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segunda-feira, 4 de abril de 2016

The question of Time...







"Man is timid and apologetic; he is no longer upright; he dares not say `I think´, `I am´, but quotes some saint or sage. He is ashamed before the blade of grass or the blowing rose. 

These roses under my window make no reference to former roses or to better ones; they are for what they are; they exist with God to-day. There is no time to them. There is simply the rose; it is perfect in every moment of its existence. Before a leaf-bud has burst, its whole life acts; in the full-blown flower there is no more; in the leafless root there is no less. Its nature is satisfied, and it satisfies nature, in all moments alike. 

But man postpones, or remembers; he does not live in the present, but with a reverted eye laments the past, or, heedless of the riches that surround him, stands on tiptoe to foresee the future. He cannot be happy and strong until he too lives with nature in the present, above time."



Ralph Waldo Emerson
"Essays - Self-reliance"







Is it not, therefore, an obvious fact that what I am in my relationship to another creates society and that, without radically transforming myself, there can be no transformation of the essential function of society?

 When we look to a system for the transformation of society, we are merely evading the question, because a system cannot transform man; man always transforms the system, which history shows. 

Until I, in my relationship to you, understand myself I am the cause of chaos, misery, destruction, fear, brutality. 

Understanding myself is not a matter of time; I can understand myself at this very moment.




Jiddu Krishnamurti
"The first and last freedom"





The question
of Time...




"Segundo recentes descobertas dos antropologistas, o homem vive na Terra, aparentemente, há cerca de dois milhões de anos. E o homem deixou, em cavernas, há uns dezassete mil anos, registos da luta, da batalha, da infinita tragédia da existência, da batalha entre o bem e o mal, entre a brutalidade e aquilo que ele perenemente busca, o amor. É bem evidentemente que o homem não resolveu os seus problemas; não me refiro aos problemas matemáticos, científicos ou de engenharia, porém aos problemas das relações humanas, do viver pacificamente neste mundo, do íntimo contacto com a natureza, para ver a beleza de uma ave pousada num galho nu.

Nos tempos modernos, os nossos problemas, os problemas humanos, vão-se tornando cada vez maiores; e procuramos resolvê-los de acordo com certos padrões de moralidade, de comportamento, e de acordo com as várias obrigações que temos imposto à nossa mente. 

Segundo as nossas obrigações, padrões de comportamento, fórmulas e sanções religiosas, estamos a tentar resolver os nossos problemas, as nossas agonias, o nosso desespero, a nossa inconstância e as contradições da nossa vida. Assumimos uma certa atitude, como comunistas, socialistas, etc., e com base nessa atitude, firmamos a nossa plataforma, por assim dizer, tentamos resolver os nossos problemas gradualmente, um a um. É o que estamos a fazer na nossa vida.





Um homem pode ser um grande cientista, mas no seu íntimo esse mesmo homem difere completamente do cientista no seu laboratório: nacionalista, acerbo, iroso, ciumento, invejoso, a competir com os demais colegas para ter um nome maior, mais popularidade e mais dinheiro. Não lhe interessam absolutamente os problemas humanos, porém apenas o descobrimento das várias propriedades da matéria, e das leis respectivas.



E também nós, os entes humanos comuns, que não somos peritos nem especialistas de nenhum ramo, estamos vinculados a um certo padrão de comportamento, a certos conceitos religiosos, ou a um certo veneno nacionalista; e daí, lutamos para resolver os problemas que crescem e se multiplicam.



Como sabeis, não há limites ao falar, ao ler. Palavras podem amontoar-se sobre palavras; e o fraseado, a beleza da linguagem e o razoável ou ilógico do que se está a dizer, persuade ou dissuade a quem o ouve. Mas o importante não é amontoar palavras e ouvir conferências e discursos; o importante é resolver o problema, o problema humano, o vosso problema, não aos poucos, no momento em que o problema aparece, não em conformidade com as circunstâncias, as premências e tensões da moderna existência, porém através de uma actividade totalmente diferente. 


Existem os problemas humanos da avidez, da inveja, da inércia mental, dos íntimos pesares, da medonha insensibilidade do homem, da brutalidade, da violência, do profundo desespero e agonia dos entes humanos. 





