Páginas

segunda-feira, 7 de março de 2016

Beyond our comprehension...














Beyond
our
comprehension...













































"O compreendermos uns aos outros, ainda que nos conheçamos muito bem, é extremamente difícil. Aqui estamos reunidos; vós não me conheceis, eu não vos conheço. Estamos a falar em níveis diferentes. Posso empregar palavras que talvez tenham pra vós um significado diferente do que têm para mim. Só há compreensão quando nós, vós e eu, nos encontramos no mesmo nível, ao mesmo tempo. Tal só acontece quando existe verdadeira afeição entre as pessoas, entre marido e mulher, entre amigos íntimos. Essa é a verdadeira comunhão. É instantânea a comunhão quando nos encontramos no mesmo nível, ao mesmo tempo.

É dificílimo, numa reunião desta natureza, comungarmos uns com os outros, facilmente, de maneira eficaz, e com acção decisiva. Estou a empregar palavras que são simples, que não são técnicas, porquanto penso que nenhuma modalidade técnica de expressão nos ajudará a resolver os nossos difíceis problemas. Por isso, não vou empregar termos técnicos, sejam de psicologia, sejam de ciência. Não li livros de psicologia nem livros religiosos, felizmente. 

O meu desejo é transmitir, por palavras muito simples que usamos na vida diária, algo de significação mais profunda; mas é muito difícil isso, se não sabeis escutar.

Há uma arte de escutar. Para escutar verdadeiramente, deve uma pessoa abandonar ou afastar todos os preconceitos, as formulações prévias, e as actividades diárias. Quando um indivíduo está em estado de receptividade mental, compreende as coisas com facilidade; escutais quando a vossa atenção está realmente aplicada a alguma coisa. Mas infelizmente, em geral, escutamos através de uma cortina de resistência. Resguardamo-nos atrás da cortina dos nossos preconceitos, religiosos ou espirituais, psicológicos ou científicos; ou das nossas preocupações, desejos e temores de cada dia. Servem-nos essas coisas de cortina de protecção, quando escutamos alguém. Por essa razão, o que na realidade escutamos é o barulho, são os sons que nós mesmos emitimos, e não o que se nos diz. É difícil em extremo abandonarmos a nossa formação intelectual, os nossos preconceitos, as nossas inclinações, a nossa resistência, e transpondo os limites de expressão verbal, escutar de maneira a compreender instantaneamente. Esta será uma das nossas dificuldades.

Explicarei daqui a pouco que a verdade pode ser compreendida instantaneamente. Esta compreensão não depende do tempo, não depende do nosso desenvolvimento nem do hábito. A verdade só pode ser compreendida directamente, imediatamente, agora, no presente, e não no futuro; e ela pode ser compreendida, sentida, percebida na sua realidade, quando temos a capacidade de escutar directamente, de maneira acolhedora e coração aberto. Mas, se as nossas mentes estão preocupadas, se os nossos corações, estão cansados, não existe então possibilidade de recebermos o que é verdadeiro. A nossa dificuldade, pois, consiste em termos essa capacidade instantânea de perceber directamente, por nós mesmos, sem esperarmos pela ajuda do tempo. O tempo e a vida se tornam um processo de destruição, quando não somos capazes de compreender directamente; fica assim bem clara a razão por que vos sugiro escutar sem resistência alguma.

