"One of the first signs of the beginnings of understanding is the wish to die. This life appears unbearable, another unattainable.
One is no longer ashamed of wanting to die; one asks to be moved from the old cell, which one hates, to a new one, which one will only in time come to hate.
In this there is also a residue of belief that during the move the master will chance to come along the corridor, look at the prisoner and say: `This man is not to be locked up again. He is to come with me.´"
"O que verdadeiramente importa é transformarmos radicalmente a nossa vida, não em conformidade com um certo plano ou ideologia ou uma certa espécie de utopia. Ao vermos quão violento e brutal é este mundo, e a sua enorme carga de sofrimento, torna-se naturalmente o dever de cada um de nós modificarmos as nossas vidas, os nossos modos de pensar e de proceder, as nossas atitudes e impulsos. Vamos considerar juntos o que é realmente a vida e o amor, qual o significado da morte, o que é vida religiosa, e se essa vida religiosa é compatível com o mundo moderno. Discorreremos também sobre o tempo, o espaço e a meditação.
Há tantas coisas por considerar, e provavelmente a maioria de vós já adquiriu conhecimentos sobre elas, conhecimentos dados por outros, pelos livros, pelos gurus, pelos sistemas, ou impostos pela cultura. Isso não é conhecimento, porém, antes, uma mera repetição do que outros disseram, sejam os mestres mais sublimes, seja o vosso guru local.
A nossa vida quotidiana é sem beleza, porque, repetidamente, os nossos instrutores religiosos e os nossos livros prescrevem: `Sê sem desejos, não olhes para uma mulher, para não caíres em tentação, pois, para achares Deus, a Verdade, deves ser celibatário´. Mas, a nossa vida diária está em contradição com tudo o que preceituam os instrutores. Nós somos o que somos: entes humanos triviais, egoístas, medrosos. Se não for alterada essa maneira de vida, todo o esforço feito para achar a Verdade, todas as falas, por mais vigorosas ou eruditas que sejam, toda a interpretação do Gita, Bíblia e demais livros, nada disso terá valor algum.
Portanto, cumpre-nos, em primeiro lugar, olhar as nossas vidas, isto é, observá-las. O que significa esta palavra `observar´? Há a percepção sensorial, pelos olhos: estais a ver esta buganvília. Então, observar a flor, a sua cor, formais uma imagem. Já tendes, pois, uma imagem dela e um nome para ela. Gostais ou não gostais da flor, criastes uma preferência, porque só a vedes através da imagem. De modo que, na realidade, não estais a ver a flor.
Não só olhamos a natureza com olhos que acumularam conhecimentos a seu respeito, e por conseguinte, com uma imagem, mas também olhamos os outros entes humanos com as nossas diferentes conclusões, opiniões, juízos e valores. Assim, quando olhais ou observais a vós mesmos, a vossa vida, estais a observar através da imagem e das conclusões que já formastes. Dizeis que `isto´ é bom, `aquilo´ é mau, ou que `isto´ é certo e `aquilo´ errado.
Como acontece isso? Porque é que, no momento da experiência, há ausência total do `observador´, e um segundo após, o observador entra em cena? Ao olhardes esta flor, no momento em que a observais com atenção, não há observador, só há o acto de olhar. Depois, dais nome à flor. Então, dizeis: `Quero-a no meu jardim, em minha casa´. Começastes, pois, a formar uma imagem relativa à flor. A imagem e o `produtor da imagem´, eis o observador, o passado; o `eu´ como observador, é o passado, é conhecimento acumulado, conhecimento da dor, da tristeza, da agonia, do sofrimento, do desespero, da solidão, do ciúme. O observador olha a flor com os olhos do passado. Não sabeis olhar sem o `observador´ e consequentemente, criais conflito.
Perguntamos, agora: Podeis olhar não apenas a flor, mas também a vossa vida, a vossa agonia, o vosso desespero, a vossa tristeza, sem lhe dardes nome, sem dizerdes: `Preciso transcender (ou dominar) esta coisa´? Podeis olhar a coisa simplesmente, sem `observador´? Tomai o vosso temor ou tendência pessoal, ou essa coisa que quase todos nós temos: a inveja. Sabeis o que é a inveja. Estais bem familiarizado com esse sentimento. Inveja é comparação, medição feita pelo pensamento, comparação do que sois com o que deveríeis ser ou gostaríeis de ser. Quando vos comparais com o vosso vizinho, que possui um carro melhor, uma casa melhor, etc., sentis inveja. Pois bem; podeis olhar esse sentimento, sem dizerdes que é `certo´ ou `errado´, sem lhe dardes nome; podeis olhá-lo sem a respectiva imagem? Desse modo, podeis ultrapassá-lo. Em vez de lutar com a cólera ou a inveja, em vez de tentar dominá-la, observai-a sem lhe dar nome.
`Dar nome´ é movimento da memória, do passado, que justifica ou condena. Se puderdes observar a inveja sem lhe dardes nome, vereis que a transcendereis.
No momento em que se conhece a possibilidade de transcender `o que é´, fica-se repleto de energia. O homem incapaz de transcender `o que é´ por não saber o que fazer com ele sente medo e trata de fugir. Perde energia. Se tendes um problema e sabeis resolvê-lo, tendes energia. O homem que tem mil problemas e não sabe o que fazer em relação a eles, perde energia. Da mesma maneira (sem dar nome a nada), olhai a vossa vida, em que existe aquela coisa chamada `amor´.
O que é o amor? Não vamos considerar teorias sobre o amor. Vamos observar isso que chamamos amor. Amor é prazer? Amor é ciúme? Pode um homem ambicioso amar?
Essa vida estéril é resultado da vossa cultura, dos vossos livros sagrados, que dizem:`Não olhes o céu, porque lá há beleza e o sentimento dessa beleza poderá transferir-se para uma mulher.
Se observardes a vossa vida, podereis descobrir por vós mesmos o que é o amor, porque nesse observar há paixão. Etimologicamente, a palavra `paixão´ significa `sofrimento´. Sabeis o que significa sofrer, não o meio de fugir do sofrimento ou o que fazer a respeito do sofrimento, sabeis o que significa sofrer, ter interiormente uma grande dor? Não haver nenhum movimento de fuga a esse sofrer, vem daí uma grande paixão, uma grande compaixão.
Cabe-vos também descobrir o que é a morte, não no último minuto, prostrado pela doença, inconsciente, sem lucidez; a isso todos estamos sujeitos: velhice, doença e morte. Impende-vos e importa descobrir o que é a morte enquanto estais novo, vigoroso, activo, a frequentar diariamente o vosso escritório e de lá voltar para casa, a vossa `prisão particular´.