E nestes dois milhões de anos da nossa existência, temos tentado resolver esses problemas em conformidade com diferentes fórmulas, sistemas, métodos, gurus, diferentes maneiras de investigar, de perguntar, indagar, e no entanto, estamos na situação em que estamos, enredados nesse interminável processo de agonia, confusão e infinito desespero.




Haverá algum meio de resolvermos os nossos problemas, inteiramente, definitivamente, de modo que nunca mais se apresentem, e se se apresentarem, possamos resolvê-los instantaneamente, dissipá-los, liquidá-los? 


Existe uma maneira total de viver, em que se não proporcione `solo´ aos problemas? Existe uma maneira de viver, não quero dizer `padrão´, `método´ ou `sistema´, uma maneira total de viver, em que não possa surgir problema algum em nenhum momento, e se surgir, possa ser resolvido imediatamente? 

Porque a mente que leva uma carga de problemas torna-se embotada, lerda, estúpida. Não sei se já observastes a vossa própria mente, a mente das vossas esposas, dos vossos maridos, dos vossos semelhantes. Quando a mente tem problemas de qualquer espécie, esses problemas, mesmo problemas matemáticos altamente complexos e penosos, por mais interessantes e intelectuais que sejam, embotam a mente. 

Pela palavra `problema´ entendo qualquer questão difícil, uma relação difícil, um caso aparentemente insolúvel, que transportamos de dia para dia. Estamos, pois, a perguntar se existe uma maneira de viver, se existe um estado mental em que, pela compreensão da totalidade da existência, nenhum problema exista, e se algum se apresenta, possa ser resolvido imediatamente. Porque, se transferimos um problema por um dia, por um minuto sequer, ele torna a mente pesada, embotada, sem sensibilidade para olhar, observar.
Nessas condições, existe uma acção total, um estado em que a mente possa resolver cada problema quando surge, e nenhum problema encerre em si próprio, em nenhuma profundidade, em nenhum nível consciente ou inconsciente?

Não sei se alguma vez vos fizestes esta pergunta. Provavelmente nunca a fizestes, porque, em maioria, de tal maneira vivemos imersos nos problemas da existência diária, ganhar o sustento, satisfazer as exigências da sociedade, a qual, psicologicamente, forma em nós uma estrutura de ambição, de avidez, de aquisição, que não temos tempo para investigar. 

Nesta manhã examinaremos isso, e depende de vós o examinar profundamente, o investigar com ardor, o observar com clareza e intensidade.

Aparentemente, vivemos há dois milhões de anos; que ideia terrível! 
E provavelmente, como entes humanos que somos, viveremos outros dois milhões de anos nas mesmas e infindáveis penas da existência. Existe alguma maneira, alguma coisa que libertará o homem dessa condição, de modo que não viva mais um segundo de agonia, não invente nenhuma filosofia para se consolar na sua aflição, não tenha nenhuma fórmula, para aplicá-la a todos os problemas que surgem, aumentando assim os seus problemas? 

Existe! Existe um estado mental capaz de resolver imediatamente todos os problemas, e no qual a mente não encerra, em si própria, problema algum, consciente ou inconsciente.

É isso que vamos investigar nesta manhã. E embora o orador tenha de servir-se de palavras e penetrar o mais longe possível por meio da comunicação verbal, cabe-vos escutar e compreender. 

Sois um ente humano, não digo `um indivíduo´, porque ainda sois `o mundo´, `a massa´; sois uma parte desta terrível estrutura da sociedade. 
Só há individualidade num estado em que a mente não tem problemas, em que se desembaraçou de todo da estrutura social de aquisição, avidez, ambição.










































Eu digo que há um estado em que a mente pode viver sem nenhum problema e é capaz de resolver instantaneamente qualquer problema que se apresenta. Deveis perceber quanto é importante não transferir problema algum, por um dia ou um segundo sequer. Porque, quanto mais tempo o problema ficar sem solução, quanto mais lhe oferecerdes solo para se enraizar, tanto mais se destrói a mente, o coração, a sensibilidade nervosa. Portanto, é de imperiosa necessidade que o problema seja imediatamente resolvido.

E possível após termos vivido dois milhões de anos, com sofrimentos, conflitos, a lembrança de um longo passado, é possível a mente libertar-se e tornar-se completa, integral, não fraccionada? Para descobrirmos isso, temos de investigar a questão do tempo, porque os problemas e o tempo estão intimamente relacionados.

