"So, to understand the innumerable problems that each one of us has, is it not essential that there be self-knowledge?
And that is one of the most difficult things, self-awareness, which does not mean an isolation, a withdrawal. Obviously, to know oneself is essential; but to know oneself does not imply a withdrawal from relationship. And it would be a mistake, surely, to think that one can know oneself significantly, completely, fully, through isolation, through exclusion, or by going to some psychologist, or to some priest; or that one can learn self-knowledge through a book.
Self-knowledge is obviously a process, not an end in itself; and to know oneself, one must be aware of oneself in action, which is relationship.
You discover yourself, not in isolation, not in withdrawal, but in relationship, in relationship to society, to your wife, your husband, your brother, to man; but to discover how you react, what your responses are, requires an extraordinary alertness of mind, a keenness of perception."
Jiddu Krishnamurti
"The book of life"
Keenness
of
perception...
"Vamos continuar com o assunto de que estávamos a tratar noutro dia? Dizíamos ser absolutamente necessária uma revolução radical na nossa maneira de viver, na nossa visão das coisas, nas nossas actividades, no nosso estado de consciência.
E mostrámos as razões dessa necessidade. Considerando-se o actual estado do mundo: extrema confusão, aflição, guerras, corrupção, uma vida sem nada de novo, uma mente que não se renova totalmente, todos os dias, tornando-se vigorosa, juvenil, inocente, considerando-se tudo isso, torna-se evidente a necessidade de uma mutação total da mente.
A nossa mente é o resultado de séculos e séculos de propaganda. Temos sido moldados pelas circunstâncias, pelas nossas inclinações e tendências.
Somos o resultado do tempo, pois foi no tempo que a mente amadureceu, desenvolveu-se, evoluiu (se preferis este termo) do animal para o seu estado actual. A nossa vida presente, tal como é (realmente e não teórica ou idealmente, não como desejaríamos que fosse; o facto real, o que ela é hoje) é uma vida de sofrimento, uma vida de frustração, de profunda ansiedade, de `sentimento de culpa´ , um tactear, em busca de alguma coisa diferente do que é, uma batalha constante, não só exterior, mas também interiormente.
A nossa vida é um campo de batalha, uma luta interminável e fútil. Luta-se para alcançar poderio, como a maioria de nós o faz. O poder dá-nos um certo sentido à existência, política, económica ou interiormente.
Pela propaganda pode-se dominar os demais; podeis dominar o vosso vizinho, a vossa esposa, o vosso marido. Tudo isso implica poder. E implica também, normalmente, uma vida de constante competição, com certas melhorias das condições, etc., porém uma vida de ambição e rivalidade, de inútil busca, vida de terrível solidão, de desesperança, ainda que de nada disso estejamos conscientes. Em geral não estamos conscientes desse estado, porque temos muito medo de observá-lo. Mas o facto é este.
Assim é a nossa vida de cada dia, na qual não há afeição nem amor. Só há sentimento de insegurança e constante busca da segurança, e sempre o fim: a morte. Eis o que chamamos `viver´.
Sentindo medo, inventamos deuses, inventamos teorias, intelectualmente, teologicamente, religiosamente.
Temos ideias, fórmulas relativas ao que deveríamos ser. E funcionamos em conformidade com tais fórmulas: a isso chamamos `viver inteligentemente´.
Temos grande orgulho do nosso intelecto. Quanto mais intelectual a pessoa, tanto mais impiedosa e brutal. O intelecto, em geral, é assim. Tal é a nossa vida. Quer nos agrade, quer não, este é um facto que parecemos incapazes de alterar.
E, principalmente no mundo moderno, a vida está a tornar-se mais e mais mecânica: frequentar o emprego todos os dias, por quarenta ou cinquenta anos, suportar ameaças e insultos dos superiores, etc., etc. E perguntamos: `Há alguma possibilidade de efectuarmos uma revolução radical na nossa vida?´ . É claro que sempre mudamos um pouco aqui e ali, porém impelidos pelas circunstâncias; uma invenção nova pode alterar, exteriormente, a nossa maneira de vida, etc.
Estamos a ver, pois, o que de facto se está a passar na nossa consciência, na nossa vida diária. Creio que qualquer um que esteja consciente, por pouco que seja, não só de si próprio, mas também da situação do mundo, pode ver que isto está a acontecer, que somos o resultado de uma formidável propaganda religiosa, política, comercial, etc. Não sei se ouvistes dizer ou se lestes que um certo general russo, da mais alta graduação, um marechal de campo, declarou, em relatório às autoridades superiores, que os soldados estavam a ser instruídos por meio do hipnotismo.
Comprendeis? Por meio do hipnotismo ensinam aos soldados novas técnicas, quer dizer, ensinando-os a matar mais habilmente, a proteger a si próprios e matar outros. Não sei se percebeis o que isso implica, pois por meio da hipnose podem-se aprender muitas coisas, uma nova língua, uma nova maneira de pensar, etc. Afinal de contas, hipnose é propaganda.Sugere-se-vos, em cada dia da vossa vida, que deveis crer em Deus, e credes em Deus. Ou, se vos dizem que não há Deus, também nisso credes. Credes em atman, porque é uma ideia geralmente sancionada, transmitida, através dos séculos, pela tradição; e, também, porque gostais de crer que em vós existe uma certa coisa muito superior, permanente, divina, etc. Mas, isso é apenas um conceito intelectual que em nada altera a vossa maneira de vida. E, politicamente, é tão óbvio o que está a suceder! Religiosa, política e interiormente somos o resultado do que foi e do que outros disseram. E quanto mais hábil, quanto mais sagaz, quanto mais capaz a pessoa é de persuadir-vos psicologicamente, tanto mais facilmente credes nela.
