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quarta-feira, 23 de março de 2016

The existence…








"That illusion of a world so shaped that it echoes every groan, of human beings so tied together by common needs and fears that a twitch at one wrist jerks another, where however strange your experience other people have had it too, where however far you travel in your own mind someone has been there before you - is all an illusion.

We do not know our own souls, let alone the souls of others. Human beings do not go hand in hand the whole stretch of the way. There is a virgin forest in each; a snowfield where even the print of birds' feet is unknown. Here we go alone, and like it better so. Always to have sympathy, always to be accompanied, always to be understood would be intolerable.
"



Virginia Woolf
"On being I´ll"








The

existence


























"You perceive, now, that these things are all impossible except in a dream. You perceive that they are pure and puerile insanities, the silly creations of an imagination that is not conscious of its freaks, in a word, that they are a dream, and you the maker of it. 
The dream-marks are all present; you should have recognized them earlier.

It is true, that which I have revealed to you; there is no God, no universe, no human have revealed to you; there is no God, no universe, no human race, no earthly life, no heaven, no hell. It is all a dream, a grotesque and foolish dream. Nothing exists but you. 

And you are but a thought, a vagrant thought, a useless thought, a homeless thought, wandering forlorn among the empty eternities!He vanished, and left me appalled; for I knew, and realized, that all he had said was true."


Mark Twain
"The mysterious stranger"









"Things are not the shadows of ideas, nor ideas more real than things. They are identical, of the same order. Things are ideas and ideas are things.
In a hallucination my idea and its exteriorisation are not two things, they are one and the same thing.
Plato was wrong when he attributed to his ideas a reality different to that of things, when he did not see in each thing an idea, but found ideas only in generalities."



Fernando Pessoa











Tecnologicamente, o homem progrediu incrivelmente, entretanto continua o mesmo de há milhares de anos: pugnaz, ávido, invejoso, sob uma pesada carga de sofrimento."




































"Pretendo falar sobre o problema da existência. Deveis saber tão bem quanto este orador de tudo o que se está a passar no mundo, da extrema confusão e desordem nele imperantes, violência e brutalidade em proporções nunca vistas, distúrbios cujo epílogo é a guerra. A nossa vida está cheia de problemas, de confusão e contradição, não apenas dentro de nós mesmos, da pele para dentro, por assim dizer, mas também exteriormente. 

Tudo está a ser destruído, todos os valores mudam de dia para dia; não há respeito, não há autoridade, e ninguém tem fé em mais nada, nem na Igreja, nem no Governo, em filosofia nenhuma (coisa que diga que deveriam em crer!). Vê-se, assim, o indivíduo inteiramente dependente de si próprio, para descobrir o que lhe cumpre fazer neste mundo caótico. E qual a acção correcta, se tal coisa existe?

Por certo, cada um deseja saber qual é a correcta conduta. Esta é uma questão muito séria, e espero que todos aqui presentes sejam pessoas verdadeiramente sérias, porquanto não estamos reunidos para um entretenimento filosófico ou religioso. Não vimos expor nenhuma teoria ou filosofia, ou trazer-vos ideias exóticas do Oriente. O que vamos fazer é examinar juntos os factos tais como são, muito atenta e objectivamente, sem sentimentalismo, nem emocionalismo. 

E, para podermos investigar dessa maneira, necessitamos estar livres de todo o preconceito e condicionamento, de toda a filosofia e crença. 

Vamos explorar juntos, com vagar e paciência, passo a passo, para termos a possibilidade de descobrir alguma coisa: proceder de maneira semelhante à dos bons cientistas, que observam através do microscópio e vêem exactamente a mesma coisa. Porque o cientista que, no laboratório, se serve do microscópio deve mostrar o que vê a outro cientista, a fim de que ambos vejam exactamente o que é. 
É o que vamos fazer. Não há vosso microscópio ou o microscópio do orador, porém um único instrumento de precisão, por meio do qual vamos observar, e nessa observação, aprender. 

Aprender, não em conformidade com o vosso temperamento, o vosso condicionamento ou crença pessoal, vamos, tão-só, observar o que realmente é e, assim, aprender. Aprender é agir; o aprender não está separado da acção.

Assim, em primeiro lugar, trataremos de compreender o que significa estar em comunicação. Temos, inevitavelmente, de servir-nos de palavras, mas muito mais importante é ultrapassar as palavras. Isso significa que, em companhia do orador, ides empreender uma viagem de exploração, na qual cada um estará em constante comunhão com os outros: quer dizer, estaremos a participar juntos, explorar juntos, observar juntos. Pois a palavra `comunhão´, significa `participar´, `compartilhar´. 