O organismo pode durar mais, conforme a espécie de vida que levamos. Se a nossa vida, do nascimento à morte, é uma batalha, o corpo se gasta mais rapidamente. O coração está sujeito a constante tensão. Isso é um facto inabalável. Para se descobrir o que é a morte, não deve haver medo; e a maioria de nós tememos a morte, deixar as nossas famílias, largar as coisas que acumulamos, ou os nossos conhecimentos e nossos livros. Não saber o que acontece ao morrermos, a mente, isto é, o pensamento, diz que deve haver outra espécie de vida. A vida deve continuar de alguma maneira, a nossa vida individual. Eis aí toda a estrutura da crença, da vossa crença na reencarnação. O que é que renascerá na próxima vida: a vossa acumulação de conhecimentos, os vossos pensamentos e actividades, as acções belas ou feias que praticastes?
Se credes realmente em karma, então, o que importa é o que agora, nesta vida, fazeis, como agora vos comportais, porque na próxima vida pagareis as vossas culpas.
Assim, se realmente estais enredado nessa crença, deveis prestar toda a atenção à vossa vida de agora. Cabe-vos descobrir o que significa morrer, não fisicamente, que é inevitável, mas morrer para tudo o que conheceis, para as vossas famílias, os vossos apegos, para todas as coisas que acumulastes, para os vossos acostumados prazeres e temores, morrer a cada minuto, para terdes sempre uma mente nova, pura e, por conseguinte,`inocente´. Haverá, assim, `encarnação´ em cada dia novo. Encarnar todos os dias é muito mais importante do que encarnar na vida futura. Essa `encarnação´ vos dará uma mente sobremodo `inocente´. A mente `inocente´ nunca pode ferir-se. Por conseguinte, a mente que se fere deve morrer, a cada dia, para os seus ferimentos, para que possa, em cada manhã, estar renovada, lúcida, sem máculas nem cicatrizes. Eis a verdadeira maneira de viver.
A meditação é uma coisa prodigiosa se sabemos o que é `a mente em meditação´, e não se sabemos `como´ meditar. Veremos o que a meditação não é, e saberemos então o que é meditação. Pela negação, alcança-se o positivo, mas, se buscais o positivo, ireis dar num `beco sem saída´. Dizemos que meditação não é a prática de qualquer sistema. Qualquer máquina é capaz disso. Os sistemas não podem revelar-nos as profundezas e maravilhas da meditação.
Meditação, também, não é concentração. Quando vos concentrais ou tentais concentrar-vos, nessa concentração há `observador´ e `coisa observada´, há a entidade que diz `preciso concentrar-me, forçar-me a concentrar-me´, e a concentração torna-se um conflito. Quando, como um estudante, aprendeis a concentrar-vos, essa concentração torna-se um processo de exclusão, um erguer de barreiras ao pensamento, ao movimento dos pensamentos.
Necessita-se de completo auto-conhecimento. Portanto, não há nenhuma necessidade de sistema, de método, nenhuma necessidade de concentração.
É bom fazer perguntas. Vós deveis fazer perguntas, não só a este orador, mas também a vós mesmos. Muito mais importante é vos interrogardes porque credes, porque seguis, porque aceitais autoridades, porque estais corrompidos, porque sentis cólera, ciúme. Perguntai tudo isso a vós mesmos e tratai de achar as respostas.
Não há liberdade intelectual; e liberdade significa energia, vitalidade, `intensidade´; a liberdade vos proporciona uma extraordinária energia. Mas, essa liberdade, vós a rejeitais totalmente, ao aceitar a autoridade, não apenas a autoridade do professor, mas também a autoridade dos vossos guias espirituais; e essas pessoas não são espirituais, porque se arvoram em guias dos outros. Não sois livre, intelectualmente; e moralmente, sois sentimental, devotado a uma certa divindade ou pessoa. Isso não produz energia, mas sim, medo. Só há energia quando perdeis completamente de vista o vosso `eu´, quando há total ausência do `eu´, e isso acontece no acto sexual, quando, por um segundo, tudo acaba. Fruís o prazer que o sexo proporciona; e o pensamento, então, apodera-se desse prazer, forma imagens, deseja-o mais e mais, repetidamente. Por isso, tornou-se o sexo esse importantíssimo factor na vossa vida, porque, intelectualmente, nada mais tendes. Sois entes humanos confusos, aflitos, desditosos. Intelectualmente, não tendes a `intensidade´, a `paixão´, necessárias para estardes só, para verdes claramente e ficardes com o que vedes (isto é, não fugirdes do que vedes). Sentis medo; e que vos resta? O sexo.
Todas as vossas religiões mandam-vos abster-vos do sexo. Eis porque viveis a batalhar. `Para achares Deus deves ser sem sexo´. Portanto, lutais para serdes `não sexual´. Como sois todo sexo, batalhais contra vós mesmos. E, quanto mais batalhais, mais importante se torna o sexo.
Estais a ver, pois, o que é a vossa vida. Não tendes amor, mas tendes prazer. E, tendo prazer, temeis perdê-lo. E, assim, nunca sereis livre, ainda que possais escrever volumes sobre a liberdade. Ao compreenderdes tudo isso, não intelectualmente, mas diariamente, na vossa vida, vereis o estado a que reduzistes a humanidade, com os vossos Mahabaratas, os vossos Gitas, Bíblias, os vossos gurus. E vereis também que reduzistes vós mesmos a uma entidade mecânica, uma insignificante e desditosa entidade; e com essa vossa pequenina mente quereis abarcar a imensidão da Verdade!"
Franz Kafka
"The Zurau Aphorisms"
“Surely, a man who is understanding life does not want
beliefs. A man who loves, has no beliefs, he loves. It is the man who is
consumed by the intellect who has beliefs, because intellect is always seeking
security, protection; it is always avoiding danger, and therefore it builds
ideas, beliefs, ideals, behind which it can take shelter.
What would happen if
you dealt with violence directly, now?
You would be a danger to society; and
because the mind foresees the danger, it says: "I will achieve the ideal
of nonviolence ten years later"; which is such a fictitious, false
process.
To understand what is, is more important than to create and follow
ideals because ideals are false, and what is is the real. To understand what is
requires an enormous capacity, a swift and unprejudiced mind.
It is because we
don't want to face and understand what is that we invent the many ways of
escape and give them lovely names as the ideal, the belief, God.
