"I wanted to change the world.
But I have found
that the only thing
one can be sure of changing
is
oneself."
Aldous Huxley
The
pulse of
Life...
“The
demand for more and more experiences
shows the inward
poverty of man.
We think
that through
experiences
we can escape
from ourselves but these experiences are
conditioned by
what we are.”
"Todos
nós desejamos experiências de alguma natureza: a experiência mística, a
religiosa, a sexual, a experiência de possuir muito dinheiro, poder, posição,
domínio.
Tornando-nos mais velhos, podemos ter acabado com as exigências dos nossos apetites físicos, porém, exigimos experiências mais amplas, profundas,
significativas e tentamos, por vários meios, obtê-las: para expandir a nossa
consciência, por exemplo, o que com efeito é uma arte, ou por via de tomar drogas de
toda a espécie.
Este é um velho expediente, existente desde tempos imemoriais, mastigar um pedaço de folha ou experimentar o mais novo produto químico, a fim
de provocar uma alteração temporária na estrutura das células cerebrais, uma
sensibilidade maior e uma percepção mais intensa que proporcione um simulacro
da realidade.
Essa exigência de sucessivas experiências denota a pobreza
interior do homem.
Pensamos que através delas podemos fugir de nós mesmos, mas
essas experiências são condicionadas pelo que somos.
Se a mente é mesquinha,
ciumenta, ansiosa, a pessoa poderá tomar a mais moderna droga, mas só verá a sua própria e insignificante criação, as projecções sem importância do seu
próprio fundo condicionado.
A maioria
exige experiências completamente satisfatórias e duradouras, que não possam ser
destruídas pelo pensamento. Assim, atrás dessa exigência, está o desejo de
satisfação, e esse desejo de satisfação dita a experiência; por conseguinte,
temos de compreender não só essa matéria de satisfação, mas também a coisa que
se experimenta.
Ter uma grande satisfação é experimentar um grande prazer;
quanto mais duradoura, profunda e ampla a experiência, tanto mais agradável, e portanto, o prazer dita a forma de experiência que queremos; o prazer é precisamente a medida com a qual avaliamos a experiência.
Tudo o que é mensurável
encontra-se nos limites do pensamento e tem a propriedade de criar a ilusão.
Podeis ter experiências maravilhosas e vos sentirdes completamente frustrados.
Tereis inevitavelmente visões em conformidade com o vosso condicionamento; vereis
o Cristo ou o Buda ou outro qualquer em quem credes, e quanto mais crente
fordes, tanto mais intensas serão as vossas visões, as projecções das vossas
exigências e ânsias.
Assim, se
na busca de uma coisa fundamental, tal como a verdade, o prazer é a vossa
medida, já projectastes o que a experiência será, e por conseguinte, já não
é válida.
O que
entendemos por experiência? Há nela alguma coisa nova ou original?
A
experiência é um feixe de memórias a reagir a um desafio, e só pode reagir de
acordo com o passado, e quanto mais hábil fordes no interpretar a experiência,
tanto mais reage esse passado.
Assim, deveis questionar não só a experiência de
outrem, mas também a vossa própria.
Se não reconheceis uma experiência, não há
experiência nenhuma. Toda a experiência já foi experimentada, senão não a
reconheceríeis.
Reconheceis que uma experiência é boa, má, bela, sagrada etc.,
conforme o vosso condicionamento, e por conseguinte, o reconhecimento de uma
experiência tem de ser inevitavelmente velho.
Como quando
exigimos uma experiência da realidade, como todos nós a exigimos, não?
Para
experimentá-la, devemos conhecê-la, e tão logo a reconhecemos, já a projectamos, e portanto, ela não é real, porquanto está ainda no âmbito do pensamento e do
tempo.
Se o pensamento pode pensar sobre a realidade, isso não pode ser a
realidade. Não se pode reconhecer uma experiência nova. É impossível. Só
reconhecemos aquilo que já conhecemos, e por conseguinte, quando dizemos que
tivemos uma nova experiência, ela não é absolutamente nova.
A busca de mais
experiência pela expansão da consciência, como se tem feito por várias
drogas psicodélicas, está ainda no campo da consciência, e por conseguinte, é
muito limitada.
