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domingo, 13 de março de 2016

Observe with the greatest sensitivity creates intelligence...








QUESTION: "What does it mean to be `rightly educated'?"

J. Krishnamurti: Right education is through the cultivation of sensitivity; and sensitivity must be cultivated, not just at the particular period of growth called adolescence, but throughout one's life; isn't that so?

Q: "Why this emphasis on sensitivity?" asked the first one.
JK: To be sensitive is to feel affection, it is to be aware of beauty, of ugliness; and is not the cultivation of this sensitivity part of the problem you are speaking of?

Q: "I hadn't thought about it before, but now that you point it out, I see they are related."

JK: To be rightly educated is not just to have studied history or physics; it is also to be sensitive to the things of the earth - to the animals, to the trees, to the streams, to the sky, and to other people. But we neglect all that, or we study it as part of a project, something to be learned and stored up for use when occasion demands. Even if one has this sensitivity in childhood, it is generally destroyed by the noise of so-called civilization. The child's environment soon forces him into a mould of the respectable, the conventional. Gentleness, affection, the feeling for beauty, the sensitivity to ugliness - all this is lost; but of course the biological urge is still there.

Q: "That's true," agreed the third one. "We do seem to neglect all that side of life, don't we? And we excuse ourselves by saying we have no time for it, we have the curriculum to think of, and all that!"


JK: Isn't the cultivation of sensitivity at least as important as books and degrees? But we worship success, and we neglect this sensitivity, which destroys the pursuit of success.

Q: "Isn't success necessary in life?"

JK: Insistence upon success breeds insensitivity, it encourages ruthless- ness and self-centred activity. How can an ambitious man be sensitive to other people, or to the things of the earth? They are there for his fulfilment, to be used by him in his climb to the top. And this sensitivity is essential, otherwise you have sexual problems.

Q: "How would you cultivate sensitivity in the young?"


JK: `Cultivation´ is an unfortunate word, but since we have used it we will go on with it. Sensitivity is not something to be practised; it is no good merely telling the young to observe nature, or to read the poets, and all the rest of it. But if you yourself are sensitive to the beautiful and to the ugly, if in you there is a sense of gentleness, of love, don't you think you will be able to help your students to have affection, to be considerate, and so on? You see, we stifle or neglect all this, while every form of stimulating diversion is indulged in, so the problem becomes increasingly complex.

Q: "I see what you say to be true, but I don't think you fully appreciate our difficulty. We have classes of thirty or forty boys and girls, and we can't talk to all of them individually, however much we would like to. Moreover, teaching so many at one time is a most exhausting task and we ourselves get tired out and tend to lose whatever sensitivity we have."

JK: So what are you to do? Care, tenderness, affection - these are essential if the sexual urges are to be understood. Surely, by feeling out the problem, by talking about it, by pointing it out in different ways, sensitivity is gathered by the teacher and its significance communicated to the young child; and when that child becomes adolescent, he will then be able to meet the sexual urges with wider and deeper understanding. But to bring about the right kind of education for the child, you have also to educate the parents, who after all form society.

Q: "The problem is complex and really mountainous, and what can we three do in this mess? What can the individual do?"

JK: It is only as individuals that we can do anything at all. It has always been an individual, here and there, who has really affected society and brought about great changes in thought and action. To be really revolutionary, one must step out of the pattern of society, the pattern of acquisitiveness, envy, and so on. Any reform within the pattern will, in the end, only cause more confusion and misery. Delinquency is but a revolt within the pattern; and the function of the educator, surely, is to help the young to break out of the pattern, which is to be free of acquisitiveness and of the search for power. "I can see that we shall be of little value unless we also feel these things intensely. And that's one of our major difficulties: we are all so intellectual that our feelings have become paralysed. It is only when we feel strongly that we can really do something."


Jiddu Krishnamurti
Commentaries on Living Series III Chapter 25 
"The cultivation of sensitivity"







Observe with

the greatest sensitivity
creates 
intelligence...














