"You live like this, sheltered, in a delicate world, and you believe you are living. Then you read a book... or you take a trip... and you discover that you are not living, that you are hibernating.
The symptoms of hibernating are easily detectable: first, restlessness. The second symptom (when hibernating becomes dangerous and might degenerate into death): absence of pleasure.
That is all. It appears like an innocuous illness. Monotony, boredom, death. Millions live like this (or die like this) without knowing it. They work in offices. They drive a car. They picnic with their families. They raise children. And then some shock treatment takes place, a person, a book, a song, and it awakens them and saves them from death.
Some never awaken."
Anais Nin
'The diary of Anaïs Nin"
Tomasz-Alen-Kopera |
“The
word 'learning' has great significance. There are two kinds of learning.
For
most of us learning means the accumulation of knowledge, of experience, of
technology, of a skill, of a language.
There is also psychological learning,
learning through experience, either the immediate experiences of life, which
leave a certain residue, of tradition, of the race, of society.
There are these
two kinds of learning how to meet life: psychological and physiological;
outward skill and inward skill. There is really no line of demarcation between
the two; they overlap. We are not considering for the moment the skill that we
learn through practice, the technological knowledge that we acquire through
study.
What we are concerned about is the psychological learning that we have
acquired through the centuries or inherited as tradition, as knowledge, as experience.
This we call learning, but I question whether it is learning at all. I am not
talking about learning a skill, a language, a technique, but I am asking
whether the mind ever learns psychologically.
It has learned, and with what it
has learned it meets the challenge of life. It is always translating life or
the new challenge according to what it has learned.
That is what we are doing.
Is that learning?
Doesn't learning imply something new, something that I don't
know and am learning?
If I am merely adding to what I already know, it is no
longer learning."
Jiddu Krishnamurti
“The book of life”
Tomasz-Alen-Kopera |
The
question
of
learning...
Tomasz-Alen-Kopera |
"Como
antes dissemos, a nossa vida é toda de conflito. Tudo o que fazemos, ou se torna
rotina, acção mecânica, ou um prazer repetido, uma resistência, uma repressão ou
sublimação, como se costuma dizer. Todo o nosso agir baseia-se nisso, e por
essa razão, está sempre a gerar e a sustentar o conflito. E nós aceitamos o
conflito, esse atrito, na vida, nas relações, no movimento da existência, e dizemos:
`O conflito é inevitável e, portanto,
tiremos dele o melhor proveito´.
Mas, se não aceitardes o conflito, se o
rejeitardes, em todas as relações e em todos os níveis, estareis então em
condições de aprender acerca do conflito; quando não dizeis que o conflito é
inevitável ou evitável, só então tendes possibilidade de aprender.
Não podeis
aprender a respeito do conflito, se o estais a julgar à luz da vossa
experiência, do vosso saber, dos vossos conhecimentos.
Por isso, a mente que está
a aprender nunca está num estado de experiência. No momento em que a pessoa
experimenta, já está no estado de avaliação.
Por conseguinte, a mente que
está a aprender, não tem experiência, porque está em movimento, activa,
arrojando-se, penetrando.
Assim, a mente que a cada minuto está a aprender activamente, aprender não só a respeito de si própria, mas a respeito de tudo
na vida, como a criança que observa, pergunta, indaga, sempre insatisfeita.
Esse aprender exige extraordinária energia. E não tem energia a mente que está
abarrotada de conhecimentos e a exigir mais experiência.
Ora, o
aprender exige disciplina, não aquela disciplina de repressão, controle,
conformismo, brutalidade. A aceitação de um ideal por padrão, e o esforço que
fazeis para a ele vos ajustardes, o forçardes a vossa mente, o vosso ser, o vosso
corpo, tudo, a ajustar-se, é isso o que em geral se chama `disciplina´.
Essa é a disciplina semelhante à do soldado, submetido à instrução noite e dia, tão
duramente exercitado que, no fim, se torna uma entidade mecânica, de espinha
erecta, e sem cabeça.
