Páginas

domingo, 10 de abril de 2016

Living creatively!


























"Para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reacções auto-protectoras, tal como se dá quando estais enamorados. 

Tendes pois, de estar enamorados da vida. 

Isso exige grande inteligência, não informações ou conhecimentos, mas sim essa grande inteligência que desperta quando defrontais a vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por completo vulneráveis face à vida."







"Intelligence, to me, is not book knowledge. You may be very learned and yet be stupid. You may read many philosophies and yet not know the bliss of creative thinking, which can exist only when the mind and heart begin to free themselves through conflict, through constant awareness, from the stupidities of the past and from those that are being built up. 
Then only is there the ecstasy of that which is true.

Can anyone else tell you what is true? 
Can anyone tell you what is God? 
No one can: you have to discover it for yourself. 

So, to find out what is true, what is the significance of life, what is immortality, without which life becomes a chaotic triviality, a senseless, blind suffering, you must have intelligence; and to awaken that intelligence you must strip the mind and heart of stupidities."

































"So the question which every thoughtful person puts to himself is how can he awaken this creative thinking; because when there is this creative thinking, which is infinite movement, then there can be no idea of a limitation, a conflict.

Now, this movement of creative thinking does not seek in its expression a result, an achievement; its results and expressions are not its culmination. It has no culmination or goal, for it is eternally in movement. Most minds are seeking a culmination, a goal, an achievement, and are molding themselves upon the idea of success, and such thought, such thinking is continually limiting itself. Whereas, if there is no idea of achievement but only the continual movement of thought as understanding, as intelligence, then that movement of thought is creative. 

That is, creative thinking ceases when mind is crippled by adjustment through influence, or when it functions with the background of a tradition which it has not understood, or from a fixed point, like an animal tied to a post. So long as this limitation, adjustment exists, there cannot be creative thinking, intelligence, which alone is freedom.

This creative movement of thought never seeks a result or comes to a culmination, because result or culmination is always the outcome of alternate cessation and movement, whereas if there is no search for a result, but only continual movement of thought, then that is creative thinking. Again, creative thinking is free of division which creates conflict between thought, emotion, and action. And division exists only when there is the search for a goal, when there is adjustment and the complacency of certainty.

Action is this movement which is itself thought and emotion, as I explained. This action is the relationship between the individual and society. It is conduct, work cooperation, which we call fulfillment. That is, when mind is functioning without seeking a culmination, a goal, and therefore thinking creatively, that thinking is action, which is the relationship between the individual and society. Now, if this movement of thought is clear, simple, direct, spontaneous, profound, then there is no conflict in the individual against society, for action then is the very expression of this living, creative movement.

So to me there is no art of thinking, there is only creative thinking. There is no technique of thinking, but only spontaneous creative functioning of intelligence, which is the harmony of reason, emotion, and action, not divided or divorced from each other."









I do not want to add, to those already existing, any new theories or explanations.

To me, the real solution of our problems is through intelligence, which must be direct, simple; 
when there is such intelligence we can then understand life as a whole.







"You have many ideas concerning completeness of life and immortality. 
But, to me, this immortality, this richness, this completeness of life can only be understood and lived when the mind is wholly free from the limitations, the stupidities, that environment, past and present, inherited or acquired, is continually placing about us.

So please do not, if I may suggest, look to me for new explanations during this talk, or for a set of formulas or definitions. 
Such explanations and formulas offer only means of escape from conflict. 

Most minds desire to copy, imitate, follow, because they cannot think for themselves, or else the conflict is so intense that they would rather escape through systems, through definitions, through explanations. 

It is only by continually being aware of the environment and the imposition of its ever-increasing stupidities, it is only by constantly questioning these, that we stop the escapes and come face to face with conflict, which gives us the capacity to understand environment intelligently."



Jiddu Krishnamurti





















Living
creatively!







  










"Um dos nossos maiores problemas é a questão de viver criativamente. A maioria de nós, evidentemente, temos vidas monótonas, reacções muito superficiais. 
Considerando bem, a maioria das nossas reacções são superficiais, e portanto, geradoras de problemas inumeráveis. 



Viver criativamente não significa, necessariamente, que um homem se torne um grande arquitecto ou um escritor de renome. Isso é simples capacidade e a capacidade é coisa inteiramente diversa do viver criador. 
Ninguém precisa saber que sois criador, mas vós, pessoalmente, podeis conhecer aquele estado de extraordinária felicidade, aquela qualidade de indestrutibilidade.


