Deny with your heart...
"To
deny all morality is to be moral, for the accepted morality is the morality of
respectability, and I'm afraid we all crave to be respected, which is to be
recognised as good citizens in a rotten society.
Respectability is very
profitable and ensures you a good job and a steady income. The accepted
morality of greed, envy and hate is the way of the establishment.
When you totally deny all
this, not with your lips but with your heart, then you are really moral.
For this morality springs
out of love and not out of any motive of profit, of achievement, of place in
the hierarchy.
There cannot be this love
if you belong to a society in which you want to find fame, recognition, a
position. Since there is no love in this, its morality is immorality.
When you deny all this from
the very bottom of your heart, then there is a virtue that is encompassed by
love."
Jiddu Krishnamurti
"The only revolution"
Deny
with your
heart...
"Tomara poder
desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, d'este mandato subjectivo cuja
execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse
onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando n'alma como uma parcela
do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever
cumprido.
Mas dia a dia o que
vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligência para com o meu senso moral.
Hora a hora a que escreve as
sátiras surge colérica em mim. Hora a hora a expressão me falha. Hora a hora a
vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me
conheço, mãos inúteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma
que não soube contar, um coração já apodrecido, morto já e na estagnação da
aspiração indefinida, inutilizada.
Nem choro. Como
chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar
para que esta pátria que vós não conheceis fosse grande como o sentimento que
eu sinto quando n'ela penso. Nada faço.
Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pátria,
amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor
em dizê-lo. Só aqui lh'o registo sobre papel, acanhadamente ainda assim, para
que n'alguma parte fique escrito. Sim, fique aqui escrito que amo a pátria
funda, doloridamente.
Seja dito assim
sucinto, para que fique dito. Nada mais.
Não falemos mais.
As coisas que se amam, os sentimentos que se afagam guardam-se com a chave
d'aquilo a que chamamos `pudor´ no cofre do coração. A eloquência profana-os. A
arte, revelando-os, torna-os pequenos e vis. O próprio olhar não os deve
revelar.
Sabeis decerto que
o maior amor não é aquele que a palavra suave puramente exprime. Nem é aquele
que o olhar diz, nem aquele que a mão comunica tocando levemente n'outra mão. É aquele que quando dois seres estão juntos, não se olhando nem tocando os envolve
como uma nuvem.
Esse amor não se
deve dizer nem revelar. Não se pode falar dele."
Fernando Pessoa
“138.O
homem não é igualmente moral em todas as horas, isso é sabido: a julgar a sua moralidade segundo a capacidade de grandes decisões de sacrifício e abnegação (que, tornando-se
duradoura e habitual, é santidade), então é no afecto que ele é mais moral; a excitação
forte lhe oferece motivos inteiramente novos, dos quais ele, ao estar frio e
sóbrio como de
costume, talvez não acreditasse ser capaz. Como ocorre isso?
Provavelmente
devido à
vizinhança de tudo o que é grande e que excita fortemente; levado a uma tensão extraordinária,
o homem pode-se decidir tanto por uma vingança terrível quanto por uma terrível
refracção da sua necessidade de vingança.
Sob a influência da emoção violenta, quer de
todo modo o que é grande, poderoso, monstruoso, e se por acaso nota que o sacrifício
de si mesmo o satisfaz tanto ou ainda mais que o sacrifício do outro, escolhe
aquele.
O que
realmente lhe importa, portanto, é a descarga da sua emoção; para aliviar sua
tensão, pode
juntar as lanças dos inimigos e enterrá-las no próprio peito.
Que haja grandeza
na negação
de si mesmo, e não apenas na vingança, é algo que deve ter sido inculcado na humanidade
por um longo período; uma divindade que sacrifica a si mesma foi o símbolo mais forte e
mais eficaz dessa espécie de grandeza.
Como a vitória sobre o inimigo mais
difícil de vencer,
a dominação repentina de um afecto, é assim que aparece essa negação; e nisso é tida
como o ápice da moral. O que sucede, na verdade, é a substituição de uma ideia
pela outra,
enquanto o ânimo mantém a sua mesma altura, o seu mesmo nível.
Ao estar novamente sóbrios,
recuperados do afecto, os homens não mais compreendem a moralidade daqueles momentos,
mas a admiração de todos aqueles que também os viveram os sustenta; o orgulho é o seu
consolo, quando o afecto e a compreensão do seu acto se debilitam.
Ou seja: no
fundo, tampouco
são morais aqueles actos de abnegação, na medida em que não são feitos
estritamente pelos
outros; ocorre, isto sim, que o outro dá ao ânimo em alta tensão apenas uma
oportunidade de se aliviar através da abnegação.
139. Em
muitos aspectos, também o asceta procura tornar leve a sua vida, geralmente pela
completa subordinação a uma vontade alheia, ou a uma lei e um ritual
abrangentes; mais ou
menos como um brâmane não deixa nada à sua própria determinação e a cada minuto
é guiado
por um preceito sagrado.
Esta subordinação é um meio poderoso para se tornar
senhor de si
mesmo; o indivíduo está ocupado, portanto não se entedia, e não experimenta qualquer estímulo da vontade e da paixão; após a
acção realizada, não há sentimento de responsabilidade, nem a tortura do arrependimento.
acção realizada, não há sentimento de responsabilidade, nem a tortura do arrependimento.
De uma vez por todas se renunciou à própria vontade, e isso é mais fácil do que renunciar ocasionalmente; assim como é mais
fácil renunciar
de todo a um desejo do que mantê-lo moderado.
Se nos lembrarmos da posição
actual do homem
em relação ao Estado, achamos aí também que a obediência incondicional é mais cómoda
que a condicionada.
Logo, o santo facilita a própria vida pelo completo abandono da personalidade, e é um engano admirar nesse fenómeno o supremo heroísmo da moralidade.
Em todo o caso, é mais difícil afirmar a personalidade sem hesitação e sem obscuridade do que dela se libertar de tal modo; além disso, requer muito mais espírito e reflexão.
140.
Depois que encontrei, em muitas das acções mais difíceis de explicar, expressões daquele
prazer na emoção em si, gostaria de reconhecer também no auto-desprezo, que se inclui
entre as características da santidade, e igualmente nos actos de tortura de si mesmo (jejum e açoitamento, deslocação dos membros, simulação da loucura), um meio pelo qual essas naturezas lutam contra a fadiga geral da sua vontade de viver (dos seus nervos): elas se servem
dos estímulos e crueldades mais dolorosos, para ao menos temporariamente emergir do
torpor e do tédio em que a sua grande indolência espiritual e a mencionada
subordinação a uma
vontade alheia as fazem cair com tanta frequência.”
Friedrich Nietzsche
"Humano, demasiado humano I"
t.