Real virtue
cannot be pursued ...
“I am only conscious
of this activity of the 'me' when I am opposing, when consciousness is
thwarted, when the 'me' is desirous of achieving a result.
The 'me' is active, or
I am conscious of that centre, when pleasure comes to an end and I want to have
more of that pleasure; then there is resistance,
and there is a purposive shaping of the mind to a particular end which will
give me a delight, a satisfaction.
I am aware of myself
and my activities when I am pursuing virtue consciously. That is all we know.
A
man who pursues virtue consciously is unvirtuous.
Humility cannot be
pursued, and that is the beauty of humility.”
Jiddu Krishnamurti
"The collected Works - Choiceless awareness"
“Estar preso no processo de se
tornar, de aquisição, e perceber a sua luta e dor, o desejo de sair disto dá
origem ao conflito de dualidade.
O ganho sempre engendra o medo, e o medo gera
o conflito dos opostos, a superação do que é, e transformar isto no que é
desejado.
Um oposto não contém o germe do seu próprio oposto?
A virtude é o
oposto do vício? Se for, então deixa de ser virtude. Se a virtude é o oposto do
vício, então virtude é resultado do vício. A beleza não é a negação do feio. A
virtude não tem oposto.
A ganância não pode nunca se tornar não-ganância, assim
como a ignorância não pode se tornar iluminação. Se iluminação é o oposto de
ignorância, então não é mais iluminação.
Ganância é ainda ganância quando tenta
se tornar não-ganância, porque o próprio tornar-se é ganância.
O conflito dos
opostos não é o conflito de diferentes, mas de desejos em mudança e oposição.
O
conflito só existe quando o que é, não é compreendido. Se pudermos compreender o
que é, então não existe o conflito do seu oposto.
O que é, só pode ser compreendido
pela consciencialização sem escolha na qual não há condenação, justificação, nem
identificação.”
Jiddu Krishnamurti
DA VIRTUDE AMESQUINHADORA
I
Quando Zaratustra chegou à terra firme não foi logo directo à
sua montanha e à sua caverna, mas deu muitas voltas e fez muitas perguntas para
se informar duma porção de coisas; e dizia de si para consigo, gracejando: `Eis
aqui um rio que, por mil voltas, retrocede à sua nascente!´.
Que ele queria
saber o que fora feito do homem durante a sua ausência: se se tornara maior ou
mais pequeno. E um dia divisou uma fileira de casas novas; admirado, disse: `Que significam aquelas casas? Em verdade, nenhuma alma grande as edificou como
símbolo de si mesma. Tirá-las-ia da sua caixa de brinquedos algum rapazinho
idiota? Pois torne-as a meter na caixa outro rapazinho! E aqueles aposentos e
desvãos! Poderão ali entrar e sair homens? Parecem-me feitos para bichos de
sedas ou para gatos gulosos, que talvez se deixam também comer´.
E Zaratustra
ficou-se a reflectir. Por fim disse com tristeza: `Tudo se tornou pequeno!´. Por
toda a parte vejo portas mais baixas; aquele que é da minha espécie ainda poderá
talvez passar por elas, mas tem que se agachar! Ó! quando tornarei para a minha
pátria onde já não terei que me curvar... ante os pequenos?
E Zaratustra
suspirou e olhou ao longe. Nesse mesmo dia pronunciou o seu discurso sobre a
virtude amesquinhadora.
II
`Passo pelo meio deste povo e abro os olhos; esta gente não
me perdoa que eu lhe não inveje as virtudes. Querem morder-me por eu lhes dizer
que as pessoas pequenas necessitam pequenas virtudes, e porque me é difícil
conceber que sejam, necessárias as pessoas pequenas. Estou aqui como galo em
terreiro estranho, que até as galinhas lhe querem picar; mas eu nem por isso
conservo rancor a tais galinhas. Sou indulgente com elas como com a pequena
moléstia; ser espinhosos para com os pequenos parece-me um proceder digno de
ouriços.
Todos falam de mim quando estão sentados à noite à roda do lar; falam
de mim, mas ninguém pensa em mim. Eis o novo silêncio que aprendi a conhecer; o
rumor que fazem à minha roda, estende-me um manto sobre os pensamentos. Eles
vociferam: `Que nos quer esta sombria nuvem? Andemos com cautela, não nos traga
alguma epidemia!´.
E ultimamente uma mulher puxou pelo filho que se queria
aproximar de mim, e gritou: `Afastai as crianças! Olhos daqueles queimam as
almas das crianças!´. Quando eu falo, fogem, julgam que a tosse é uma objecção
contra os ventos rijos: nada conjecturam do sussurro da minha felicidade.
`Ainda não temos tempo para Zaratustra´.
Tal é a sua objecção. Mas, que
importa um tempo que `não tem tempo´ para Zaratustra? Ainda que me
glorificassem, como poderia adormecer aos seus louvores? O seu elogio é para
mim um cinturão de espinhos: mortifica-me mesmo depois de o tirar. E também
aprendi isto entre eles: o que elogia como que entrega, mas em rigor quer que
se lhe dê mais.