Se, durante essa dissertação, algo se disser que esteja em oposição à vossa maneira de pensar e à vossa crença, escutai-o assim mesmo; não oponhais resistência. Vós podeis estar com a razão, e eu sem ela; mas, com o escutarmos e reflectirmos juntos chegaremos a descobrir o que é verdadeiro. A verdade não vos pode ser dada por outrem. Cabe-vos descobri-la, e para descobri-la requer-se um estado mental de percebimento directo. Não há percebimento directo quando há resistência, ressalva, defesa. Surge a compreensão quando estamos conscientes do que é. O conhecimento exacto do que é, do verdadeiro, do real, sem o interpretar, condenar, ou justificar, é por certo o começo da sabedoria. Só quando começamos a interpretar, traduzir, em conformidade com o nosso condicionamento, o nosso preconceito, é que deixamos de perceber a verdade. É como investigar uma coisa. Se queremos saber o que uma coisa é, o que ela realmente é, precisamos investigá-la, não podemos traduzi-la de acordo com as nossas tendências. Do mesmo modo, se somos capazes de olhar, de observar, de escutar, de perceber o que é, exactamente, o problema está então resolvido. É o que vamos tentar em todas estas palestras. Vou apontar-vos o que é, sem o traduzir em conformidade com a minha fantasia; tão pouco não deveis vós traduzi-lo ou interpretá-lo de acordo com o vosso acervo de experiências e conhecimentos.

Não é possível perceberem-se as coisas exactamente como são? Partindo daí, decerto, pode-se atingir a compreensão. O reconhecimento, a percepção, o descobrimento do que é põe fim à luta. Se sei que sou mentiroso e o reconheço como um facto, está terminada a luta. O reconhecimento, o percebimento do que somos, é já o começo da sabedoria, o começo da compreensão, que nos liberta do tempo. A inclusão da qualidade tempo, tempo não no sentido cronológico, mas como intermediário, como processo psicológico, processo mental, é de efeito destruidor e gera a confusão.

Há, portanto, possibilidade de compreendermos o que é quando o reconhecemos sem condenação, sem justificação, sem identificação. O sabermos que estamos numa determinada condição, num determinado estado, é já um processo de libertação; mas o homem que não está consciente da sua condição, da sua luta, procura ser diferente daquilo que é, o que gera hábito. Assim, pois, tenhamos sempre presente no espírito a necessidade de examinarmos o que é, observarmos e percebermos exactamente o que é real, sem o distorcermos de acordo com as nossas tendências e sem o interpretar. Requer-se uma mente perspicaz num grau extraordinário, um coração extremamente flexível, para termos a capacidade de perceber e acompanhar o que é, porque, o que é está em constante movimento, em constante transformação, e se a mente está amarrada à crença, aos seus conhecimentos, não pode seguir o célere movimento do que é. O que é, não é estático, positivamente: move-se constantemente, como vereis, se o observardes com muita atenção. E para o acompanhardes necessitais de uma mente muito ágil e um coração flexível; e essa agilidade e flexibilidade são negadas à mente estática, fixada numa crença, num preconceito, numa identificação; e uma mente, um coração áridos não podem acompanhar com facilidade e rapidez aquilo que é.






Que vamos, então, fazer em todas estas palestras, discussões, perguntas e respostas? Vou apenas dizer o que é, e seguir o movimento do que é, e vós compreendereis o que é, se fordes capazes de o acompanhar.

Qualquer um está bem consciente, sem necessidade de muita expressão verbal, de que existe um caos individual, bem como um caos colectivo, confusão e sofrimento. Isso acontece não apenas na Índia, mas no mundo inteiro; na China, na América, na Inglaterra, na Alemanha, no mundo inteiro há confusão e cada vez mais sofrimento. Não é um facto puramente nacional, localizado especialmente aqui, mas que abrange o mundo inteiro. Existe sofrimento num grau extraordinariamente agudo, e não apenas sofrimento individual, mas também colectivo. Trata-se, portanto, de uma catástrofe mundial, e circunscrevê-la a uma área geográfica, a uma secção colorida do mapa, é absurdo; porque em tal caso jamais alcançaremos o pleno significado desse sofrimento universal e individual. Uma vez conscientes dessa confusão, qual é a nossa reacção, actualmente? De que maneira reagimos?