Não estais aqui para escutar-me, escutar as minhas palavras e exposições, para deixar-vos hipnotizar pelas minhas palavras, pelas palavras que este orador está a proferir, do alto deste estrado. Aqui não se está a fazer propaganda, porque propaganda é mentira; nenhuma verdade há na repetição.



Estais, pois, a investigar a vossa própria mente, o v
osso próprio coração, como ente humano, que há tanto tempo vive tão cheio de ansiedades, de desespero, de medo. O orador está apenas a apontar factos. Estamos a caminhar juntos. E vós tendes de caminhar, e não de ficar sentados e a dizer: `Segui à minha frente e relate-me o que fordes vendo”; não estamos aqui numa relação dessa ordem. Assim, se estamos a andar juntos, temos de ver juntos as mesmas coisas, ver a mesma ave, aspirar a mesma brisa que nos traz a frescura do rio, ver a mesma árvore, ver a mesma sordidez, as mesmas pessoas sujas, esfarrapadas. 






Temos de ver tudo juntos, ao mesmo tempo, com a mesma intensidade; de outro modo vós e eu não poderemos estar em comunhão em relação a coisa alguma que exija intensa investigação, e não, aceitação ou rejeição verbal. Assim, se vamos fazer juntos a viagem, tendes de estar muito mais vigilantes, mais vivos, mais despertos, mais intensos do que o próprio orador; e, então, podereis avançar.

Vamos, pois, investigar a questão do tempo. Após termos vivido dois milhões de anos, teremos de continuar por outros dois milhões de anos a mesma existência de agonia, dor, ansiedade, infinda luta, morte? É inevitável isso? 

É por este caminho que a sociedade está a progredir, evolvendo: guerras, tensões, o choque do Oriente e do Ocidente, lutas nacionalistas, mercado comum, blocos de potências, etc. A sociedade vai marcha lentamente, como que num estado de sonambulismo, mas está a mover-se.


Pois bem. Talvez daqui a dois milhões de anos a sociedade terá atingido um estado em que os seres humanos irão conviver sem competição, com amor, com mansidão e serenidade, com requintado senso da beleza. Mas, é preciso esperar dois milhões de anos? 


Não devemos ser impacientes? Estou a empregar a palavra `impaciente´ no seu sentido próprio: devemos ser impacientes, não ter paciência com o tempo. 
Isto é, não podemos resolver tudo imediatamente, sem dependermos do tempo?






Reflecti nisso, não digais que é impossível ou possível. 
O que é o tempo? 
Há tempo cronológico, o tempo do relógio; este é óbvio e necessário. Quando se tem de construir uma ponte, necessita-se de tempo. Mas, qualquer outra forma de tempo `eu serei´, `eu farei´, `eu não devo´, não é verdadeira, porém pura invenção da mente. 


Se não há amanhã, como realmente não há, a vossa atitude é então toda diferente. Esse tempo, com efeito, não existe; quando uma pessoa sente fome, desejo sexual, não há tempo, quer a coisa imediatamente. 
Assim, a compreensão do tempo é a solução dos problemas.




Vêde, por favor, a íntima relação existente entre o problema e o tempo. Por exemplo, há sofrimento. Sabeis o que é o sofrimento; não se trata do sofrimento extremo, porém do sofrimento causado pela solidão, pela não consecução do que se deseja, pela falta de lucidez e clareza; o sofrimento causado pela frustração, pela perda de alguém que pensamos amar; o sofrimento que experimentamos ao vermos uma coisa muito claramente, intelectualmente, e não podermos realizá-la. 

E, além desse sofrimento, existe um sofrimento muito maior: o sofrimento causado pelo tempo. Porque é o tempo que gera o sofrimento. Prestai atenção, por favor. 

Aceitamos o tempo, que representa a marcha gradual da vida, a evolução gradual, a gradativa mudança de uma coisa para outra, de um estado de cólera para um estado de placidez. Aceitamos o processo gradual da evolução como parte da existência, parte da vida, parte do plano Divino, do plano comunista, de outro plano qualquer. Aceitamos isso e com isso vivemos, não como ideia, porém como facto.

Ora, para mim, isto causa mais sofrimento: Permitir que o tempo dite a mudança, a mutação. Tenho de esperar ainda dez mil anos ou mais, tenho de passar por tanto sofrimento e conflito por mais dez mil anos, e ir mudando, pouco a pouco, lentamente, gradualmente, com todo o vagar? 