Por favor, não riais!
A maioria de nós é assim, mas
acontece que não o sabemos.
A sociedade, o ambiente, a educação, a nossa quotidiana existência, nos forçam a ajustar-nos a um padrão religioso,
social ou económico. Essa disciplina de ajustamento é a disciplina que neste aspecto é a mais destrutiva.
A palavra `disciplina´, a raiz desta palavra, significa aprender, não ajustar-se, não reprimir, não violentar a si próprio,
mas aprender!
E o aprender exige espantosa disciplina, não a disciplina da
aceitação, nem a disciplina imposta pela autoridade. Por conseguinte, a mente que
está a aprender não só deve estar, o mais possível, consciente das influências
ambientes, senão também deve abster-se de se ajustar, de resistir, estar
consciente das suas próprias tendências, das suas próprias qualidades, das suas próprias
experiências, nunca se deixando apanhar na armadilha de nenhuma delas. Isso
exige atenção.
Um estudante, durante a aula, deseja olhar pela janela. Um passarinho passa a voar,
uma bela flor se ostenta na árvore, uma pessoa passa por perto. A sua atenção se
distrai do livro e o professor manda-lhe `olhar o livro´, a concentrar-se no
livro. Assim é a maior parte da nossa vida. Queremos olhar, mas a sociedade, as
exigências económicas, as doutrinas religiosas forçam-nos ao ajustamento; e por essa razão, perdemos toda a espontaneidade, todo a frescura.
De modo que a
disciplina do aprender é coisa completamente diferente da disciplina do
adquirir conhecimento.
Necessita-se de determinada disciplina quando se está
a adquirir um certo conhecimento técnico ou de outra natureza. Tem-se de prestar
atenção, de aplicar o espírito a uma dada coisa, uma dada especialidade; e isso
exige uma certa disciplina de ajustamento, de repressão, e tudo o mais que está
a acontecer no mundo, em virtude da disciplina. Mas, a disciplina a que nos
referimos nenhuma relação tem com a disciplina do ajustamento a um padrão.
Tratai, por favor, de compreender isso, porque vamos examinar uma questão
verdadeiramente fundamental; e se isto não for compreendido, não estareis
aptos a compreender aquilo de que vamos falar daqui a momentos.
Estamos,
pois, aprender que esse aprender nunca é ajustamento a nenhum padrão; como
poderia sê-lo?
Quer se trate de padrão estabelecido por Buda, por Cristo, por
Sankara, quer do padrão do vosso guru favorito, o aprender nenhuma relação tem
com ele. Porque no ajustamento cessa todo o aprender, e por conseguinte, nunca
há originalidade.
E nós estamos a descobrir por meio do aprender, com
originalidade. Não sei se percebeis a beleza disso de que estamos a falar.
Observar, olhar, ver, escutar, tudo isso faz parte do aprender. Se não sabeis
escutar, não sois capaz de aprender. Se não sabeis ver uma flor, não sois capaz
de aprender nada da beleza dessa flor. Escutar, ver, aprender, implica, em si,
uma disciplina que não é ajustamento.
Se isso está agora bem claro, passaremos
a examinar uma coisa que exige esse acto de aprender; vamos aprender a respeito
de nós mesmos.
Ides
aprender a respeito de vós mesmos. Não podeis aprender a respeito de vós mesmos,
se afirmais que sois Deus. Não podeis aprender a respeito de vós mesmos, se
dizeis que sois o Atman superior, ou se dizeis que sois o mero resultado do
ambiente. Estais a seguir o que estou a dizer? Se dizeis que sois apenas o
resultado do ambiente, como tantos o dizem, os comunistas, etc., cessastes então
de aprender; se dizeis que em vós reside o Atman, o Eu Superior, estais
meramente a repetir o que vos foi dito, uma teoria muito confortante; portanto,
cessastes de aprender; e se dizeis: `Eu sou isto, sou algo´; nesse caso também
cessastes de aprender.