Surely, it is
only when I see the false as the false that my mind is capable of perceiving
what is true.
A mind that is confused in the false can never find the truth.
Therefore, I must understand what is false in my relationships, in my ideas, in
the things about me, because to perceive the truth requires the understanding
of the false.
Without removing the causes of ignorance, there cannot be
enlightenment; and to seek enlightenment when the mind is unenlightened is
utterly empty, meaningless.
Therefore, I must begin to see the false in my
relationships with ideas, with people, with things.
When the mind sees that
which is false, then that which is true comes into being and then there is
ecstasy, there is happiness.”
Jiddu Krishnamurti
“The book of life”
UNDERSTANDING
OF LIFE...
"O que verdadeiramente importa é transformarmos radicalmente a nossa vida, não em conformidade com um certo plano ou ideologia ou uma certa espécie de utopia. Ao vermos quão violento e brutal é este mundo, e a sua enorme carga de sofrimento, torna-se naturalmente o dever de cada um de nós modificarmos as nossas vidas, os nossos modos de pensar e de proceder, as nossas atitudes e impulsos. Vamos considerar juntos o que é realmente a vida e o amor, qual o significado da morte, o que é vida religiosa, e se essa vida religiosa é compatível com o mundo moderno. Discorreremos também sobre o tempo, o espaço e a meditação.
Há tantas coisas por considerar, e provavelmente a maioria de vós já adquiriu conhecimentos sobre elas, conhecimentos dados por outros, pelos livros, pelos gurus, pelos sistemas, ou impostos pela cultura. Isso não é conhecimento, porém, antes, uma mera repetição do que outros disseram, sejam os mestres mais sublimes, seja o vosso guru local.
E, para a compreensão da vida diária, não necessitamos de nenhum guru, de nenhuma autoridade ou instrutor. O que nos cabe fazer é, apenas, observar, estar conscientes dos nossos actos, pensamentos e `motivos´, e descobrir se existe alguma possibilidade de transformarmos totalmente as nossas humanas tendências, crenças e desesperos.
Vejamos, pois, em primeiro lugar, o que realmente é a nossa vida, a nossa vida de cada dia, porque se não a compreendermos, se não a pusermos em ordem e meramente cumprirmos sem zelo as nossas tarefas diárias ou nos refugiarmos em alguma ideologia, ou superficialmente nos satisfizermos com as coisas como são, não teremos nenhuma base para viver, nenhuma norma de pensamento e acção realmente certa e verdadeira. Ordem é virtude. Sem ordem, o homem está condenado a viver em confusão; e sem a compreensão dessa ordem, que é virtude, toda a moralidade se torna superficial, meramente influenciada pelo ambiente, pela cultura em que vive o indivíduo.
Cumpre-nos descobrir por nós mesmos o que é a ordem, se é um padrão, um plano, uma coisa instituída pelo homem como meio de compulsão, como meio de ajustamento e imitação, ou se a ordem é uma coisa viva, e consequentemente, jamais pode ajustar-se a um padrão.
O que é o nosso viver de cada dia?
O que é o nosso viver de cada dia?
Pode-se ver que há, nesse viver, muita confusão, muito ajustamento e contradição, cada homem contra outro homem, e no mundo dos negócios, todos prontos a se destruírem mutuamente. Política, sociológica e moralmente, observa-se medonha confusão; e se olhar para a vossa própria vida, podeis ver que, do nascer ao morrer, ela é uma série de conflitos. A vida tornou-se um campo de batalha.
E, vendo-nos incapazes de compreendê-la ou ultrapassá-la, recorremos a alguma ideologia, aos antigos filósofos, aos antigos mestres, à sabedoria antiga; pensamos que, ao fugir da realidade, resolvemos os nossos problemas.
Eis porque as filosofias, os ideais, os diferentes meios de fuga não acabaram com os nossos problemas. Continuamos exactamente como éramos há cinco mil anos ou mais, os mesmos entes embotados, repetidores, malévolos, irascíveis, violentos, agressivos, com raros lampejos de beleza ou de felicidade, e sempre com medo daquela coisa a que chamamos `a morte´.
A nossa vida quotidiana é sem beleza, porque, repetidamente, os nossos instrutores religiosos e os nossos livros prescrevem: `Sê sem desejos, não olhes para uma mulher, para não caíres em tentação, pois, para achares Deus, a Verdade, deves ser celibatário´. Mas, a nossa vida diária está em contradição com tudo o que preceituam os instrutores. Nós somos o que somos: entes humanos triviais, egoístas, medrosos. Se não for alterada essa maneira de vida, todo o esforço feito para achar a Verdade, todas as falas, por mais vigorosas ou eruditas que sejam, toda a interpretação do Gita, Bíblia e demais livros, nada disso terá valor algum.
Podeis, pois, sem hesitação, lançar fora todos os livros sagrados, para começardes de novo, porque eles, com os seus intérpretes, os seus instrutores e gurus, não vos trouxeram nenhum esclarecimento. A sua autoridade, a sua disciplina compulsória, as suas sanções, são absolutamente sem valor.
Mas, é possível transformarmos as nossas vidas?
As nossas vidas estão em desordem, as nossas vidas estão fragmentadas. Somos uma coisa no escritório, outra no templo e outra inteiramente diferente no lar; e em presença de um alto dignitário, somos entes humanos tímidos e bajuladores. Se não alterarmos a nossa vida diária, nenhum sentido tem em perguntar o que é a Verdade, se Deus existe ou não existe. Somos entes humanos fragmentados, e enquanto não formos entes humanos totais, completos, nenhuma possibilidade teremos de alcançar o que está fora do tempo.
Portanto, cumpre-nos, em primeiro lugar, olhar as nossas vidas, isto é, observá-las. O que significa esta palavra `observar´? Há a percepção sensorial, pelos olhos: estais a ver esta buganvília. Então, observar a flor, a sua cor, formais uma imagem. Já tendes, pois, uma imagem dela e um nome para ela. Gostais ou não gostais da flor, criastes uma preferência, porque só a vedes através da imagem. De modo que, na realidade, não estais a ver a flor.
Não só olhamos a natureza com olhos que acumularam conhecimentos a seu respeito, e por conseguinte, com uma imagem, mas também olhamos os outros entes humanos com as nossas diferentes conclusões, opiniões, juízos e valores. Assim, quando olhais ou observais a vós mesmos, a vossa vida, estais a observar através da imagem e das conclusões que já formastes. Dizeis que `isto´ é bom, `aquilo´ é mau, ou que `isto´ é certo e `aquilo´ errado.