E tal é a vossa vida. Sois hindu, porque vos disseram que o sois e as circunstâncias vos forçaram a sê-lo; ou sois muçulmano, cristão, etc., pelas mesmas razões. Nesse campo o ente humano está a viver, na América, na Rússia, onde quer que seja.
E nós estamos a perguntar se o ente humano tem possibilidade de jogar fora tudo aquilo, para efectuar uma mutação total, não intelectualmente, porém realmente. Este, a meu ver, é o problema que cada ente humano tem de enfrentar. Porque podemos continuar por mais mil anos exactamente como estamos, a guerrear-nos, a viver na mais profunda aflição, a dar-nos este ou aquele título, a pertencer a tal ou tal nacionalidade, tal ou tal religião, coisas tão pueris! E tudo isso é o resultado da propaganda, propaganda do Gítâ, da Bíblia, do Alcorão ou das teorias de Marx e de Lenine. Entendeis?
Eis o que somos, sem nada de original, nada de verdadeiro: entes humanos de `segunda mão´ . Isso também é um facto: é a nossa vida. E, no meio de tudo isso, o sentimento de um medo profundo, renitente, que produz a violência, nos obriga a imaginar meios de fuga. Já criámos uma verdadeira rede de vias de fuga a esse medo invencível dos entes humanos. Como já disse, a maioria de nós está bem consciente desse facto.
Ora bem, o que se pode fazer no sentido de operar uma mutação radical desse estado? Entendeis esta pergunta?
Quando acabarmos de falar, espero que tenhais a bondade de fazer perguntas, tal como na última reunião.
Eis, pois, o nosso problema: Como posso eu, que sou o resultado do tempo, de uma infinita série de circunstâncias que me têm compelido a agir, a pensar, a sentir de uma maneira que tanto condicionou a minha mente, como posso operar uma revolução total?
Estamos a empregar a palavra `mente´ num sentido que abrange o ente total, o ente físico, emocional, nervoso, cerebral, etc., a totalidade da consciência, que constitui a mente.
E que possibilidade tem um ente humano de operar, aí, uma revolução total?
Não sei se alguma vez vós fizestes esta pergunta; talvez não. Podeis ser levado a mudar um pouco aqui e ali, conforme o vosso desejo de prazer e o vosso medo à dor. Principalmente quando a mudança dá prazer, quando vos promete satisfação ou desejais a continuação de um dado deleite ou prazer, tentais mudar um pouco. Mas o que estamos a perguntar a nós mesmos é coisa muito diferente.
Como ente humano, tenho possibilidade de mudar completamente?
Não `mudar para alguma coisa´, porque esse `alguma coisa´ é uma fórmula, um ideal adquirido de Marx, de Lenine, ou por mim mesmo concebido. Compreendeis? A mudança de o que é para o que deveria ser não é mudança verdadeira, conforme explicámos da última vez; e nós somos enganados por esse movimento. O que é, é o facto, e o que deveria ser não é o facto.
Porque, no intervalo de tempo entre o que é, e o que deveria ser, apresentam-se influências várias, pressões e tensões do ambiente, e as coisas estão sempre a mudar. Mas, se formulamos `o que deveria ser´ e procuramos mudar segundo essa fórmula, essa mudança proporciona-nos uma certa sensação.
A simples sensação de movimento para `o que deveria ser´ confere à pessoa uma certa vitalidade. Mas o que de facto sucedeu, psicologicamente, foi que a mente formulou um padrão, em conformidade com o qual irá viver, padrão esse `projectado´ do passado. Trata-se, portanto, de movimento do passado, e por conseguinte, movimento de uma coisa morta; não é um movimento vivo, absolutamente. Se observardes isso em vós mesmos, percebereis claramente o que estou a dizer.
Assim, que possibilidade tem um ente humano, vós e eu, de tornar a mente nova, vigorosa, inocente, viva? A nossa vida é toda um `processo´ de desafio e reacção; de contrário, a vida será como uma coisa morta; a maioria de nós, a bem dizer, está morta.
A vida, com efeito, é um processo de desafio, uma exigência e uma `resposta´, não importa se tal exigência, ou desafio, é exterior ou interior. E enquanto a resposta não for totalmente adequada ao desafio, haverá atrito, batalha, tensão, sofrimento. Isto é bem óbvio. Enquanto eu não `responder´ totalmente a qualquer problema, terei de viver em conflito.
Compreendeis, senhor?
A vida actual exige (a menos que queiramos viver muito superficialmente, e portanto, viver uma vida sem significado algum) que façamos uma revolução em nós mesmos.
Cabe-nos, pois, descobrir, por nós mesmos, se tal mutação é possível.
