Thy will be done...
Thy
will be done...
A maioria dos homens
vive com espontaneidade uma vida fictícia e alheia.
A maioria da gente é outra
gente, disse Oscar Wilde, e disse bem.
Uns gastam a vida na busca de qualquer
coisa que não querem, outros empregam-se na busca do que querem e lhes não serve,
outros ainda se perdem...
(...)
Mas a maioria é feliz
e goza a vida sem isso valer.
Em geral, o homem
chora pouco, e, quando se queixa, é a sua literatura.
O pessimismo tem
pouca viabilidade como fórmula democrática.
Os que choram o mal
do mundo são isolados, não choram senão o próprio.
Um Leopardi, um
Antero não têm amado ou amante?
O universo é um mal.
Um Vigny é mal ou pouco amado?
O mundo é um cárcere.
Um Chateaubriand sonha mais que o possível?
A vida humana é
tédio. Um Job é coberto de bolhas?
A terra está coberta
de bolhas. Pisam os calos do triste?
Ai dos pés dos sóis e
das estrelas.
Alheia a isto e
chorando só o preciso e no menos tempo que pode, quando lhe morre o filho que
esquecerá pelos anos fora, salvo nos aniversários, quando pensando [...] e
chora enquanto não arranja [?] outro, ou se não adapta ao estado de perda, a
humanidade continua digerindo e amando.
A vitalidade recupera
e reanima. Os mortos ficam enterrados. As perdas ficam perdidas.
Quando vejo um gato
ao sol lembra-me sempre do homem ao sol.
A renúncia é a libertação.
Não querer é poder.
Que me pode dar a
China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo não pode
dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir?
Poderei ir buscar
riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza da minha alma sou
eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele.
Compreendo que viaje
quem é incapaz de sentir.
Por isso são tão
pobres sempre como livros de experiência os livros de viagens, valendo somente
pela imaginação de quem os escreve.
E se quem os escreve
tem imaginação, tanto nos pode encantar com a descrição minuciosa, fotográfica
a estandartes, de paisagens que imaginou, como com a descrição, forçosamente
menos minuciosa, das paisagens que supôs ver.
Somos todos míopes, excepto para
dentro.
Só o sonho vê com(o) olhar.
No fundo, há na nossa
experiência da terra duas coisas — o universal e o particular. Descrever o
universal é descrever o que é comum a toda a alma humana e a toda a experiência
humana — o céu vasto, com o dia e a noite que acontecem dele e nele, o correr
dos rios — todos da mesma água sororal e fresca, os mares, montanhas
tremulamente extensas, guardando a majestade da altura no segredo da profundeza,
os campos, as estações, as casas, as caras, os gestos, o traje e os sorrisos, o
amor e as guerras, os deuses, finitos e infinitos, a Noite sem forma, mãe da
origem do mundo, o Fado, o monstro intelectual que é tudo...
Descrevendo isto, ou
qualquer coisa universal como isto, falo com a alma a linguagem primitiva e
divina, o idioma adâmico que todos entendem.
Mas que linguagem
estilhaçada e babélica falaria eu quando descrevesse o Elevador de Santa Justa,
a Catedral de Reims, os calções dos zuavos, a maneira como o português se
pronuncia em Trás-os-Montes? Estas coisas são acidentes da superfície, podem
sentir-se com o andar mas não com o sentir.
O que no Elevador de
Santa Justa é universal é a mecânica facilitando o mundo.
O que na Catedral de
Reims é verdade não é a Catedral nem o Reims, mas a majestade religiosa dos
edifícios consagrados ao conhecimento da profundeza da alma humana.
O que nos calções dos
zuavos é eterno é a ficção colorida dos trajes, linguagem humana, criando uma
simplicidade social que é em seu modo uma nova nudez.
O que nas pronúncias
locais é universal é o timbre caseiro das vozes de gente que vive espontânea, a
diversidade dos seres juntos, a sucessão multicolor das maneiras, as diferenças
dos povos, e a vasta variedade das nações.
Transeuntes eternos
por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos.
Nada possuímos,
porque nem a nós possuímos.
Nada temos porque
nada somos. Que mãos estenderei para que universo?
O universo não é meu:
sou eu.
Fernando Pessoa
“Livro do
desassossego”
"Thy will be done" (with a capital T)
Though ever on earth and on sea
There be the shadow of thy curse
Daily more terrible and worse
Thy will be done!
"Thy Will be done" (with a capital W)
O Man, though many a woe doth trouble you,
Still you pray on, and beat your heart,
And thank the Tyrant in his nest:
"Thy w[ill] be done".
"Thy will Be done" (with a capital
B).
Though more than horrid misery
Break the whole earth and wreck the nations
Man cries on, in vile resignations:
"Thy will be done!"
"Thy will be Done" (with a capital D)
All are (...) and all unfree,
And yet from cottage and from hall
The groaning and the dying call
"Thy will be done!"
"Thy W[ill] Be Done" (all with
capital letters),
Although God (...) our mind and fetters,
We roll our eyes and groan uncheerly
We join our hands and half-sincerely
Exclaim from life we pay too dearly:
"Thy will be done!"
Charles Robert Anon
"Thy will be done" (with a capital T)
Tito Colaço
XVII _ I _ MMXV
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