Não estais a olhar realmente a vida. Agir assim, não estais em relação directa com o que vedes . Olhais com o conhecimento trazido do passado, com as vossas imagens, com a tradição, com todas as experiências humanas acumuladas; tudo isso vos impede de ver. Este é um facto que precisa ser compreendido, ou seja que, para observardes realmente a vida, deveis olhá-la com olhos novos, isto é, olhá-la sem condenação, sem nenhum ideal, sem nenhum desejo de dominar ou alterar o que vedes, em suma, observar. Estais a fazer isso? Estais-vos a servir deste orador como se ele fosse um espelho em que vedes reflectida a vossa própria vida? Estais a olhar a vossa vida com os olhos das vossas conclusões, e isso vos está a impedir de olhá-la directamente, de entrar em contacto com ela.
Olhai o céu, a árvore, vede a beleza da luz, das nuvens, as suas formas e delicadeza. Se tudo olhardes sem nenhuma imagem, tereis compreendido a vossa própria vida. Mas, estais a observar a vida, vós como `observador´, e a vossa vida como `coisa observada´, uma coisa separada do `observador´. Essa divisão é a essência de todos os conflitos, de todas as lutas, dores, temores, desesperos.
Havendo divisão entre os entes humanos, divisão em nacionalidades, religiões, divisões sociais, havendo qualquer espécie de divisão, há necessariamente conflito. Temos por um lado o Paquistão, e por outro lado a Índia, um a lutar contra o outro. Vós sois brâmane e outro é `não brâmane´, e entre ambos há ódio, divisão. Ora, essa mesma divisão existente no exterior com todos os seus conflitos existe também internamente, na forma de `observador´ e `coisa observada´.
A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade. É uma mente torturada, deformada. Como pode ela ser livre para observar a beleza da Terra, a beleza de uma criança, de uma mulher, de um homem, para ser sensível no mais alto grau a todas as manifestações do belo?
Vamos, agora, descobrir por nós mesmos, e não por meio do orador, se é possível pôr termo à divisão entre o observador e a coisa observada. Estais-me a seguir? Vede, por favor, quanto isso é importante (pôr termo à divisão), se realmente desejais ir mais longe. Vamos considerar a fundo a questão do amor, da morte, da Verdade, da meditação, e o que significa uma mente completa e de todo quieta. Para compreendermos tudo isso, temos de começar pondo termo ao conflito, conflito existente sempre que há `observador´ e `coisa observada´.
Havendo divisão entre os entes humanos, divisão em nacionalidades, religiões, divisões sociais, havendo qualquer espécie de divisão, há necessariamente conflito. Temos por um lado o Paquistão, e por outro lado a Índia, um a lutar contra o outro. Vós sois brâmane e outro é `não brâmane´, e entre ambos há ódio, divisão. Ora, essa mesma divisão existente no exterior com todos os seus conflitos existe também internamente, na forma de `observador´ e `coisa observada´.
A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade. É uma mente torturada, deformada. Como pode ela ser livre para observar a beleza da Terra, a beleza de uma criança, de uma mulher, de um homem, para ser sensível no mais alto grau a todas as manifestações do belo?
Vamos, agora, descobrir por nós mesmos, e não por meio do orador, se é possível pôr termo à divisão entre o observador e a coisa observada. Estais-me a seguir? Vede, por favor, quanto isso é importante (pôr termo à divisão), se realmente desejais ir mais longe. Vamos considerar a fundo a questão do amor, da morte, da Verdade, da meditação, e o que significa uma mente completa e de todo quieta. Para compreendermos tudo isso, temos de começar pondo termo ao conflito, conflito existente sempre que há `observador´ e `coisa observada´.
A primeira pergunta que cumpre fazer é esta: Quem é esse observador que se separou da coisa observada? Sabemos, ao nos encolerizarmos, que no momento da cólera não há `observador´. No momento de qualquer experiência, não existe `observador´. Ao observardes o poente, ao verdes essa coisa grandiosa, não há nenhum `observador´ a dizer: `Estou a ver o pôr-do-Sol´. Um segundo após, chega o `observador´. Se sentis cólera, no momento da cólera não há observador, não há `experimentador´, só existe o `estado de cólera´. Um instante após, surge o observador e diz: `Eu não devia ter-me encolerizado´ ou `Tive razão para me encolerizar´. Eis o começo da divisão.
Como acontece isso? Porque é que, no momento da experiência, há ausência total do `observador´, e um segundo após, o observador entra em cena? Ao olhardes esta flor, no momento em que a observais com atenção, não há observador, só há o acto de olhar. Depois, dais nome à flor. Então, dizeis: `Quero-a no meu jardim, em minha casa´. Começastes, pois, a formar uma imagem relativa à flor. A imagem e o `produtor da imagem´, eis o observador, o passado; o `eu´ como observador, é o passado, é conhecimento acumulado, conhecimento da dor, da tristeza, da agonia, do sofrimento, do desespero, da solidão, do ciúme. O observador olha a flor com os olhos do passado. Não sabeis olhar sem o `observador´ e consequentemente, criais conflito.
Perguntamos, agora: Podeis olhar não apenas a flor, mas também a vossa vida, a vossa agonia, o vosso desespero, a vossa tristeza, sem lhe dardes nome, sem dizerdes: `Preciso transcender (ou dominar) esta coisa´? Podeis olhar a coisa simplesmente, sem `observador´? Tomai o vosso temor ou tendência pessoal, ou essa coisa que quase todos nós temos: a inveja. Sabeis o que é a inveja. Estais bem familiarizado com esse sentimento. Inveja é comparação, medição feita pelo pensamento, comparação do que sois com o que deveríeis ser ou gostaríeis de ser. Quando vos comparais com o vosso vizinho, que possui um carro melhor, uma casa melhor, etc., sentis inveja. Pois bem; podeis olhar esse sentimento, sem dizerdes que é `certo´ ou `errado´, sem lhe dardes nome; podeis olhá-lo sem a respectiva imagem? Desse modo, podeis ultrapassá-lo. Em vez de lutar com a cólera ou a inveja, em vez de tentar dominá-la, observai-a sem lhe dar nome.
`Dar nome´ é movimento da memória, do passado, que justifica ou condena. Se puderdes observar a inveja sem lhe dardes nome, vereis que a transcendereis.
