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sábado, 9 de abril de 2016

The ideal and the reality...






The ideal is a fiction, a myth; 
it is not a reality





When you observe why the idea becomes important, when you are aware why the pattern has assumed such an extraordinary significance, you can see why it does.

Because, first of all, it tends to postpone action: I am violent and I have this marvelous idea of non-violence, which is an ideal, and I can pursue that ideal and not act because I am still trying to be non-violent.


Therefore, it is an escape from the fact of violence. If I have no ideal of non-violence, I can deal with the fact.


So the ideal becomes a distraction; the ideal is a fiction, a myth; it is not a reality. The reality is what is, which is violence.


And we think that by having an ideal like non-violence, we can push violence out of ourselves, which never takes place, which can never take place. Because when we deal with facts alone, there is an operation, not when we deal with ideas.

 So that is one of the reasons: an idea or a pattern offers a means of postponing, of escaping from the fact; and the idea becomes important to give continuity to a particular act.


I did this yesterday, I will do this today and tomorrow, it gives a continuity or becomes a habit which prevents action. This is merely carrying out a certain formula and therefore it becomes mechanical. Life is not mechanical; it has to be lived, it is action changing every minute.


So ideas offer a means of postponing action. Therefore the more ideas, the more ideals you have, the more inactive you are.



Please do see this: when you act from an idea you are not active, because you are living your life in a world of fiction without any reality.


So escape, postponement, offering a continuity, which gives you a habit, and functioning from a habit, that is memory and therefore mechanical.

So you can see, ideas do not bring passion. I think it is very important to understand this: to act, you must have passion; to do, you must have strong feelings; otherwise, it becomes mechanical.


You cannot have strong, intense, immediate feeling and passion if you have ideas.”





Jiddu Krishnamurti
"Collected Works"









The ideal 
and the 
reality...



















"O medo, o prazer, o sofrimento, o pensamento e a violência estão relacionados entre si. A maioria encontra prazer na violência, em não gostar de alguém, em odiar uma dada raça ou grupo de pessoas, em nutrir sentimentos hostis para com os outros. 



Mas, no estado mental em que a violência desapareceu completamente, há uma alegria muito diferente do prazer da violência, com os seus conflitos, rancores e temores.



Podemos penetrar a raiz da violência e dela nos livrarmos? 


De contrário, viveremos a batalhar perenemente uns com os outros. Se é dessa maneira que desejais viver, e aparentemente a maioria das pessoas o deseja, continuai então assim; se dizeis: `Ora, sinto muito, mas a violência nunca terá fim, jamais acabará´, nesse caso vós e eu não temos possibilidade de comungar, uma vez que vos emparedastes; mas se dizeis que talvez exista uma diferente maneira de viver, teremos então a possibilidade de comunhão.


Consideremos, pois, juntos, aqueles de nós que têm a capacidade de comungar, se existe alguma possibilidade de acabarmos totalmente com qualquer forma de violência em nós mesmos existente, e ao mesmo tempo vivermos neste mundo monstruoso e brutal. Acho que é possível.



Não desejo ter em mim a mais leve 

sombra de ódio, de ciúme, de ansiedade ou 

medo. Desejo viver completamente em paz. Mas

 isso não significa que desejo morrer.


Desejo viver nesta terra maravilhosa, tão cheia de vida, de riqueza e de beleza! Desejo olhar as árvores, as flores, os rios, os prados, as mulheres, as crianças, e ao mesmo tempo viver completamente em paz comigo mesmo e com o mundo. 


O que posso fazer?



Se soubermos olhar a violência, não só exteriormente, na sociedade, guerras, rebeliões, antagonismos nacionais e conflitos de classes, mas também em nós mesmos, talvez então tenhamos a possibilidade de transcendê-la.


Este é um problema muito complexo. Há séculos e séculos que o homem é violento; as religiões, em todo o mundo, tentaram amansá-lo, e nenhuma delas foi bem-sucedida. 


Assim, se vamos examinar esta questão, devemos, acho eu, encará-la com toda a seriedade, porque esse exame nos levará a um domínio completamente diferente. 
Mas se desejamos meramente entreter-nos intelectualmente com o problema, não iremos muito longe.