Há sofrimento, político, social, religioso; toda a nossa vida psicológica está em confusão, e todos os guias políticos e religiosos nos falharam; todos os livros perderam o seu valor. Abri o Bhagavad Gita, ou a Bíblia, ou o mais recente tratado de política ou psicologia, e verificareis que perderam aquela ressonância, aquela qualidade de verdade; tornaram-se meras palavras. Mesmo aqueles que repetem essas palavras, estão confusos e incertos porque a mera repetição de palavras não tem significado algum. Por conseguinte, as palavras e os livros perderam a sua valia; isto é, se citais a Bíblia ou Marx, ou o Bhagavad Gita, tal como o citais, na confusão em que vos achais, se torna uma mentira. Porque o que lá está escrito se torna mera propaganda, e propaganda não é a verdade. Assim sendo, se repetis, é porque não compreendeste o vosso próprio ser. Estais apenas a ocultar com palavras de autoridade a vossa própria confusão. Mas o que estamos agora a tentar, é compreender essa confusão, e não ocultá-la debaixo de citações. Qual é, pois, a vossa reacção? De que maneira reagis a este caos extraordinário, a esta confusão, a esta incerteza da existência? Ficai conscientes do facto, ao mesmo tempo que o vou examinar; acompanhai, não as minhas palavras, mas o pensamento que está activo em vós. Estamos, os mais de nós acostumados a ser espectadores; não participamos do jogo.

Lemos livros, mas nunca escrevemos livros. Tornou-se tradição nossa, tornou-se hábito nacional e universal, o ser espectadores, o ser espectadores, o assistir à partida de futebol, o observar os políticos e oradores públicos. Somos meros estranhos, simples assistentes, e perdemos a capacidade criadora. Por esta razão, precisamos tomar parte activamente, com entranhado interesse.

Mas se aqui, nesta grande assembleia, estais unicamente a observar, se sois meros espectadores, perdereis de todo o significado das minhas palavras, pois não estou a fazer uma conferência, que vieste ouvir por força de hábito. Não vou transmitir-vos conhecimentos que se podem colher numa enciclopédia. O que estamos a tentar, é acompanhar os nossos mútuos pensamentos, é seguir até onde for possível, o mais profundamente que pudermos, os reclamos, as reacções dos nossos próprios sentimentos. Procurai, pois, descobrir qual é a vossa reacção a essa causa, a esse sofrimento; nada devem importar as palavras de outra pessoa, mas, sim, unicamente, a maneira como vós mesmos reagis. A vossa reacção é de indiferença, se vos beneficiais do sofrimento, do caos, se lucrais com o mesmo, económica, social, política, ou psicologicamente. Em tais condições, pouco vos importa que o caos continue. Positivamente, quanto mais perturbação e quanto mais caos existem no mundo, tanto mais procura o indivíduo a sua segurança. Já não o notastes? Quando há confusão no mundo, psicologicamente e a todos os respeitos, fechamo-nos numa segurança qualquer, seja a de uma ideologia; ou ainda, recorremos à prece, procuramos o templo, o que significa, realmente, que estamos a fugir ao que se passa no mundo. Formam-se seitas, surgem `ismos´ e mais `ismos´, pelo mundo todo. Porque, quanto mais confusão existe, tanto mais desejamos um guia, tanto mais necessitamos de alguém que nos conduza para fora dessa desordem; recorremos, por isso, aos livros religiosos, ou a um dos mestres mais em moda; ou ainda, agimos e reagimos de acordo com um sistema que parece resolver o problema, um sistema da esquerda ou da direita. Eis exactamente o que está a acontecer.
No momento em que temos conhecimento da confusão, em que perceber exactamente o que é, procuramos fugir. E as seitas que nos oferecem um sistema para a solução do sofrimento económica, social ou religioso, são as piores; porque então o sistema seja um sistema religioso, seja um sistema da esquerda ou da direita, se torna importante, e não o homem; e no interesse da ideia, da ideologia, estamos prontos a sacrificar toda a humanidade. É isso, exactamente, isso o que está a acontecer no mundo. Não se trata de mera interpretação minha; observai, e vereis que é exactamente isso o que está a acontecer. O sistema se tornou importante. Por consequência, como o sistema tornou-se importante, o homem, vós e eu, perdeu a sua importância; e os que controlam o sistema, quer religioso, quer social, quer da esquerda, quer da direita, adquirem autoridade, assumem poder, e com isso vos sacrificam, a vós, o indivíduo. É precisamente o que está a suceder.
Ora bem, qual é a causa desta confusão, deste sofrimento? Como surgiu esta aflição, este sofrimento, não apenas em nós, mas também fora de nós, este temor e esta expectativa da guerra, da terceira guerra mundial, prestes a explodir? Onde a causa de tudo isso? Sem dúvida, se procurardes a causa segundo Marx, segundo Spengler, segundo o Bhagavad Gita, vós não a compreendereis, não é verdade? Tendes de descobrir por vós mesmos essa causa, conhecer a verdade nela encerrada, vê-la como realmente é, e não como outra pessoa a vê. Qual é, pois, a verdade que ela contém? Em primeiro lugar, qual o significado desta confusão? Ela indica, por certo, a derrocada de todos os valores morais e espirituais, e a glorificação de todos os valores sensoriais, das coisas feitas pela mão ou pela mente. O que acontece quando não possuímos outros valores senão as coisas dos sentidos; os produtos da mente, da mão ou da máquina? Quanto mais valor atribuímos às coisas dos sentidos, tanto maior é a confusão, não é certo? Não estou a propor uma teoria pessoal, minha.