 Mas isso não é fácil de realizar porque os mais de nós temos problemas sem conta, problemas políticos, sociais, económicos, religiosos, domésticos, os quais procuramos resolver de acordo com certas explicações, certas regras, tradições, padrões sociológicos ou religiosos, que conhecemos bem. 


Mas a solução que damos a um problema, parece criar sempre novos problemas, e tecemos, por essa maneira, uma rede de problemas, cada vez mais numerosos e de maior potência destruidora. 
Quando buscamos uma solução, uma maneira de sair desta desordem, desta confusão, buscamo-la num determinado nível. Devemos ter a capacidade de ir além de todos os níveis porque o viver criador não se encontra em nenhum nível, isoladamente. 


A acção criadora só vem à existência quando compreendemos as relações, e as relações são a comunhão com outros seres. Não é, pois, na verdade, um escopo egoístico o interesse pela acção individual. 


Julgamos que muito pouco podemos fazer neste mundo, que os grandes políticos, os escritores famosos, os grandes guias religiosos são homens capazes de acção fora do comum. 
Na verdade, entretanto, vós e eu somos infinitamente mais capazes de produzir uma transformação fundamental do que os políticos profissionais e os economistas. 



Se dermos atenção às nossas próprias vidas, se compreendermos as nossas relações com os outros, teremos criado uma nova sociedade; de contrário, não faremos mais do que perpetuar a actual desordem e confusão.



Assim, o interesse pela acção individual não é produto de egoísmo ou do desejo de poder; e se pudermos descobrir uma maneira de viver que seja criadora, em vez de apenas nos ajustarmos aos padrões religiosos, sociais, políticos, ou económicos, como o fazemos actualmente, penso que seremos então capazes de resolver os nossos muitos problemas. 


Presentemente, somos meros megafones, sempre a repetir as mesmas coisas. Talvez mudemos os discos ocasionalmente, mas os mais de nós sempre temos as mesmas músicas para cada ocasião. 
É esta constante repetição, esta perpetuação da tradição, que constitui a fonte do problema, com todas as suas complexidades. 


Parecemos incapazes de romper as cadeias do conformismo, embora, ocasionalmente, desejemos substituir o actual conformismo por um novo conformismo, ou tentemos modificar o padrão actual. É um constante processo de repetição, de imitação.



 Somos budistas, cristãos ou hindus, pertencemos à esquerda ou à direita. Citando vários livros sagrados, repetimos sempre, pensamentos que iremos resolver os problemas humanos. Evidentemente que a repetição não resolverá os problemas humanos. 



O que têm feito os `revolucionários´ em benefício das chamadas massas? Os problemas continuam a existir. 


0 que acontece é que esta constante repetição de uma ideia impede a compreensão do próprio problema. 
Pelo auto-conhecimemto é-nos dada a capacidade de nos libertarmos desta repetição, só possível, então, viver naquele estado criador, que é sempre novo, e no qual, consequentemente, estamos sempre aptos a enfrentar cada problema de maneira nova.


 A nossa dificuldade, afinal de contas é que, tendo esses imensos problemas, nós os atendemos com conclusões velhas, com o nosso acervo de experiências, próprias ou adquiridas de outros; e vamos, assim, ao encontro do novo com o velho, resultando daí a criação de mais um problema. 



Viver criativamente é viver sem aquele back-ground, aquele acervo de coisas velhas: o novo é enfrentado com o novo, e por isso não cria problemas adicionais. 


É necessário, por conseguinte, enfrentar o novo com o novo, até podermos compreender o processo total, todo o problema decorrente desta situação de crescentes desastres, sofrimentos, miséria, guerra, desemprego, desigualdade, choques de ideologias. Esta luta e esta confusão não podem ser resolvidas pela repetição das velhas praxes. 


Se vos aplicardes com um pouco mais de atenção e sem preconceito, sem tendências religiosas, vereis que há problemas muito mais importantes; e uma vez livre do conformismo e da crença, sereis capaz de enfrentar o que é novo. 



Esta capacidade de enfrentar o novo com o novo chama-se estado criador, e é, sem dúvida, a forma mais elevada de religião. 



A religião não é apenas uma crença, não é a observância de certos ritos e dogmas, o denominar-vos isso ou aquilo. A verdadeira religião, consiste em experimentar um estado em que há criação; não é uma ideia, um processo; só surge quando há liberdade, quando estamos livres do `eu´. 
Essa liberdade só pode existir pela compreensão do `eu´, nas relações, pois não é possível a compreensão no isolamento.


