The
mutation
of psyche...
“What we are going to do is to learn about ourselves—not
according to the speaker, or to Freud, or to Jung, to some analyst or
philosopher, but to learn actually what we are.
If we learn about ourselves
according to Freud we learn about Freud, not about ourselves.
To learn about
oneself, all authority must come to an end, all authority, whether it be the
authority of the church or of the local priest, or the famous analyst, or of
the greatest philosophers with their intellectual formulas, and so on.
So the
first thing that one has to realize when we become serious, demanding a total
revolution within the structure of our own psyche, is that there is no
authority of any kind.
That is very difficult, for there is not only the
outward authority, which one can easily reject, but there is inward authority:
the inward authority of one’s own experience, of one’s own accumulated
knowledge, of the opinions, ideas, ideals which guide one’s life and according
to which one tries to live.”
"Em todas as páginas deste
livro, o que sempre nos interessou foi a realização, em nós mesmos, e por
conseguinte, em nossas vidas, de uma revolução total fora da estrutura social
ora existente.
A sociedade, como actualmente está
constituída, é uma coisa horripilante, com as suas intermináveis guerras de
agressão, não importa se agressão defensiva ou ofensiva. Necessitamos de uma
coisa totalmente nova, de uma revolução, uma mutação na própria psicose.
O velho cérebro nenhuma
possibilidade tem de resolver o problema humano das relações. O velho cérebro é
asiático, europeu, americano ou africano, e assim, interrogamos a nós mesmos se
é possível operar-se uma mutação nas próprias células cerebrais.
Investiguemos, também, agora que
chegamos a compreender-nos melhor, se é possível a um ente humano que vive a
sua vida normal de cada dia, neste mundo brutal, violento, cruel, um mundo que
se está a tornar cada vez mais eficiente, e por conseguinte, cada vez mais
cruel, se é possível a esse ente humano promover uma revolução não só nas suas
relações externas, mas também em toda a esfera do seu pensar, sentir, agir e
reagir.
Todos os dias vemos ou lemos coisas
aterradoras que estão a acontecer no mundo, como resultado da violência no
homem existente. Podeis dizer: `Eu nada posso fazer a esse respeito´, ou `Como
posso influir no mundo?´.
Eu acho que podeis influir no mundo
de uma maneira admirável se em vós mesmos não sois violento, se viveis
realmente, em cada dia, uma vida pacífica, uma vida sem competição, sem ambição,
sem inveja, uma vida não causadora de inimizade.
Pequenas chamas podem tornar-se em
incêndio. Reduzimos o mundo ao seu actual estado de caos com a nossa actividade
egocêntrica, os nossos preconceitos, o nosso nacionalismo, e quando dizemos que
nada podemos fazer a tal respeito, estamos a aceitar como inevitável a desordem
em nós mesmos existente.
Partimos o mundo em fragmentos, e
se nós mesmos estamos partidos, fragmentados, a nossa relação com o mundo será
também fragmentária.
Mas se, quando agimos, agimos totalmente, então a nossa
relação com o mundo passa por uma enorme revolução.
Afinal de contas, todo o movimento
que vale o esforço, toda a acção de profunda significação, tem de começar em
cada um de nós.
Eu tenho de mudar primeiro; tenho de ver qual é a natureza e a
estrutura da minha relação com o mundo, e no próprio acto de ver está o fazer,
por conseguinte, como ente humano que vive neste mundo, devo criar uma coisa
diferente, e essa coisa, a meu ver, é a mente religiosa.
A mente religiosa difere
completamente da mente que crê na religião. Não podeis ser religioso e ao mesmo
tempo hindu, muçulmano, cristão, budista.
A mente religiosa nada busca, não
pode fazer experiências com a verdade. A verdade não é uma certa coisa ditada
pelo vosso prazer ou a vossa dor, ou pelo vosso condicionamento hindu ou
qualquer que seja a religião a que pertenceis.
A mente religiosa é um estado de
espírito em que não há medo, e por conseguinte, não há crença de espécie
alguma, porém, tão-só o que é, o que realmente é.
Na mente religiosa há aquele estado
de silêncio que já examinamos, que não é produzido pelo pensamento, mas é
oriundo do percebimento, ou seja da meditação com completa ausência do
meditador. Nesse silêncio há um estado de energia isento de conflito.
Energia é acção e movimento. Toda a
acção é movimento e toda a acção é energia. Todo o desejo é energia. Todo o
sentimento é energia, todo o pensamento é energia. Todo o viver é energia. Toda
a vida é energia. Se se deixa essa energia fluir sem nenhuma contradição,
nenhum atrito, nenhum conflito, ela é então ilimitada, infinita. Quando não há
atrito, não há limites à energia. O atrito é que dá limites à energia.