No momento em que se conhece a possibilidade de transcender `o que é´, fica-se repleto de energia. O homem incapaz de transcender `o que é´ por não saber o que fazer com ele sente medo e trata de fugir. Perde energia. Se tendes um problema e sabeis resolvê-lo, tendes energia. O homem que tem mil problemas e não sabe o que fazer em relação a eles, perde energia. Da mesma maneira (sem dar nome a nada), olhai a vossa vida, em que existe aquela coisa chamada `amor´.
O que é o amor? Não vamos considerar teorias sobre o amor. Vamos observar isso que chamamos amor. Amor é prazer? Amor é ciúme? Pode um homem ambicioso amar?
É capaz de amar o homem que está a competir com outros? Isso todos vós estais a fazer: competir uns com os outros. Quereis o melhor emprego, a melhor posição, uma casa melhor, uma imagem melhor de vós mesmos. Pode-se amar pela tirania, pelo dominar o marido, a mulher, os filhos? Quando se busca o poder, há possibilidade de amor?
No rejeitar o que não é amor, há amor. Tendes de rejeitar tudo o que não é amor, ou seja, ser sem ambição, sem competição, sem agressão, sem violência, em palavras, actos e pensamentos.
Rejeitar o que não é amor, sabereis o que é amor. O amor é uma coisa carregada de energia, uma coisa que se sente intensamente; o amor não é prazer. Cabe-vos, pois compreender o prazer, em lugar de tentardes amar alguém.
Ao verdes o que é a vossa vida, sem amor, sem beleza, sem liberdade, e quanto ela é estéril, devíeis verter lágrimas.
Se queres viver como homem religioso, retira-te do mundo, nega o mundo, porque o mundo é maya, ilusão, foge do mundo´.
E vós fugistes do mundo, como o mostra a vossa vida.
Se observardes a vossa vida, podereis descobrir por vós mesmos o que é o amor, porque nesse observar há paixão. Etimologicamente, a palavra `paixão´ significa `sofrimento´. Sabeis o que significa sofrer, não o meio de fugir do sofrimento ou o que fazer a respeito do sofrimento, sabeis o que significa sofrer, ter interiormente uma grande dor? Não haver nenhum movimento de fuga a esse sofrer, vem daí uma grande paixão, uma grande compaixão.
Cabe-vos também descobrir o que é a morte, não no último minuto, prostrado pela doença, inconsciente, sem lucidez; a isso todos estamos sujeitos: velhice, doença e morte. Impende-vos e importa descobrir o que é a morte enquanto estais novo, vigoroso, activo, a frequentar diariamente o vosso escritório e de lá voltar para casa, a vossa `prisão particular´.
O organismo pode durar mais, conforme a espécie de vida que levamos. Se a nossa vida, do nascimento à morte, é uma batalha, o corpo se gasta mais rapidamente. O coração está sujeito a constante tensão. Isso é um facto inabalável. Para se descobrir o que é a morte, não deve haver medo; e a maioria de nós tememos a morte, deixar as nossas famílias, largar as coisas que acumulamos, ou os nossos conhecimentos e nossos livros. Não saber o que acontece ao morrermos, a mente, isto é, o pensamento, diz que deve haver outra espécie de vida. A vida deve continuar de alguma maneira, a nossa vida individual. Eis aí toda a estrutura da crença, da vossa crença na reencarnação. O que é que renascerá na próxima vida: a vossa acumulação de conhecimentos, os vossos pensamentos e actividades, as acções belas ou feias que praticastes?
Se credes realmente em karma, então, o que importa é o que agora, nesta vida, fazeis, como agora vos comportais, porque na próxima vida pagareis as vossas culpas.
Assim, se realmente estais enredado nessa crença, deveis prestar toda a atenção à vossa vida de agora. Cabe-vos descobrir o que significa morrer, não fisicamente, que é inevitável, mas morrer para tudo o que conheceis, para as vossas famílias, os vossos apegos, para todas as coisas que acumulastes, para os vossos acostumados prazeres e temores, morrer a cada minuto, para terdes sempre uma mente nova, pura e, por conseguinte,`inocente´. Haverá, assim, `encarnação´ em cada dia novo. Encarnar todos os dias é muito mais importante do que encarnar na vida futura. Essa `encarnação´ vos dará uma mente sobremodo `inocente´. A mente `inocente´ nunca pode ferir-se. Por conseguinte, a mente que se fere deve morrer, a cada dia, para os seus ferimentos, para que possa, em cada manhã, estar renovada, lúcida, sem máculas nem cicatrizes. Eis a verdadeira maneira de viver.
A mente que vive sem esforço, já vistes que o esforço se torna existente quando há conflito, conflito entre o `observador´ e a `coisa observada´, a mente que vive sem esforço produz ordem. Vem a ordem quando se compreendeu a desordem.
Dessa compreensão, não intelectual, porém real, vem a ordem, a ordem que é virtude, rectidão, a ordem que é uma coisa viva.
O homem vaidoso esforça-se para ser humilde, para ter humildade. No esforço para me tornar humilde, há conflito, mas, se enfrento o facto de que sou vaidoso (e para compreender esse facto preciso compreender-me a mim mesmo totalmente), necessito dessa ordem que não é hábito, nem prática, nem cultivo de alguma virtude.
Desponta a virtude, tal e qual uma flor, em toda a sua bondade, quando compreendeis. Podeis, então, começar a investigar isso que o homem vem em busca há tantos e tantos séculos. Ele sempre implorou essa coisa, sempre tentou descobri-la, mas não haverá possibilidade de compreendê-la ou de alcançá-la, sem se ter lançado a base adequada, na vida de cada dia.
O homem vaidoso esforça-se para ser humilde, para ter humildade. No esforço para me tornar humilde, há conflito, mas, se enfrento o facto de que sou vaidoso (e para compreender esse facto preciso compreender-me a mim mesmo totalmente), necessito dessa ordem que não é hábito, nem prática, nem cultivo de alguma virtude.
Desponta a virtude, tal e qual uma flor, em toda a sua bondade, quando compreendeis. Podeis, então, começar a investigar isso que o homem vem em busca há tantos e tantos séculos. Ele sempre implorou essa coisa, sempre tentou descobri-la, mas não haverá possibilidade de compreendê-la ou de alcançá-la, sem se ter lançado a base adequada, na vida de cada dia.
Pode-se então, indagar o que é meditação, não `como meditar´, que passos dar ou que sistemas e métodos seguir para meditar. Todos os sistemas e métodos tornam a mente mecânica. Se sigo determinado sistema, por mais bem elaborado que tenha sido pelo maior de todos os gurus imagináveis, esse sistema, esse método tornará a minha mente mecânica, e uma mente mecânica é uma mente morta.