Conforme sugeri, ao responder às perguntas, no domingo passado, é muito importante `experimentar´ cada questão proposta, em vez de ficar apenas a ouvir as minhas respostas, e que descubramos juntos a verdade contida na questão, o que é muito mais difícil. 

A maioria de nós gostaria mais de permanecer apartada do problema, observando os outros; mas se pudermos descobrir juntos, viajar juntos, de modo que esse viajar seja uma experiência vossa, e não minha, embora estejais a ouvir as minhas palavras, se pudermos caminhar juntos, isso então, será de valor e importância duradouros.



PERGUNTA: Advogais o vegetarianismo? Faríeis objecção à inclusão de um ovo no vosso regime alimentar?



J. KRISHNAMURTI: É realmente um problema muito
importante, se devemos ou não comer um ovo? Talvez tenhais, os mais de vós, a preocupação de não matar. Esse é realmente o nó da questão, não é verdade? 

Mas, talvez, comeis carne ou peixe. Para evitar o matar, ides ao talho, e transferis a culpa para o matador, talhante, o que significa, apenas, furtar-se ao problema. Se gostais de ovos, podeis comprar ovos estéreis para evitar o matar. Mas esta é uma questão muito superficial: o problema é muito mais profundo. 


Não desejais matar animais, para o vosso estômago, mas não vos repugna apoiar governos que estão organizados para matar. 



Todos os governos soberanos se baseiam na violência e por isso precisam de exércitos, de marinhas e forças aéreas. 
Não vos repugna apoiá-los, e entretanto, fazeis objecção à terrível calamidade de se comer um ovo! (risos).



Vede bem como isso é ridículo; investigai a mentalidade de um homem que é nacionalista, a quem não repugna a exploração e a impiedosa destruição de entes humanos, para quem o morticínio a granel nada significa... mas que tem escrúpulos a respeito do que lhe entra pela boca (risos). 



Como vemos, este problema encerra muito mais: isto é, não só a questão do matar, mas também o uso correcto da mente. 
A mente pode funcionar dentro de limites estreitos, ou é capaz de extraordinária actividade. 
Mas os mais de nós nos satisfazemos com a actividade superficial, com a segurança, a satisfação sexual, o divertimento, a crença religiosa; contentamo-nos com isso e rejeitamos inteiramente a reacção mais profunda e o significado mais amplo da vida.


Até os guias religiosos se tornaram superficiais na sua reacção à vida. Afinal de contas, o problema diz respeito não somente à matança de animais, mas o que é mais importante, à matança de entes humanos. 


Podeis abster-vos de utilizar e aviltar os animais, podeis sentir compaixão por serem sacrificados, mas o que tem importância nesta questão é o problema da exploração e do matar, não apenas a matança de entes humanos, em tempo de guerra, mas também a maneira como explorais os outros, a maneira como tratais os vossos criados, e os olhais de cima para baixo, como inferiores. 



Provavelmente não estais a dar atenção a isso, porque está muito perto de vós. Achais preferível discutir a respeito de Deus, da reencarnação, mas não quereis saber de nada que requeira acção imediata e implique responsabilidade.


Nessas condições, se realmente vos interessa o não matar, não deveis ser nacionalista, não deveis denominar-vos sinhalês, alemão ou russo. Deveis ter também uma ocupação justa e fazer uso apropriado da maquinaria. É muito importante, na sociedade moderna, ter um emprego apropriado, porque hoje em dia toda a acção leva à guerra, tudo está aparelhado para a guerra; mas pelo menos, é-nos dada a possibilidade de averiguar quais são as profissões maléficas e de evitá-las inteligentemente. 


Sem dúvida, o exército, a marinha são profissões perniciosas; também o é a profissão de advogado, porque alimenta litígios, e a polícia, principalmente a polícia secreta. 



O emprego apropriado, portanto, tem de ser encontrado e exercido por cada um de nós, e só então findará a carnificina e nascerá a paz entre os homens. 



Mas tão grande é a pressão económica, no mundo moderno, que muito poucos são capazes de suportá-la. 
Quase ninguém se preocupa em escolher uma profissão decente; e se vos interessa a questão de não matar, tendes então de fazer muito mais do que simplesmente evitar a matança de animais, o que significa que tendes de examinar com muita atenção todo este problema relativo à ocupação justa. 