Assim, percebido isso, por que é
que o ente humano sempre introduz o atrito na energia? Por que cria atrito,
nesse movimento a que chamamos vida? A energia pura, a energia ilimitada é para
ele apenas uma ideia? Não tem realidade?
Necessitamos de energia, não só
para promovermos a revolução total em nós mesmos, mas também para podermos
investigar, olhar, actuar.
E, enquanto houver atrito, de qualquer natureza, em
qualquer das nossas relações, seja entre marido e mulher, seja entre um homem e
outro, entre uma e outra comunidade, ou uma e outra nação, ou uma ideologia e
outra, se há qualquer atrito, interior ou exterior, em qualquer forma, por mais
subtil que seja, há desperdício de energia.
Enquanto houver um intervalo de
tempo entre o observador e a coisa observada, esse intervalo criará atrito, e
por conseguinte, desperdício de energia. Essa energia se acumula até ao mais
alto grau quando o observador é a coisa observada, e nisso não há nenhum
intervalo de tempo.
Haverá então energia sem motivo, a qual encontrará o seu
próprio canal de acção, porque, então, o `EU´ não existe.
Necessitamos de uma enorme
abundância de energia para compreender a confusão em que estamos a viver, e o
sentimento `tenho de compreender´ produz a vitalidade necessária para a
compreensão. Mas, o descobrir, o investigar, implica o tempo, e como já vimos, o
gradual descondicionamento da mente não é a maneira certa de proceder.
O tempo também não é o caminho
certo. Quer sejamos velhos, quer jovens, é agora que o integral processo da
vida pode ser levado a uma dimensão diferente.
A busca do oposto do que somos
não é, tampouco, o caminho certo e também não o é a disciplina artificial
imposta por um sistema, por um instrutor, um filósofo ou sacerdote; tudo isso é
muito infantil.
Ao percebermos isso, perguntamos a
nós mesmos: `Será possível libertarmo-nos imediatamente desta secular e pesada
carga de condicionamento, sem cairmos noutro condicionamento, sermos livres,
com a mente completamente nova, sensível, viva, alertada, intensa, capaz?´. Eis
o nosso problema.
Não há outro problema, porque,
quando a mente se renova é capaz de enfrentar e resolver qualquer problema, É
essa a única pergunta que temos de fazer a nós mesmos.
Mas, nós não a fazemos. Preferimos
ser ensinados. Um dos aspectos mais curiosos da estrutura da nossa psicose é o
querermos, todos nós, ser ensinados, porquanto somos o resultado de uma
propaganda de dez mil anos.
Queremos ver o nosso modo de pensar confirmado e
corroborado por outrem, ao passo que fazer uma pergunta é fazê-la a nós
mesmos.
O que eu digo tem muito pouco
valor. Vós o esquecereis no mesmo instante em que fechardes este livro, ou vos
lembrareis de algumas frases, as quais ficareis a repetir, ou comparareis o que
aqui lestes com o que lestes noutro livro; não quereis olhar de frente a vossa
própria vida.
E só ela é que importa: a vossa
vida, vós mesmos, a vossa mediocridade, a vossa superficialidade, a vossa
brutalidade, a vossa violência, a vossa avidez, a vossa ambição, a vossa diária
agonia e infinito sofrer; é isso que tendes de compreender, e ninguém, nem na
terra, nem no céu, pode salvar-vos, senão vós mesmos.
Vendo tudo o que se passa na vossa
vida diária, nas vossas actividades quotidianas, quando escreveis, quando
falais, quando sais de carro ou passeais a sós numa floresta, podeis, num só
alento, num só olhar, conhecer a vós mesmos, muito simplesmente, tal como sois?
Quando vos conhecerdes como sois, compreendereis então toda a estrutura da luta
do homem, os seus embustes, as suas hipocrisias, a sua busca.
Para tanto, tendes de ser sumamente
honesto perante vós mesmos, em todo o vosso ser. Quando agis de acordo com os
vossos princípios, estais a ser desonesto, porque quando agis conforme o que
julgais ser correcto, não sois o que sois. É uma coisa brutal, ter ideais. Se
tendes ideais, crenças ou princípios de qualquer espécie, não podeis de modo
nenhum olhar-vos directamente.
Portanto, podeis ser completamente
negativo, manter-vos inteiramente tranquilo, sem pensar, sem temer, e ao mesmo
tempo estar extraordinariamente, apaixonadamente, vivo?