"Esta tarde desejo examinar um facto, desejo examiná-lo muito extensamente e com bastante profundidade. 
Vou descrever uma cena que realmente aconteceu. Não se trata de uma invenção, de uma história criada só pelo prazer de a criar, mas de uma coisa que de facto sucedeu.

Estávamos sentados, certa tarde, na margem de um rio muito largo. Os corvos voltavam do outro lado do rio, e a lua aparecia sobre as árvores. Uma nuvem flutuava perto e toda a luz do sol poente, cheia de esplendor e suavidade, pousara nela. O rio corria cheio e calmo; mas, na profundidade, a corrente era forte. Então, na outra margem do rio, um homem começou a cantar; dificilmente se podia ouvi-lo mas, de vez em quando, uma nota vinha flutuando sobre a água. Era, de facto, uma tarde cheia de beleza e de encanto. Havia aquele estranho silêncio que chega quando o sol está a desaparecer, e uma beleza inexprimível, quase a tocávamos, sentíamo-la penetrar até ao íntimo do nosso ser. 

Víamos aquele rio todos os dias como o sol e a lua. Mas nessa tarde, havia um encantamento feito de plenitude, de quietação e de mistério. E a beleza ali presente era tão palpável, tão intensamente real como a árvore do outro lado do rio, o barqueiro, o peixe que dava saltos fora de água. Sentíamo-la com profunda paixão, com grande intensidade; nada existia, não havia nem forma nem aquela emoção peculiar que surge quando se vê uma coisa muito bela. A mente, o corpo, todo o nosso ser estava completamente quieto; e aquela beleza permanecia; sentíamo-la pulsar no silêncio profundo. Era uma beleza que não trazia consigo nenhuma qualidade emotiva ou sentimental. Uma beleza nua, forte, vital, apaixonada; sem lugar para qualquer sentimentalismo. Era como encontrar, face a face, uma coisa real, pura, completa em si mesma. Uma beleza que não exigia nem imaginação, nem expressão, nem interpretação. Estava ali, em plenitude, com a riqueza de uma extraordinária sensação de grandeza e de profundidade; sentíamo-la. É o sentimento, não a emoção, que é despertado quando se vê uma coisa extremamente bela não tem qualquer relação com o sentimentalismo, com emoção, com qualquer lembrança. Tudo isso desaparece, quando estamos a observar uma coisa extraordinária, parte do nosso ser, uma coisa viva, vibrante, límpida, plena.






Ao nosso lado, estava sentado um homem. Era um `sannyasi´ (nome dado, na religião hindu, a certo tipo de ascetas)Não reparava na água, nem na lua que se reflectia nela. Não reparava na canção do homem da aldeia em frente, nem via os corvos que regressavam; estava completamente absorto no seu próprio problema. Até que começou a falar, mansamente, com um profundo sentimento de tristeza. Fora um homem sensual, disse, brutal nas suas exigências, nunca satisfeito, sempre a exigir, a pedir, a empurrar, a pressionar; a sua sensualidade não se acalmava; e lutara e esforçara-se por dominá-la, durante muitos anos. Por fim, fez a si próprio a maior das brutalidades, e a partir desse dia deixou de ser um homem.

Ao escutá-lo, sentimos um enorme sofrimento, um choque tremendo, por um homem em busca de Deus ter podido mutilar-se a si próprio, para sempre. Perdera toda a sensibilidade, todo o sentido da beleza. Tudo o que lhe interessava era alcançar Deus. Torturara-se, mutilara-se, destruíra-se, para encontrar aquilo a que chamava Deus. Tinha formado uma ideia, e de acordo com essa fórmula é que estava a viver. A fórmula é que era real, e não aquilo que ele buscava, não o que estava a tentar compreender. O que para ele era real era a fórmula, a forma criada pela mente, aquilo que os
`santos´, as religiões, e a sociedade tinham dito que ele devia fazer, para encontrar o que procurava. 
E ali estava ele, perdido, destruído, insensível à extraordinária beleza daquela tarde. E à medida que ia escurecendo, as estrelas surgiam num espaço pleno, vasto, imenso; mas ele não dava atenção a nada disso. 