Por conseguinte, não há, aqui, instrutor nem discípulo, um orador a falar, e vós a escutardes o que ele diz, a concordar ou discordar. Isso seria absurdo. Se estamos em comunhão, não há concordar ou discordar, porque ambos estamos a olhar, examinar, não em conformidade com o vosso ponto de vista ou o ponto de vista do orador.

Eis, por que tanto importa descobrir como observar, como olhar com olhos límpidos, como escutar sem nenhuma deformação. 

Cabe-vos, tanto quanto ao orador, o dever de compartilhar, pois nós vamos trabalhar juntos. E desde o início deve ficar claramente entendido que não vamos entregar-nos a qualquer espécie de sentimentalismo ou emocionalismo.

Se isso está bem claro, se vós e eu estamos livres dos nossos preconceitos, das nossas crenças, do nosso condicionamento e conhecimentos, e, portanto, livres para examinar, podemos, então, começar, tendo em mente que nos vamos servir de um instrumento de precisão, do nosso `microscópio´, e que vós e o orador deveis ver a mesma coisa; de outra maneira não poderemos estar em comunhão. Trata-se de matéria tão importante, que deveis estar livres, não só para examinar, mas também para aplicar, pôr à prova o que vedes, na vossa vida diária, em vez de guardá-lo como uma teoria ou princípio, segundo o qual estais a trabalhar.





Consideremos agora o que realmente está a ocorrer no mundo: violência de toda a espécie, não só no exterior, mas também nas nossas mútuas relações; intermináveis discórdias nacionalistas e religiosas, todos contra todos, tanto política como individualmente.

Nesta medonha confusão, deste imenso sofrimento, que vos cabe fazer? Podeis recorrer a alguém para que vos ensine o que deveis fazer, ao sacerdote, ao especialista, ao analista? Estes não trouxeram paz, ou felicidade, alegria, liberdade para viver. Assim, para onde apelar? Se assumis a responsabilidade com base na vossa própria autoridade, como indivíduo, por já não terdes fé em nenhuma autoridade externa (estamos a dar intencionalmente à palavra `autoridade´ um sentido especial), podeis depender, como indivíduo, da vossa própria autoridade interior?







A palavra `indivíduo´ significa `indivisível´, não fragmentado. `Individualidade´, significa uma totalidade, o Todo, e a palavra `Todo´ significa `são´, `puro´, (Isto deve significar que o Todo, por não estar fragmentado, partido, é são; e é puro, por não ter mistura.). Mas, vós não sois um indivíduo, porque não estais são, porque estais dividido, fragmentado, interiormente; estais em contradição com vós mesmos, partido, e por conseguinte, não sois de modo nenhum um indivíduo. Assim, em vista dessa fragmentação, como se pode exigir que um fragmento assuma a autoridade sobre os demais fragmentos?


Vede bem claramente o que é que estamos a examinar; pois vemos que a educação, a ciência, a religião organizada, a propaganda, a política, todas falharam. Não trouxeram a paz. 

Embora tecnologicamente o homem tenha progredido incrivelmente, ele continua o mesmo de há milhares de anos: pugnaz, ávido, invejoso, violento, sob uma pesada carga de sofrimento. Isso é um facto, e não uma suposição.

Assim, para descobrirmos o que nos cabe fazer, num mundo que está tão confuso, num mundo tão brutal e tão desditoso, temos não só de examinar o que é o viver, mas também de compreender o que é o amor e o que significa morrer. 

E cumpre, ainda, compreender isso que o homem vem em busca, há tantos milhares de anos, ver se existe uma realidade transcendente ao pensamento. Enquanto não se compreender, no seu todo, a complexidade deste quadro, nenhum significado tem em dizer-se: `Que posso fazer em relação a um dado fragmento?´. 

Cabe-nos compreender o todo da existência, e não apenas urna parte dela, por mais terrível e torturante que seja essa parte. Tendes de olhar o quadro inteiro, o que é o amor, o que é meditação, se existe Deus, o que significa viver. Temos de compreender o fenómeno da existência como um todo. Só então se pode perguntar `que nos cabe fazer?´. E, se virdes o quadro inteiro, provavelmente nunca fareis tal pergunta, porque estareis então a viver; viver é, então, a acção correcta.