Embora a questão possa parecer muito superficial, se lhe derdes mais atenção, vereis que é uma questão importantíssima, porque o que sois, fazeis que o mundo seja. 
Se sois ganancioso, irascível, ávido de posse, criareis inevitavelmente uma estrutura social produtora de mais conflito, sofrimento, e destruição. 


Mas, infelizmente, essas coisas não interessam à maioria de nós. 
Só nos interessam, em geral, os prazeres imediatos, o sustento de cada dia; e se os conseguimos, ficamos satisfeitos. 
Não queremos considerar os problemas mais profundos e mais amplos; embora saibamos que eles existem, preferimos evitá-los.


 Ao evitar esses problemas, fazemo-los crescer, não os resolvemos. Para os resolver, não deveis chegar- vos a eles com ideologia alguma, seja da esquerda, seja da direita. 



Considerai esses problemas com mais atenção e de maneira mais eficaz, e começareis a compreender o processo total de vós mesmos em relação com os outros, que é a sociedade.



Mas, direis que não respondi à pergunta relativa ao ovo, que não disse se se pode ou não comer ovos. 
Ora, a inteligência é o que tem importância; não o que nos entra pela boca, mas, sim, o que dela sai; e os mais de nós já enchemos os nossos corações com as coisas da mente, e as nossas mentes são muito estreitas e superficiais. 


O nosso problema é de como produzir uma transformação naquilo que é superficial e estreito; e essa transformação só é realizável pela compreensão daquilo que é superficial. 
Aqueles de vós que desejarem aprofundar mais esta questão, devem averiguar se estão a contribuir para a guerra, e a maneira de o evitar. 

Cumpre-vos averiguar se sois, indirectamente, causa da destruição.

 Se puderdes resolver esta questão, realmente, ser-vos-á, então, fácil resolver a questão superficial sobre se um homem deve ser vegetariano ou não. Estudai o problema em nível muito mais profundo, e encontrareis a solução.



PERGUNTA: Dizeis que a realidade ou a compreensão existe no intervalo entre dois pensamentos. Quereis ter a bondade de explicar?



J. KRISHNAMURTI: Esta é, com efeito, uma maneira
diferente de fazer a pergunta `O que é meditação?´. 

Enquanto respondo a esta pergunta, tende a bondade de `experimentar´, de descobrir como a vossa própria mente funciona, o que, afinal de contas, é um processo de meditação. Estou a pensar em voz alta, junto convosco, e não superficialmente... eu não a estudei. Estou apenas a pensar em voz alta, convosco, a respeito da questão, para que possamos todos viajar juntos e descobrir a verdade nela contida.

O interrogante faz uma pergunta relativa ao intervalo existente entre dois pensamentos, no qual existe a compreensão. Antes de podermos investigar isso, precisamos averiguar o que se entende por pensamento. 

O que entendeis por `pensar´? A indagação está-se a tornar um pouco séria demais ? Mas tende a paciência de ouvir-me. 
Quando pensais uma coisa, sendo o pensamento uma ideia, o que significa isso? Não é o pensamento uma reacção à influência, o produto da influência social, ambiental? 


Não é o pensamento o conjunto de toda a experiência, ao reagir? 


Digamos, por exemplo, que tendes um problema e estais a tentar pensar a seu respeito, analisá-lo, estudá-lo. Como procedeis? 
Não estais a considerar o problema presente com a experiência de ontem, sendo ontem o passado, com conhecimentos passados, história passada, experiência passada ? 


Temos, pois, o passado, que é memória, a reagir ao presente; e a essa reacção da memória ao presente chamais pensar. 


O pensamento é simples reacção do passado, em conjunção com o presente, não é verdade? E para os mais de nós o pensamento é um processo contínuo; mesmo quando dormimos há uma actividade constante, sob a forma de sonhos, não há nunca um minuto em que a mente está de facto quieta. 


`Projectamos´ uma imagem e ficamos a viver no passado ou no futuro, como o fazem muitos velhos e alguns moços, ou à semelhança dos dirigentes políticos, que vivem a prometer-nos uma maravilhosa Utopia (risos). 



E nós a aceitamos, porque todos queremos o futuro, e sacrificamos o presente ao futuro. 


Entretanto, não conseguimos saber o que irá acontecer amanhã ou daqui a cinquenta anos. Vemos, pois, que o pensamento é a reacção do passado em conjunção com o presente; isto é, o pensamento é experiência que corresponde ao desafio, o que é reacção. Não há pensamento se não há reacção. 


A reacção representa o cabedal do passado: reagis como budista, como cristão, de acordo com a esquerda ou com a direita. 
Esse é o fundo, e essa a constante reacção aos desafios; e a reacção do passado ao presente, chama-se pensar. 