Quando andais pela rua, qual o valor predominante que possuis? Não tendes necessidade de citar livros, para descobrirdes que os vossos valores, as vossas riquezas, a vossa existência económica e social, estão baseados nas coisas feitas pela mão ou pela mente. Nessas condições, nós vivemos e funcionamos com todo o nosso ser entranhado de valores sensoriais, o que significa que as coisas, as coisas da mente, as coisas da mão e da máquina se tornaram importantes; e quando as coisas se tornam importantes, a crença se torna predominantemente significativa. É exactamente o que está a acontecer no mundo, não achais?





Examinai todas estas questões, durante as numerosas palestras que vamos realizar, mas nesta primeira palestra desejo apenas mostrar o que está a acontecer, apontar o que é, a fim de ficarmos conscientes da realidade.

Vemos, pois que quando atribuímos significação cada vez maior aos valores dos sentidos, produzimos confusão; e quando nos vemos no meio dessa confusão, procuramos fugir da mesma, por diferentes meios, religiosos, políticos, sociais, ou pela ambição, pelo poder, pela busca da realidade. Mas o real está perto de nós e não a necessidade de o procurarmos. Um homem que procura a verdade jamais a encontrará. A verdade se encontra no que é, e aí está a sua beleza. Mas, se pensais nela, se a procurais, começa imediatamente a luta; e um homem empenhado em luta é incapaz de compreender. Eis a razão por que é necessário estarmos tranquilos, atentos, passivamente vigilantes.

Vemos que a nossa vida, as nossas acções, estão sempre no campo da destruição, no campo do sofrimento; tal como uma onda, a confusão e o caos sempre nos levam de arrasto. Não há intervalo na confusão da existência. Espero que tenhais percebido a significação disso, ou é necessário que eu o explique um pouco mais?

Na época actual, o que quer que façamos parece conduzir ao caos, parece conduzir ao sofrimento e à infelicidade. Considerai a vossa própria vida, e vereis que ela está sempre nas fronteiras do sofrimento. As nossas ocupações, as nossas actividades sociais, a nossa política, os vários agrupamentos de nações com o fim de pôr termo à guerra, tudo isso gera novas guerras. A destruição vem no séquito do nosso viver; tudo o que fazemos conduz à morte. De facto; é isso o que está a acontecer.