Podeis pensar que da vossa parte esse problema vos interessa seriamente, mas, uma vez que há tanta gente no mundo que não o leva a sério e não se mostra disposta a tomar alguma medida em relação a ele, de que serve fazerdes alguma coisa? Não me importa se os outros o levam a sério ou não; eu o levo a sério, e tanto basta. 


Eu não sou o guarda do meu irmão. Eu, da minha parte, como ente humano, sinto-me fortemente interessado nesta questão da violência, e farei o necessário para eu próprio não ser violento; mas não posso dizer a vós nem a ninguém: `Não sejais violento´. Isso não tem significação alguma, a não ser que também não desejeis sê-lo. Assim, se pessoalmente desejais compreender o problema da violência, prossigamos juntos a nossa viagem de exploração.



O problema da violência é exterior ou interior? 



Desejais resolver o problema no mundo exterior, 

ou estais a questionar a 

violência em si, tal como 

em vós existe? 









Se, interiormente, em vós mesmos, estais livre da violência, surge logo a pergunta: 



`Como posso viver num mundo cheio de 

violência, ganância, avidez, 

inveja, brutalidade?

 Não serei destruído?´ 








 Esta alusão às palavras de Caim, após assassinar Abel, é a pergunta que inevitável e invariavelmente se faz. Fazer tal pergunta, não me pareceis estar a viver realmente em paz. 
Se viveis pacificamente, não tendes problema de espécie alguma. Podeis ir para a prisão se vos recusardes a alistar-vos no exército, ou ser fuzilado se vos recusardes a combater; mas isso não é problema: sereis fuzilado. É extremamente importante compreender isso.


Estamos a tentar compreender a violência como um facto, não como uma ideia; como um facto existente no ente humano, e o ente humano sou eu. E, para examinar o problema, eu tenho de ser completamente vulnerável, aberto a ele. Tenho de desmascarar-me a mim mesmo; não há necessidade de me desmascarar diante de vós, porque isso talvez não vos interesse, mas devo estar num estado mental que queira levar o exame completamente a cabo, sem me deter em nenhum ponto, e dizer: ´não irei mais adiante´.



Ora, devo ver bem claramente que sou um ente 
humano violento. Tenho experimentado a 
violência na cólera, nos apetites sexuais, no 
ódio, no criar inimizades, no ciúme etc. 



Tendo-a experimentado, conhecido, digo para mim: `Desejo compreender este problema integralmente, e não apenas um fragmento seu, conforme se expressa na guerra; quero compreender essa agressividade existente no homem e que também existe nos animais, dos quais faço parte´.



Violência não é meramente assassinar. 
Há violência no uso de uma palavra áspera, num gesto de desprezo, na obediência motivada pelo medo. 
A violência, portanto, não é apenas a carnificina organizada, em nome de Deus, da sociedade, da pátria. A violência é muito mais subtil e profunda, e nós queremos investigar as suas últimas profundezas.







Quando vos denominais indiano, ou maometano,

 ou cristão, ou europeu, ou o que quer que seja, 

estais a ser violento. 
Sabeis por quê? 

Porque vos estais a separar do resto da humanidade. 




Quando vos separais, pela crença, pela 

nacionalidade, pela tradição, gera-se a 

violência. Assim, o homem que deseja 

compreender a violência, não deve pertencer a 

nenhuma nação, nenhuma religião, nenhum 

partido político ou sistema partidário; o que deve

 interessá-lo é a compreensão total da 

humanidade.









Pois bem; há duas escolas principais de pensamento que se interessam pela violência. Uma delas diz: `A violência é inata no homem´; a outra diz: `A violência é o resultado da herança social e cultural do homem´. Não nos interessa a escola a que pertenceis, pois isso não tem importância nenhuma. 
O importante é o facto de que somos violentos e não a razão desse facto.