Para descobrirdes o que há em vós, deveis aprender a
respeito de vós mesmos; por conseguinte, necessitais da mais alta liberdade,
inteligência e percebimento crítico.
Sem essas coisas, nenhuma possibilidade
tendes de ver o que há em vós mesmos ou de vos compreender. E se não
compreenderdes a vós mesmos, nenhuma base tendes para a estrutura da vossa
existência.
Podeis ter ideias e mais ideias, conflitos, dores, prazeres, etc.;
mas, falta a base.
Deveis
conhecer a vós mesmos, e não segundo Sankara, Buda, Cristo, Freud, Jung ou quem
quer que seja, inclusive este orador.
Deveis conhecer-vos e, por conseguinte,
aprender a respeito de vós mesmos. Para aprenderdes a respeito de vós mesmos,
devem cessar todos os conhecimentos que já tendes de vós mesmos; e isso é muito
difícil. Porque, quando dizeis: `Sou feio´; essa própria palavra `feio´ encerra
um certo conteúdo de tradição; por conseguinte, estais a julgar; logo, não
estais a aprender.
Espero que estejais a perceber isto; é uma coisa muito simples.
Uma vez o percebais, sereis então capaz do vôo do aprender; não há então fim
nem limite; e esse aprender está fora do tempo. A mente que está continuamente
em movimento, do desconhecido para o desconhecido, a aprender, aprender,
aprender, essa é a mente sensível por excelência e, por conseguinte, uma
mente livre.
Vamos,
pois, aprender a respeito de nós mesmos.
E, como disse, para aprender não deve
haver avaliação, é claro. Quando avaliais, julgais com base no que já
adquiristes, na forma de conhecimento; e quando vêdes a vós mesmos, ou
condenais, ou aprovais, ou rejeitais o que vêdes e, por conseguinte, não estais
a aprender a respeito de vós mesmos. Ora, se estais a aprender a respeito de vós
mesmos, estais a aprender a respeito do corpo, dos nervos, das reacções nervosas,
das lembranças, das esperanças, dos temores, dos desesperos, das agonias, da
cólera, do desejo, das exigências sexuais, da esperança de encontrar o Eterno,
etc. Vós sois tudo isso; e tudo isso são ideias. Não são?
Tendes ideias sobre a vossa pessoa, de que sois um homem bom, uma personalidade importante na cidade,
um cristão, um hindu, isto ou aquilo. Tendes ideias; e tais ideias são o
resultado das influências ambientes, do vosso conhecimento. Por conseguinte,
quando predominam as ideias acerca da vossa pessoa, cessastes de aprender a
respeito de vós mesmos.
Notai, por favor, que isto é muito importante e muito
simples. Uma vez o tenhais aprendido, estais vivo; então, a tradição, os
Sankaras, tudo isso pode ser jogado para o lado; e vos tornais um ente humano,
livre para descobrir, livre para investigar, para aprender.
Assim, pois, é
absolutamente essencial o aprender a respeito de si mesmo; de contrário,
cria-se uma ilusão, e nessa ilusão se fica a viver.
Aprender
a respeito de si próprio é a primeira acção inteligente do ser humano; mas não
significa que o indivíduo aprende a respeito de si próprio a fim de `salvar-se´. Sois o resultado de dois milhões de anos de existência do homem,
com todas as suas experiências, as suas calamidades, os seus desesperos, e a sua confusão;
vós sois tudo isso.
E, se desejais promover uma completa revolução em vós
mesmos, deveis conhecer-vos, e`conhecer-vos´é aprender a respeito de vós
mesmos, compreender-vos.
Qualquer tolo pode dizer:`Conheço-me a mim mesmo´; mas, aprender a respeito de vós mesmos é extremamente difícil, porque vos deveis
olhar, sem nenhuma escolha, nenhuma tendência, nenhuma crítica, nenhuma
condenação; deveis, simplesmente, olhar.
