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quarta-feira, 20 de abril de 2016

ab imo pectore







"A word like 'love' has become sexual, sensory, sensuous. With it goes pleasure, fear, anxiety, dependence and all the ugliness that takes place in the so-called relationship. 

So one uses that word very, very hesitantly. It is in no way related to jealousy, fear, or sorrow. 

It is total responsibility, not only to your immediate person but the total responsibility to the whole of life, not only your life but the other life. 

I say that love is the total answer. Without that, do what you will, stand on your head for the rest of your life, sit in a position, lotus, or whatever you do. 

So with that intelligence goes the other. You understand? Without intelligence you cannot have the other. They are inseparable. 

And that is why compassion has this quality of great intelligence. And that is the solution which will solve all our problems."






  
ab imo pectore 








"We are humanity.
Our consciousness 
is not mine, 
it is the human mind.


Human heart, human love - all that human.


 And by emphasizing, as they are doing now, individual, you fulfil yourself, do whatever you want to do, you know the whole thing, that is destroying the human relationship.


And therefore there is 
no lovethere is no compassion in all this. 


Just vast mass moving in a hopeless direction, and electing these extraordinary people to lead them. 
And they lead them to destruction.

My point is this has happened time after time, centuries after centuries. 

And if you are serious, either you give up, turn your back on it - I know several people who have said to me: 'Don't be a fool, you can't change man. Go away. Retire. Go to the Himalayas and beg and live and die'. 
I don't feel like that, but...




Jiddu Krishnamurti
















O HOMEM MAIS FEIO 


"E Zaratustra continuou a correr pelas montanhas e pelas selvas, e os seus olhos esquadrinhavam sem cessar; mas em nenhuma parte via aquele que queria ver, o que clamava por socorro, atormentado por profunda angústia. Caminhava, todavia, muito satisfeito e cheio de gratidão. 

`Que boas coisas - disse - este dia me tem dado, para me indemnizar de o ter começado tão mal! Que singulares interlocutores encontrei!

 Hei-de ruminar muito tempo as suas palavras como se fossem bons grãos; os meus dentes devem triturá-las e moê-las muitas vezes, até me correrem pela alma como leite´.

 Mas quando deu volta a outro penhasco do caminho, mudou de súbito a paisagem, e Zaratustra entrou no reino da Morte. Surgiam ali negros e vermelhos penhascos, e não havia erva, árvores, nem canto de pássaros. 

Que era um vale que todos os animais desprezavam, até as feras; só uma espécie muito feia de grandes cobras verdes ia ali morar, quando envelhecia. 

Por isso os pastores chamavam aquele vale `Morte das serpentes´. Zaratustra abismou-se em negras recordações, porque lhe parecia ter-se já encontrado naquele vale. E preocuparam-lhe o espírito coisas tão pesadas que foi demorando, demorando o passo até que acabou por parar e fechar os olhos. 

Quando os abriu, viu qualquer coisa sentada à beira do caminho, qualquer coisa onde com muito trabalho se reconheceria a forma de um homem, qualquer coisa inexprimível. 

E Zaratustra sentiu enorme vergonha dos seus olhos terem visto semelhante coisa. Ruborizando-se até à raiz dos cabelos, afastou os olhos e ergueu o pé para se retirar daquele sítio nefasto. Mas então se povoou de ruídos o tétrico deserto: porque se elevou do solo um gorgolejo como o que faz a água de noite em campos tapados; esse ruído acabou por se tornar voz humana e humana palavra.

 A voz dizia: `Zaratustra! Zaratustra! Adivinha o meu enigma! Fala! Qual é a vingança contra a testemunha? Eu atraio-te para trás; aqui há gelo resvaladiço. Cuidado, cuidado, não se te quebrem as pernas de orgulho! Julgas-te sábio, orgulhoso Zaratustra! Pois adivinha o enigma, adivinha o enigma que eu sou. Fala pois: quem sou eu?´.

 Mas quando Zaratustra ouviu estas palavras, que pensais se lhe passou na alma? Viu-se dominado pela compaixão, e abateu-se de súbito como um carvalho que, depois de resistir muito tempo aos lenhadores, cai de repente e pesadamente com espanto dos próprios que queriam abatê-lo. 

Logo, porém, se ergueu do solo e o semblante tornou-se-lhe duro. `Conheço-te bem - disse com voz de bronze: - és o assassino de Deus. Deixa-me ir embora. Não suportaste aquele que te via sempre e até ao mais íntimo teu, mais feio dos homens! Vingaste-te dessa testemunha!´. Assim falava Zaratustra, e quis ir-se embora; mas o inexprimível segurou-o pela roupa e começou a gorgolejar de novo e a procurar as suas expressões: `Detém-te!´, disse por fim. 

`Detém-te! Não passes de largo! Compreendi qual foi o machado que te derrubou! Glória a ti, Zaratustra, que estás outra vez de pé! Adivinhaste - sei-o perfeitamente - quais eram os sentimentos do que matou Deus - do assassino de Deus - Fica. 

Senta-te aqui ao meu lado; não será em vão. A quem queria eu encontrar senão a ti? Fica e senta-te. Mas não olhes para mim. Respeita assim... a minha fealdade! 

Perseguem-me: agora tu és o meu último refugio. Não é que me persigam com o seu ódio ou seus esbirros. Ó! Zombaria então de tais perseguições! Estaria orgulhoso e satisfeito. Todo o triunfo não tem sido até aqui dos que foram bem perseguidos?