Ora, é possível pôr cobro, imediatamente, ao sofrimento, em vez de continuarmos a ser submergidos constantemente pela onda de sofrimento?
Estou a ser claro? Isto é, têm surgido grandes mestres, como Buda, como Cristo; eles aceitaram a fé e talvez se tenham libertado da confusão e do sofrimento, não puseram termo à confusão e ao sofrimento. A confusão permanece e o sofrimento prossegue. E se vós, percebendo essa confusão social e económica, este caos, esta miséria, vos retirais para o que se chama a vida religiosa, abandonando o mundo, podeis ter um sentimento de união com esses grandes Mestres; mas o mundo continua com o seu caos, as suas misérias e destruições, o perene sofrimento dos seus ricos e pobres. Assim, pois, o nosso problema, vosso e meu, é o de sair desta miséria instantaneamente. Se, vivendo no mundo, vós vos recusais a ser uma parte dele, ajudareis os outros a saírem desse caos, não no futuro, não amanhã, mas agora. Tal é, sem dúvida, o nosso problema. A guerra vem aí, provavelmente mais destrutiva e mais pavorosa do que nunca. Não podemos evitá-la, por certo, porque os acontecimentos são fortes demais e estão próximos demais. Mas vós e eu podemos perceber imediatamente a confusão e o sofrimento; não podemos? Devemos percebê-los, pois assim, estaremos em condições de despertar em outros igual compreensão da verdade. Por outras palavras, podemos libertar-nos instantaneamente? Pois só assim sairemos dessa aflição. A percepção só pode dar-se no presente; mas se dizeis `fá-lo-ei amanhã´, sereis colhidos pela onda da confusão e ficareis perpetuamente envoltos em confusão.

Mas, é possível alcançarmos aquele estado em que por nós mesmos percebemos a verdade, instantaneamente e eliminamos, por conseguinte, a confusão? Eu digo que é possível, e que esse é o único caminho. Digo que isso pode ser feito e deve ser feito, e digo-o sem me basear numa suposição ou crença. Como promover esta revolução extraordinária, que não é uma revolução para nos libertamos dos capitalistas e instalarmos outro grupo, como promover essa maravilhosa transformação, que é a única revolução verdadeira, eis o problema. O que em geral se denomina revolução é meramente uma modificação ou continuação da direita, de acordo com as ideias da esquerda. A esquerda, afinal de contas, é uma continuação da direita, sob forma modificada. Se a direita está baseada nos valores sensoriais, a esquerda é apenas a continuação dos mesmos valores sensoriais, diferindo, apenas, no grau ou na expressão. A verdadeira revolução, portanto, só poderá realizar-se quando vós, o indivíduo, ficardes vigilantes, nas vossas relações com os outros. Por certo, o que vós sois nas vossas relações com o outro, com a vossa mulher, o vosso filho, o vosso patrão, o vosso vizinho, é o que constitui a sociedade. A sociedade em si, é inexistente. A sociedade é aquilo que vós e eu criamos, nas nossas relações; é a projecção externa de todos os nossos estados psicológicos internos. Nessas condições, se vós e eu não compreendermos a nós mesmos, de nada adianta transformar o exterior; que é projecção do interior, isto é, não pode haver alteração ou modificação significativa alguma, na sociedade, enquanto eu não compreender a mim mesmo, nas minhas relações convosco. 


Se estou confuso, nas minhas relações, crio uma sociedade que é a réplica, a expressão exterior do que sou. Este é um facto evidente, que podemos discutir. Podemos discutir sobre se a sociedade, a expressão exterior, me criou, ou se eu criei a sociedade. Podemos examinar esta questão mais tarde.