Vamos, pois, em primeiro lugar, ver o que é viver e o que não é viver. Assim, vejamos primeiramente o que significa a palavra `observar´. Significa: ver, ouvir, aprender.

O que significa `ver´? O que significa `olhar´? 

Olhar é uma coisa muito difícil, uma arte. Provavelmente nunca olhastes uma árvore; porque, se alguma vez a olhais, entram em cena todos os vossos conhecimentos botânicos e vos impedem de observá-la tal qual é. Provavelmente nunca olhastes a vossa esposa ou marido, o vosso amigo ou amiga, porque tendes uma imagem a respeito dele ou dela. Essa imagem que formastes a respeito da outra pessoa ou a respeito de vós mesmos, irá impedir-vos de olhar. Por conseguinte, quando olhais, há deformação, contradição, há sempre um observador em relação com a coisa observada. Escutai com interesse. Como sabeis, quando temos interesse numa coisa, observamo-la bem de perto; isso significa ter grande afeição, e por conseguinte, ser capaz de observar.
Assim, olhar junto com o outro, significa observar com interesse, com afeição, de modo que ambos vejam a mesma coisa, juntos. Mas, antes, deveis estar livre da imagem que tendes de vós mesmos. Fazei-o assim como estou a dizer; o orador é apenas um espelho, e em consequência, o que vedes é o vosso próprio reflexo no espelho. O orador não é importante a nenhum respeito; importante é o que vedes no espelho. E, para se poder ver claramente, sem nenhuma desfiguração, deve desaparecer toda a espécie de imagem, a imagem de serdes americano ou católico, rico ou pobre, todos os vossos preconceitos devem desaparecer. 




E tudo isso desaparece no momento em que vedes claramente o que está à vossa frente, porque o que vedes é muito mais importante do que o que `deveis fazer´ depois de o verdes. 
No mesmo instante em que vedes com clareza, dessa clareza vem acção. Só se pergunta `o que me cabe fazer?´, quando a mente está num estado de caos, confusa, a escolher. 

Existe o perigo do nacionalismo, a divisão entre os povos; esta divisão é a coisa mais perniciosa, porque nela há insegurança, há guerra, há incerteza. Mas, quando a mente vê com toda a clareza, não intelectual ou emocionalmente, o perigo da divisão, há então uma acção de espécie inteiramente diferente.

Muito importa, pois, aprender a ver, a observar. E o que estamos a observar? Não apenas o fenómeno externo, mas também o estado interior do homem. Porque, a menos que haja uma revolução fundamental, radical, na psicose, na raiz mesma do nosso ser, o mero apagar, o mero legislar na periferia é insignificante. 

Assim, o que nos interessa é descobrir se o homem é capaz de efectuar uma radical transformação em si próprio, não de acordo com uma certa teoria, uma certa filosofia, porém vendo a si próprio tal como é. Esse próprio percebimento produzirá a transformação radical. O vermos o que somos é de suma importância, não o que pensamos ser ou o que nos dizem que somos. 




Há diferença entre dizerem-nos que estamos com fome e o estarmos realmente com fome. Os dois estados são inteiramente diferentes; num deles, sabemos realmente, pela directa percepção, pela sensação, que temos fome, e agimos. Mas, se alguém nos diz que devemos estar com fome, verifica-se uma actividade bem diversa. Portanto, de idêntica maneira, devemos observar e ver por nós mesmos o que realmente somos. E é isto o que vamos fazer: conhecer a nós mesmos. 

Já se disse que conhecer a si próprio é a mais alta sabedoria, mas muito poucos dentre nós têm cuidado disso. Falta-nos a necessária paciência, intensidade ou paixão, para descobrirmos o que somos. Nós temos a necessária energia, mas valemo-nos da energia de outros; precisamos que outros nos digam o que somos.

Nós vamos descobri-lo (o que somos) pela observação de nós mesmos, porque, no momento em que ocorrer uma radical transformação de nós mesmos, estabeleceremos a paz no mundo.

Viveremos livres, o que não significa que faremos o que quisermos, mas, sim, que viveremos com felicidade, com alegria. O homem que tem uma grande alegria no coração não conhece o ódio e a violência e não causará a destruição de ninguém. Liberdade significa não condenar nada do que vedes em vós mesmos. Em geral o condenamos, ou o explicamos, justificamos. Nunca olhamos sem justificação ou condenação. 