Quase todos nós vivemos assim. Desumanizamo-nos completamente, de diferentes maneiras. 

Formamos ideias, vivemos com fórmulas. As nossas acções, os nossos sentimentos, as nossas actividades, são moldados, controlados, subjugados, dominados pelas fórmulas que a sociedade, os `homens santos´, as religiões, as experiências que tivemos estabeleceram. Estas fórmulas moldam a nossa vida, a nossa actividade, o nosso ser.

Estamos sempre a adaptar-nos a estas fórmulas, a estas ideias, esforçando-nos por ajustarmo-nos a elas, quando se tornam muito fortes. É o que acontece com a maioria das pessoas; têm a fórmula, isto é, `o que se deve fazer´, `o que não se deve fazer´, `o que é certo´ e `o que é errado´. Estabelecido o padrão, torturamo-nos para seguir essa fórmula, para encontrarmos Deus, para sermos felizes, para alcançarmos um certo estado de tranquilidade.

As nossas mentes estão, assim, sempre a conceber ideias, padrões, fórmulas, e nós sempre a moldar-nos de acordo com essas fórmulas, voluntariamente, conscientemente, ou de modo inconsciente, escolhendo umas e rejeitando outras, as que não nos agradam ou não correspondem às nossas tendências particulares, ao nosso carácter. Fórmulas, padrões, são impostos por outros, pela sociedade, pelas religiões, pelos santos, pelos `instrutores espirituais´. 

E se cada um observar a sua própria vida, verá que vive, que existe, que actua de acordo com uma fórmula. Nunca estamos livres de uma fórmula. No caso do `sannyasi´ a que nos referimos, ele passou por uma extrema tortura porque acreditava numa fórmula, acreditava numa ideia, que é uma forma extrema de neurose. Mas aqueles de nós que não têm exigências tão prementes, têm também as suas fórmulas, de acordo com as quais se estão a atormentar, dia e noite, a toda a hora, consciente ou inconscientemente.

Enquanto existir a fórmula, o padrão, a ideia, tem de haver conflito entre essa ideia, essa fórmula, e o que é. E é preciso compreender que o conflito, sob qualquer forma, sob qualquer disfarce, seja qual for o seu objectivo, ainda que nobre ou sublime, e em quaisquer circunstâncias, é uma tortura, uma coisa que deve ser completamente, totalmente, evitada. 

O que não quer dizer que cada um deva ceder aos seus desejos, isso é bastante imaturo, e nem vale a pena considerá-lo agora. 

Torturamo-nos com o que deveríamos fazer, com o que poderá ser e com o que já foi. E nunca encaramos o que é. Através dos séculos, o homem tem considerado necessária essa tortura, para encontrar Deus. Na Índia, ela é praticada de uma maneira, e na Cristandade, de outra maneira. E as pessoas que não acreditam em Deus, ou em algo transcendente, torturam-se com as suas ambições, com as suas desumanidades, com as suas exigências prementes, com o seu sistema autoritário, de todas as maneiras possíveis.

A Realidade, isso que o homem procura há milhares e milhares de anos, e que tem sido interpretada por diferentes mentalidades, por pessoas de diferentes tendências em culturas e civilizações diferentes, não pode ser compreendida, não pode ser alcançada por uma mente que é torturada. Essa Realidade, parece-me, só pode ser compreendida quando a mente está completamente normal e equilibrada, e não é torturada por nenhuma `disciplina´, nenhuma obrigação, nenhuma espécie de compulsão, de imitação. A mente precisa de chegar a essa Realidade num estado de juventude, de frescura, de liberdade, intacta, inocente, cheia de vitalidade, de saúde, com toda a pureza da origem; de outro modo, não a encontrará.

Porque a Verdade, o Deus real, o verdadeiro, e não o `deus´ feito pelo homem, não quer uma mente que é destruída, que é mesquinha, superficial, estreita, limitada.