Quer dizer, é possível morrermos totalmente para o passado, morrermos totalmente para o que foi, para que a nossa mente se renove e revigore? Porque, como dissemos noutro dia, o pensamento é sempre velho. Entendeis? O pensamento é reacção da memória. Se não tivésseis memória serieis incapazes de pensar. E essa memória é o resultado de experiência acumulada. Quer se trate do acervo de experiência da vossa comunidade ou sociedade, quer do vosso acervo individual, isso é sempre memória.
Assim, o todo da consciência, embora o chameis `superior´ ou `inferior´, é memória. Percebeis?
E nesse campo, que é a consciência, não existe nada novo. Direis: `Ora, existe Deus, que é totalmente novo, existe o atman que é sempre novo´, mas isso está ainda no campo da consciência, e portanto, na esfera do pensamento. E o pensamento é memória, não importa se a vossa própria memória ou memória acumulada, de um milénio de propaganda. Estais a entender? O pensamento jamais poderá promover aquela revolução.
E, se aprofundais a questão, apresenta-se-vos o problema: Se o pensamento não pode efectuar essa mutação, qual é então a função do pensamento? Eu tenho de me servir do pensamento nas minhas ocupações; quando estamos a fazer coisas, cozinhar, lavar pratos, falar uma língua, como agora estamos a fazer, o pensamento tem de existir. Se vos perguntam onde morais, podeis responder imediatamente, porque estais bem familiarizados com o lugar onde residis. Por conseguinte, há um intervalo insignificante, quase nenhum intervalo, entre a pergunta e a resposta. Isto é bem óbvio.
E, se fazemos uma pergunta mais profunda, será necessário um intervalo maior entre a pergunta e a resposta. Nesse interveio, ficais a olhar, a buscar, a indagar, a esperar que alguém vos informe. Tudo isso se passa no campo da consciência, ou seja na memória. E com essa memória é que esperamos efectuar a mutação. Não é verdade? Essa memória, de onde brota o pensamento, será sempre velha; por conseguinte, não há nada novo no pensamento.
O pensamento poderá inventar coisas novas, ideias novas, novos alvos, novos métodos eleitorais, novas orientações na política, etc., mas tudo estará baseado na memória, no conhecimento, na experiência, ou seja no passado. Assim, o pensamento, por mais habilidoso e sagaz, e por erudito que seja, jamais operará a revolução completa na mente. E essa revolução, essa mutação é absolutamente necessária, para que possamos viver uma vida diferente. Assim, é possível morrermos para o pensamento?
Compreendeis o problema? Embora necessitemos do pensamento e dele possamos fazer uso eficaz, independente de quaisquer inclinações ou tendências pessoais, embora possamos servir-nos dele criteriosamente, racionalmente, com honestidade e sem auto-mistificação, o pensamento não tem nenhuma possibilidade de criar o novo.
Daí surge o problema: O que é a morte? Para a maioria de nós, a morte é uma coisa vitanda, uma coisa temerosa, que devemos afastar para bem longe. Sabemos que existe a morte, a morte do organismo físico; mas pensamos também na morte como o fim. Se credes na reencarnação, não estais a enfrentar o facto: estais a evitar a questão. Há o desafio: `Tu morrerás´ . Não o eviteis; olhai-o, penetrai-o, descobri tudo o que nele puderdes descobrir.
Mas, para fazê-lo, não pode haver medo de espécie alguma. O medo é criado pelo pensamento, como deveis saber. Esse pensamento se projecta no tempo: `Amanhã ou daqui a cinquenta anos morrerei´, ou `Serei feliz´ , ou `Irei para o céu´ , ou qualquer outra coisa, e o pensamento gera medo. Já deveis ter notado isso, não? E esse medo vos impede de olhar, de observar. É ele, por conseguinte, o observador, não achais? O medo é a entidade, o observador, o pensador, o `experimentador´, o centro de onde olhais, pensais, agis.
O medo é o observador, o pensador que, como observador, cria tempo entre si próprio e a coisa observada.
Estais a entender, senhores? Alguma vez já olhastes para uma árvore? Duvido muito que o tenhais feito. Não temos nenhum sentimento da beleza. Vemos o céu, a flor, o reflexo do sol na água, um pássaro a voar, um belo rosto, um lindo sorriso, mas nada observamos. E quando observamos, há espaço entre o observador e a coisa observada. Exacto? Há espaço entre vós e a árvore. Nesse espaço tendes os vossos pensamentos acerca da árvore, a imagem relativa à árvore. Tendes também as vossas ideias, as vossas esperanças, os vossos temores, e ainda a imagem relativa a vós mesmos. Tendes a imagem de vós mesmos e dos vossos temores. Essas imagens estão a observar a árvore.
Por conseguinte, nunca observais a árvore.
Mas, quando nenhuma imagem tendes da árvore ou de vós mesmos, não existe então distância alguma entre o observador e a coisa observada: o observador é a coisa observada. Vede, por favor, se se compreender isso, esta compreensão, em si, será uma tremenda revolução: a compreensão de que não existe observador separado da coisa observada.