Por conseguinte, a primeira coisa que cumpre fazer, e esta é talvez a última coisa, é observar sem nenhuma espécie de condenação. Isso vai ser muito difícil, porque é a nossa cultura, a nossa tradição, comparar, justificar ou condenar o que somos. Dizemos `isto é certo e isso é errado; isto é verdadeiro e isto é falso, isto é belo,, etc.´, e isso nos impede de observar o que realmente somos.

Escutai: O que vós sois é uma coisa viva, e quando condenais o que vedes em vós mesmos, o estais a condenar com uma memória morta, que é o passado. Há, por conseguinte, uma contradição entre o viver e o passado. Para se compreender o viver, o passado deve desaparecer; então, pode-se olhar. É isso o que estais a fazer agora, enquanto falamos; não ireis reflectir em casa sobre o assunto, porque no momento em que começardes a fazê-lo estareis liquidado. Não estamos aqui para fazer terapia em grupo e tampouco confissões em público; isso seria infantil. O que vamos fazer é uma exploração de nós mesmos, como cientistas, sem dependermos de pessoa alguma. Se dependeis, seja do vosso analista ou vosso sacerdote, seja da vossa memória ou experiência, estais perdido, porque tudo isso é o passado. E se estais a olhar o presente com os olhos do passado, jamais descobrireis o que é a coisa viva.

Iremos examinar juntos essa coisa viva, que sois vós, que é a vida, em todos os seus aspectos. Iremos examinar o fenómeno da violência, primeiro a violência em nós existente, depois a violência exterior. Talvez, compreendendo a violência existente em nós mesmos, não seja necessário olharmos a violência exterior, porque o que somos interiormente projectamo-lo no exterior. Por natureza, por hereditariedade, pela chamada evolução, criamos em nós essa violência. Isto é um facto: nós somos entes humanos violentos. Há mil explicações de por que somos violentos. Mas nós não queremos saber de explicações, que poderão desorientar-nos, pois cada especialista diz: `Esta é a causa da violência´. 

Quanto mais explicações temos, tanto mais pensamos compreender a violência, porém ela continua na mesma. Tende, pois, sempre em mente que a descrição não é a coisa descrita, a explicação não é `o que é´. Há muitas explicações bastante simples e óbvias de por que somos violentos: cidades densamente povoadas, excesso de população, hereditariedade, etc. Podemos varrê-las todas, pois o facto continua a existir: somos pessoas violentas. Desde a infância educam-nos para sermos violentos, para competirmos, para sermos brutais uns para com os outros. Nunca encaramos o facto; o que sempre fazemos é perguntar: `O que nos cumpre fazer, em relação à violência?´.
Continuai a escutar com interesse, isto é, com afeição, com atenção. Perguntando-se `o que nos cumpre fazer a respeito da violência´, a resposta virá sempre do passado, porque o passado é a única coisa que conhecemos; a vossa existência inteira se baseia no passado, a vossa vida é o passado. Se alguma vez vos olhardes, vereis quanto estais a viver no passado. Todo o nosso pensar, assunto de que trataremos mais adiante, é reacção do passado, reacção da memória, do conhecimento e da experiência. 




O pensamento, pois, nunca é novo, nunca é livre. Com esse `processo´ de pensar, olhais a vida, e, por conseguinte, quando perguntais `o que nos cumpre fazer a respeito da violência?´, já fugistes do facto.

Ora bem; podemos aprender, observar o que é a violência? Como é que a olhais? Condenando-a? Justificando-a? Se não a condenais nem justificais, como então a olhais? Olhai-a agora, neste momento em que estamos a falar a seu respeito; isso é importantíssimo. Olhais esse fenómeno, que sois vós mesmos: um ente humano violento, como se fôsseis uma entidade exterior, a olhar para dentro? Ou o olhais sem essa entidade exterior, o censor? Quando o olhais, vós o fazeis como se fôsseis um observador diferente da coisa que estais a olhar, como quem diz: `Eu não sou violento, mas quero livrar-me da violência?´; Olhando dessa maneira, estais a supor que um certo fragmento é mais importante do que todos os outros fragmentos.


Quando olhais como um fragmento a olhar os demais fragmentos, isso significa que esse fragmento assumiu a autoridade; que ele causa contradição, e por conseguinte, conflito. Mas, se fordes capaz de olhar sem fragmento algum, estareis então a olhar o todo sem o observador. Estais a entender? Então, senhor, fazei-o (Palavras dirigidas a um ouvinte que respondeu afirmativamente à pergunta `Estais a entender?´). Porque, se o fizerdes, vereis acontecer uma coisa extraordinária: já não tereis conflito de espécie alguma. 