Não sei se já alguma vez olhastes uma
flor, se a olhastes simplesmente, sem ideia e sem pensamento. Só dessa
maneira olhastes uma árvore, uma flor, um ente humano, tereis visto que nisso,
nesse olhar, não predomina a ideia, e por conseguinte, há comunhão entre vós e
a flor. Mas isso não significa que vos tornais a flor, ou que vos identificais
com ela, ou com a árvore, ou a família dessa flor. Mas, quando olhais uma flor
sem a palavra, se é que já a olhastes dessa maneira, que exige atenção, deveis ver que desaparece o espaço entre vós e a flor. Não sois aquela flor; só
a flor existe, e não vós, que a estais olhar.
Por
favor, procurai compreender esta coisa tão simples, pois ainda vamos tratar
dela, e se não compreenderdes bem tudo isso, não podereis entrar nessa questão
vigorosamente, dinamicamente, criadoramente.
Pois nunca olhamos uma flor
verdadeiramente. Dizemos que é uma rosa, e chamando-a `rosa´, já não a estamos a olhar. Para olhar a flor, não deve haver verbalização; trata-se,
simplesmente, de olhá-la. Olhar uma nuvem, à tarde, sem uma palavra. Há um
vasto espaço entre vós e a nuvem, espaço ilimitado.
Aquela nuvem está cheia de
vida, de beleza, de forma, de glória; e a olhais com uma mente estreita,
fechada nos vossos diários problemas, na vossa aflição, e confusão, e luta.
Nunca
olhais verdadeiramente, e a vossa vida se torna uma sombra, uma coisa superficial
e sem valor. Assim, para aprender, é necessário olhar.
Para
aprender a respeito de mim mesmo, devo olhar, escutai, por favor! Devo olhar
a mim mesmo. Só posso olhar-me, quando não existe autoridade de espécie
alguma, quando não digo que sou `Eu Superior´ ou `Eu Inferior´, quando nenhum
conhecimento tenho a respeito de mim mesmo: devo olhar-me todos os dias como `coisa nova´. Mas, quando olho a mim mesmo, há `aquele que olha´, o
observador, o experimentador, e o pensamento, a experiência, a coisa que
estou a olhar.
É o que acontece com a maioria de nós. Não é verdade?
Quando
digo que me estou a olhar, o observador é diferente da coisa que está a ser observada. Isto é simples. Não estou a entrar em nenhuma filosofia
super-metafísica e complicada... isso são tolices, para mim pelo menos. Só
há o facto óbvio, o observador, o `eu´ que diz: `Estou a olhar´, e a coisa que
está a ser olhada. Há, pois, separação entre o observador e a coisa observada.
Isto é, quando digo:`Eu estou encolerizado´, esse `eu´ é diferente da coisa a que
chamo `cólera´.
É o que em geral nos acontece. Correcto?
Para a maioria das
pessoas, isso é um facto simples, isto é, que o pensador é diferente do
pensamento.
E essa separação é a origem do conflito, porque o pensador está
sempre a procurar alterar o seu pensamento, modificá-lo, moldá-lo,
controlá-lo, forçá-lo, reprimi-lo, sublimá-lo, fazer alguma coisa em relação a ele.
Para aprender algo a respeito dessa divisão, devo questionar o próprio
pensador, o próprio observador. Correcto? Devo questionar se essa divisão é real
ou se foi inventada pela mente, para fugir ao real. Espero que isto não esteja a parecer complicado demais; se o é, sinto muito.
Percebe-se que viver em conflito a todo o momento e em qualquer nível que
seja, é de efeito destruidor. Compreende muito claramente, não
baseado na própria experiência, porém no facto real da existência diária, que
isso destrói as relações; corrompe a mente; torna a mente mecânica, insensível,
embotada, estúpida. Diz, portanto, que, enquanto uma pessoa está em conflito,
não pode haver sensibilidade, e por conseguinte, nenhum acto de aprender. Pois, o conflito é o principal factor da confusão, do atrito.