Consideremos a coisa num nível mais familiar para vós: Já olhastes alguma vez a vossa esposa ou o vosso marido, ou os vossos filhos, ou o vosso vizinho, ou o vosso patrão, ou qualquer dos vossos políticos? Duvido que o tenhais feito. Em todo o mundo, os políticos estão a causar males, porque estão interessados no `imediato´. E a pessoa que só se ocupa com o `imediato´ está a fomentar a confusão, a aflição, a guerra.
Já olhastes para aquelas pessoas (a esposa, marido, etc.)?
Se já o fizestes, o que se vê? A imagem que tendes da pessoa, a imagem que tendes dos vossos políticos, do Primeiro Ministro, do vosso Deus, da vossa esposa, do vosso filho. O que se vê é essa imagem. Tal imagem foi criada pelas vossas relações, vossos temores, ou vossas esperanças. Os prazeres, sexuais e outros, que tivestes com a vossa esposa, com o vosso marido, as contrariedades, as adulações, os confortos e demais coisas que a vida doméstica proporciona (e essa é uma vida `de morte´) criaram uma imagem relativa à vossa esposa ou marido.
Com essa imagem é que olhais. De modo idêntico, a vossa esposa ou marido têm uma imagem de vós. Assim, a relação entre vós e a vossa esposa ou marido, entre vós e o político, é com efeito a relação existente entre tais imagens. Certo? Isto é um facto.
Como podem duas imagens produzidas pelo pensamento, pelo prazer, etc., possuir qualquer afeição ou amor?
Assim, a relação entre dois indivíduos que vivem intimamente ou muito distanciados um do outro, é uma relação entre imagens, símbolos, lembranças. E como pode haver nisso, amor verdadeiro?
Compreendeis esta pergunta? Assim, nós nunca olhamos, nem para a vida, nem para a morte. Nunca olhamos para a vida. Temo-la olhado como uma coisa feia, horrível, ou como uma vida de constante batalha, esta vida que levamos, de luta e mais luta, luta financeira, luta emocional, luta intelectual etc. etc. Aceitamo-la como inevitável. E, tendo-a aceitado, inventamos uma teoria de que, talvez numa vida futura, na próxima vida, ou seja lá o que for, seremos recompensados.
É dessa maneira que vivemos; e cada religião, por este mundo fora, inventou uma certa esperança: reencarnação, ressurreição, etc.; não entraremos em pormenores a este respeito, porque a ocasião não é oportuna e porque não há mais tempo para tal. Assim, para se compreender qualquer coisa, até mesmo a vossa esposa, o vosso marido ou os vossos políticos, deveis observar.
E para se poder observar, não deve existir barreira nenhuma entre o observador e a coisa observada. Certo? De contrário, não se pode ver nada. Se desejo compreender a vós, como ente humano, preciso livrar-me de todos os meus preconceitos, as minhas impressões, as minhas tendências, das pressões circunstantes, etc.; devo livrar-me de tudo isso, totalmente, para então olhar.
Começo então a compreender a coisa, porque me libertei do medo.
Enquanto existir observador e coisa observada, pensador e coisa pensada, tem de haver medo, incerteza, confusão.
Observar a morte é observar a vida. Percebeis? Nós não observamos o viver, nem somos capazes de observar a morte.
Quando sabeis observar o viver, com todas as suas complexidades, com todos os seus temores, desesperos, agonias, dolorosa aflição, solidão, tédio, quando sabeis olhar o viver (independentemente de se dele gostais ou não gostais, se ele vos dá prazer ou desprazer; trata-se simplesmente de observar), sereis então capazes de observar a morte. Porque então não haverá medo.
Então, morrer é viver. Mas, nós não sabemos morrer para tudo, todos os dias, para tudo o que aprendemos, para todas as coisas que acumulamos, tais como carácter, etc. Em qualquer coisa que existe continuamente no tempo, não há nada novo.
Só quando há um `Fim´, surge alguma coisa nova. Mas, vede, nós temos medo de pôr fim a tudo o que conhecemos. Já tentastes alguma vez morrer para qualquer dos vossos prazeres? Isto já é suficiente. Findar, sem arrazoados, sem discussão (tal como acontecerá quando a morte chegar para vós, pois com a morte não se discute). Do mesmo modo, se souberdes morrer para qualquer dos vossos prazeres, o mais insignificante ou o maior deles, sabereis então o que significa morrer. Porque a morte é uma coisa maravilhosa. Morte significa renovação, mutação total na qual o pensamento não tem interferência, porque o pensamento é o `velho´. Mas, quando há morte, há uma coisa totalmente nova. Sabei, senhores, que quando a mente está vazia, está em silêncio, não está mais a tagarelar a respeito disto ou daquilo. Quando a mente está totalmente vazia, e portanto em silêncio, é capaz de renovar-se inteiramente, independentemente de quaisquer pressões exteriores, de quaisquer circunstâncias; ela é então uma coisa luminosa, incorruptível, e há nela uma alegria que não é prazer.
Talvez desejeis agora fazer perguntas:
INTERROGANTE: Senhor, permiti-me repetir a minha última pergunta, da reunião passada. Para onde vai a alma após a morte?
J. KRISHNAMURTI: Este senhor está a repetir a pergunta que apresentou na última reunião. Deseja saber o que acontecerá à sua alma quando ele morrer. Como sabeis que existe alma?