Aceitar essa condição e nela viver constitui o maior sofrimento. Se perco o meu filho, a minha mulher ou marido; se me preencho ou deixo de preencher-me, tudo isso é muito trivial. Serei capaz de resolver os meus sofrimentos se compreendo o maior de todos, o sofrimento que o tempo gera.




Por favor, prestai atenção a isto. Quase todos vós, condicionados que fostes para aceitar o tempo, dizeis: `Numa vida futura, mudarei, serei bom; não nesta vida, que não chega para tanto; mas terei ainda dez mil vidas, para quê a pressa?´.






Assim, quando aceitais o tempo como meio de mudança, não estais a perceber a falsidade disso, e portanto, não estais a perceber a verdade respectiva. Isso constitui o maior sofrimento. 
Não se sou mal-sucedido ou bem-sucedido, se me torno rico ou pobre, pois isso é completamente insignificante, em relação com algo muito mais vasto. 
Há, pois, sofrimento, aflição: a perda de um bem, a perda de algo que era belo; o medo do que `poderá acontecer´; o medo ao chamado `mal´. 


Com esse sofrimento vivemos. 
A mente em sofrimento é uma mente embotada, insensível. 
Ainda que seja o sofrimento de Cristo pela humanidade, adicionado ao próprio sofrimento, trata-se de uma mente sem penetração.



É possível dar fim imediato a esse sofrimento? 


Eis o verdadeiro ponto crítico da questão. Porque, uma vez tenha eu resolvido o meu sofrimento, tudo o mais estará acabado; `sofrimento´ no sentido mais profundo da palavra. Porque a mente em sofrimento nunca saberá o que significa amar.

O sofrimento, por mais das vezes, é auto-compaixão: perdi o meu filho e fiquei sozinho; sinto pena de mim mesmo, por ter ficado só, sem alguém que me ajude a preencher-me, etc., bem sabeis o que é auto-compaixão. 



Mas, é possível terminarmos imediatamente o sofrimento e não admitirmos o `hábito´ de livrarmos gradualmente do sofrimento? 






O sofrimento, como já sabemos, não pode ser resolvido pelo tempo. Podeis viver mais dez mil anos, dez dias, um dia, uma fracção de segundo: o tempo não resolverá o sofrimento. 



Portanto, temos de aprender imediatamente, e não gradualmente; porque, no sentido psicológico, não há `aprender gradual´. 



Para aprender uma língua, necessito de tempo, de muitos dias, até acostumar-me com o ritmo e os sons das palavras estrangeiras, a gramática, a sintaxe, a construção das frases, o correcto emprego da palavra, do verbo, etc. 


Mas, aqui, se admito o tempo, o sofrimento crescerá.


Portanto, tenho de aprender imediatamente tudo o que se relaciona com o sofrimento, e o próprio acto de aprender é a completa eliminação do tempo. 

Perceber uma coisa imediatamente, perceber imediatamente o falso, essa é a acção da Verdade que vos liberta do tempo.

Vou examinar um pouco esta questão de ver. Ao entrarmos aqui, há pouco, um papagaio verde, lustroso, de bico vermelho, estava pousado num galho morto, contra o fundo azul do céu. Nunca vemos as coisas: andamos de tal modo ocupados, concentrados, preocupados, que nunca vemos a beleza de lima ave pousada num galho, contra o céu azul. 


O acto de ver é imediato; não há `aprenderei a ver´






Se dizeis `aprenderei´, já admitistes o tempo. Assim, não apenas o acto de ver aquela ave, mas também o de escutar aquele comboio que passa, escutar os ruídos de tosse, dessa tosse nervosa que aqui se ouve continuamente, o ouvir, o escutar esse barulho, constitui um acto imediato. 


E é também um acto imediato o ver muito claramente, livre do pensador, ver aquela ave, vermos o que somos, realmente e não de acordo com as teorias relativas ao Super-Eu (Atman), etc.; vermos o que somos realmente.



O ver requer uma mente sem opinião e sem nenhuma fórmula. Se tendes uma fórmula na mente, nunca vereis aquela ave, aquele papagaio no seu galho, contra o céu, nunca vereis a sua total beleza. Direis: `Lá está um papagaio de tal e tal espécie, o galho morto é desta ou daquela árvore, e o azul do céu se deve à luz e partículas de pó´; mas nunca vereis a totalidade daquela coisa extraordinária. 