Aquele estado em que a mente já não
é capaz de lutar constitui a verdadeira mente religiosa, e, nesse estado
mental, podeis encontrar-vos com essa coisa denominada verdade ou realidade ou
bem-aventurança ou Deus ou beleza ou amor.
Essa coisa não pode ser chamada. Por
favor, compreendei esse simples facto. Ela não pode ser chamada, não pode ser
buscada, porque a vossa mente é tão estúpida e limitada, as vossas emoções tão
vulgares, a vossa maneira de vida tão confusa, que aquela imensidade, aquela
coisa ilimitada não pode ser chamada a vossa pequena casa, ao insignificante
canto em que viveis, tão pisado e cuspido. Não podeis chamá-la.
Para a chamardes, deveis
conhecê-la, e vós não podeis conhecê-la. No momento em que alguém, não importa
quem, diz: `Sei´, não sabe. No momento em que dizeis que achastes, não
achastes.
Se dizeis que a experimentastes,
nunca a experimentastes. Tudo isso são maneiras de explorar um homem, o vosso
amigo ou inimigo.
Perguntamos então, a nós mesmos, se
é possível encontrar-nos com essa coisa sem a chamarmos, sem a esperarmos, sem
a buscarmos ou explorarmos, se é possível ela `acontecer´, tal como a brisa
fresca que entra na sala quando deixamos a janela aberta.
Não podeis convidar o
vento a entrar, mas tendes de deixar aberta a janela, o que não significa ficar
num estado de espera; essa é uma outra maneira de nos enganarmos. Não significa
que devais `abrir-vos´ para receber; essa é uma outra forma de pensamento.
Nunca perguntastes a vós mesmos por
que aos entes humanos falta essa coisa? Eles geram filhos, satisfazem o sexo,
têm ternuras, a capacidade de compartilhar as coisas num estado de
companheirismo, de amizade, de camaradagem, mas essa coisa, por que razão não a
tem?
Nunca vos ocorreu, num momento de
folga, ao andardes sozinho por uma rua imunda, ao viajardes num carro, ao
passardes umas férias à beira-mar, ao passeardes numa floresta, entre os
pássaros, as árvores, os regatos, os animais selvagens, nunca vos ocorreu
perguntar por que razão o homem, que vive há milhões e milhões de anos, ainda
não possui essa coisa, essa flor maravilhosa e imarcescível; por que razão vós,
um ente humano, dotado de tanta capacidade, tanta inteligência, tanta
subtileza; vós, que tanto competis, que possuis uma tão maravilhosa tecnologia,
que sois capaz de elevar-vos aos espaços e de descer ao fundo do mar, de
inventar fantásticos cérebros electrónicos, por que razão não possuis essa
única coisa verdadeiramente importante?
Não sei se alguma vez já
considerastes seriamente esta questão: Por que está vazio o vosso coração?
Que responderíeis se fizésseis a
vós mesmos essa pergunta; qual seria a vossa resposta imediata, inequívoca, sem
subtilezas?
A vossa resposta deveria corresponder
à intensidade com que fizésseis a pergunta, e ao vosso sentimento de urgência;
mas vós não sois intenso, nem sentis aquela urgência, e isso porque não tendes
energia, a energia que é paixão, pois nenhuma verdade se pode descobrir sem
paixão, paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo secreto.
A
paixão é uma coisa um tanto assustadora, porque se tendes paixão, não sabeis
aonde ela vos levará.
Assim, será o medo a razão por que
não possuis a energia daquela paixão, para descobrirdes por vós mesmos por que
vos falta aquela essência do amor, por que não arde no vosso coração essa
chama?
Se examinastes com muita atenção a
vossa mente e o vosso coração, sabereis por que não a tendes. Se sois
apaixonado, no descobrir por que não a possuis, ela se vos mostrará. Só pela
negação completa, a mais alta forma da paixão, torna-se existente aquela coisa
que é o amor.
Como a humildade, não podeis
cultivar o amor.
A humildade vem à existência com a total cessação da
presunção, e então, jamais sabereis o que é ser humilde. O homem que sabe o que
significa ter humildade é um homem vaidoso.
Do mesmo modo, quando aplicais a
vossa mente e o vosso coração, os vossos nervos, os vossos olhos, todo o vosso
ser, a descobrir o caminho da vida, a ver o que realmente é, e a ultrapassá-lo,
a rejeitar total e completamente a vida que hoje vivemos, nessa negação do
maléfico, do brutal, torna-se existente a outra coisa.
E nunca o sabereis. O homem que
sabe que está em silêncio, o homem que sabe que ama, não sabe o que é o amor ou
o que é o silêncio."
Jiddu Krishnamurti
"Liberte-se do passado"
t.
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