A Verdade precisa de uma mente lúcida, capaz de apreciá-la, de uma mente rica, não de conhecimentos, mas de inocência, uma mente em que a experiência nunca deixe a mais leve cicatriz, uma mente liberta do tempo. Os deuses que inventamos para nosso conforto, aceitam a tortura; aceitam uma mente que vamos tornando embotada. Mas a Realidade não quer isso; quer um ser humano total, completo, de coração pleno, rico, límpido, capaz de sentir intensamente, capaz de ver a beleza de uma árvore, o sorriso de uma criança, e a agonia da mulher que nunca teve comida suficiente para matar a fome.

Cada um precisa de ter essa extraordinária sensibilidade, de ser sensível a tudo, ao animal, ao gato que passa sobre o muro, à miséria, à sordidez; à degradação do ser humano que vive na pobreza, no desespero.

Temos de ser sensíveis, ou seja, temos de sentir intensamente, não apenas numa determinada direcção. Sensibilidade que não é a emoção que vem e desaparece, mas uma sensibilidade de todo o nosso ser, de todo o nosso corpo, dos nervos, dos olhos, dos ouvidos, da voz.

Temos de estar inteiramente sensíveis em todos os momentos. Se assim não for, não haverá inteligência. E a inteligência vem com a sensibilidade e a observação. A sensibilidade não é fruto da infinita acumulação de conhecimento e de informação. 

Podíamos conhecer todos os livros do mundo, lê-los, devorá-los; podíamos estar familiarizados com todos os autores, conhecer todas as coisas que têm sido ditas; mas isso não traz inteligência. O que traz inteligência é a sensibilidade, a sensibilidade total da mente, consciente e inconsciente e do coração, com as suas extraordinárias capacidades de afeição, de simpatia, de generosidade. 

E com isso vem aquela intensa sensibilidade, sensibilidade à folha descorada que cai da árvore, e à miséria de uma rua degradada, temos de ser sensíveis a ambas as coisas; não se pode ser sensível a uma e insensível à outra. Ser sensível, mas não apenas a isto ou àquilo.

E quando há essa sensibilidade unida à observação, há a inteligência necessária para observar, para ver as coisas como são, sem nenhuma fórmula, sem nenhuma opinião; para ver a nuvem como nuvem; para ver os nossos íntimos pensamentos, os nossos secretos desejos, como realmente são, sem os interpretar, sem os aceitar ou rejeitar, para observar, apenas, escutar, apenas, esses desejos secretos; e para observar, quando vamos no autocarro, o passageiro ao nosso lado, os seus modos, a sua maneira de falar, observar, apenas.

Então, dessa observação vem a clareza. Tal observação expulsa todas as formas de confusão. E assim, com a sensibilidade e a observação surge aquela extraordinária qualidade da inteligência.

Agora, escutai, por favor, o que se está a dizer. Não tomeis notas: escutai só, como escutaríeis uma canção distante, sem tensão, com tranquilidade, sem o desejo permanente de alcançar qualquer coisa. Porque, se escutardes dessa maneira, poderemos ir muito longe, juntos. Estareis, assim, num estado de não-aceitação e de não-rejeição; assim, não estareis a usar a mente limitada e vulgar que diz: `Prove-me isso´, que quer argumentar, dissecar, analisar. 
Mas isto não significa que deveis `engolir´ o que se está a dizer, ou que vos torneis sentimentais e o aceiteis.

Escutar requer enorme energia. Não é nem um estado sentimental nem uma qualidade emotiva. Para escutar, precisamos de uma mente muito lúcida, precisa, racional, capaz de raciocinar completamente, até ao fim, uma mente inteiramente sã. E, com essa mente, escutemos, apenas, mas não o que se está a dizer: escutemo-nos a nós mesmos. Escutemos os murmúrios da nossa própria mente, a voz do nosso coração; escutemo-nos simplesmente, a nós mesmos. Vamos penetrar numa questão que requer a subtil arte de escutar; vamos investigar o que é verdadeiro.

