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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Real virtue cannot be pursued...











Real virtue

cannot be pursued ...














I am only conscious of this activity of the 'me' when I am opposing, when consciousness is thwarted, when the 'me' is desirous of achieving a result. 


The 'me' is active, or I am conscious of that centre, when pleasure comes to an end and I want to have more of that pleasure; then there is resistance, and there is a purposive shaping of the mind to a particular end which will give me a delight, a satisfaction. 



I am aware of myself and my activities when I am pursuing virtue consciously. That is all we know. 
A man who pursues virtue consciously is unvirtuous.




Humility cannot be pursued, and that is the beauty of humility.






Jiddu Krishnamurti
"The collected Works - Choiceless awareness"













Estar preso no processo de se tornar, de aquisição, e perceber a sua luta e dor, o desejo de sair disto dá origem ao conflito de dualidade. 

O ganho sempre engendra o medo, e o medo gera o conflito dos opostos, a superação do que é, e transformar isto no que é desejado. 

Um oposto não contém o germe do seu próprio oposto? 

A virtude é o oposto do vício? Se for, então deixa de ser virtude. Se a virtude é o oposto do vício, então virtude é resultado do vício. A beleza não é a negação do feio. A virtude não tem oposto. 

A ganância não pode nunca se tornar não-ganância, assim como a ignorância não pode se tornar iluminação. Se iluminação é o oposto de ignorância, então não é mais iluminação. 

Ganância é ainda ganância quando tenta se tornar não-ganância, porque o próprio tornar-se é ganância. 

O conflito dos opostos não é o conflito de diferentes, mas de desejos em mudança e oposição. 

O conflito só existe quando o que é, não é compreendido. Se pudermos compreender o que é, então não existe o conflito do seu oposto. 

O que é, só pode ser compreendido pela consciencialização sem escolha na qual não há condenação, justificação, nem identificação.




Jiddu Krishnamurti















DA VIRTUDE AMESQUINHADORA



I 

Quando Zaratustra chegou à terra firme não foi logo directo à sua montanha e à sua caverna, mas deu muitas voltas e fez muitas perguntas para se informar duma porção de coisas; e dizia de si para consigo, gracejando: `Eis aqui um rio que, por mil voltas, retrocede à sua nascente!´.

 Que ele queria saber o que fora feito do homem durante a sua ausência: se se tornara maior ou mais pequeno. E um dia divisou uma fileira de casas novas; admirado, disse: `Que significam aquelas casas? Em verdade, nenhuma alma grande as edificou como símbolo de si mesma. Tirá-las-ia da sua caixa de brinquedos algum rapazinho idiota? Pois torne-as a meter na caixa outro rapazinho! E aqueles aposentos e desvãos! Poderão ali entrar e sair homens? Parecem-me feitos para bichos de sedas ou para gatos gulosos, que talvez se deixam também comer´. 

E Zaratustra ficou-se a reflectir. Por fim disse com tristeza: `Tudo se tornou pequeno!´. Por toda a parte vejo portas mais baixas; aquele que é da minha espécie ainda poderá talvez passar por elas, mas tem que se agachar! Ó! quando tornarei para a minha pátria onde já não terei que me curvar... ante os pequenos? 
E Zaratustra suspirou e olhou ao longe. Nesse mesmo dia pronunciou o seu discurso sobre a virtude amesquinhadora.


II 

`Passo pelo meio deste povo e abro os olhos; esta gente não me perdoa que eu lhe não inveje as virtudes. Querem morder-me por eu lhes dizer que as pessoas pequenas necessitam pequenas virtudes, e porque me é difícil conceber que sejam, necessárias as pessoas pequenas. Estou aqui como galo em terreiro estranho, que até as galinhas lhe querem picar; mas eu nem por isso conservo rancor a tais galinhas. Sou indulgente com elas como com a pequena moléstia; ser espinhosos para com os pequenos parece-me um proceder digno de ouriços. 