E o que persegue bem facilmente aprende a seguir - não vai já... atrás? Trata-se, porém, da sua compaixão... Da compaixão deles é que eu fujo ao vir-me refugiar em ti. Defende-me, Zaratustra, último refúgio meu, único ser que me adivinhou. Adivinhaste os sentimentos daquele que matou Deus. Fica! E se és tão impaciente que te queiras ir embora, não tomes o caminho por onde eu vim. 

Esse caminho é mau. Tens-me rancor porque há muito tempo que te falo imprudentemente? Porque te dou conselhos? 
Fica sabendo que eu, o mais feio dos homens, sou também o que tem o pé maior e mais pesado. Todo o caminho que pisei se tornou mau. 
Eu esmago e destruo os caminhos todos. 

Bem vi, porém, que passavas por diante de mim em silêncio, e que te envergonhavas: nisso conheci Zaratustra. Outro qualquer atirar-me-ia uma esmola, a sua compaixão com o olhar e a palavra. Eu, porém, não sou bastante mendigo para isso: adivinhaste. 

Eu sou demasiado rico para isso, rico em coisas grandes, e formidáveis, as mais feias e inexprimíveis! A tua vergonha honra-me, Zaratustra! Difícil me foi sair da multidão dos compassivos para encontrar o único que ensina hoje que `a compaixão é importuna´ - para te encontrar a ti, Zaratustra. 

Seja piedade de um Deus ou piedade dos homens, a compaixão é contrária ao pudor. E não querer auxiliar pode ser mais nobre do que essa virtude que assalta pressurosa e solícita. Mas a isso mesmo é que toda a gente pequena chama hoje virtude, a compaixão; tal gente não guarda respeito à grande desgraça, nem à grande felicidade, nem à grande queda. 


Deito o meu olhar por cima dos pequenos, como o de um cão por cima dos buliçosos rebanhos de ovelhas. É gentinha de boa vontade, parda e peluda. Tempo demais se deu razão a essa gentinha, e assim se acabou por se lhes dar igualmente o poder. Agora pregam: `Só o que a gentinha acha bom, é que é bom´. 



E hoje chama-se `verdade´ ao que dizia o pregador, que saiu das fileiras dessa gente, aquele santo raro, aquele advogado dos pequenos que afirmava por si só `eu sou a verdade´. E aquele homem imodesto que ao dizer `eu sou a verdade´, pregou um erro mais que mediano, foi a causa de se pavonearem há muito as pessoas pequeninas. 




Acaso se respondeu alguma vez mais cortesmente a uma pessoa falha de modéstia? E tu, Zaratustra, todavia, passaste por diante dele dizendo: `Não! Não! Mil vezes não!´. Tu deste a voz de alarme contra o seu erro; foste o primeiro a dar a voz de alarme contra a compaixão; não a todos, nem a nenhum, mas a ti e à tua espécie. 


Envergonhas-te da vergonha dos grandes sofrimentos: e quando dizes: `Da compaixão vem uma grande nuvem, alerta humanos´. 




E quando ensinas: `Todos os criadores são duros, todo o grande amor está por cima da sua compaixão´, parece-me conheceres bem os sinais do tempo, Zaratustra! Mas tu mesmo... livra-te também da tua própria piedade. 

Que há muitos que se encaminham para ti, muito dos que sofrem, dos que duvidam, dos que desesperam, dos que se afogam e gelam... Ponho-te também em guarda contra mim. 

Adivinhas o meu melhor e o meu pior enigma, adivinhaste-me a mim mesmo e o que tenho feito. Conheço o machado que te derruba. Foi preciso, contudo, ele morrer: via com olhos que tudo viam; via as profundidades e os abismos do homem, toda a sua oculta ignomínia e fealdade. 

A sua compaixão não conhecia a vergonha; introduzia-se-me nos mais sórdidos recantos. Foi mister morrer o mais curioso, o mais importuno, o mais compassivo. Sempre me via; quis vingar-me de tal testemunha ou deixar de viver. O Deus que via tudo, até o homem, esse Deus devia morrer! O homem não suporta a vida de semelhante testemunha´. Assim falava o homem mais feio. 





E Zaratustra levantou-se e dispôs-se a partir, porque estava gelado até à medula, e disse: `Tu, inexprimível, puseste-me em guarda contra o teu caminho. Para te recompensar recomendo-te o meu. Olha: ali em cima fica a caverna de Zaratustra. A minha caverna é grande e profunda e tem muitos recantos; o mais escondido encontra lá o seu esconderijo. E perto há cem rodeios e cem fugas para os animais que se arrastam, revolteiam e saltam. 

Tu, que te vês repelido e que te repeliste a ti mesmo, não queres viver mais entre os homens e da compaixão dos homens? 

Pois bem! Faz como eu! Assim aprenderás também comigo, só o que procede aprende. E fala logo e em primeiro lugar aos meus animais! Sejam para nós dois os verdadeiros conselheiros o animal mais activo e o animal mais astuto!´. Assim falou Zaratustra, e prosseguiu o seu caminho ainda mais meditabundo e vagaroso do que dantes, porque se interrogava sobre muitas coisas a que lhe era difícil responder. 


`Como o homem é mesquinho! - pensava interiormente. - Que feio, que agonizante e quão cheio de oculta vergonha! Dizem que o homem se ama a si mesmo! Ai! Como deve ser grande esse amor próprio! Quanto desprezo tem contra si! 




Também aquele se ama desprezando-se: é para mim um grande enamorado e um grande desprezador. Nunca tropecei com ninguém que se desprezasse mais profundamente. Isto também é elevação. Ó! infortúnio!


 Talvez fosse aquele o homem superior cujo grito ouvi! Eu amo os grandes desprezadores. Mas o homem é uma coisa que deve ser superada´. 

Assim falava Zaratustra."




Friedrich Nietzsche
"Assim falou Zartustra"

















t.































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