Quando descobrimos por nós mesmos o que é verdadeiro, então essa verdade actua, nós não temos nenhuma necessidade de actuar. Mesmo no emprego, em casa, num passeio solitário por entre árvores e regatos, essa verdade actua, a que descobrimos por nós não a repetimos, porque a ouvimos dita por outro. Quando descobrimos, por nós, o que é verdadeiro e o que é falso, quando descobrimos, por nós, a verdade no falso, e a verdade como verdade, então essa coisa extraordinária tem uma qualidade explosiva, e essa qualidade explosiva é curativa, equilibrante, e produz uma acção que vem desse puro equilíbrio e lucidez. É o que vamos fazer esta tarde. Escutar as palavras do `orador´, cada um, por si mesmo, poderá descobrir a verdade, e deixar então a verdade actuar onde ela quiser, quando ela quiser. E quando actuar, deixai-a actuar sem a vossa interferência.

Como estávamos a dizer, observar com a mais alta sensibilidade cria inteligência. 

Porque, sem inteligência, a vida é monótona, superficial, repetitiva, sem profundeza nem qualidade. E é esta inteligência que irá criar disciplina. Quando se considera a origem da palavra `disciplina´, vê-se que disciplinar-se significa aprender, e não ajustar-se ou obedecer a um padrão estabelecido pelo `ontem´ ou por milhares de `ontens´, ou pela fórmula de um `amanhã´ ou de dez mil `amanhãs´. Disciplinar-se é aprender, não é ajustar-se, obedecer, aceitar, torturar-se a si mesmo para seguir um padrão, uma ideia, uma fórmula. O que a sociedade, as religiões, as profissões técnicas e outras coisas nos têm levado a fazer é tornar-nos `disciplinados´, o que significa ajustar-se, imitar, reprimir ou `sublimar´. 

Nada disso nos trouxe lucidez, ou nos libertou da confusão, do sofrimento, nada disso liberta a mente para que possa ficar tranquila, sentir intensamente e sem qualquer motivo, sem qualquer futuro, sem qualquer passado, sentir, com uma sensibilidade imensa. E todos conhecemos as torturas da `disciplina´.
Consideremos a coisa mais banal, como o hábito de fumar, e o conflito para deixar de fumar. Que enorme conflito por que se passa devido a uma coisa pequena, deixar de fumar! 
Os médicos e os governos têm feito notar que fumar faz mal, que pode provocar o cancro; há o medo ao `castigo´; e apesar disso as pessoas continuam a fumar. E, nesse próprio acto de continuar, há conflito, porque a pessoa sabe que para a sua saúde, e por várias outras razões, não deveria fumar, mas continua, porque isso se tornou um hábito, e para quebrar esse hábito, cria-se outra fórmula, outro hábito.

É essa a nossa maneira de viver, sempre num estado de conflito, sempre a quebrar um hábito e a cair noutro hábito, de pensamento, de sentimento, de sensação, de prazer. O hábito sexual, o hábito de beber, o hábito de `procurar Deus´ porque nos sentimos infelizes, são todos o mesmo, são uma fuga à realidade. E, segundo as nossas tendências, a nossa instrução, os nossos conhecimentos, a nossa `educação´, intensificamos essa luta, esse conflito, por meio da chamada `disciplina´; ou, então, seguindo os nossos impulsos ou a nossa indolência não levamos a sério essa `disciplina´.

Assim, as nossas mentes são sempre moldadas pela sociedade, pela igreja, pelas circunstâncias. Reparai, por favor, em tudo isto; trata-se da vossa mente. Não fiqueis enredados nas palavras que estou a usar. As palavras não têm valor. Uma palavra é um símbolo, é um meio para comunicar, tal como o telefone. Quando usamos o telefone, não prestamos culto ao telefone; o que ele nos transmite é que é importante. Temos vivido com as disciplinas, os costumes, as convenções a que chamamos moralidade, `o que deve ser´ e `o que não deve ser´. É este o padrão da nossa existência, uma tortura, uma tremenda e interminável luta e infelicidade.