Conflito é o que somos, com ele estamos a viver. Em casa, no trabalho, durante o sono, a todas as horas, estamos em conflito, há constante batalha e contradição. Assim, enquanto vós mesmos não compreenderdes a raiz dessa contradição, não de acordo com este orador, de acordo com ninguém, não tereis uma vida de paz e felicidade e alegria. 

Consequentemente, é de essencial importância descobrir o que é que causa conflito e, portanto, contradição. Qual a raiz do conflito? Esta raiz é a separação entre o observador e a coisa observada. O orador diz: `Estou a viver uma vida em que não há violência´, e isso é uma dissimulação, uma hipocrisia, já que ele é violento. Assim, é da máxima importância descobrir o que é que causa essa separação.

Estais a escutar um orador que não é autoridade, que não é o vosso instrutor, porquanto aqui não existe nenhum guru e nenhum seguidor; somos simples entes humanos, empenhados em descobrir uma vida livre de conflito, em viver pacificamente, com uma grande abundância de amor. Mas, se seguis outra pessoa, estais a destruir tanto a vós mesmos, quanto àquela pessoa (aplausos).

Peço-vos não aplaudir. Não estou aqui para entreter-vos e tampouco para receber aplausos. O importante é que vós e eu descubramos e comecemos a viver uma vida diferente, da estúpida vida que estamos a levar, facto este que nem os vossos aplausos, nem a vossa aprovação, podem alterar.






Muito importa a cada um compreender por si próprio, ver pela sua própria observação, que o conflito sempre existirá enquanto houver separação entre o observador e a coisa observada. 
Esta separação está em vós, como `eu´, como `ego´, como pessoa que quer ser diferente de outra. Está claro? 

Clareza significa verdes por vós mesmos; não é uma simples clareza verbal, não é ouvir e compreender uma série de palavras ou ideias: é vós mesmos verdes muito claramente e, por conseguinte, sem nenhuma escolha, como a separação entre o observador e a coisa observada é uma fonte de malefícios, confusão e sofrimento. Assim, podeis, ao terdes um acesso de violência, observar a violência em vós existente, sem a memória, sem justificação, sem a asserção de que não deveis ser violento: podeis olhá-la, simplesmente? 

Isso significa que deveis estar livre do passado. Para olhar, requer-se uma grande energia, requer-se `intensidade´. Deveis ter paixão, pois de contrário, não podereis olhar. Se não tiverdes uma grande paixão, `intensidade´, não podereis olhar uma nuvem ou os maravilhosos montes que aqui tendes. De modo idêntico, para olhardes a vós mesmos, sem o observador, necessitais de tremenda energia e paixão. 

Essa paixão, essa intensidade, é destruída quando começais a condenar, a justificar, quando dizeis:`não devo´, `devo´, ou quando dizeis: `Estou a viver uma vida não-violenta´, ou aparentais estar a viver uma vida não-violenta.

Eis, por que todas as ideologias são destrutivas. 

Na Índia fala-se em não-violência desde tempos imemoriais; lá se diz: `estamos a praticar a não-violência´, e todos são tão violentos como o resto do mundo. O ideal lhes confere uma certa sensação, uma fuga hipócrita ao facto. Se puderdes pôr de lado todas as ideologias, todos os princípios, e só olhar o facto, estareis então, em contacto com uma coisa real, não mítica, não teórica.

É esta, pois, a coisa principal: olhar sem o observador, observar a vossa esposa, os vossos filhos, sem as respectivas imagens. 
A imagem poderá ser superficial ou estar oculta nas profundezas do inconsciente; é necessário, pois, não só observarmos as imagens que formamos no exterior, mas também as imagens que temos interiormente, bem no fundo, a imagem da raça, da cultura, a perspectiva. histórica da imagem que temos de nós mesmos. Cumpre, pois, observar não só no nível consciente, mas também nos profundos recessos da nossa mente.

Não sei se já observastes o inconsciente. Interessa-vos isso? Sabeis quanto é difícil? É muito fácil fazer citações ou repetir o que disse o analista ou o professor; isso é brinquedo de criança. Mas, se não cuidais meramente de ler livros sobre a matéria, torna-se dificílima essa observação. Faz parte da vossa meditação descobrir como olhar o inconsciente, não através dos sonhos, não através da intuição, porque esta bem pode ser o vosso próprio desejo, o vosso próprio anseio, a vossa secreta esperança. Cabe-vos, pois, descobrir como olhar a imagem que a vosso respeito criastes, exteriormente, o símbolo, e também olhar profundamente, para dentro de vós mesmos.