Assim, diz,
de si para si: `É possível uma pessoa viver sem conflito na sua existência, o
ambiente, a família, a profissão, os insultos e humilhações a que se está
sujeito, etc. ?´. Não se diz que isso é possível ou impossível, pois
seria estupidez dizê-lo. Quer-se aprender a esse respeito. E, assim, começa a
investigar, a aprender tudo o que concerne ao pensador. E, para aprendê-lo,
terá de observar o pensador da mesma maneira como observa uma flor sem lhe dar
nome, sem classificá-la; tem de observar, simplesmente.
Ora, quando se observa
simplesmente, não há pensador, porém unicamente observação, e por conseguinte,
não há separação entre o pensador e o pensamento.
Por
favor, não concordeis nem discordeis. Sei de todas as subtilezas que de costume
se dizem: primeiro vem o pensador, depois
o pensamento; `o que nasceu primeiro, a galinha ou o ovo?´. Isso são coisas velhas
e bem sabidas. Mas, se queremos aprender, não devemos firmar-nos em nenhuma
asserção. Temos de aprender.
E quando se está a aprender, percebe-se que só há
pensar e não há pensador. O pensador é criado pelo pensamento. Quando não há
pensamento, não há pensador, e dessa maneira, se destrói totalmente a raiz do
conflito. Só há pensar, e é este que começa a criar a entidade chamada
pensador, à qual atribui permanência.
Essa permanência é uma ideia; não é uma
realidade, porém mera ideia. Infelizmente, vivemos segundo ideias e não segundo
factos; não da acção, porém das ideias postas em acção, como dissemos noutro dia.
Há,
pois, apenas pensar. Sabeis o que acontece quando se percebe que só há pensar?
Por favor, estamos a tomar parte nisto juntos; não podeis ficar a dormir.
Estamos a viajar juntos. Percebe-se que só há pensar, o que é um facto evidente, e não a entidade que pensa, separada do pensamento. Vêde, quando digo: `Eu
sinto cólera´, esse `eu´, para a maioria de nós, é diferente da cólera. Mas,
não é a cólera parte desse `eu´ que diz: `sinto cólera´?.
Se houvesse apenas a
cólera, como uma reacção a que destes o nome de `cólera´, o problema se tornaria
diferente.
Entendeis,
o que estou a dizer?
Não existe uma entidade que diz: `Não devo estar
encolerizado´, ou `Devo continuar encolerizado´. Há apenas aquele sentimento ou reacção, que denominamos `cólera´.
Quando se
percebe que não existe uma entidade a condenar a cólera, altera-se toda a
anatomia do problema. Está difícil demais, senhores?
Sinto-o, porque se não se
compreender essa coisa, quando falarmos a respeito do medo, não vos libertareis
do medo e os nossos caminhos se separarão. Eis por que insisto nisto e porque
disto me ocuparei tão profunda e detalhadamente quanto possível.
É necessário
perceber, compreender, que só há pensamento, como reacção da memória, reacção da
experiência, pois o pensamento é isso. Pergunto-vos uma coisa, e ou
respondeis prontamente, ou precisais de algum tempo para responder. A prontidão da resposta indica que sabeis muito bem a resposta, que estais bem
familiarizado com ela. Mas, se vos pergunto algo de muito mais profundo, que
ignorais ou que esquecestes, tendes de reflectir. Este `reflectir´ é a procura,
durante o intervalo de tempo.
Pensar,
pois, é um processo mecânico; não é nada de sublime, de maravilhoso. Os
cérebros electrónicos estão também a `pensando´; isto é, o cérebro electrónico `responde´ de acordo com os dados que lhe foram fornecidos, que constituem o seu `conhecimento´; e depois, quando lhe é feita uma pergunta, ele `responde´.
