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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Deny with your heart...






Deny with your heart...





"To deny all morality is to be moral, for the accepted morality is the morality of respectability, and I'm afraid we all crave to be respected, which is to be recognised as good citizens in a rotten society. 



Respectability is very profitable and ensures you a good job and a steady income. The accepted morality of greed, envy and hate is the way of the establishment. 



When you totally deny all this, not with your lips but with your heart, then you are really moral. 


















For this morality springs out of love and not out of any motive of profit, of achievement, of place in the hierarchy. 



There cannot be this love if you belong to a society in which you want to find fame, recognition, a position. Since there is no love in this, its morality is immorality. 



When you deny all this from the very bottom of your heart, then there is a virtue that is encompassed by love."



Jiddu Krishnamurti
"The only revolution"







               Deny 

with your

                heart...










"Tomara poder desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, d'este mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando n'alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever cumprido.

Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligência para com o meu senso moral. 

Hora a hora a que escreve as sátiras surge colérica em mim. Hora a hora a expressão me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mãos inúteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que não soube contar, um coração já apodrecido, morto já e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada.

Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pátria que vós não conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n'ela penso. Nada faço. 

Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pátria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizê-lo. Só aqui lh'o registo sobre papel, acanhadamente ainda assim, para que n'alguma parte fique escrito. Sim, fique aqui escrito que amo a pátria funda, doloridamente.

Seja dito assim sucinto, para que fique dito. Nada mais.
Não falemos mais. As coisas que se amam, os sentimentos que se afagam guardam-se com a chave d'aquilo a que chamamos `pudor´ no cofre do coração. A eloquência profana-os. A arte, revelando-os, torna-os pequenos e vis. O próprio olhar não os deve revelar.

Sabeis decerto que o maior amor não é aquele que a palavra suave puramente exprime. Nem é aquele que o olhar diz, nem aquele que a mão comunica tocando levemente n'outra mão. É aquele que quando dois seres estão juntos, não se olhando nem tocando os envolve como uma nuvem. 
Esse amor não se deve dizer nem revelar. Não se pode falar dele."





Fernando Pessoa










138.O homem não é igualmente moral em todas as horas, isso é sabido: a julgar a sua moralidade segundo a capacidade de grandes decisões de sacrifício e abnegação (que, tornando-se duradoura e habitual, é santidade), então é no afecto que ele é mais moral; a excitação forte lhe oferece motivos inteiramente novos, dos quais ele, ao estar frio e sóbrio como de costume, talvez não acreditasse ser capaz. Como ocorre isso? 

Provavelmente devido à vizinhança de tudo o que é grande e que excita fortemente; levado a uma tensão extraordinária, o homem pode-se decidir tanto por uma vingança terrível quanto por uma terrível refracção da sua necessidade de vingança. 

Sob a influência da emoção violenta, quer de todo modo o que é grande, poderoso, monstruoso, e se por acaso nota que o sacrifício de si mesmo o satisfaz tanto ou ainda mais que o sacrifício do outro, escolhe aquele.

O que realmente lhe importa, portanto, é a descarga da sua emoção; para aliviar sua tensão, pode juntar as lanças dos inimigos e enterrá-las no próprio peito.

 Que haja grandeza na negação de si mesmo, e não apenas na vingança, é algo que deve ter sido inculcado na humanidade por um longo período; uma divindade que sacrifica a si mesma foi o símbolo mais forte e mais eficaz dessa espécie de grandeza. 

Como a vitória sobre o inimigo mais difícil de vencer, a dominação repentina de um afecto, é assim que aparece essa negação; e nisso é tida como o ápice da moral. O que sucede, na verdade, é a substituição de uma ideia pela outra, enquanto o ânimo mantém a sua mesma altura, o seu mesmo nível. 

Ao estar novamente sóbrios, recuperados do afecto, os homens não mais compreendem a moralidade daqueles momentos, mas a admiração de todos aqueles que também os viveram os sustenta; o orgulho é o seu consolo, quando o afecto e a compreensão do seu acto se debilitam. 

Ou seja: no fundo, tampouco são morais aqueles actos de abnegação, na medida em que não são feitos estritamente pelos outros; ocorre, isto sim, que o outro dá ao ânimo em alta tensão apenas uma oportunidade de se aliviar através da abnegação.





139. Em muitos aspectos, também o asceta procura tornar leve a sua vida, geralmente pela completa subordinação a uma vontade alheia, ou a uma lei e um ritual abrangentes; mais ou menos como um brâmane não deixa nada à sua própria determinação e a cada minuto é guiado por um preceito sagrado. 

Esta subordinação é um meio poderoso para se tornar senhor de si mesmo; o indivíduo está ocupado, portanto não se entedia, não experimenta qualquer estímulo da vontade da paixão; após 
acção realizada, não há sentimento de responsabilidade, nem a tortura do arrependimento. 

De uma vez por todas se renunciou à própria vontade, e isso é mais fácil do que renunciar ocasionalmente; assim como é mais fácil renunciar de todo a um desejo do que mantê-lo moderado. 

Se nos lembrarmos da posição actual do homem em relação ao Estado, achamos aí também que a obediência incondicional é mais cómoda que a condicionada. 


Logo, o santo facilita a própria vida pelo completo abandono da personalidade, e é um engano admirar nesse fenómeno o supremo heroísmo da moralidade.


Em todo o caso, é mais difícil afirmar a personalidade sem hesitação e sem obscuridade do que dela se libertar de tal modo; além disso, requer muito mais espírito e reflexão.




140. Depois que encontrei, em muitas das acções mais difíceis de explicar, expressões daquele prazer na emoção em si, gostaria de reconhecer também no auto-desprezo, que se inclui entre as características da santidade, e igualmente nos actos dtortura de si mesmo (jejum açoitamento, deslocação dos membros, simulação dloucura), um meio pelo qual essas naturezas lutam contra fadiga geral da sua vontade dviver (dos seus nervos): elas se servem dos estímulos e crueldades mais dolorosos, para ao menos temporariamente emergir do torpor e do tédio em que a sua grande indolência espiritual e a mencionada subordinação a uma vontade alheia as fazem cair com tanta frequência.



Friedrich Nietzsche
"Humano, demasiado humano I"





















t.
































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