`Ensinai-me a meditar (esta é a primeira coisa que se pede) porque, se mo ensinardes, praticarei a meditação dia por dia, erguer-me-ei todas as madrugadas, para repetir, repetir...´.
`Ensinai-me a meditar (esta é a primeira coisa que se pede) porque, se mo ensinardes, praticarei a meditação dia por dia, erguer-me-ei todas as madrugadas, para repetir, repetir...´.
E ao cabo de um ano, o que tendes é uma mente embotada, entorpecida, uma mente sempre pronta a fugir, a hipnotizar-se a si própria. Isso não é meditação.
A meditação é uma coisa prodigiosa se sabemos o que é `a mente em meditação´, e não se sabemos `como´ meditar. Veremos o que a meditação não é, e saberemos então o que é meditação. Pela negação, alcança-se o positivo, mas, se buscais o positivo, ireis dar num `beco sem saída´. Dizemos que meditação não é a prática de qualquer sistema. Qualquer máquina é capaz disso. Os sistemas não podem revelar-nos as profundezas e maravilhas da meditação.
Meditação, também, não é concentração. Quando vos concentrais ou tentais concentrar-vos, nessa concentração há `observador´ e `coisa observada´, há a entidade que diz `preciso concentrar-me, forçar-me a concentrar-me´, e a concentração torna-se um conflito. Quando, como um estudante, aprendeis a concentrar-vos, essa concentração torna-se um processo de exclusão, um erguer de barreiras ao pensamento, ao movimento dos pensamentos.
Necessita-se de completo auto-conhecimento. Portanto, não há nenhuma necessidade de sistema, de método, nenhuma necessidade de concentração.
E a mente que compreendeu tudo isso pela negação torna-se, naturalmente, sobremodo quieta. Nela, não há nenhum `observador´ que conquistou uma certa espécie de silêncio. Naquele silêncio, a mente se esvazia de todo o passado. Se não o criardes, na vossa vida de cada dia, jamais compreendereis a esplêndida beleza e subtileza da meditação.
Havendo na mente ordem completa, ordem matemática, e quando essa ordem despontou naturalmente, mediante a compreensão da desordem da vossa vida diária, a mente se aquieta de todo. Essa quietude (que não se obtém fechado num quarto) tem um espaço infinito. Não é a quietude ou o silêncio que se produz quando acaba o barulho.
Havendo na mente ordem completa, ordem matemática, e quando essa ordem despontou naturalmente, mediante a compreensão da desordem da vossa vida diária, a mente se aquieta de todo. Essa quietude (que não se obtém fechado num quarto) tem um espaço infinito. Não é a quietude ou o silêncio que se produz quando acaba o barulho.
Ao terdes compreendido o inteiro problema da existência, o amor, a morte, o viver, a beleza, sabereis o que sucede nesse silêncio. Ninguém vo-lo pode descrever. Quem o descreve não sabe o que ele é. A vós é que compete descobri-lo.
É bom fazer perguntas. Vós deveis fazer perguntas, não só a este orador, mas também a vós mesmos. Muito mais importante é vos interrogardes porque credes, porque seguis, porque aceitais autoridades, porque estais corrompidos, porque sentis cólera, ciúme. Perguntai tudo isso a vós mesmos e tratai de achar as respostas.
Senhores, tendes de `estar sós´, inteiramente sós, o que não significa `isolar-se´. Estando sós, sabeis o que significa viver puramente. Por conseguinte, tendes de fazer perguntas a vós mesmos, infinitamente. Quanto mais vos interrogardes, sem buscardes resposta, mas olhar, tanto melhor vos compreendereis. Interrogai-vos, com zelo e amor!
INTERROGANTE: Ao dizerdes `o homem que diz que sabe, não sabe´, o que significa isso? Não devemos conhecer-nos para podermos dizer tal coisa?
J. KRISHNAMURTI: Cumpre averiguar o que a palavra `saber´ significa, o que ela implica. Quando dizeis `conheço a minha mulher ou o meu marido´, o que significa essa palavra? Vós a conheceis, vós o conheceis, ou conheceis a imagem que tendes dele ou dela? A imagem que tendes da pessoa é o passado. Assim, `saber´ é conhecer algo já acabado, uma coisa que já se foi, uma coisa `experimentada´. Ora, ao dizerdes `eu sei´, estais a olhar o presente com o conhecimento que trouxestes do passado.
Pois bem; quero conhecer, compreender a mim mesmo, que sou uma coisa viva, e não uma coisa estática. Sou uma coisa que está sempre a mudar, a acrescentar, a subtrair, a aceitar, rejeitar; portanto, tenho de olhar-me cada vez como se fosse a primeira vez. Olho-me a mim mesmo, e vejo que sou feio, ou susceptível demais, qualquer coisa. Essa tradução do que vejo torna-se conhecimento, e com esse conhecimento olho a mim mesmo no próximo minuto. Assim, o que vejo não pode ser novo, porque o vejo com os olhos do passado. Consequentemente, para me conhecer, tenho sempre de pôr termo ao que sei sobre a minha pessoa, de modo que cada vez eu esteja a aprender, isto é, haja um conhecimento novo de mim próprio.
`O homem que diz que sabe, não sabe´, compreendestes isto agora? Se um homem diz: Experimentei Deus; sei o que significa `iluminação´, isso é a mesma coisa que dizer `sei o caminho da estação´, porque a estação é uma coisa fixa. Há muitos caminhos para a estação, há muitos gurus a mostrarem cada caminho e a dizerem `Nós sabemos, nós experimentamos´. E o que significa isso? Significa que, no passado, conheceram uma coisa e estão apegados a essa coisa experimentada e morta.
Não há caminho para a Verdade, porque a Verdade é uma coisa viva e não uma coisa fixa, estática, morta. A Verdade é como vós, senhor; sois estático? Não estais todos os dias a mudar, para pior ou para melhor? Por conseguinte, nunca poderei dizer que vos conheço. O que há de mais estúpido é dizer-se `Eu sei´. Isso é apenas uma espécie de consolação, uma espécie de segurança, de que tenho necessidade.
Se bem compreenderdes esta questão, tereis compreendido muitas coisas. Portanto, desconfiai do homem que diz `Eu sei´, do homem que diz: `Eu vos levarei ao esclarecimento; fazei `estas´ coisas, e o alcançareis´. Tende cuidado com essa gente, que é gente morta, gente que está a viver no passado e a falar de coisas que desconhece, esclarecimento, Verdade. A Verdade é um estado atemporal, e portanto, não pode ser alcançada através do tempo.