Uma das expressões da violência mais comuns é a cólera. Quando atacam a minha esposa ou a minha irmã, sinto-me justamente encolerizado; quando são atacados a minha pátria, as minhas ideias, os meus princípios, a minha maneira de vida, fico também justamente encolerizado. Sinto também cólera, quando são atacados os meus hábitos, as minhas insignificantes opiniões. 


Se me pisais no pé ou me insultais, enraiveço-me, ou se fugis com a minha mulher sinto ciúme, um ciúme também justo, porque ela é `minha propriedade´. Todas essas manifestações de cólera são moralmente justificadas. Também se justifica o matar pela pátria. 


Assim, falar a respeito da cólera, que faz parte da violência, consideramo-la em termos de cólera justa e cólera injusta, conforme as nossas próprias inclinações ou as pressões do ambiente ou a consideramos como cólera simplesmente? Existe cólera justa? Ou só existe a cólera? 
Não há influência boa ou influência má, só há influência; mas quando sou influenciado por uma coisa que não me convém, chamo-lhe má influência.


Se protegeis a vossa família, a vossa pátria, um trapo colorido chamado bandeira, uma crença, uma ideia, um dogma, aquilo que quereis possuir ou que já tendes nas mãos, essa própria protecção denota cólera. 


Assim, podeis olhar a cólera sem nenhuma explicação ou justificação, sem dizerdes: `Tenho de proteger o que é meu´ ou `Tive razão para me encolerizar´ ou `Que estupidez minha, ter-me encolerizado´? Podeis olhar a cólera como uma coisa em si? Podeis olhá-la de maneira completamente nova, quer dizer, sem defendê-la, nem condenada? Podeis?


Posso olhar-vos se vos sou hostil ou se vos considero uma pessoa excelente? Só posso ver-vos, quando vos olho com certo cuidado em que não esteja contida nenhuma dessas coisas.
Ora, posso eu olhar a cólera da mesma maneira, o que significa que sou vulnerável ao problema, que não resisto a ele, que estou a observar, que estou a observar esse extraordinário fenómeno sem nenhuma reacção a ele?


É muito difícil considerar a cólera desapaixonadamente, porquanto ela faz parte de mim, mas é isso o que estou a tentar fazer. Aqui estou eu, um ente humano violento, não importa se sou preto, se sou moreno, branco ou vermelho. Não importa se herdei essa violência ou se a sociedade a produziu. Só isto me importa: `Se é possível libertar-me dela´. 



Livrar-me da violência significa tudo para mim. 

É-me mais importante do que o sexo, o alimento, 

a posição, porque essa coisa me corrompe. 

Estou a destruir-me e a destruir o mundo, e 

preciso compreender a violência, transcendê-la.

 Sinto-me responsável por toda a cólera e toda a

 violência existentes no mundo. 









Sinto-me responsável, e isso não são meras palavras. Digo para comigo: `Só posso fazer alguma coisa se eu próprio transcender a cólera, a violência, a nacionalidade´. É esse meu sentimento de que devo compreender a violência em mim existente e me confere uma estupenda vitalidade e paixão para compreendê-la.



Mas, para transcender a violência, não posso 

reprimi-la, negá-la, não posso dizer: `Ora, ela 

faz parte de mim, e está acabado´ ou `Eu não a 

quero´. Tenho de enfrentá-la, de estudá-la, de 

entrar em intimidade com ela, e essa intimidade 

não é possível se a condeno ou justifico.



 Entretanto, na verdade, nós a condenamos e justificamos. Por conseguinte, digo `Deixemos, por ora, de condená-la ou de justificá-la´.


Ora bem, se desejais acabar com a violência, acabar com as guerras, quanta vitalidade, quanto de vós mesmos aplicais a isso? 



Não vos importa que os vossos filhos pequenos 

sejam mortos, que os vossos filhos mais velhos se 

alistem no exército para serem maltratados e 

abatidos como reses? Não vos importa isso? 

Deus meu! Se isso não vos importa, o que mais 

vos importa? Conservar o vosso dinheiro? Gozar 

a vida? Tomar drogas? Não percebeis que a 

violência em vós existente está a destruir os 

vossos filhos? Ou a vedes apenas como uma 

espécie de abstracção?