Todos falam de mim quando estão sentados à noite à roda do lar; falam de mim, mas ninguém pensa em mim. Eis o novo silêncio que aprendi a conhecer; o rumor que fazem à minha roda, estende-me um manto sobre os pensamentos. Eles vociferam: `Que nos quer esta sombria nuvem? Andemos com cautela, não nos traga alguma epidemia!´.
 E ultimamente uma mulher puxou pelo filho que se queria aproximar de mim, e gritou: `Afastai as crianças! Olhos daqueles queimam as almas das crianças!´. Quando eu falo, fogem, julgam que a tosse é uma objecção contra os ventos rijos: nada conjecturam do sussurro da minha felicidade. 

`Ainda não temos tempo para Zaratustra´. 
Tal é a sua objecção. Mas, que importa um tempo que `não tem tempo´ para Zaratustra? Ainda que me glorificassem, como poderia adormecer aos seus louvores? O seu elogio é para mim um cinturão de espinhos: mortifica-me mesmo depois de o tirar. E também aprendi isto entre eles: o que elogia como que entrega, mas em rigor quer que se lhe dê mais. 

Perguntai ao meu pé se lhe agrada essa maneira de elogiar e de atrair! Verdadeiramente não quer bailar nem estar quieto a esse som e compasso. Procuram elogiar-me a sua modesta virtude e atrair-me para ela; quiseram arrastar o meu pé ao som da modesta felicidade. Eu passo pelo meio do povo e abro os olhos: amesquinharam-me e continuam a amesquinhar-se. 


Deve-se isto à sua doutrina da felicidade e da virtude. É que também são modestos na sua virtude, porque querem ter as suas conveniências, e só uma virtude modesta se conforma com as conveniências. 






Aprendem também a andar a seu modo e andar para adiante: a isto chamo eu ir coxeando. São assim um obstáculo a todos que andam depressa. E há quem caminhe para a frente, a olhar para trás e com o pescoço estendido; de boa vontade disputaria com semelhantes corpos. Os pés, os olhos não devem mentir nem desmentir; mas entre as pessoas pequenas há muitas mentiras.

 Alguns deles querem, mas na maioria apenas são queridos. Alguns são sinceros, mas o mais deles são maus cómicos. Há entre eles cómicos sem o saber e cómicos sem querer; os sinceros são sempre raros, principalmente os cómicos sinceros. Escasseia o varonil: por isso as mulheres se masculinizam. Que só o que for homem bastante emancipará na mulher... a mulher. Eis a pior das hipocrisias que tenho encontrado entre os homens: até os que mandam fingem as virtudes dos que obedecem. 

`Eu sirvo, tu serves, nós servimos´, assim salmodeia também aqui a hipocrisia dos governantes. E ai quando o primeiro amo não é mais do que o primeiro servidor! O meu olhar curioso deteve-se também na sua hipocrisia, e adivinhou a sua felicidade de moscas e seu zumbido à roda das vidraças assoalhadas. 

Toda a bondade que vejo é pura fraqueza, toda a justiça e piedade, fraqueza pura. São correctos, leais e benévolos uns para com os outros, como são correctos, leais e benévolos entre si os grãos da areia. Abraçar modestamente uma pequena felicidade é o que chamam `resignação´! e ao mesmo tempo olham de soslaio modestamente para outra pequena felicidade. 


No fundo da sua simplicidade só têm um desejo: que ninguém os prejudique. Por isso são amáveis com todos e praticam o bem. Isto, porém, é covardia, conquanto se chame `virtude´. 






E quando a esses mesquinhos lhes sucede falar com rudeza, eu na sua voz só ouço a farfalheira, porque toda a rajada de vento os enrouquece! São hábeis; as suas virtudes têm dedos hábeis; mas faltam-lhes os pulsos; os seus dedos não sabem desaparecer por detrás dos pulsos. 

Para eles, o que modera e domestica é a virtude; assim fizeram do lobo um cão e do próprio homem o melhor animal doméstico do homem. 


`Nós colocamos a nossa caldeira mesmo no meio, assim me confessa o seu sorriso, a igual distância dos gladiadores moribundos e dos imundos suínos´. Isto, porém, é mediocridade, embora lhe chamem moderação.


III 

Passo por entre este povo e deixo cair muitas palavras; mas não sabem receber nem aprender. Assombram-se de eu não vir anatematizar os apetites e os vícios, e na verdade, também não vim para pôr de sobre-aviso contra os ladrões. 