Vós o sabeis mesmo, ou trata-se de uma ideia que vos foi transmitida pela tradição, tal como na Rússia se transmite a ideia de que a alma não existe? Compreendeis, senhores? Estais a repetir uma pergunta acerca de uma coisa de que vos falaram.
Não descobristes por vós mesmos se a alma existe. Existe?
E o que significa isso? Primeiramente, olhai bem isto, não com os vossos temores, com as vossas esperanças; olhai, simplesmente! O que se entende por `alma´? Uma coisa permanente, contínua, transcendente ao pensamento, não criada pelo pensamento. Não é isto? É o que em geral chamamos atman, alma, etc., uma coisa não compreendida na esfera do tempo e do pensamento.
Mas, se o pensamento pode pensá-la, está na esfera do pensamento e, por conseguinte, não é permanente. Está certo, senhores?
Não estou a argumentar logicamente; a lógica pode enganar-nos muito facilmente. Quando se observa com muita atenção, não se necessita da lógica; observa-se, simplesmente, e vêem-se os factos, um a um.
Não há nenhuma permanência na nossa vida. Senhor, já observastes que não há nada permanente? Mesmo o vosso governo, os vossos ministros, a vossa própria pessoa, as vossas ideias, as vossas ânsias, nada na vida é permanente. Mas o pensamento, o observador, diz: `Existe uma certa coisa que é permanente. Necessito dessa permanência, pois, de contrário, a minha vida é um movimento sim significado´.
É assim que se inventa a teoria marxista-leninista, inventa-se Deus, alma, etc.; cria-se uma permanência, porque há medo; é a maneira intelectual de enganarmos a nós mesmos. Não há, pois, nada de permanente, nem mesmo a vossa casa, a vossa família, as vossas relações. E descobrir que nada é permanente é uma das coisas mais importantes. Só então a vossa mente está livre; podeis então olhar, podeis ver o pôr-do-sol e encontrar nisso uma grande alegria.
Sabeis a diferença entre prazer e alegria? O prazer é um resultado do pensamento. Senti prazer a ver o ocaso, olhar um rosto, etc. No momento de olhar não há prazer nem desprazer. Observo apenas o pôr-do-sol. Um segundo após o pensamento entra em cena e diz: `Que belo espectáculo!´, e fica a pensar mais e mais naquela beleza; daí advém o prazer. Se observardes isso por vós mesmos, percebereis o facto. Experimentastes prazeres sensuais e neles pensais, e quanto mais pensais tanto mais vos deleitais, e por aí além. Mas, a alegria é uma coisa imediata; e essa alegria, se nela pensarmos pode-se converter em prazer.
A maioria das pessoas teme a morte. Por conseguinte, um dos nossos problemas é este: Como nos libertarmos totalmente do medo, e não da morte? Porque a morte deve ser uma coisa tão extraordinária como a vida. Quando sabeis viver, a vida é maravilhosa. Mas, como não sabemos viver, não sabemos o que é a morte. Tememos o viver e temos medo de morrer, e por causa desse medo inventamos tantas teorias. A questão, pois é esta: Temos possibilidade de nos libertarmos totalmente do medo? Isso significa que temos de investigar o problema do pensar. Porque é o pensamento que cria o medo, e é o pensamento que cria o prazer.
Pode-se observar o medo em silêncio, sem nenhuma imagem, observar o medo e não a palavra que cria o medo? Porque a morte é uma palavra, e essa palavra é que cria o temor. Portanto, não só temos de ficar bem conscientes da palavra, mas também conscientes de uma morte que nos pode suceder por doença, acidente, ou de maneira natural, para vermos o que há de facto e observarmos sem nenhuma imagem de medo. Isso exige uma enorme atenção, mas não concentração.
Concentração é um acto imaturo, e qualquer menino, qualquer pessoa é capaz de concentrar-se. No vosso trabalho, estais concentrados. Concentrar-se não é nada, é falta de maturidade. O que se tem de fazer é ficar atento. E não se pode estar atento quando existe o observador, com as suas imagens, as próprias e as criadas pelas circunstâncias, pelas tendências, inclinações, etc. Enquanto existirem tais imagens, nas quais emana o pensamento, o pensamento haverá sempre de criar medo.
INTERROGANTE: Como se formam as emoções e qual a sua função, no estado mental a que vos referis?
J. KRISHNAMURTI: Como nascem as emoções? Muito simplesmente. Tornam-se existentes pelos estímulos, pelos nervos. Se me espetais com um alfinete, dou um salto; se me lisonjeais, sinto deleite; se me insultais, sinto desgosto.
Pelos sentidos nascem as emoções. E quase todos nós somos accionados pela emoção chamada `prazer´; isto é bem óbvio. Gostais de ser reconhecidos como hindus, exemplo. Como tal, pertenceis a uma comunidade, a um grupo, a uma tradição muito antiga. Gostais de pertencer a esse grupo, com o seu Gitâ, os seus Upanishads e venerandas tradições, acumuladas através dos séculos. E o muçulmano gosta do seu grupo, etc. As nossas emoções tornam-se existentes pelos estímulos, pelo ambiente, etc. Isso é bem óbvio. Qual a função das emoções na vida? Emoção é vida? Prazer é amor? Se emoção é amor, este então é uma coisa que está a alterar-se a toda hora. Certo? Não sabeis de tudo isso?