Descobrimos,
pois, uma verdade fundamental, ou seja, que a mente que está a buscar e a ansiar
por experiências mais amplas e profundas é uma mente muito superficial e insensível, porquanto está sempre a viver com as suas memórias.
Agora, se
não tivéssemos experiência alguma, o que nos aconteceria? Dependemos de
experiências, de desafios, para nos mantermos despertos.
Se não houvesse
conflito no nosso interior, se não houvesse mudanças, perturbações, estaríamos
todos a dormir a sono solto.
Assim, os desafios são necessários à maioria das
pessoas; pensamos que, sem eles, a mente se tornará estúpida e pesada, e por
conseguinte, dependemos de um desafio, de uma experiência, para termos mais
animação, mais intensidade, para termos uma mente mais penetrante.
Mas, com
efeito, essa dependência dos desafios e das experiências, para nos conservarmos
despertos, só torna a nossa mente mais insensível ainda; não nos mantém realmente
despertos.
Assim, pergunto a mim mesmo:
`É possível nos mantermos
totalmente despertos, não superficialmente, em alguns pontos do meu ser, mas totalmente despertos, sem nenhum desafio ou experiência?´.
Isso exige uma
grande sensibilidade, tanto física como psicológica; significa que devo estar
livre de todas as exigências, porque, no momento em que exijo uma experiência,
a terei. E, para ficar livre da exigência de satisfação, torna-se necessária
uma investigação de mim mesmo e uma compreensão total da natureza da exigência.
Toda a exigência nasce da dualidade: `Sou infeliz, e tenho de ser feliz´.
Nessa própria exigência, tenho de ser feliz, está a infelicidade.
Quando uma
pessoa se esforça para ser boa, nesse próprio `ser bom´ está o seu oposto, ser
mau.
Tudo o que se afirma contém o seu próprio oposto; e o esforço que se faz
para dominá-lo torna mais forte aquilo que contra se luta.
Quando exigis uma
experiência da verdade ou da realidade, essa própria exigência nasceu do vosso
descontentamento com o que é; por conseguinte, a exigência cria o oposto. No
oposto está o que foi.
Temos, pois, de ficar livres dessa incessante exigência,
porquanto, de contrário, nunca se acabará a galeria da dualidade. Isso
significa conhecer a si próprio de maneira tão completa que a mente não mais se
ponha a buscar.
A mente,
então, não exige experiência; não pode pedir ou conhecer um desafio; não diz `Estou a dormir´, `Estou acordada´. Ela é, toda ela, o que
é. Só a mente frustrada, limitada, superficial, condicionada, está sempre a
buscar o mais.
Será possível, então, viver neste mundo sem o `mais´, sem essa
perene comparação?
É decerto, mas temos de descobri-lo por nós mesmos.
A
investigação completa dessa questão é meditação. Esta palavra tem sido
empregada, tanto no Oriente como no Ocidente, de uma maneira muito lamentável.
Há diferentes escolas de meditação, diferentes métodos e sistemas.
Certos
sistemas ensinam: `Observa os movimentos do dedo grande do teu pé,
observa-o, observa-o, observa-o´; outros advogam o ficar sentado numa
certa postura, respirar regularmente ou praticar o percebimento. Tudo isso
é completamente mecânico.
Outro método dá-vos uma certa palavra, e vos diz que,
se ficardes a repetir essa palavra, ela vos proporcionará uma certa experiência
fundamental, extraordinária.
Isso é puro absurdo.
É uma forma de auto-hipnose.
Se ficardes a repetir indefinidamente Amém ou Hun ou Coca-Cola, é óbvio que
tereis uma certa experiência, porque, pela repetição, a mente se aquieta. Esse
é um fenómeno bem conhecido, praticado há milhares de anos na Índia; chama-se
Mantra Ioga.
Pela repetição pode-se induzir a mente a tornar-se branda e macia,
entretanto ela continua pequenina, vulgar, mesquinha.