Nunca há um momento de ausência do pensamento. Não notastes que a vossa mente está sempre ocupada com uma coisa ou outra, sempre cheia de preocupações pessoais, religiosas ou políticas?


 Está ela constantemente ocupada; e o que acontece à vossa mente, o que acontece a qualquer máquina que é submetida ao uso constante? Gasta-se. 


É da própria natureza da mente estar sempre ocupada com alguma coisa, estar em constante agitação; procuramos por isso, controlá-la, dominá-la, reprimi-la; e se conseguimos bons resultados, pensamos ter-nos tornado grandes santos, religiosos, e paramos então de pensar.


Pois bem, haveis de notar que no processo do pensar há sempre um intervalo, uma pausa entre dois pensamentos. Enquanto me escutais, o que se passa exactamente na vossa mente? 
Estais a escutar, talvez a `experimentar´ aquilo sobre que estamos a falar, a aguardar o esclarecimento, a experiência do próximo momento. Estais vigilante; há pois uma vigilância passiva, um percebimento atento. 
Não há reacção alguma; há um estado de passividade, no qual a mente está fortemente receptiva, mas não há pensamento algum, isto é, estais a experimentar realmente o que estou a dizer. 
Essa vigilância passiva é o intervalo entre dois pensamentos.

Suponhamos que tenhais um problema novo, e os problemas são sempre novos, como vos aplicais a ele? 
É um problema novo, e não um problema velho. 
Podeis reconhecê-lo como velho, mas sempre que há um problema, ele é novo. É como um desses quadros modernos, com que estais completamente desacostumados. 

O que acontece, se desejais compreendê-lo? Se vos chegais a ele com a vossa formação clássica, será de rejeição a vossa reacção ao desafio, que é aquele quadro; nessas condições, se desejais compreender o quadro, a vossa formação clássica tem de ser posta de parte, do mesmo modo como, se desejais compreender o que estou a falar, tendes de esquecer-vos de que sois budista, ou cristão, ou qualquer outra coisa. 


Precisais contemplar o quadro sem o vosso preparo clássico, com percebimento passivo e vigilância da mente, e então o quadro começa a revelar-vos a sua significação. 


Isso só é possível quando a mente está em estado de vigilância, não a tentar condenar ou justificar o quadro; isso só pode ocorrer quando o pensamento não existe e a mente está tranquila. 
Podeis fazer a experiência, e vereis como é extraordinariamente verdadeira uma mente tranquila. 
Só então é possível a compreensão. 

Mas a constante actividade da mente impede a compreensão do problema. Expressando a mesma coisa de outra maneira: O que fazeis, quando tendes um problema, um problema agudo? 
Pensais a seu respeito, não é verdade? O que significa `pensar a seu respeito´? 

Significa trabalhar para achar uma solução, procurar uma solução conforme as vossas conclusões prévias. Quer dizer, procurais ajustar o problema a certas conclusões a priori, e se conseguis ajustá-lo, pensais tê-lo resolvido. 


Mas não se resolvem problemas guardando-os nos escaninhos da mente. Pensais no problema com a lembrança de conclusões passadas e procurais verificar o que disse o Cristo, o Budha, X, Y ou Z, a fim de aplicar essas conclusões ao problema. 


Por esse modo não resolveis o problema, e sim, apenas o cobris com os resíduos de problemas anteriores. Quando tendes um problema verdadeiramente importante e difícil, esse processo não dá resultado. Dizeis então que tentastes todos os meios mas que não podeis resolvê-lo. Indica isso que não estais à espera que o próprio problema vos revele o seu histórico. 
Mas quando a mente está aliviada de toda a tensão, não mais a fazer esforço algum, quando está quieta, por uns poucos segundos, então o problema se revela e é resolvido. 


Acontece isso quando a mente está tranquila, no intervalo entre dois pensamentos, entre duas reacções. 


Nesse estado mental surge a compreensão; mas esta requer extraordinária vigilância de cada movimento do pensamento. Quando a mente está consciente da sua própria actividade, do seu próprio processo, há então tranquilidade. 


Afinal, o auto-conhecimento é o começo da meditação, e se não conheceis o processo total de vós mesmos, não podeis conhecer a importância da meditação. 
O simples acto de alguém se sentar defronte de uma imagem ou de repetir certas frases não é meditação. 



