no menos tempo que pode, quando lhe morre o filho que esquecerá pelos anos fora, salvo nos aniversários, quando pensando [...] e chora enquanto não arranja [?] outro, ou se não adapta ao estado de perda, a humanidade continua digerindo e amando.
A vitalidade recupera e reanima. Os mortos ficam enterrados. As perdas ficam perdidas.
Quando vejo um gato ao sol lembra-me sempre do homem ao sol.






A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo não pode dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir?
Poderei ir buscar riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza da minha alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele.
Compreendo que viaje quem é incapaz de sentir.
Por isso são tão pobres sempre como livros de experiência os livros de viagens, valendo somente pela imaginação de quem os escreve.
E se quem os escreve tem imaginação, tanto nos pode encantar com a descrição minuciosa, fotográfica a estandartes, de paisagens que imaginou, como com a descrição, forçosamente menos minuciosa, das paisagens que supôs ver. 
Somos todos míopes, excepto para dentro. 
Só o sonho vê com(o) olhar.
No fundo, há na nossa experiência da terra duas coisas — o universal e o particular. Descrever o universal é descrever o que é comum a toda a alma humana e a toda a experiência humana — o céu vasto, com o dia e a noite que acontecem dele e nele, o correr dos rios — todos da mesma água sororal e fresca, os mares, montanhas tremulamente extensas, guardando a majestade da altura no segredo da profundeza, os campos, as estações, as casas, as caras, os gestos, o traje e os sorrisos, o amor e as guerras, os deuses, finitos e infinitos, a Noite sem forma, mãe da origem do mundo, o Fado, o monstro intelectual que é tudo...
Descrevendo isto, ou qualquer coisa universal como isto, falo com a alma a linguagem primitiva e divina, o idioma adâmico que todos entendem.
Mas que linguagem estilhaçada e babélica falaria eu quando descrevesse o Elevador de Santa Justa, a Catedral de Reims, os calções dos zuavos, a maneira como o português se pronuncia em Trás-os-Montes? Estas coisas são acidentes da superfície, podem sentir-se com o andar mas não com o sentir.
O que no Elevador de Santa Justa é universal é a mecânica facilitando o mundo.
O que na Catedral de Reims é verdade não é a Catedral nem o Reims, mas a majestade religiosa dos edifícios consagrados ao conhecimento da profundeza da alma humana.
O que nos calções dos zuavos é eterno é a ficção colorida dos trajes, linguagem humana, criando uma simplicidade social que é em seu modo uma nova nudez.
O que nas pronúncias locais é universal é o timbre caseiro das vozes de gente que vive espontânea, a diversidade dos seres juntos, a sucessão multicolor das maneiras, as diferenças dos povos, e a vasta variedade das nações.
Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos.
Nada possuímos, porque nem a nós possuímos.
Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo?
O universo não é meu: sou eu.





Fernando Pessoa
“Livro do desassossego”



































"Thy will be done" (with a capital T)
Though ever on earth and on sea
There be the shadow of thy curse
Daily more terrible and worse
Thy will be done!


"Thy Will be done" (with a capital W)
O Man, though many a woe doth trouble you,
Still you pray on, and beat your heart,
And thank the Tyrant in his nest:
"Thy w[ill] be done".


"Thy will Be done" (with a capital B).
Though more than horrid misery
Break the whole earth and wreck the nations
Man cries on, in vile resignations:
"Thy will be done!"


"Thy will be Done" (with a capital D)
All are (...) and all unfree,
And yet from cottage and from hall
The groaning and the dying call
"Thy will be done!"


"Thy W[ill] Be Done" (all with capital letters),
Although God (...) our mind and fetters,
We roll our eyes and groan uncheerly
We join our hands and half-sincerely
Exclaim from life we pay too dearly:
"Thy will be done!"









Charles Robert Anon
"Thy will be done" (with a capital T)



































































































                                   










































































Tito Colaço

      XVII _ I _ MMXV    



































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