O mesmo efeito se obteria
com apanhar no jardim um pedaço de pau, colocá-lo sobre a lareira, e
oferecer-lhe todos os dias uma flor. Daí a um mês o estaríeis adorar, e se
deixásseis de depositar uma flor diante dele, isso seria um pecado.
Meditação
não é seguir um sistema; não é repetição e imitação constantes.
Meditação não é
concentração.
Um dos truques de certos instrutores de meditação é insistirem para que os seus discípulos aprendam a se concentrar, ou seja, fixar a mente num
pensamento e expulsar todos os outros pensamentos.
Essa é uma das coisas mais
estúpidas e mais maléficas, e qualquer estudante é capaz de fazê-la, se obrigado
a tal.
Significa que ficais empenhado numa contínua batalha entre a obrigação
de vos concentrardes, por um lado, e a vossa mente, por outro lado, que se põe a
fugir para outras e variadas coisas, quando deve ser o contrário, devemos estar
atentos a cada movimento da mente, aonde quer que ela vá.
Quando a vossa mente
foge, isso significa que estais interessado em alguma outra coisa.
A meditação
exige uma mente de sobremodo vigilante; a meditação é a compreensão da totalidade
da vida, na qual não existe mais nenhuma espécie de fragmentação.
Meditação não
é controle do pensamento, porque, quando o pensamento é controlado, gera
conflito na mente; mas, quando se compreende a estrutura e origem do
pensamento, assunto que já examinamos, o pensamento então não mais interfere.
Essa compreensão da estrutura do pensar é a sua própria disciplina, que é
meditação.
Meditação é
estar consciente de cada pensamento e de cada sentimento, nunca dizer que ele é
certo ou errado, porém simplesmente observar e acompanhar o seu movimento.
Nessa
vigilância, compreendeis o movimento total do pensamento e do sentimento. E
dessa vigilância vem o silêncio.
O silêncio criado pelo pensamento é
estagnação, coisa morta, porém o silêncio que vem quando o pensamento
compreendeu a sua própria origem, a sua própria natureza, compreendeu que nenhum
pensamento é livre, porém sempre velho, esse silêncio é meditação, na qual o
meditador está de todo ausente, porque a mente se esvaziou do passado.
Se lestes
este livro durante uma hora, isso é meditação. Se apenas recolhestes umas
poucas palavras e juntastes algumas ideias, para sobre elas reflectirdes mais
tarde, isso então já não é meditação.
Meditação é um estado em que a mente olha
todas as coisas com toda a atenção e não apenas com algumas partes dela.
Ninguém pode vos ensinar a prestar atenção. Se algum sistema vos ensina a estar
atento, estais então atento ao sistema, e isso não é atenção.
A meditação é uma
das maiores artes da vida, talvez a maior de todas, mas não se pode de modo
nenhum aprendê-la de alguém, e essa é que é a sua beleza.
Ela não tem técnica, e por conseguinte, nenhuma autoridade.
Quando estais a aprender a conhecer-vos
realmente, quando vos observais, observais a vossa maneira de andar, de comer, o
que dizeis, as vossas tagarelices, o vosso ódio, o vosso ciúme, se estais consciente de
tudo isso, em vós mesmos, sem nenhuma escolha, isso faz parte da meditação.
Assim, a
meditação pode verificar-se quando estais sentado num carro ou a passear numa
floresta toda de luz e de sombra, ou a ouvir o canto dos pássaros, ou a olhar o
rosto da vossa mulher ou do vosso filho.
Na
compreensão dada pela meditação há amor, e o amor não é produto de sistemas, de
hábitos, da observância de um método.
O amor não pode ser cultivado pelo
pensamento. O amor pode, talvez, nascer quando há silêncio completo, um
silêncio no qual esteja de todo ausente o meditador; e a mente só é capaz de
silêncio quando compreende seu próprio movimento como pensamento e sentimento.
Para se compreender esse movimento de pensamento e de sentimento, não pode
haver condenação enquanto se observa.
Observar dessa maneira é disciplina, e
essa qualidade de disciplina é fluída, livre, e assim não é a disciplina do
ajustamento."
Jiddu Krishnamurti
"Liberte-se do passado"
t.
0 comentários:
Enviar um comentário