A meditação é uma parte da vida de relação; é o percebimento do processo do pensamento no espelho das relações. 
Meditação não é subjugação, mas a compreensão do inteiro processo do pensar. Então, o pensamento cessa, e só nesse cessar se encontra o começo da compreensão.




PERGUNTA: O que acontece a um indivíduo, com a morte? Continua a existir ou se aniquila?



J. KRISHNAMURTI: Ora, é muito importante averiguarmos
de que ponto de vista nos interessa esta questão. Endereçai a vós próprios a mesma pergunta e descobrí como a receberieis, individualmente. Porque fazeis esta pergunta? Qual o motivo que vos faz perguntar se há aniquilamento total? Ou a questão vos interessa, porque desejais conhecer a verdade, e não estais portanto em busca de satisfação pessoal; ou desejais uma solução porque tendes medo? 


Se vos interessais pela questão porque temeis a morte e desejais continuar a existir, então a vossa pergunta receberá uma resposta que vos satisfaça, porque estais apenas em busca de consolação.


 Podeis, nesse caso, obter o mesmo resultado ao abraçar uma nova crença que vos satisfaça, ou tomar uma droga qualquer. Quando sofreis, desejais tornar-vos insensível. O sofrimento é reacção da sensibilidade; isto é, a sensibilidade causa a dor, e quando sentis dor, desejais um anestésico. 


Assim ou desejais achar a verdade contida na questão, ou estais apenas em busca de uma espécie de droga... mas, naturalmente, não o expressais de forma tão crua. 
Desejais ser confortados; perguntais, porque temeis a morte e desejais ter certeza da continuidade. 


Tereis a resposta que convenha ao vosso ponto de vista, evidentemente. Se estais em busca de consolação, não estais a buscar a verdade; se tendes medo, não estais a procurar e a averiguar o que é real. Assim, deveis em primeiro lugar ser muito ponderado no vosso pensar. 


A maioria de nós tem medo de buscar a verdade. Os mais de nós temos medo de que não haja continuidade e desejamos uma garantia de que continuaremos a existir. 


Averiguemos juntos se há continuidade; podeis desejá-la, mas pode ser que ela não exista.
O que se entende por continuidade e por findar? O que é que continua? Estamos a tentar descobrir a verdade relativa à continuidade e a verdade relativa à não-continuidade, e temos por isso de examinar o que é que tem continuidade, na nossa vida de cada dia. 


Tendes observado a vós mesmos, na continuidade, em relação com os bens que possuis, com a vossa família, as vossas ideias? 



Dizeis uma centena de vezes: `Isto é minha propriedade, minha reputação´, e assim se cria a continuidade. Dizeis: Meu nome, Minha mulher, Meu trabalho, Meu emprego, Minhas ambições, Minhas características, ou tendências; sou uma personalidade importante, ou uma personalidade insignificante que procura tornar-se importante, eis o que sois na vida de cada dia, não espiritualmente, mas de facto. 


Evidentemente, tudo isso não passa de lembranças, e desejais saber se esse feixe de lembranças, identificadas como a vossa pessoa, perdurará. `Vós´ não estais separado do feixe. 


Não há um `Vós´, como entidade diferente da memória. 



O `Vós´ poderá ser colocado num nível mais alto, mas mesmo nesse nível, continua dentro da esfera da memória, do pensamento; e desejais saber se isso perdurará. 

A memória é palavra, símbolo, retrato, imagem; sem a palavra não existe a memória. 

O símbolo, a imagem, a cena já passada, a lembrança de certas relações, tudo isso é o `Vós´, isto é, a palavra. Desejais saber se esta palavra, que está identificada com a memória, continuará a existir. 



Por outros termos, procurais a eternidade através da memória identificada como `Vós´. 
Não sois diferente das várias qualidades que concorrem para a formação do `Vós´. Por conseguinte, vós sois a casa, a lembrança, a experiência, a família; não estais separado da ideia. 
E desejais saber se esse `vós´ continua a existir.


Ora, porque desejais saber? 
Qual o motivo, qual a força que vos impele? Dizeis: `Já estou acabado, necessito de mais espaço, para crescer, para vir-a-ser´; a vida é curta demais, necessito de outra oportunidade´. 

Pois bem, já notastes que a ideia, o pensamento, pode continuar? Podeis `experimentá-lo´ por vós mesmos, é muito simples. 

O pensamento, como memória, como ideia, continua. Assim, estais com a pergunta respondida. O `Vós´ que continua é apenas um feixe de lembranças, isto é, quando há identificação do pensamento como `eu sou´, essa coisa superficial, sob uma ou outra forma, há-de continuar, como antes o pensamento continuava. 