Devemos estar conscientes, não só das coisas exteriores, mas também do movimento interior da vida, do movimento interior dos desejos, motivos das ânsias, temores, tristezas. Ora, estar consciente sem escolha é estar consciente da cor da roupa que alguém está a usar, sem dizer `gosto´, `não gosto´, mas simplesmente observar; como viajar num carro, é observar o movimento dos vossos pensamentos, sem condenar, sem justificar, sem escolher. Se assim olhardes, vereis que não haverá observador. O observador é o censor, é o americano, o católico, o protestante; ele (o observador) é produto da propaganda; é o passado. E, quando o passado olha, inevitavelmente separa, condena ou justifica. 

O homem que sente fome, que realmente sofre, esse homem pergunta: `Se eu fizer isto, obterei aquilo?´. O que ele quer é livrar-se do sofrimento ou encher o estômago; nunca fala sobre teorias. Assim, senhor, em primeiro lugar, deixai-me sugerir-vos: libertai-vos da ideia de `se´. Não vivais em nenhum ponto do futuro; o futuro é o que `projectais´ agora. O agora é o passado; é isso (o passado) o que sois quando dizeis: `Estou a viver agora”. Estais viver no passado, porque o passado vos está a dirigir e moldar; as memórias do passado vos estão a fazer agir desta ou daquela maneira.

Assim, viver é estar livre do tempo; e, quando dizeis `se´, estais a introduzir o tempo. O tempo é a maior das tristezas.











Interrogante: Como podemos ser nós mesmos, uns para os outros?

J. Krishnamurti: Escutai isto:`ser nós mesmos´. O que é `vós mesmos´, se posso perguntá-lo? Quando dizeis`nós mesmos´ uns aos outros, o que é `vós mesmos´? 
A vossa cólera, o vosso azedume, as vossas frustrações, os vossos desesperos, a vossa violência, as vossas esperanças, a vossa absoluta falta de amor, é isso o que sois? Não senhor, não digais `como posso ser eu mesmo para outrem?´; vós não conheceis `vós mesmos´. Vós sois tudo isto, e o outro também: aflição, problemas, caprichos, frustrações, ambições. Cada um está a viver no isolamento, na exclusão. Só ao desaparecerem essas barreiras, essas resistências, podereis viver felizes uns com os outros.
Interrogante: Por que separais o consciente do inconsciente, se não credes na separação?

J. Krishnamurti: Vós é que fazeis isso, eu não! (risos). Nas últimas décadas vos ensinaram que possuís um inconsciente; a respeito desse inconsciente se têm escrito volumes sobre volumes; graças a ele, os analistas estão fazem fortunas. Água é sempre água, não importa se a deitais num vaso de ouro ou num vaso de barro. De igual maneira, não dividir, mas ver o todo, este é que é o nosso problema; ver o todo da consciência, e não um certo fragmento chamado `consciente´ ou `inconsciente´. Ver o todo é uma das coisas mais difíceis, mas ver um fragmento é relativamente fácil. Para ver uma coisa no seu todo, isto é, vê-la sãmente, não deve haver nenhum centro de onde olhar, o centro representado por `eu´, `vós´, `eles´, `nós´.Isto não é um discurso, uma palestra, uma conferência, que podeis ouvir superficialmente, e depois, vos irdes embora. Estais a escutar a `vós mesmos´; se tendes ouvidos para ouvir o que se está a dizer, não podeis concordar ou discordar, o facto está à vossa frente. Por conseguinte, estamos a compartilhar, estamos a comungar, estamos a trabalhar juntos. Nisso há uma grande liberdade, grande afeição, compaixão e, afinal de contas, é daí que vem a compreensão."


Jiddu Krishnamurti
"Fora da violência"



















"The chief thing is to love others like yourself, that's the great thing, and that's everything; nothing else is wanted, you will find out at once how to arrange it all. And yet it's an old truth which has been told and retold a bilion times, but it has not formed part of our lives! 

The consciousness of life is higher than life, the knowledge of the laws of happiness is higher than happiness, that is what one must contend against. And I shall. If only every one wants it, it can all be arranged at once."



Fiodor Dostoievski
"The dream of a ridiculous man"



















t.






































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