Admiram-se de eu não estar pronto a afinar e aguçar-lhe a subtileza: como se não tivessem ainda bastante sábios subtis, cujas vozes chiam aos meus ouvidos como rodas a que falta óleo. 


E quando grito: `Maldizei todos os demónios covardes que há em vós e quereriam gemer, cruzar as mãos e adorar´, então eles clamam: `Zaratustra é ímpio´. E os seus pregadores de resignação são os que mais vociferam, mas é justamente a esses que me apraz gritar ao ouvido: `Sim! Eu sou Zaratustra o ímpio!´.

 Os pregadores de resignação! Onde quer que haja ruindade, enfermidade e tinha, arrastam-se como piolhos e só por nojo os não esmago! Pois bem! Eis o sermão que lhes prego ao ouvido: eu sou Zaratustra, o ímpio que diz: `Quem há mais ímpio de que eu, para me regozijar com a sua ensinança?´. Eu sou Zaratustra, o ímpio: aonde encontrarei semelhantes meus? Semelhantes meus são todos os que se dão a si próprios, à sua vontade se desprendem de toda a resignação. 

Eu sou Zaratustra, o ímpio; no meu caldeirão cozo todos os sucessos; e só quando estão em ponto é que lhes dou as boas-vindas como sustento meu. E mais de um acidente se me aproximou com ares de senhor; mas a minha vontade falou-lhe de uma maneira ainda mais dominante, e logo se me ajoelhou aos pés, suplicando-me lhe desse asilo e acolhesse cordialmente, dizendo em tom adulador: `Olha Zaratustra: só um amigo pode aproximar-se assim de um amigo!´. 


A quem falar, porém, quando ninguém tem os meus ouvidos? Por isso quero gritar a todos os ventos: Gente mesquinha, cada vez vos amesquinhais mais! Gente acomodatícia, estai-vos esmigalhando! E acabareis por irdes a pique com a vossa infinidade de minguadas virtudes, minguadas comissões e de minguada resignação. 
O vosso solo é demasiado fofo e mole! E para uma árvore se tornar grande tem que se abraçar a duras rochas com duras raízes. 





Até o que omitís a tecer a teia do futuro dos homens, até o vosso nada é uma teia de aranha e uma aranha que vive o sangue do futuro. E quando recebeis é como se furtásseis, mesquinhos e virtuosos; até entre ladrões, contudo, diz a honra: `Só se deve furtar onde não se pode saquear´. Isto dá-se: tal é também uma doutrina de resignação; mas eu vos digo, a vós que amais as vossas comodidades: isto toma-se e tomar-se-á sempre ainda mais de vós. Ai! se não acabardes de uma vez com essa vontade a meias! Não saberdes ser decididos tanto para a preguiça como para a acção! Ai! se não compreenderdes estas palavras minhas: `Fazei sempre o que quiserdes; mas sede desde logo daqueles que podem querer!´.


`Amais sempre o vosso próximo como a vós mesmos: mas sede desde logo dos que se amam a si mesmos, dos que se amam com grande desdém´. 
Assim falava Zaratustra, o ímpio. 


`Mas, para que falar, quando ninguém tem os meus ouvidos? Ainda é hora demasiada matutina para mim. Eu sou entre esta gente o meu próprio precursor, o meu próprio canto de galo nas ruas escuras. Chega, porém, a sua hora! Chega também a minha! A cada hora se tornam mais pequenos, mais pobres, mais estéreis: pobre erva! pobre terra! Breve estarão na minha frente como erva seca, como uma estepe, e verdadeiramente fatigados de si mesmos, e mais sedentos de fogo que de água! 

Ó! bendita a hora do raio! 
Ó! mistério dantes do meio-dia! Há de chegar a vez de eu os converter em corrente de fogo e em profetas de línguas de chamas. Até profetizarão com línguas de chamas: já vem, já se aproxima o Grande Meio-dia!´.
 Assim falava Zaratustra.”




Friedrich Nietzsche
"Assim falou Zaratustra"

















t.


































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