Ora, pode-se viver sem `disciplina´? Porque a maneira de disciplinar, em que se tem vivido durante séculos, é uma coisa terrível, um modo deformado de existência, que só produz uma mente mecânica. Sabeis o que acontece ao soldado que é treinado, dia após dia, durante meses e anos, para obedecer às ordens? Já o haveis observado? 
Funciona mecanicamente, sempre a obedecer, toda a espontaneidade e liberdade desapareceram...
E vós ides ao emprego, dia após dia, durante quarenta anos; com essa terrível monotonia, o que acontece à vossa mente? 

Observai-a. Tivestes de preparar-vos, de ajustar-vos, porque tendes uma família, precisais de ganhar a vida, de sustentar a família, conhecemos todas as razões.

Assim, temos de descobrir como viver neste mundo, onde é preciso que se tenha um meio de vida, onde é preciso que se façam coisas, dia após dia, com toda a regularidade, eficientemente, constantemente, onde é preciso que os desejos, os naturais impulsos sexuais não se transformem num hábito. E cada um tem também outros impulsos que criam hábitos. Escutai isto, por favor. Temos de descobrir como viver neste mundo, rodeados de tudo isto, viver com inteira liberdade, sem uma fórmula, sem deformar a mente, sem a levar a ajustar-se, ou sem que ela seja moldada pela sociedade.



Porque uma mente `disciplinada´, no sentido da mente que se ajusta, que aceita, que segue, que imita, que reprime, é uma mente sem inteligência, embotada, deformada; é uma mente morta, quer seja a mente mais venerável `sannyasi´, quer a da pobre mulher envelhecida, ou a do homem que rouba. Temos de viver neste mundo sem essa espécie de `disciplina´, porque compreendemos o que ela é, e percebemos a verdade a seu respeito.

Vemos o que essa disciplina implica, conformismo, imitação, repressão, controlo, viver dentro de uma certa estrutura, de uma fórmula, de um padrão estabelecido pela sociedade, pelas religiões ou, ainda, pela capacidade intelectual ou pela experiência da pessoa. Qualquer forma dessa `disciplina´ é mortal, destruidora; rouba à mente a sua capacidade. A pessoa pode funcionar como uma máquina, mas não é capaz, em circunstância alguma, de descobrir o que é Verdade. Porque a Verdade exige liberdade; isto é, exige inteligência, que é a mais alta forma de sensibilidade; e também exige atenção, o que significa observar.

Será possível viver neste mundo sem essa `disciplina´ tradicional, destrutiva? 

Por favor, reparai nisto; interrogai-vos a vós mesmos. Este mundo está a tornar-se cada vez mais mecanizado; os rapazes e as raparigas são treinados tecnologicamente, são moldados.
`Viver´ neste mundo é ajustar-se; de outro modo, é-se destruído pela sociedade; pode-se ser marginalizado se, por exemplo, não se é católico, muçulmano, hindu, budista, etc.

Poderemos viver neste mundo sem esse peso tradicional e destrutivo de uma `disciplina´ que corrompe, que destrói, que deforma a mente? 

Vede a verdade disto, mas não porque estou a dizê-lo, não porque é o `orador´ a mostrá-lo. Se virmos a verdadeira beleza disto, então teremos de perguntar a nós mesmos se poderemos viver neste mundo sem essa espécie de `disciplina´. Poderemos viver sem `disciplina´, fazendo o que verdadeiramente gostamos de fazer, livres? Somos capazes? Não somos capazes. 
Se fizéssemos isso, ficaríamos num estado de interminável conflito.