Bem; se tendes interesse nisso, aplicai-vos de corpo e alma a compreendê-lo. Não vos recosteis na cadeira, a dizer: `Está bem; conta-nos toda a história´. Preciso fazer-vos ver que não se pode olhar a cólera nem a violência com olhos que condenam ou justificam, e que, se a violência não representa para vós um urgente problema, não podeis afastar aquelas duas coisas. 



Assim, em primeiro lugar, tendes de aprender; 

tendes de aprender a olhar a cólera, a olhar o 

vosso marido, a vossa esposa, os vossos filhos: 

tendes de escutar o político, aprender porque 

não sois objectivo, porque condenais ou 

justificais. Tendes de aprender que condenais e 

justificais porque isso faz parte da estrutura social

 em que viveis, faz parte do vosso 

condicionamento como alemão, indiano, negro, 

americano, ou o que acaso sois por nascimento, 

com toda a superficialidade mental resultante 

desse condicionamento. 






Para aprender, para descobrir uma coisa fundamental, precisais de penetração. Se tendes um instrumento obtuso, um instrumento insensível, não podeis penetrar profundamente. 
Assim, o que agora estamos a fazer é aguçar o instrumento, que é a mente, essa mente que se insensibilizou por causa do justificar e do condenar. Só sereis capaz de penetrar fundo se a vossa mente for penetrante como uma agulha e forte como o aço.


De nada serve ficardes recostado e perguntar: `Como chegarei a ter essa mente?´. Vós tendes de desejá-la assim como desejais a vossa próxima refeição, e para a terdes deveis ver que o que está a tornar a vossa mente insensível e estúpida é esse estado de invulnerabilidade que ergueu muralhas ao redor dela e que faz parte da condenação e da justificação. 


Se a mente puder libertar-se desse estado, sereis então capaz de olhar, de estudar, de penetrar, e assim, talvez, alcançar um estado totalmente consciente do problema no seu todo.


Voltemos, pois, ao problema central: É possível erradicarmos a violência em nós existente? É uma forma de violência dizer: `Não mudaste! Por que não mudaste?´. Não é isso que estou a fazer. Para mim, nada significa convencer-vos de uma coisa. Trata-se da vossa vida, e não da minha vida. A vossa maneira de viver é da vossa própria conta. 


O que pergunto é se é possível a um ente humano que psicologicamente vive, e não importa em que sociedade, se é possível a esse ente humano libertar-se interiormente da violência. Se é possível, esse mesmo processo criará uma nova maneira de viver neste mundo.


A maioria aceita a violência como maneira de vida. Duas guerras medonhas nada nos ensinaram a não ser a levantar mais e mais barreiras entre os seres humanos, entre vós e mim. Mas, quanto àqueles que desejam libertar-se da violência, o que se deve fazer? 
Penso que nada se conseguirá através da análise, feita por vós mesmos ou por um profissional. 


Poderíamos, talvez, modificar-nos ligeiramente, viver um pouco mais sossegadamente, com um pouco mais de afeição, mas isso, por si só, não nos dará a percepção total. Mas eu preciso saber analisar, pois, no processo da análise a mente se torna de sobremodo penetrante e é essa capacidade de penetração, de atenção, de seriedade, que dará a percepção total. 


Ninguém tem olhos capazes de ver o todo num relance; essa clarividência só é possível se podemos ver os detalhes e, depois, saltar.
Alguns dentre nós, a fim de se libertarem da violência, têm-se servido de um conceito, de um ideal chamado `não violência´, e pensamos que, tendo um ideal que seja o oposto da violência, a não-violência, podemos libertar-nos do facto, da coisa real; mas não podemos. 



Temos tido inumeráveis ideais, todos os livros 

sagrados estão cheios deles, e contudo, 

continuamos violentos; portanto, por que não 

enfrentar a própria violência e esquecer de todo

 a palavra?







Se desejais compreender a realidade, a isso 

deveis aplicar toda a vossa energia. 

Essa atenção e energia são desviadas quando se

 cria um mundo fictício, ideal. 