O `vós´, como ideia, como pensamento, continua; mas isso não é muito satisfatório, porque tendes uma ideia de que sois algo mais do que o pensamento e desejais saber se esse `algo mais´ continua. Não há nada mais: `vós´ sois apenas o resultado de influências sociais e ambientais, isto é, `vós´ sois o resultado de condicionamento. 



Podeis dizer: `Que insensatez, falar de vida futura! Isso é uma tolice supersticiosa´; outros, diferentemente condicionados, crêem que há algo mais. 
Sem dúvida, não há muita diferença entre os dois. Ambos estão condicionados, um para crer e o outro para não crer. 



A crença, sob qualquer forma, é prejudicial ao descobrimento da verdade. A crença na continuidade e a crença na não-continuidade são, tanto uma como outra, prejudiciais ao descobrimento da verdade. Para se descobrir o que é a verdade, não pode haver nem temor, nem crenças, porquanto estas coisas acorrentam a mente.



Só quando termina a continuidade se pode conhecer a verdade daquilo que está além da continuidade.


Formulando-o diferentemente: a morte é o desconhecido, é sempre nova, e para a compreenderdes precisais abordá-la com uma mente fresca, uma mente ,que seja nova e não uma mera continuação do passado. 

Nesse estado, sois capaz de conhecer o significado da morte. Presentemente, nada sabemos nem da vida nem da morte e estamos ansiosos por saber o que é a morte. 

O pensamento tem de terminar, para dar lugar à vida. 
Há necessidade da morte, para que a vida floresça. 
Quando a vida é apenas a continuidade do pensamento, essa continuidade nunca pode conhecer a realidade. 


Se estais em busca da continuidade, vós a tendes, em vossa casa, vossa ocupação, vossos filhos, vosso nome, vossa propriedade, em certas qualidades: tudo isso sois `vós´... pensamento continuado. 


Só se pode conhecer a imortalidade se cessar o pensar, quando, graças à compreensão, termina o processo do pensamento. 
Só podemos pensar numa coisa que já conhecemos. 
Assim, quando pensais em vós mesmos como uma entidade espiritual, esta é a vossa própria projecção, coisa nascida do passado; por conseguinte, não é espiritual. 


Só quando se compreende a continuidade, tem fim o pensamento, o que representa um processo extraordinário, que requer muita vigilância, não disciplina, nem votos, nem dogmas, credos, crenças ou o que mais seja. 

Só há imortalidade quando a mente está completamente serena, e essa serenidade vem quando o pensamento é compreendido.




PERGUNTA: Oro a Deus e as minhas preces são atendidas. Isso não prova a existência de Deus?



J. KRISHNAMURTI: Se tendes prova da existência de Deus, então isso não é Deus (risos) porque toda a prova é produto da mente. 


Como pode a mente provar a existência ou a não-existência de Deus? O vosso Deus, consequentemente, é uma projecção da mente, segundo a vossa satisfação, apetite, felicidade, prazer ou temor. Essa coisa não é Deus e sim mera criação do pensamento, uma projecção do conhecido, que é o passado. 
O que se conhece não é Deus, embora a mente o procure, embora esteja activamente empenhada na busca de Deus.



Diz o interrogante que as suas preces são atendidas, e pergunta se isso não prova a existência de Deus. 
Precisais de uma prova de amor? 
Quando amais, precisais de prova? 
Se pedis uma prova de amor, isso é amor? 
Se amais a vossa esposa, o vosso filho, e desejais prova, então, esse amor, sem dúvida, é uma transação. 


Assim, as vossas preces a Deus não passam de uma transação (risos). Não riais; considerai a questão a sério, como um facto. 


O interrogante se dirige àquilo que ele chama Deus, pela súplica e petição. Não se pode encontrar a realidade através de sacrifícios, de deveres, de responsabilidade, porque essas coisas são meios para se chegar a um fim, e o fim não é diferente dos meios. Os meios são o fim.



A outra parte da pergunta é: `Oro a Deus e as minhas preces são atendidas´. Vamos examiná-la. O que entendeis por prece? 


Rezais, quando sentis alegria, quando sentis felicidade, quando não há confusão, nem sofrimento? 
Só rezais quando há sofrimento, quando sentis perturbação, medo, agitação, e a vossa prece é súplica, petição. 