Cada um tem, pois, de descobrir, por si, se pode viver com inteligência. Já explicámos o que entendemos por inteligência. Não se trata de uma definição de inteligência. Nem se trata de repetir ou de dizer dialecticamente, `isso é uma opinião, e há outras opiniões´. Discutir opiniões e procurar a verdade em opiniões, é uma abordagem dialéctica. Mas não estamos a falar dialecticamente. Estamos a apresentar um facto, se se está disposto a aceitá-lo ou não, é totalmente irrelevante.Se se diz `isso é a sua opinião, há opiniões diferentes´, tenho de lembrar que não estamos a discutir opiniões.

Não há verdade em opiniões; há milhares de opiniões, pois há milhares de seres humanos, e cada um tem a sua opinião pessoal. Não estamos portanto a falar dialecticamente; tentar descobrir a verdade em opiniões, por meio de uma análise, não leva a parte nenhuma. O que estamos a mostrar é totalmente diferente. 
Estamos a dizer que a mente, que está extremamente viva, sensível, acordada, pode pela observação de o que é pela observação dos factos, viver neste mundo sem aquela `disciplina´ destrutiva. 

Uma árvore é uma árvore; não é o que pensamos dessa árvore. Temos de observar o que é, observar o que realmente somos, e não `o que deveríamos ser´, não o que outras pessoas nos dizem que `devíamos ser´, observar as cores, o esplendor, a beleza do sol poente, o mar calmo, e a extraordinária qualidade de uma noite serena. Então, dessa sensibilidade e dessa observação nasce a energia da inteligência.

Ora, nós precisamos de uma certa espécie de disciplina e esta significa aprender. Estamos a aprender, e o aprender não tem fim. 

Portanto, não tem fim esta forma de disciplina criada pela inteligência. A outra `disciplina´, a disciplina tradicional, que é ajustar, `adaptar´, forçar, reprimir, não cria inteligência, não produz a lucidez, a beleza e a vitalidade da inteligência. Mas onde a inteligência está, de facto, a funcionar plenamente, então, dessa inteligência nasce a disciplina que é o aprender constante. Sabeis o que significa aprender uma coisa? 

Para se poder lidar com um automóvel, exercer uma profissão, cozinhar, lavar pratos, para se fazer uma coisa correctamente, eficientemente, tem de se estar sempre a aprender. E então, não dizemos, `aprendi, e o que aprendi já é o suficiente; e portanto, o que vier vai ser mais alguma coisa aprendida e acrescentada ao que já aprendi´. Se dizemos isso, deixamos de aprender.

Quando a mente está constantemente a aprender, cria a sua própria disciplina, uma disciplina cheia de harmonia. Nela não há ajustamento, não há padrão, não há fórmulas, nem repressão, nem obediência; é uma disciplina viva. E tudo o que é vivo cria a sua própria eficiência no aprender, que é natural, rápido, livre. Daí vem a beleza de uma mente lúcida, e que, por isso, não precisa de `disciplina´. Se virmos isto plenamente, em vez de só ouvirmos o que se está a dizer, se virmos com a visão interior e escutarmos com os `ouvidos´ da mente, então percebemos, por nós mesmos, a verdadeira natureza dessa velharia tradicional e nociva, chamada `disciplina´.

Estou a usar propositadamente a palavra `nociva´, pois se olharmos a nossa própria mente, veremos como ela se tornou superficial, embotada, insensível, se compreendermos a chamada `disciplina´, que tanto deforma o homem, se virmos a verdade a seu respeito, ela desprender-se-á de nós; não precisamos de fazer nada.

Mas só se vê a verdade ou a falsidade de tudo isto quando se é altamente sensível e, com essa sensibilidade e lucidez, se observa a inteira estrutura da `disciplina´, com todas as sua fórmulas. Fica-se então liberto dela.

Mas ninguém pode viver só a fazer o que deseja, porque os seus desejos variam todos os dias. Quando um desejo se realiza, ele não fica satisfeito, e a insatisfação leva-o a procurar outra coisa. Os objectos do desejo são sempre diferentes. O desejo permanece o mesmo, os objectos é que variam. Da infância à idade adulta os objectos do desejo mudam constantemente, não o desejo. E pensamos que se substituirmos todos esses objectos por Deus, compreenderemos todo este fenómeno. Mas só passamos do pequeno para o grande, e este torna-se pequeno, porque é ainda o objecto do desejo.