O conhecimento é tempo. Assim, como dissemos, morrei para todo o saber que tendes, todos os dias. Morrei, para todas as manhãs serdes um ente novo. A mente, então, nunca diz `eu sei´, porque está sempre a florescer, sempre nova.
INTERROGANTE: Vós não quereis que leiamos o Ramayama, o Mâhabarata, os nossos grandes poemas épicos. O que está errado neles? Porque sois tão hostil para os nossos grandes santos?
J. KRISHNAMURTI: Em primeiro lugar, eu não conheço os vossos grandes santos, e não quero conhecê-los. Não vejo a importância de conhecê-los. São provavelmente entes condicionados pela cultura, pela sociedade, pela religião em que nasceram. O que quero é conhecer-me, e não a eles. Um santo cristão não é reconhecido aqui como `santo´. E vós, como hindus, aceitaríeis um santo cristão como vosso santo? Claro que não.
INTERROGANTE: Ao dizerdes `o homem que diz que sabe, não sabe´, o que significa isso? Não devemos conhecer-nos para podermos dizer tal coisa?
J. KRISHNAMURTI: Cumpre averiguar o que a palavra `saber´ significa, o que ela implica. Quando dizeis `conheço a minha mulher ou o meu marido´, o que significa essa palavra? Vós a conheceis, vós o conheceis, ou conheceis a imagem que tendes dele ou dela? A imagem que tendes da pessoa é o passado. Assim, `saber´ é conhecer algo já acabado, uma coisa que já se foi, uma coisa `experimentada´. Ora, ao dizerdes `eu sei´, estais a olhar o presente com o conhecimento que trouxestes do passado.
Pois bem; quero conhecer, compreender a mim mesmo, que sou uma coisa viva, e não uma coisa estática. Sou uma coisa que está sempre a mudar, a acrescentar, a subtrair, a aceitar, rejeitar; portanto, tenho de olhar-me cada vez como se fosse a primeira vez. Olho-me a mim mesmo, e vejo que sou feio, ou susceptível demais, qualquer coisa. Essa tradução do que vejo torna-se conhecimento, e com esse conhecimento olho a mim mesmo no próximo minuto. Assim, o que vejo não pode ser novo, porque o vejo com os olhos do passado. Consequentemente, para me conhecer, tenho sempre de pôr termo ao que sei sobre a minha pessoa, de modo que cada vez eu esteja a aprender, isto é, haja um conhecimento novo de mim próprio.
`O homem que diz que sabe, não sabe´, compreendestes isto agora? Se um homem diz: Experimentei Deus; sei o que significa `iluminação´, isso é a mesma coisa que dizer `sei o caminho da estação´, porque a estação é uma coisa fixa. Há muitos caminhos para a estação, há muitos gurus a mostrarem cada caminho e a dizerem `Nós sabemos, nós experimentamos´. E o que significa isso? Significa que, no passado, conheceram uma coisa e estão apegados a essa coisa experimentada e morta.
Não há caminho para a Verdade, porque a Verdade é uma coisa viva e não uma coisa fixa, estática, morta. A Verdade é como vós, senhor; sois estático? Não estais todos os dias a mudar, para pior ou para melhor? Por conseguinte, nunca poderei dizer que vos conheço. O que há de mais estúpido é dizer-se `Eu sei´. Isso é apenas uma espécie de consolação, uma espécie de segurança, de que tenho necessidade.
Se bem compreenderdes esta questão, tereis compreendido muitas coisas. Portanto, desconfiai do homem que diz `Eu sei´, do homem que diz: `Eu vos levarei ao esclarecimento; fazei `estas´ coisas, e o alcançareis´. Tende cuidado com essa gente, que é gente morta, gente que está a viver no passado e a falar de coisas que desconhece, esclarecimento, Verdade. A Verdade é um estado atemporal, e portanto, não pode ser alcançada através do tempo.
O conhecimento é tempo. Assim, como dissemos, morrei para todo o saber que tendes, todos os dias. Morrei, para todas as manhãs serdes um ente novo. A mente, então, nunca diz `eu sei´, porque está sempre a florescer, sempre nova.
INTERROGANTE: Vós não quereis que leiamos o Ramayama, o Mâhabarata, os nossos grandes poemas épicos. O que está errado neles? Porque sois tão hostil para os nossos grandes santos?
J. KRISHNAMURTI: Em primeiro lugar, eu não conheço os vossos grandes santos, e não quero conhecê-los. Não vejo a importância de conhecê-los. São provavelmente entes condicionados pela cultura, pela sociedade, pela religião em que nasceram. O que quero é conhecer-me, e não a eles. Um santo cristão não é reconhecido aqui como `santo´. E vós, como hindus, aceitaríeis um santo cristão como vosso santo? Claro que não.
Os vossos santos foram condicionados pela cultura em que viveram. Eu não lhes sou hostil. Estou apenas apontar factos.
São eles entes humanos torturados, segregados dos demais, ou muito devotados a Deus (o que quer que signifique essa palavra), a suas visões, as suas ideias, a sua própria cultura, que os levou a crer em Deus. Tivessem nascido na Rússia comunista, não creriam em Deus. Lá, não se chamariam `santos´, chamar-se-iam `marxistas´.
E agora, senhor, eu não leio nem Mahabarata, nem Ramayama, nem Gita, nenhum desses livros. Porque os ledes? Porque gostais de literatura, das belezas da linguagem, ou os ledes como coisas sagradas, que se devem ler para alcançar o Nirvana, o céu, ou o que mais seja? Porque os ledes?
INTERROGANTE: Mahatma Gandhi lia o Gita e foi um grande homem.
J. KRISHNAMURTI: O interrogante diz que Mahatma Gandhi e outros grandes homens leram o Gita. Não sei porque os chamais `grandes´. Porque leram o Gita? Vós os chamais grandes porque se ajustam às vossas medidas.
INTERROGANTE: Não; por causa do seu amor à humanidade.
J. KRISHNAMURTI: Do seu amor à humanidade? Eles amaram a humanidade, por isso vós os amais? E isso significa que amais a humanidade? Não, senhor, sede sincero no tocante a essas coisas.
