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quinta-feira, 10 de março de 2016

A real attention...











A real attention...












"Deixai-me, em primeiro lugar, salientar que não estais aqui apenas para entender o que estou a dizer. Estais a tratar de compreender-vos, e não de compreender o que eu vos estou a dizer.
Estamos a tratar de ver-nos como somos, conhecer a nós mesmos, se possível, totalmente. Estamos a tratar de compreender essa entidade de sobremodo complexa que é cada um de nós, com todas as suas subtis variações, conflitos, ânsias, compulsões.

Disse eu que, para nos compreendermos completamente, torna-se necessário um certo percebimento, o percebimento individual de como somos; e não podemos ter essa percepção, se condenamos ou justificamos o que vemos em nós. Ora, isso é bastante simples. Se condeno a mim próprio, não há compreensão. Não percebo o significado daquilo que vejo; condeno-o, apenas. Se condeno uma pessoa ou a comparo com outra, não a compreendo.

Assim, para compreendermos a nós mesmos, por nobres ou ignóbeis, sensíveis ou insensíveis que sejamos, requer-se percebimento. Esse percebimento implica que não deve haver justificação, nem condenação, nem comparação. Justificação, condenação e comparação estão dentro da esfera do tempo; são ditadas pelo nosso condicionamento.

Olhamos as coisas como ingleses, hindus, cristãos ou comunistas. A nossa observação e o nosso pensar estão condicionados pelas influências culturais e educativas do nosso ambiente, e se não estamos conscientes desse condicionamento, não podemos ver o que é, não podemos ver o facto. Isto, em si, é bastante simples, não achais?

Não é algo que estais a tentar aprender de mim. Para verdes e compreenderdes a entidade de sobremodo complexa que sois, deveis olhar-vos sem esse fundo de condenação, justificação e comparação. E quando vos olhardes desse modo sabereis ver-vos de maneira total.

Considero importante compreender esta questão do percebimento, e não tomá-la algo misterioso. Não há mistério nenhum no percebimento. Ele é infinitamente praticável e aplicável à existência diária.
Se uma pessoa percebe que está a comparar, julgar, avaliar, se está inteirada dos seus gostos, versões, contradições, sem condenar ou procurar livrar-se delas, se percebe tudo isso, se está crente do facto, o que acontece? 

O que acontece se não ignoro que sou mentiroso, se percebo o facto sem condená-lo, sem dizer quanto isso é terrível, maléfico, desvirtuoso, etc? Se sabeis que realmente mentis, o que acontece?

Vede, por favor, que não estais a aprender nada de mim. Eu não quero ser o vosso instrutor, não quero ser seguido. Isso é prejudicial, um obstáculo, destrói toda a vossa capacidade de vós mesmos o descobrirdes. Mas, se observardes, vereis que, quando estais simplesmente consciente do facto, vós o examinais sem terdes nenhuma opinião a seu respeito. Olhais para ele como coisa nova, e não com todas as lembranças e associações ligadas ao facto.
Espero estar a explicar com clareza.

A dificuldade é que nunca encarais a realidade directamente, olhais apenas para os `valores´ e opiniões a ela associadas, e isso vos impede de ver o facto.
 Ora, o que acontece quando vejo que estou a mentir, que sou ambicioso, ou invejoso, ou ávido? 
Quando olho para o facto, sem nenhuma opinião, nenhuma lembrança a ele relativa, já não há então nenhum obstáculo a percebê-lo. Posso olhá-lo, sem desvio nem desfiguração; e, então, esse próprio facto gera a energia de que preciso para tratar dele. Posso descobrir porque minto, e o que a esse respeito devo fazer. Compreendeis? 

Se não tenho nenhuma opinião, juízo ou avaliação concernente ao facto, então ele próprio gera a energia necessária para enfrentá-lo.
Tudo isso faz parte da percepção, faz parte do tempo. Por favor, não especuleis a respeito do atemporal. Para descobrirdes o que existe além do tempo, não deveis `fabricar´ uma porção de palavras, nem tampouco podeis aprendê-lo da minha boca. Tendes de trabalhar aplicadamente, para chegardes a esse descobrimento.

Perceber, significa estar consciente das vossas reacções ao vos defrontardes com um facto. Significa observar todas as vossas reacções aos `desafios´, não a algum desafio `supremo´, mas aos desafios de cada dia, aos pequenos desafios ocorrentes quando viajais num carro, quando falais com o patrão, etc. Deveis dar-vos conta, não apenas das vossas reacções conscientes, educadas, `modernas´, mas também dos motivos, compulsões e ânsias inconscientes; porque tanto o consciente como o inconsciente estão dentro do campo do condicionamento, e por conseguinte, do tempo.