Assim, se cada um compreender todo este processo, verá que é possível viver neste mundo, apesar de todos os seus desafios, de toda a sua desumanidade, quando se tem a extraordinária e profunda visão criada pela inteligência; então verá que se pode viver, funcionando como um ser humano inteligente, eficiente, lúcido, liberto de toda a confusão. E só poderá viver assim, se compreender como a mente forma, molda, uma ideia e como esta se torna a fórmula segundo a qual a pessoa irá viver.

Criamos fórmulas porque elas dão continuidade à nossa identidade pessoal. Criamos fórmulas porque nos conferem um sentimento de `importância´. Inventamos fórmulas porque nos dão o sentimento de que estamos activos, de que estamos a fazer alguma coisa. E o caso do homem que quer `ajudar os outros´, tem a fórmula de que, `deve ajudar´, e a de que `sabe o que é ajudar´. Isso dá importância à sua pessoa; e nessa ajuda, está a servir-se dos outros para sentir conforto, bem-estar, satisfação pessoal.

A flor à beira do caminho, rica de cor e de beleza, não fala em `ajudar os outros´. Está ali, com o seu perfume, o seu encanto, a sua suavidade; somos nós que vamos até ela, que lhe aspiramos o perfume e nos deliciamos com ela. Não está preocupada em `ajudar´. Mas nós, que queremos estar `activos´ com a nossa mente limitada e superficial, identificamo-nos com dez actividades diferentes; queremos fórmulas, vivemos de acordo com fórmulas e morremos de acordo com fórmulas. Temos fórmulas para o amor, fórmulas para a morte e fórmulas para Deus. Assim, as palavras tornaram-se muito importantes, e não a vida, não o viver. Os ideais e outras coisas enganadoras que o homem inventa, para nelas se fechar, fugindo de si mesmo, é que se tornaram importantes.







Assim, para se ser capaz de viver neste mundo, a mente tem de compreender toda esta criação de fórmulas, todo este estruturar de ideias, construídas para se `viver´ de acordo com elas. Quando se vê a verdade a este respeito, então pode-se pôr uma questão fundamental: 
É possível viver sem nenhuma fórmula, uma fórmula do passado, ou uma fórmula do futuro?
Descobrir esse estado, e nele permanecer, requer enorme lucidez, liberta de conflito, de qualquer espécie de tortura, em todos os momentos. Porque a mente que é uma luz para si própria, a mente que está totalmente desperta, não é torturada, não tem fórmula alguma, não tem tempo."



Jiddu Krishnamurti
"O despertar da sensibilidade"
























"He looked around, as if he was seeing the world for the first time. Beautiful was the world, colorful was the world, strange and mysterious was the world! Here was blue, here was yellow, here was green, the sky and the river flowed, the forest and the mountains were rigid, all of it was beautiful, all of it was mysterious and magical, and in its midst was he, Siddhartha, the awakening one, on the path to himself."


Hermann Hesse
"Siddhartha"







I thought the colours would come back
The days would return to something I can understand

I'll believe winter would change
Turning into spring someday soon
But the ice won't melt

I thought the memories wouldn't be so strong
And all would fade away
And I could move on
I believed to found something new inside
To chase away the darkness in my mind
But I still cannot find

[Chorus:]
Not a single soul is crying
When the world around is dying
Nobody can feel what I feel
Does anybody hear me
Or sit right here beside me
Let me tell you about
when time doesn't heal

Seems like my wounds are too deep
The pain won't leave me
Will it ever go away?
I thought the cold would disappear
And the sun would come and melt this frozen world
I live in vain

[Chorus]

Oh
Oh yeah
When will my wounds ever heal
Oh yeah..
Come on and heal me now

I thought the colours would come back
The days would return to something I can understand

[Chorus x2]

Time just won't heal...
















































t.

































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