Assim, podeis banir completamente o ideal? 
O homem que é realmente sério, que sente a ânsia de descobrir o que é a verdade, o que é o amor, não tem conceito de espécie alguma. 
Só vive dentro de `o que é´. 


Para investigar o facto da vossa própria cólera, não deveis pronunciar julgamento sobre ela, porque no mesmo instante em que concebeis o seu oposto, a estais a condenar, e por conseguinte, não podeis vê-la tal como é. 


Quando dizeis que não gostais ou que tendes ódio de alguém, isso é um facto, embora pareça terrível. Se o olhais, se o examinais cabalmente, ele deixa de existir; mas se disserdes: `Eu não devo odiar; devo ter amor no coração´, ficais então a viver num mundo hipócrita, de duplos padrões. 


Viver com plenitude no momento presente é viver

 com o que é, o real, sem ideia de condenação 

ou justificação; então é quando compreendeis 

tão completamente, que ficais livre dele. Quando

 se vê claramente, o problema está resolvido.




Mas, podeis ver claramente a face da violência, não só fora mas também dentro de vós, o que significa que estais totalmente livre da violência, uma vez que não aceitastes nenhuma ideologia, para por ela, vos libertardes da violência? 
Isso exige meditação muito profunda, e não uma simples concordância ou discordância verbal.





Acabastes de ler uma série de asserções, mas 

tereis compreendido tudo? A vossa mente 

condicionada, a vossa maneira de vida, a inteira 

estrutura da sociedade em que viveis, vos 

impedem de olhar um facto e dele vos livrardes 

imediatamente. Dizeis: `Vou pensar a respeito 

disso; vou considerar se é ou não possível 

libertar-me da violência. Vou tentar ser livre´. 






Esta é uma das coisas mais terríveis que se 

podem dizer: Vou tentar. Não há tentar, não há 

esforçar-se. Ou agimos ou não agimos. Estais a 

admitir o tempo, com a casa em chamas. A casa

 está a arder, como resultado da violência 

existente no mundo inteiro e em vós mesmos, dizeis: 

`Vou pensar nisso. Qual é a melhor ideologia 

para extinguir o fogo?´.

 Quando a casa está em chamas, discutis sobre a

 cor dos cabelos do homem que traz a água?"




Jiddu Krishnamurti
"Liberte-se do condicionamento"











"Não sei mesmo se este espaço interior não será apenas uma nova dimensão do outro. Talvez a investigação científica do futuro venha a descobrir que tudo são dimensões do mesmo espaço, nem material nem espiritual por isso. Numa dimensão viveremos corpo; na outra viveremos alma. E há talvez outras dimensões onde vivemos outras coisas igualmente reais de nós. Apraz-me às vezes deixar-me possuir pela meditação inútil do ponto até onde esta investigação pode levar.

Talvez se descubra que aquilo a que chamamos Deus, e que tão patentemente está em outro plano que não a lógica e a realidade espacial e temporal, é um nosso modo de existência, uma sensação de nós em outra dimensão do ser. Isto não me parece impossível. Os sonhos também serão talvez ou ainda outra dimensão em que vivemos, ou um cruzamento de duas dimensões; como um corpo vive na altura, na largura e no comprimento, os nossos sonhos, quem sabe, viverão no ideal, no eu e no espaço. No espaço pela sua representação visível; no ideal pela sua apresentação de outro género que a da matéria; no eu pela sua íntima dimensão de nossos. O próprio Eu, o de cada um de nós, é talvez uma dimensão divina. Tudo isto é complexo e a seu tempo, sem dúvida, será determinado. Os sonhadores actuais são talvez os grandes precursores da ciência final do futuro. Não creio, é claro, numa ciência final do futuro. Mas isso nada tem para o caso.

Faço às vezes metafísica destas, com a atenção escrupulosa e respeitosa de quem trabalha deveras e faz ciência. Já disse que chega a ser possível que a esteja realmente fazendo. O essencial é eu não me orgulhar muito com isto, dado que o orgulho é prejudicial à exacta imparcialidade da precisão científica."



Fernando Pessoa
"Livro do desassossego"











t.































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