INTERROGANTE: Senhor, só um minuto. . .
J. KRISHNAMURTI: Senhor, ainda não acabei de responder àquele cavalheiro. Como disse noutro dia, tão interessados estamos nas nossas próprias perguntas, que não damos ouvidos a nada mais; deixamo-nos guiar pelas nossas emoções ou por ideias intelectuais, destrutivas umas e outras. Se somos guiados pelas emoções ou pelo intelecto, somos levados ao desespero, porque as emoções e o intelecto não nos levam a parte alguma. Mas, percebei que o amor não é prazer, percebei que o amor não é desejo.
Sabeis o que é o prazer, senhor? Quando olhais uma coisa ou quando tendes um sentimento, dá-vos prazer pensar nesse sentimento, deter-vos nesse sentimento, e desejais repetir esse prazer indefinidamente. Quando um homem é muito ambicioso ou pouco ambicioso, isso lhe dá prazer. Quando busca poder, posição, prestígio, em nome da pátria, em nome de uma ideia, etc., isso lhe dá prazer. Esse homem não tem amor, e por isso, causa malefícios no mundo. Causa a guerra, externa e interna.
Temos, pois, de perceber que as emoções, os sentimentos, o entusiasmo, o sentimento de ser bom, etc., nada têm em comum com a verdadeira afeição, a verdadeira compaixão. Todos os sentimentos e emoções estão ligados ao pensamento e, por conseguinte conduzem ao prazer e à dor. O amor não conhece dor, nem sofrimento, porque o amor não é produto do prazer ou do desejo.
INTERROGANTE: Dissestes há pouco que na observação total não há observador, nem pensamento, nem medo, e que nessa observação o observador é a coisa observada. Pergunto: Quem é o observador que observa, no estado de observação total?
J. KRISHNAMURTI: Vou explanar a pergunta; se eu não a repetir correctamente, peço-vos que me corrigis. O interrogante quer saber: Quem é o observador, quando não há observador e coisa observada? O orador disse que, quando há atenção completa, total, não há observador nem coisa observada. Portanto, é preciso compreender o que ele entende pela palavra `atenção´. Não há atenção quando há qualquer espécie de luta, de esforço. Certo? Se me esforço para prestar atenção, a minha energia se gasta nesse esforço. Assim, o que preciso compreender, em primeiro lugar, é o que significa `prestar atenção´. Não há atenção quando de alguma maneira se tenta moldar a atenção, restringi-la, forçá-la a tomar uma determinada direcção. E não há atenção quando o pensamento está a funcionar de acordo com as inclinações, o prazer, o desejo ou o temperamento da pessoa, ou é impelido pelas circunstâncias; o que vale dizer, se há qualquer espécie de imagem, não pode haver atenção.
Senhor, tudo isso significa `meditação´, não a meditação que alguns de vós praticais e que consiste em repetir `Ram, Ram´,´Sita´ ou sei lá que nome. Tal repetição de palavras embota a mente. E a mente que se embota pode tornar-se muito silenciosa, mas continua a ser uma mente embotada.
Assim, só há atenção quando não há imagem nenhuma, quando não existe o tempo. O tempo é um processo de pensamento dentro do campo da consciência, e a consciência é, toda ela, resultado do tempo e do pensamento; portanto, entre os limites da consciência não é possível a atenção. Tal atenção é facílima. Atenção é percebimento de cada acção, de cada sentimento, de cada pensamento. Quer dizer, a atenção se torna existente quando há auto-conhecimento, não em conformidade com uma certa filosofia, um certo psicólogo, etc., porém conhecimento real de vós mesmos, tal como sois, dos vossos pensamentos, dos vossos gestos, da maneira como falais à vossa esposa, ao vosso marido, ao vosso patrão; simples conhecimento das vossas reacções, sem condená-las, sem justificá-las, sem traduzi-las; simples observação, pelo percebimento sem escolha. Daí procede essa atenção extraordinária, na qual não existe imagem, nem tempo, nem pensamento. E nesse estado de atenção, que é meditação, não há observador nem coisa observada.
Senhor, experimentai-o, fazei-o! Não me pergunteis quem é o observador quando não há observador e coisa observada. Fazei-o!
INTERROGANTE: Senhor. . .
J. KRISHNAMURTI: Esperai um pouco, só um minuto. É bom fazer perguntas, mas é necessário fazer a pergunta correcta. Entretanto, a pergunta correcta exige uma mente excelente, uma mente realmente séria, deveras interessada, desejosa de descobrir e não uma mente que faz uma pergunta trivial e nem sequer presta atenção à resposta. A maioria de nós...
INTERROGANTE: Eu queria perguntar. . .
J. KRISHNAMURTI: Senhor, aquele amigo fez uma pergunta: Quando não há observador, existe a coisa observada? Esta é a primeira coisa que se pergunta: Quando não há observador existe a coisa observada? Claro que existe, tal como é e não como desejaríeis que fosse. Observai, por exemplo, uma árvore: observai-a! Se não tendes nenhum símbolo relativo a essa árvore, sendo `símbolo´ a imagem, o conhecimento botânico, a espécie, etc., olhai-a simplesmente, com toda a vossa atenção.