O inconsciente é o passado, a herança racial acumulada, e é preciso que se perceba tudo isso. Ora, para se poder estar ciente, sem escolha, desse processo total do inconsciente e do consciente, necessita-se de um estado mental negativo; e acho que agora já deve estar bastante claro o que eu entendo por `estado mental negativo´. O estado positivo é aquele em que a mente condena, julga, avalia, aprova, nega, concorda ou discorda, e ele resulta do vosso particular condicionamento. Mas o processo negativo não é o oposto do positivo.

Se desejais compreender o que está a dizer este orador, deveis escutar negativamente, não? 
`Escutar negativamente´ significa não aceitar nem rejeitar o que se diz, nem compará-lo com o que está escrito na Bíblia, ou com o que diz o vosso analista. Escuta-se, simplesmente.

Nesse `escutar negativo´ percebeis as vossas próprias reacções sem julgá-las; por conseguinte, começais a compreender-vos, e não simplesmente o que o orador está a dizer. O que o orador diz é apenas um espelho em que vos mirais.
Ora, esse percebimento implica atenção, não achais? 
E, no estado de atenção, não há esforço de concentração. No momento em que dizeis: `Preciso concentrar-me´, criastes o conflito, porque concentração envolve contradição. Desejais concentrar-vos em alguma coisa, o vosso pensamento foge, procurais fazê-lo voltar, e ficais continuamente empenhado nessa batalha. E, enquanto se desenrola a batalha, não estais a escutar. 

Se aprofundardes isso, acho que descobrireis que os dizeres do orador exprimem a verdade. Não é uma coisa aplicável a vós mesmos só porque ouviste alguém a dizer algo sobre ela.

A compreensão, pois, é um estado de atenção sem escolha. 

E, sem esse percebimento, essa atenção, nenhum significado tem o falar acerca do que está além, o atemporal, etc. Isso é pura especulação.

É o mesmo que ficar sentado ao pé do monte a perguntar o que há no outro lado dele. Para descobrirdes o que há, tereis de galgar o
monte. Mas ninguém deseja galgar o monte, pelo menos poucos o desejam. Em geral nos satisfazemos com explicações, conceitos, ideias, símbolos. Procuramos compreender apenas verbalmente o que é atenção, o que é percebimento. Mas essa compreensão de si mesmo é tarefa verdadeiramente penosa. Não estou a empregar a palavra `penosa´ no sentido de conflito ou esforço para alcançar algo. É preciso estar verdadeiramente interessado em tudo isso. Se não estais interessado, muito bem, não precisais tocar nisso. Mas, se estais interessado, vereis quanto é difícil compreender a si próprio totalmente.

Todos os problemas humanos originam-se desse centro extraordinariamente complexo e vivo que é o `eu´ , e o homem que deseja descobrir os subtis movimentos desse `eu´, tem de estar negativamente consciente, observar sem escolher. Todo o esforço para ver, toda a espécie de compulsão, desfigura o que se vê, e por conseguinte, nada vemos."



Jiddu Krishnamurti
"O homem e os seus desejos em conflito"



















"Frequently consider the connection of all things in the Universe. ... Reflect upon the multitude of bodily and mental events taking place in the same brief time, simultaneously in every one of us and so you will not be surprised that many more events, or rather all things that come to pass, exist simultaneously in the one and entire unity, which we call the Universe. ... We should not say ‘I am an Athenian’ or ‘I am a Roman’ but ‘I am a Citizen of the Universe'.



Marcus Aurelius, 170AD










"The notion that all these fragments is separately existent is evidently an illusion, and this illusion cannot do other than lead to endless conflict and confusion. Indeed, the attempt to live according to the notion that the fragments are really separate is, in essence, what has led to the growing series of extremely urgent crises that is confronting us today. Thus, as is now well known, this way of life has brought about pollution, destruction of the balance of nature, over-population, world-wide economic and political disorder and the creation of an overall environment that is neither physically nor mentally healthy for most of the people who live in it. Individually there has developed a widespread feeling of helplessness and despair, in the face of what seems to be an overwhelming mass of disparate social forces, going beyond the control and even the comprehension of the human beings who are caught up in it."



David Bohm
"Wholeness and the Implicate Order" 1980










t.








































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