Não é, pois, um facto evidente que o que eu sou nas minhas relações com terceiros, cria a sociedade; e que, sem uma transformação radical de mim mesmo, não pode haver transformação alguma da função essencial da sociedade? Quando recorremos a um sistema, para transformar a sociedade, estamos apenas a fugir do problema, uma vez que nenhum sistema pode transformar o homem; o homem sempre transforma o sistema, como o prova a história.
Enquanto, nas minhas relações convosco, eu não compreender a mim mesmo, sou eu a causa do caos, da miséria, da destruição, do temor, da brutalidade. A compreensão de mim mesmo não depende do tempo; isto é, posso compreender a mim mesmo neste mesmo instante. Se digo: `compreenderei a mim mesmo amanhã´, estou a produzir caos e sofrimento, a minha acção é destrutiva. No momento em que digo que `haverei´ de compreender, introduzo o elemento tempo, e portanto, já estou colhido na onda da confusão e destruição. Positivamente, a compreensão existe agora, e não amanhã. O amanhã só existe para a mente indolente, a mente retarda, a mente que não está interessada. Quando tendes interesse numa coisa, vós a fazeis imediatamente, há compreensão imediata; transformação imediata. Se não vos transformais agora, nunca mais vos transformareis; porque a transformação que se realizará amanhã será apenas modificação e não transformação. Só pode realizar-se a transformação imediatamente; a revolução só pode ser agora e não amanhã.


Pareceis todos tão perplexos. Por quê?

Porque dizeis: `Como posso modificar-me agora? Eu, que sou um produto do passado, de inumeráveis condicionamentos, eu que sou um feixe de maneirismos, como posso transformar-me, como posso deitar fora tudo isso e ficar livre?´. Mas, se não deitardes fora, se não se realizar esta revolução extraordinária, estais condenados a viver num caos perene. Como é então possível realizar-se esta revolução instantânea? Espero que percebais a importância da transformação imediata. Se não perceberdes, perdereis de todo o seu significado. 


A compreensão não virá amanhã; há compreensão agora, ou nunca. O presente é sempre a continuação do passado. Posso eu, pois, que sou um resultado do passado, eu, cuja essência está fundada no passado, que sou o resultado de ontem, posso sair do tempo, não cronologicamente, porém psicologicamente? 

Ora, vós por certo saís do tempo quando estais vitalmente interessado, e entrais naquela existência atemporal, que não é uma ilusão, uma alucinação por vós produzida. Quando isso acontece, não tendes problema algum, porque o `eu´ não está então preocupado consigo mesmo; e ficais então, afastado da onda de destruição. E, durante estas palestras, me ocuparei, unicamente, dessa transformação atemporal. Não posso incuti-la em vós, porquanto isso seria errado. Mas se me acompanhardes, livremente, sem resistência, com compreensão, encontrar-vos-eis, sem muitas vezes, naquele estado de percepção imediata, e portanto, de transformação imediata."


Jiddu Krishnamurti
"Da insatisfação à felicidade"





















"I cannot prevent my thought's hatred of finish; about a single thing ten thousand thoughts, and tenthousand inter-associations of these ten thousand thoughts arise, and I have no will to eliminate or to arrest these, nor to gather them into one central thought, where their unimportant but associated details may be lost. 
They pass in me; 
they are not my thoughts, but thoughts that pass through me. I do not ponder, I dream; I am not inspired, I rave. I can paint, but I have never painted; I can compose music, but I have never composed. Strange conceptions in three arts, lovely strokes of imagining caress my brain; but I let them slumber there till they die, for I have not power to give them their body, to make them things of the world outside."



Fernando Pessoa 

















"The greater part of our daily actions are the result of hidden motives which escape our observation. 
It is more especially with respect to those unconscious elements which constitute the genius of a race that all the individuals belonging to it resemble each other, while it is principally in respect to the conscious elements of their character - the fruit of education, and yet more of exceptional hereditary conditions - that they differ from each other. Men the most unlike in the matter of their intelligence possess instincts, passions, and feelings that are very similar. In the case of every thing that belongs to the realm of sentiment - religion, politics, morality, the affections and antipathies, etc - the most eminent men seldom surpass the standard of the most ordinary individuals. "


Gustave Le Bon
"The crowd"







We are one...

We are one...






t.































0 comentários:

Enviar um comentário