Olhar com atenção significa olhar com os nervos, com o corpo, os ouvidos, os olhos, o coração, com tudo o que tendes.
Significa, portanto, energia. Essa energia se dissipa quando tendes uma imagem relativa ao objecto. Mas, se olhardes daquela maneira, vereis por vós mesmos que quando a mente está completamente atenta, está vazia. E desse vazio, desse silêncio, provém a acção, mesmo quando se trata da coisa mais corriqueira.
INTERROGANTE: O pensamento e o medo são imanentes a todos os seres vivos, ou provêm de outra fonte?
J. KRISHNAMURTI: O medo é imanente ao ser humano? Senhor, o que é o medo? O medo não pode existir por si, mas só em relação com alguma coisa. Eu tenho medo da minha mulher, do meu patrão, tenho medo da morte, tenho medo de adoecer; o patrão pode me por na rua, se tem força para tanto, e os patrões, em geral, têm força, hoje em dia, e psicologicamente, isso me infunde medo. O medo, pois, está em relação com a realidade, o perigo. E também psicologicamente, interiormente, há medo em mim. Temo adoecer, porque padeci dores e estas dores constituem uma lembrança. Esta lembrança me diz que devo ter cuidado para não adoecer. Posso também ter medo do escuro, etc. O medo, pois, existe sempre em relação com alguma coisa; não existe sozinho. Tenho possibilidade de alterar essa relação, mas se essa alteração se basear no prazer e na dor, criará sempre medo.
Por conseguinte, não há nada imanente aos entes humanos. Nós somos o resultado do tempo, oriundos do animal, ainda vivo em nós.
INTERROGANTE: Com licença, senhor.
J. KRISHNAMURTI: Pois não, senhor.
INTERROGANTE: Quanto à mutação total da mente, como iremos alcançar essa total...
J. KRISHNAMURTI: Como? Tende a bondade de repetir.
INTERROGANTE: Se admitimos que a mutação total da mente é suficiente para resolvermos todos os nossos problemas, como conseguiremos essa total mutação?
J. KRISHNAMURTI: Tende a bondade de me corrigir se eu não repetir correctamente a vossa pergunta. O nosso amigo pergunta: Se admitimos a mutação como uma necessidade, como a conseguiremos? Está certo, senhor? Pois bem, por que admiti-la, aceitá-la? Se vós a aceitais, podeis também rejeitá-la, não é verdade? Portanto, pergunto-vos: Por que aceitar tais coisas? Não percebeis, vós mesmos, essa necessidade, quando observais toda a aflição em vós existente e no mundo? Não preferis mudar a aceitar qualquer ideia idiota que outro vos apresente? Assim, não se trata de aceitação, porém, em primeiro lugar de uma questão de facto. Podeis rejeitar o facto, alegando que o homem não pode mudar, que o homem é estúpido há dez mil anos e será sempre estúpido. Mas, no momento em que observardes o que se está a passar em vós mesmos e o extremo desespero do homem, do qual deveis estar bem conscientes, nesse momento não deixareis de inquirir, de fazer a pergunta correcta: Pode o homem mudar totalmente? Compreendeis o que quero dizer?
Ali está um senhor que já se levantou três vezes para fazer uma pergunta. Senhor, podeis fazer a vossa pergunta logo que eu terminar esta resposta. O interrogante perguntou: Como conseguir a mutação? Ora, quando se pergunta `como´, deseja-se conhecer o método. Não é isso que desejais? `Como´ implica método, sistema, maneira. Certo? `Como´ significa sempre isso. Não sei matemática e pergunto `Como aprendê-la?´. E respondem-me que há uma maneira, um método, um sistema, uma fórmula que devo seguir para aprender matemática. Pois bem, escutai simplesmente a palavra, senti a palavra. Existe um sistema pelo qual podereis mudar? Se há algum sistema, nesse caso vos tornareis escravo dele e daquilo que promete. Por conseguinte, não há mutação.
Há quem diz que há um método de meditar com o qual se pode alcançar o Sublime; ora, há método até na loucura, mas loucura é sempre loucura. Percebeis? Não se requer método nenhum, senhor, para se alcançar a mutação. Só se requer atenção, observação, a começar por vós mesmos, porque vós mesmos sois o resultado de todo o esforço humano, de toda a aflição humana, de todo o sofrimento humano: sois o resultado do passado, o passado da comunidade ou o passado da raça, etc. E se meramente perguntais `como´, estais interessado no passado, no processo mecânico do pensamento. Portanto, não há `como´; tendes de observar a vós mesmos, observar o que dizeis, observar e conhecer o que pensais e os motivos desse pensar; observar a vossa maneira de tratar os outros, de comer, de andar, de olhar para uma mulher ou um homem, de olhar as estrelas ou a beleza do ocaso; observar, estar consciente de tudo isso, sem escolha. Em virtude dessa observação, se fordes capazes de levá-la até ao fim, vereis que a mutação vem sem o sentirdes.
INTERROGANTE: Senhor, há um dito de Sankaracharya. . .