E para se perceber a totalidade daquela beleza, não há tempo. 
Do mesmo modo, para se ver a totalidade do sofrimento, o tempo não deve ser admitido absolutamente.





Eu já vo-lo mostro, senhores! 
Suponhamos que perdi o meu filho e sofro. O que implica esse sofrimento? 
Vamos analisá-lo um tanto ligeiramente. Em primeiro lugar, o choque causado pela perda de alguém que para mim representava como que um `capital´ (Vede, por favor, que tenho de falar rudemente, sem sentimentalismo). 

O meu filho representa as minhas próprias esperanças, a minha imortalidade, a minha continuidade; é o herdeiro dos meus bens, se os tenho, e terá a possibilidade de preencher-se muito mais do que eu. Subitamente, este filho me é arrebatado e vejo-me privado desse ente que corporificava as minhas próprias esperanças, apreensões, tudo. Vejo-me só. E, nessa solidão, começo a sentir`pena de mim mesmo´, digo: `Que coisa terrível!´. 







Inicia-se o ciclo da auto-compaixão, começo a chorar o meu filho. Mas, na realidade, estou pranteando o meu próprio estado de vacuidade, de solidão, de auto-compaixão, a minha própria frustração, etc.




Ora, se vedes isso na sua totalidade, se percebeis o inteiro processo do aparecimento do sofrimento motivado pela morte de uma certa pessoa com a qual eu me identificara, chamando-a de `meu filho´, se vêdes isso na sua totalidade, essa solidão, esse sentimento de frustração, pela perda daquele `capital´, essa auto-compaixão, se tudo vedes num relance de olhos, imediatamente e não analiticamente, fizestes parar o tempo, e portanto, o sofrimento, não é verdade? 


Porque é o tempo que gera esse sofrimento: `Oh! quanto eu esperava do meu filho; ele haveria de se tornar maior do que eu; dele dependia a minha própria imortalidade, a continuidade do meu nome!´. 

Fizestes uso do tempo para prolongar a vossa própria existência; e quando a existência que dessa maneira quereis prolongar, isto é, mediante a identificação com o vosso filho, quando essa existência é interrompida, vos vêdes envolvido na rede do tempo. 
Não sei se estais a seguir isto.









Assim, se perceberdes esse processo na sua totalidade, já não estareis nas garras do sofrimento: achar-vos-eis num estado de alta sensibilidade, de observação. Mas essa observação é impedida quando dizeis: `O meu filho renascerá, iremos reunir-nos´. Pois aí tornais a encontrar o tempo! 

O importante, pois, é ver imediatamente; não simplesmente dizer `Aprenderei isto´, porém ter sempre o empenho de tudo ver imediatamente, com toda a clareza: ver os vossos próprios estados, as condições sociais, tudo o que vos cerca, não de acordo com os vossos gostos e desgostos ou com determinado padrão da estrutura social que conheceis. 


Ver tudo distintamente, sem nenhum centro, nenhuma opinião. Verificareis então que a não interferência do tempo nos factos jamais criará problemas.




Considerai-o também de outra maneira. Nós, na realidade, não temos amor; é terrível reconhecer isso. 





Com efeito, não temos amor; temos sentimento, temos emotividade, sensualidade, sexualidade; temos lembranças de algo que pensávamos ser amor. Porque ter amor significa não haver violência, nem medo, nem competição, nem ambição. 


Se tivésseis amor, nunca diríeis: `Esta é minha família´. Podeis ter uma família e dedicar-lhe todos os cuidados, porém não será `a nossa família´, contraposta ao resto do mundo. 






Se amais, se há amor, há paz. 
Se amásseis, haveríeis de educar o vosso filho para não ser nacionalista, para não ter simplesmente uma dada ocupação técnica e cuidar unicamente dos seus pequeninos interesses; não teríeis nacionalidade. Não haveria divisões religiosas, se amásseis. 






Mas, como essas coisas existem de facto, não teoricamente, porém brutalmente, neste mundo tão feio, elas indicam que não tendes amor. 

Mesmo o amor da mãe pelo filho não é amor. Se as mães amassem realmente os filhos, achais que o mundo seria como é? Cuidariam de que tivessem alimentação adequada, educação correcta, fossem entes sensíveis, amantes da beleza, não ambiciosos, ávidos, invejosos. Não, a mãe, por mais que pense amar o seu filho, não o ama.