Quando sois presa do sofrimento, desejais que alguém vos ajude a libertar-vos dele, que uma entidade superior vos dê a mão; e esse processo de súplica, sob diferentes formas, se chama prece. 


Pois bem, o que acontece então? 
Estendeis a mão suplicante a alguém, não importa quem seja: um anjo, ou a vossa projecção, a que chamais Deus. 


Quando uma pessoa pede, obtém alguma coisa... mas se essa coisa é real ou não, é questão diferente. 



Desejais ver dissolvidos a vossa confusão e os vossos sofrimentos; recorreis então às vossas frases tradicionais, à vossa devoção, e a constante repetição, sem dúvida, torna a mente tranquila. 
Mas isso não é tranquilidade; a mente é posta, meramente, num estado de inércia, posta a dormir. 



Nessa tranquilidade provocada, quando há súplica, há resposta. Mas não é, absolutamente, uma resposta de Deus, e sim, da vossa própria `projecção´ enfeitada. Eis a resposta à pergunta. 
Mas não desejais investigar essas coisas, e é por isso que fazeis a pergunta. A vossa oração é súplica ; só vos interessa uma resposta à vossa oração, porque desejais livrar-vos de uma tribulação. 


Há algo que vos corroí o coração, e pela oração vós vos insensibilizais e aquietais. Nessa tranquilidade artificial há uma resposta, uma resposta satisfatória, está visto, pois de contrário a rejeitaríeis. A vossa oração vos proporciona satisfação, e essa satisfação, por conseguinte, é coisa que vós mesmo criastes. 


É a vossa própria projecção que vos socorre. Esse é um tipo de oração. E temos também a espécie de oração deliberada, que consiste em pôr a mente quieta, receptiva, e aberta. 



Como pode a mente estar aberta, se está condicionada pela tradição, pelo acervo do passado? 

Estar aberto implica compreensão, capacidade de seguir o imponderável. Quando a mente está presa, amarrada a uma crença, não pode estar aberta. 



Quando está deliberadamente aberta, é óbvio que toda a resposta que obtém é uma projecção dela própria. 
Só quando a mente é `descondicionada´, quando conhece a maneira de atender a cada problema que surge, só então não existem mais problemas. 



Enquanto existir o fundo que condiciona, há-de criar problemas; enquanto houver continuidade haverá agitação e sofrimentos sempre crescentes. 


Receptividade é a capacidade de estar aberto, sem condenação, nem justificação, para o que é; e é a isso que procurais fugir, por meio da oração."



Jiddu Krishnamurti
"O nosso único problema"










"To study the various systems, philosophic as well as economic, to study them all thoroughly, so as to be able to compare, requires great effort, and few have the time, the capacity, or the inclination to penetrate through their complicated reasoning and theories. And what happens when you haven't time to inquire into the explanations of innumerable competing experts? 

You choose one whom you like, whom you think is reasonable; and as you haven't the time to go into his system thoroughly, you merely accept his authority. The greater the expert, the greater the authority, the greater the following.

So, gradually the followers become blind and merely accept dogmas, and the leaders destroy the followers, and the followers in turn destroy the leaders. Gradually we create another set of stupidities based on a newset of dogmas which were originally theories, and we become slaves to them.

Now, to me, theories are of very little value; because a man who is constantly in conflict with environment, both the past and the present, is continually discerning, penetrating, trying to understand, and therefore he is living completely in the present. 

To such a man there is no need for theories or explanations. But that requires great persistency of thought, great awareness, great penetration into the true significance of ever-changing environment. As the majority of people cannot do that, they accept theories, which become their masters, facts, realities.

Naturally, this also applies to religious experts whom we regard as our spiritual guides. Now take religion, that is, religion as an organized belief, and you will see that the authority of the expert is supreme. 

The pattern is set out and you are forced through the pressure of public opinion, through fear, and so forth, to follow. This worship of authority, this worship of the expert without knowing his limitations is, to me, the very root of exploitation.

So, the whole process of living, which should be a continual fulfillment and therefore a continual penetration into reality, into what is true, is completely destroyed through this worship of authority, of specialists, of creeds, of theories. 

The whole process is to make the individual subservient, to make him obey and follow. Thus he gradually becomes unconscious of everything but the pattern, and he exists as much as he can within the edicts of that pattern, and he calls that living. Environment becomes only the mold to shape him. 

So, then, the individual, as he is now, is nothing else than the exaggerated expression of environment, environment being the past and the present, the inherited and the acquired."


Jiddu Krishnamurti
















t.





































0 comentários:

Enviar um comentário