Lede `o livro de vós mesmos´, compreendeis, senhor? Porque esse livro é bem mais importante do que qualquer outro livro; esse livro que vós mesmos sois contém a humanidade inteira, todas as agonias e aflições, amor, dor, alegrias, sofrimentos, todas as ânsias que a humanidade tem atravessado. Tendes, dentro em vós, um livro e quereis desperdiçar o vosso tempo a ler os livros de outros. E a isso chamais `amor à humanidade´!
INTERROGANTE: Qual a razão das tribulações que o sexo tem trazido ao mundo, apesar de ser ele a mais poderosa das energias do homem?
J. KRISHNAMURTI: Já observastes como, em todo o mundo, e por conseguinte, na vossa própria vida, o sexo se tornou desmedidamente relevante? Já o notastes? Que estranho silêncio estais a fazer! Fale-se em Ramayama e Gita, e logo transbordais de energia; fala-se da vossa vida diária, e murchais. Porque se tornou o sexo, o acto, o prazer, essa coisa colossal, não apenas na vossa vida, mas na vida do mundo todo? No Ocidente, nele se fala abertamente; aqui, veladamente, como que uma coisa vergonhosa. As pessoas mostram-se embaraçadas, acanhadas, nervosas, como que culpadas de pecado. E isso indica que o sexo se tornou de uma tremenda importância na vossa vida. Porquê? Intelectualmente, sois sem energia, porque repetis o que outros disseram, porque estais aprisionados em teorias e especulações, e por conseguinte, não estais aptos a raciocinar, a observar. A vossa mente é mecânica. Ides para as escolas encher-vos de factos e ficais a repeti-los pelo resto da vida. E a vossa vida, essa vida de frequentar um escritório todos os dias, é mecânica.
E agora, senhor, eu não leio nem Mahabarata, nem Ramayama, nem Gita, nenhum desses livros. Porque os ledes? Porque gostais de literatura, das belezas da linguagem, ou os ledes como coisas sagradas, que se devem ler para alcançar o Nirvana, o céu, ou o que mais seja? Porque os ledes?
INTERROGANTE: Mahatma Gandhi lia o Gita e foi um grande homem.
J. KRISHNAMURTI: O interrogante diz que Mahatma Gandhi e outros grandes homens leram o Gita. Não sei porque os chamais `grandes´. Porque leram o Gita? Vós os chamais grandes porque se ajustam às vossas medidas.
INTERROGANTE: Não; por causa do seu amor à humanidade.
J. KRISHNAMURTI: Do seu amor à humanidade? Eles amaram a humanidade, por isso vós os amais? E isso significa que amais a humanidade? Não, senhor, sede sincero no tocante a essas coisas.
Lede `o livro de vós mesmos´, compreendeis, senhor? Porque esse livro é bem mais importante do que qualquer outro livro; esse livro que vós mesmos sois contém a humanidade inteira, todas as agonias e aflições, amor, dor, alegrias, sofrimentos, todas as ânsias que a humanidade tem atravessado. Tendes, dentro em vós, um livro e quereis desperdiçar o vosso tempo a ler os livros de outros. E a isso chamais `amor à humanidade´!
INTERROGANTE: Qual a razão das tribulações que o sexo tem trazido ao mundo, apesar de ser ele a mais poderosa das energias do homem?
J. KRISHNAMURTI: Já observastes como, em todo o mundo, e por conseguinte, na vossa própria vida, o sexo se tornou desmedidamente relevante? Já o notastes? Que estranho silêncio estais a fazer! Fale-se em Ramayama e Gita, e logo transbordais de energia; fala-se da vossa vida diária, e murchais. Porque se tornou o sexo, o acto, o prazer, essa coisa colossal, não apenas na vossa vida, mas na vida do mundo todo? No Ocidente, nele se fala abertamente; aqui, veladamente, como que uma coisa vergonhosa. As pessoas mostram-se embaraçadas, acanhadas, nervosas, como que culpadas de pecado. E isso indica que o sexo se tornou de uma tremenda importância na vossa vida. Porquê? Intelectualmente, sois sem energia, porque repetis o que outros disseram, porque estais aprisionados em teorias e especulações, e por conseguinte, não estais aptos a raciocinar, a observar. A vossa mente é mecânica. Ides para as escolas encher-vos de factos e ficais a repeti-los pelo resto da vida. E a vossa vida, essa vida de frequentar um escritório todos os dias, é mecânica.
Não há liberdade intelectual; e liberdade significa energia, vitalidade, `intensidade´; a liberdade vos proporciona uma extraordinária energia. Mas, essa liberdade, vós a rejeitais totalmente, ao aceitar a autoridade, não apenas a autoridade do professor, mas também a autoridade dos vossos guias espirituais; e essas pessoas não são espirituais, porque se arvoram em guias dos outros. Não sois livre, intelectualmente; e moralmente, sois sentimental, devotado a uma certa divindade ou pessoa. Isso não produz energia, mas sim, medo. Só há energia quando perdeis completamente de vista o vosso `eu´, quando há total ausência do `eu´, e isso acontece no acto sexual, quando, por um segundo, tudo acaba. Fruís o prazer que o sexo proporciona; e o pensamento, então, apodera-se desse prazer, forma imagens, deseja-o mais e mais, repetidamente. Por isso, tornou-se o sexo esse importantíssimo factor na vossa vida, porque, intelectualmente, nada mais tendes. Sois entes humanos confusos, aflitos, desditosos. Intelectualmente, não tendes a `intensidade´, a `paixão´, necessárias para estardes só, para verdes claramente e ficardes com o que vedes (isto é, não fugirdes do que vedes). Sentis medo; e que vos resta? O sexo.
Todas as vossas religiões mandam-vos abster-vos do sexo. Eis porque viveis a batalhar. `Para achares Deus deves ser sem sexo´. Portanto, lutais para serdes `não sexual´. Como sois todo sexo, batalhais contra vós mesmos. E, quanto mais batalhais, mais importante se torna o sexo.
Estais a ver, pois, o que é a vossa vida. Não tendes amor, mas tendes prazer. E, tendo prazer, temeis perdê-lo. E, assim, nunca sereis livre, ainda que possais escrever volumes sobre a liberdade. Ao compreenderdes tudo isso, não intelectualmente, mas diariamente, na vossa vida, vereis o estado a que reduzistes a humanidade, com os vossos Mahabaratas, os vossos Gitas, Bíblias, os vossos gurus. E vereis também que reduzistes vós mesmos a uma entidade mecânica, uma insignificante e desditosa entidade; e com essa vossa pequenina mente quereis abarcar a imensidão da Verdade!"
Jiddu Krishnamurti
"O novo ente humano"
t.
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