Desconhecemos aquele amor. Ele, decerto, não pode ser cultivado. Cultivá-lo é como cultivar a humildade; só o homem vaidoso, arrogante, poderá cultivar a humildade, uma capa para cobrir-lhe a vaidade. 

Assim como a humildade não pode cultivar-se, assim também não se pode cultivar o amor. Mas, nós temos de tê-lo, o amor. Se não o tendes, não podeis ter virtude, não podeis ter ordem, não podeis viver com paixão (podeis viver com lascívia, como todos bem sabemos). Repito, pois, que se não tendes amor, não tendes virtude; e sem a virtude, só há desordem.



Ora, como alcançar o amor? Compreendeis o problema? 






Vós necessitais do amor, assim como necessitais de água quando sentis sede. Como alcançá-lo? Por meio do tempo? Futuramente, na vida futura de amanhã ou na próxima vida, quando morrerdes? 
Ou daqui a um segundo, que é ainda futuro?

O tempo poderá dar-vos aquele amor que é cuidado, que é beleza? 
O amor e a beleza andam juntos, nunca estão separados. Infelizmente, para a maioria de nós, beleza significa sensualidade, sexualidade. 

As vossas Escrituras, os vossos santos, os vossos gurus, os vossos sanyasis, foram todos eles que fizeram de vós o que sois, que vos fizeram sem sentimento, sem beleza, sem amor. Não sei se percebeis esta grande tragédia.
E visto que, como ente humano, tendes de ter amor, que ireis fazer? Não há tempo. Não podeis dizer: `Ora, não posso tê-lo. E, se vivo há dois milhões de anos sem amor, poderei viver outros dois milhões de anos sem amor´, quer dizer, mais dois milhões de anos de contínuo sofrimento! 


O que podeis fazer, então? Entendeis agora a minha pergunta? O sofrimento não pode ser afastado ou eliminado através do tempo, e tampouco podemos receber o amor através do tempo. E tempo é daqui a dez dias, daqui a um minuto, daqui a um segundo. O que ireis fazer? Entregar-vos ao desespero? 

Se ainda não encontrastes o amor, já estais no desespero. E vós tendes de encontrá-lo, como tendes de encontrar comida. Trata-se de coisa muito mais premente, muito mais urgente, e que exige intensa vitalidade.


O que ireis fazer, pois? Se dizeis: `Por favor, mostrai-me o que devo fazer´, ficareis parado, no mesmo lugar. Tendes de ver a importância, a imensidão, a urgência desta questão, não amanhã ou no dia subsequente, nem na próxima hora; tendes de ver isso agora, aí sentados como estais. E, para ver, necessita-se de energia. Vede imediatamente. O catalisador que converte o líquido em sólido ou imediatamente o vaporiza, nenhuma acção exerce se se lhe concede tempo, um segundo sequer. 







Toda a nossa existência, todos os nossos livros, todas as nossas esperanças estão relacionados com o amanhã, sempre e sempre amanhã! Essa admissão do tempo constitui a maior das tragédias.





A questão, pois, está nas vossas mãos, e não nas do orador, de quem esperais a resposta. Não há resposta, e nisso é que consiste a sua beleza (da questão). 

Podeis ficar sentados de pernas cruzadas, a respirar correctamente, ou com a cabeça no chão e as pernas para o ar, durante os próximos dez mil anos, mas, se não tiverdes feito a vós mesmos aquela pergunta (Que fazer, para alcançar o amor?), ficareis a viver com o problema por dois milhões de anos, dois milhões de anos que podem significar apenas `amanhã´. Vê-se, pois que os problemas e o tempo estão íntimamente relacionados.


Assim, já que através do tempo não se pode eliminar o sofrimento ou tornar existente o amor, qual o estado da vossa mente ao fazer aquela pergunta? Qual o estado da vossa mente? Pergunto eu. 

Mas, se a fizerdes a vós mesmos, não indiferentemente, não esporadicamente, quando tiverdes um tempinho de folga, se a fizerdes com intensidade, com vitalidade e energia, tereis necessidade de esperar resposta? 