Connosco dá-se exactamente a mesma coisa. Actuamos através da associação, da
experiência, do conhecimento prévio; e quando provocado, esse conhecimento `responde´; essa resposta é pensamento. Se se percebe que todo o pensar é uma
reacção da memória, e por conseguinte, mecânico, portanto, coisa morta e não
vital, altera-se toda a nossa estrutura de conflito.
Começa-se então a
aprender a respeito do pensar. Descobre-se, então, o quanto é importante
compreender toda a estrutura da memória, aprender a respeito dela; e que a
memória é a sede de todas as reacções. Os cientistas andam ocupados em
investigar o problema da memória e a importância desta em certos níveis. E eu
vos estou a dizer que a memória é importante em certos níveis; mas que noutro nível
ela é sumamente destrutiva, pois resulta do tempo, do passado; e se estais
sempre a `responder´ da base do passado, vosso pensar, obviamente, procede do
passado, de modo que nunca estais livre para olhar qualquer coisa de maneira
completamente nova.
Assim,
à mente que está a aprender, e não a adquirir conhecimento, só interessa o
pensar, e não o pensador, porque este foi criado pelo pensamento. Vede, isto é
muito simples.
Se gosto de uma coisa, nela penso constantemente; o pensar nela
proporciona-me prazer, e por conseguinte, dou a essa coisa de que gosto uma
continuidade, que se torna memória. E, se não gosto de uma coisa, trato de
repeli-la, o que a seu turno, dá continuidade a essa coisa. Considerai, pois isto, aprendei a respeito disto: Que todo o nosso pensar é mecânico; e que sendo o pensamento mecânico, o mero cultivo do pensamento nunca libertará o
homem; por mais que logreis requintar, controlar, eliminar o pensamento, nunca
sois livre.
O que vos cabe fazer é aprender tudo o que concerne ao pensar, e dessa maneira, vos tornardes original. O aprender não é acumulativo.
Não há
mais tempo para falarmos sobre o medo; fá-lo-emos no próximo domingo ou em
qualquer dia em que aqui nos reunirmos.
Mas é necessário compreender muito
claramente certas coisas, que o acto de aprender é completamente diferente do acto
de adquirir conhecimento; que o aprender liberta energia, ao passo que a
acumulação de conhecimentos e o actuar de acordo com eles, restringe a energia;
que essa restrição, essa repressão da energia é conflito; e que a verdadeira
fonte do conflito é a separação entre o pensador e o pensamento; que, quando só
há pensamento e por conseguinte não há condenação de nada, resistência a nada,
só há o simples acto de aprender constantemente; que esse aprender torna a mente
jovem, nova, `inocente´; e por fim, que essa mente não pode ser atingida pela
idade.
Assim,
a mente que é capaz de olhar, de ver, de escutar e aprender, é uma mente muito
disciplinada, da disciplina nascida do aprender e não do ajustamento.
A
própria palavra `disciplina´ significa aprender; mas, infelizmente, a
traduzimos com o significado de ajustamento, pressão, etc. E para aprender,
necessita-se de atenção, e não de concentração, assunto de que trataremos noutro
dia. Tudo isso requer energia, e por conseguinte, alimentação adequada, etc.
A
mente religiosa é sempre jovem, isto é, está sempre a aprender, e por
conseguinte, fora do tempo. Só essa é a mente religiosa. Não aquela que vai aos
templos, essa não é mente religiosa; não a que lê livros e está sempre a citar
e a pregar moral; não é essa a mente religiosa. A mente que recita orações, que
repete, repete, repete, está, no fundo, atemorizada e obcecada pelo
conhecimento; portanto, não é uma mente religiosa.
Religiosa é a mente que está
a aprender, e por conseguinte, nunca em conflito, em tempo algum, a qual, por
conseguinte, é uma mente nova, inocente. Essa mente está só. A mente necessita
de estar inteiramente só, porque só assim pode transcender a si própria."
Jiddu Krishnamurti
"Uma nova maneira de agir"
t.
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