J. KRISHNAMURTI: A pergunta desse senhor é que, segundo um dito de Sankaracharya, o mundo é ilusão. E vós que dizeis? Pessoalmente, não leio nenhum desses divros, Sankaracharya, Gitâ, Upanishads, nenhum livro religioso, nenhum livro filosófico ou psicológico. E se repetis o que diz Sankaracharya ou outro, eu vos digo: Não lhes deis ouvidos. Não sigais ninguém. Não aceiteis nenhuma autoridade. Porque todos podem estar errados, e geralmente estão quando se lhes atribui autoridade. Tecnologicamente, a autoridade é necessária, para aprendermos a operar uma máquina, um computador, etc. Mas, se tendes alguma autoridade psicológica, isso significa morte, escuridão. Este país (Índia) está cheio de autoridades dessa espécie, a autoridade do chefe de família, a autoridade do instrutor, de Sankaracharya, de Buda, etc. No Ocidente, a autoridade é o Cristo, etc. E há os professores, os filósofos, os Sankaracharyas que se queimam ou jejuam, os `santos´, etc. Não sigais ninguém, nem mesmo a este orador. Senhor, estou a falar com toda a seriedade. Não riais. Não sois capazes de ver por vós mesmos ou de pensar por vós mesmos, de maneira original; foi sempre este o veneno. Pensar por si mesmo, significa revoltar-se. Não sois capazes de revoltar-vos, tendes medo de perder o vosso emprego, de que as coisas vos saiam erradas. E, assim, aceitais a tradição.
A tradição é sempre morta, e porque estais a seguir coisas mortas, estais a morrer. O homem sensato, o homem realmente honesto, sério, não segue autoridade alguma.
INTERROGANTE: Senhor, uma pergunta. Explicastes o que é atenção, mas...
J. KRISHNAMURTI: Vou simplificar a pergunta, senhor. O interrogante indaga: Dissestes que no estado de atenção não há memória; como posso libertar-me da memória? Não é isto, senhor? Senhor, quando se conhece o mecanismo, a estrutura, o significado de uma coisa, começa-se a compreendê-la. Pode-se, então, pô-la à margem. Tenho de parar, senhor. Já são dezanove horas. Esta é a última pergunta. Diz o interrogante que o ente humano leva uma pesada carga de memória.
Para compreenderdes essa memória, tendes primeiramente de ver a sua estrutura, como nasce, qual a sua função, e também onde não deve interferir. Sabeis como se origina a memória, senhor? Conheceis o começo da memória? Vejo um belo rosto: há percepção, contacto, desejo. Percebeis, senhor? É este o processo, não? Vejo uma certa coisa, o pôr-do-sol, um rosto, uma árvore: percepção visual; em seguida há o contacto: sensação; então entra em cena o pensamento: `Isto me dá prazer, quero repeti-lo´. Certo? Assim, o pensamento, gerado pela sensação e o desejo, prolonga o prazer. Onde há prazer, há dor; a batalha está desencadeada. E, assim, a memória se vai adensando cada vez mais; quanto mais antiga e tradicional, tanto mais pesada ela se torna. E, então, perguntais: `Como libertar-me da memória?´. Não podeis libertar-vos dela. O que podeis fazer é só observar minuciosamente como surge, como se inicia. Para descobrirdes como se origina a memória, a vossa mente deve observar em silêncio. Percebeis?
Para descobrirdes qualquer coisa, tendes de olhar; e para poderdes olhar, deveis estar em silêncio. Se, quando olhais a vossa esposa, o vosso marido, o vosso filho, tendes ideias ou imagens relativas a esse filho, à esposa ou ao marido, não estais a olhar em silêncio; a vossa mente está repleta dessas coisas, e por conseguinte, não podeis olhar.
Assim, para olhar, a vossa mente deve estar em silêncio, e a própria urgência de olhar torna a mente silenciosa. Não tendes primeiro uma mente silenciosa e depois olhais; ao contrário, a própria urgência de olhar o problema mundial, e por conseguinte o vosso problema, torna a mente quieta, silenciosa. Esse próprio acto de olhar põe a mente em silêncio. Pode-se então observar a fonte de cada movimento da memória."
Jiddu Krishnamurti
"Viagem por um mar desconhecido"
" We know things, not as they are, but merely as they appear to us. (Kant).
Tant d’hommes — tant de sensations.
Society has caused commonness of sensation. Commonness of nomenclature and acquired sensation‑point are the cause of our thinking and feeling all alike.
A man who has lived in a country where there are no clocks, on going into a region where there are clocks and on seeing one for the first time feels very much otherwise than a native of that country. Hence the entire subjectivity of our knowledge (subjective idealism).
Matter does not exist, as matter. lt exists as matter only through the medium of our senses. To the rustic a tree is a tree; to a poet is more than a tree. It is in some sort like this that we see matter through lack of spiritual perception. As those mountains which, when seen from far, seem the barest and most sterile crags, but which, seen from near show not rocks or sterilest at all, but valleys and large acres of cultured land.
We are spiritually weak; that is to say, we are but capable, as long as we do not use our widest and deepest powers, of a material comprehension.
Nevertheless we bear in us the power of perceiving the truth, not phenomenal truth, but noumenal truth. I assert it now, and shall ever assert it, that man has fallen short of the mystery of the universal only through unwillingness to think deeply.
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