Se a esperais, então tudo se repetirá de novo. Isto é, se pedis a resposta a alguém, tornareis a encontrar-vos na mesma situação de antes: alguém sabe, e vós não sabeis, e esse alguém vos dirá o que deveis fazer. E nada mais terrível se pode impor a alguém ou a vós mesmos: ser ensinado a respeito de uma coisa que ninguém vos pode ensinar. 

Eu posso dizer-vos que deveis amar, dizer-vos que o amor não é cultivável. Se se cultiva o amor, ele se tornará caridade, benevolência, assistência social e outras frioleiras desse género; isso é tão bom como frequentar a igreja, mas não será amor. E nós necessitamos de amor.



Ora, como dizíamos, se fizestes aquela pergunta, qual o estado da vossa mente? Está à espera da resposta ou a tentar encontrá-la na memória? Isso supõe tempo, e por conseguinte, se é isso que estais a fazer, então só formulastes a pergunta verbalmente, o que é tão sem significação como querer um náufrago achar uma palha a que agarrar-se. 

Assim, se fizerdes aquela pergunta com entusiasmo, com ardor, com vigor, que ocorrerá na vossa mente? Ela não admitirá a interferência do tempo. 

E a mente que está livre da rede do tempo não pertence à sociedade, o que não significa segregar-se dela, tornar-se eremita, sanyasi, monge, pois isso é apenas fugir da vida, refugiar-se no próprio misticismo, em visões provocadas por auto- hipnose. Isso nada tem em comum com a realidade.






Realidade e ver a existência humana a cada minuto do dia, com plenitude, vitalidade, ardor. Só então temos uma mente religiosa.





Mas, o que acontece quando não se admite o tempo, quando a mente não permite a interferência do tempo, embora ela própria seja produto do tempo? 
Estais a perceber? Pois o vosso cérebro é o resultado de dois milhões de anos, muito mais do que isso talvez, e a mente está agora a exigir do cérebro, que não se deixe governar pelo tempo, não se deixe moldar pelo tempo, não `reaja´ ao tempo. 


Certas partes do cérebro são ainda de natureza animal; mas não pretendo esmiuçar isto, agora; podeis ler um livro ou observar a vós mesmos, o que é muito mais simples e rápido e directo, e ficar a saber que uma certa parte do cérebro, chamada `córtex´, é ainda animal. 

E há uma grande parte do cérebro ainda não atingida pela civilização, pela cultura, pelo cérebro animal; mas com o tempo, aquela parte poderá também ser cultivada e invadida pela experiência e as misérias humanas, e vos vereis então definitivamente submerso.
Assim, a mente que deseja a resposta àquela pergunta, não só terá de compreender que ela própria é o resultado do tempo, mas também de negar a si própria, de modo que possa colocar-se fora da estrutura do tempo, da sociedade.






Se estivestes a escutar realmente, isto é, com ardor, com intensidade, tereis chegado até esse ponto, não verbalmente, porém realmente; isto é, já não estareis aprisionado nas garras do tempo. 

A mente, embora resulte de dois ou mais milhões de anos, estará livre, por ter percebido imediatamente a totalidade desse processo. 


E esse ponto pode ser alcançado, obviamente. E uma vez percebido, o resto é facílimo. Então, embora todos sejais pessoas adultas, direis: `O que eu estive a fazer da minha vida!´. A mente já não tem então ilusões nem tensões.









Uma vez livre dos problemas, das tensões, de todo controle, haverá espaço, espaço infinito, tanto na mente como no coração; só nesse espaço infinito é possível a criação. Porque, então, o sofrimento, o amor, a morte, e a criação constituirão a substância dessa mente. Estará livre do sofrimento, livre do tempo, e portanto, num `estado de amor´. 

E quando há amor, há beleza. Nesse sentimento da beleza, nesse espaço vasto, infinito, ocorre a criação. E em acréscimo, acréscimo independente do tempo, há a apreensão de um vasto movimento.


Estais agora a escutar tudo isso, na esperança de o aprenderdes verbalmente; mas tal é impossível, tão impossível como aprender a amar ouvindo uma conferência sobre o amor. 





Para compreender o amor, tendes de começar com o que está mais perto, isto é, com vós mesmos. 

E então, ao compreenderdes, ao dardes o primeiro passo, que é também o último passo, ireis longe, muito mais longe do que os foguetes enviados à Lua, a Vénus ou Marte. A soma de tudo isso é a mente religiosa."



Jiddu Krishnamurti
"Uma nova maneira de agir"












t.





































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