Perguntai ao meu pé se lhe agrada essa maneira de elogiar e de
atrair! Verdadeiramente não quer bailar nem estar quieto a esse som e compasso.
Procuram elogiar-me a sua modesta virtude e atrair-me para ela; quiseram arrastar
o meu pé ao som da modesta felicidade. Eu passo pelo meio do povo e abro os
olhos: amesquinharam-me e continuam a amesquinhar-se.
Deve-se isto à sua
doutrina da felicidade e da virtude. É que também são modestos na sua virtude,
porque querem ter as suas conveniências, e só uma virtude modesta se conforma
com as conveniências.
Aprendem também a andar a seu modo e andar para adiante:
a isto chamo eu ir coxeando. São assim um obstáculo a todos que andam depressa.
E há quem caminhe para a frente, a olhar para trás e com o pescoço estendido;
de boa vontade disputaria com semelhantes corpos. Os pés, os olhos não devem
mentir nem desmentir; mas entre as pessoas pequenas há muitas mentiras.
Alguns
deles querem, mas na maioria apenas são queridos. Alguns são sinceros, mas o
mais deles são maus cómicos. Há entre eles cómicos sem o saber e cómicos sem
querer; os sinceros são sempre raros, principalmente os cómicos sinceros.
Escasseia o varonil: por isso as mulheres se masculinizam. Que só o que for
homem bastante emancipará na mulher... a mulher. Eis a pior das hipocrisias que
tenho encontrado entre os homens: até os que mandam fingem as virtudes dos que
obedecem.
`Eu sirvo, tu serves, nós servimos´, assim salmodeia também aqui a
hipocrisia dos governantes. E ai quando o primeiro amo não é mais do que o
primeiro servidor! O meu olhar curioso deteve-se também na sua hipocrisia, e
adivinhou a sua felicidade de moscas e seu zumbido à roda das vidraças
assoalhadas.
Toda a bondade que vejo é pura fraqueza, toda a justiça e piedade,
fraqueza pura. São correctos, leais e benévolos uns para com os outros, como são
correctos, leais e benévolos entre si os grãos da areia. Abraçar modestamente
uma pequena felicidade é o que chamam `resignação´! e ao mesmo tempo olham de
soslaio modestamente para outra pequena felicidade.
No fundo da sua
simplicidade só têm um desejo: que ninguém os prejudique. Por isso são amáveis
com todos e praticam o bem. Isto, porém, é covardia, conquanto se chame `virtude´.
E quando a esses mesquinhos lhes sucede falar com rudeza, eu na sua voz só ouço
a farfalheira, porque toda a rajada de vento os enrouquece! São hábeis; as suas
virtudes têm dedos hábeis; mas faltam-lhes os pulsos; os seus dedos não sabem
desaparecer por detrás dos pulsos.
Para eles, o que modera e domestica é a
virtude; assim fizeram do lobo um cão e do próprio homem o melhor animal
doméstico do homem.
`Nós colocamos a nossa caldeira mesmo no meio, assim me
confessa o seu sorriso, a igual distância dos gladiadores moribundos e dos
imundos suínos´. Isto, porém, é mediocridade, embora lhe chamem moderação.
III
Passo por entre este povo e deixo cair muitas palavras; mas
não sabem receber nem aprender. Assombram-se de eu não vir anatematizar os
apetites e os vícios, e na verdade, também não vim para pôr de sobre-aviso
contra os ladrões.
Admiram-se de eu não estar pronto a afinar e aguçar-lhe a
subtileza: como se não tivessem ainda bastante sábios subtis, cujas vozes chiam
aos meus ouvidos como rodas a que falta óleo.
E quando grito: `Maldizei todos
os demónios covardes que há em vós e quereriam gemer, cruzar as mãos e adorar´,
então eles clamam: `Zaratustra é ímpio´. E os seus pregadores de resignação são
os que mais vociferam, mas é justamente a esses que me apraz gritar ao ouvido: `Sim! Eu sou Zaratustra o ímpio!´.
Os pregadores de resignação! Onde quer que
haja ruindade, enfermidade e tinha, arrastam-se como piolhos e só por nojo os
não esmago! Pois bem! Eis o sermão que lhes prego ao ouvido: eu sou Zaratustra,
o ímpio que diz: `Quem há mais ímpio de que eu, para me regozijar com a sua
ensinança?´. Eu sou Zaratustra, o ímpio: aonde encontrarei semelhantes meus?
Semelhantes meus são todos os que se dão a si próprios, à sua vontade se
desprendem de toda a resignação.
Eu sou Zaratustra, o ímpio; no meu caldeirão
cozo todos os sucessos; e só quando estão em ponto é que lhes dou as
boas-vindas como sustento meu. E mais de um acidente se me aproximou com ares
de senhor; mas a minha vontade falou-lhe de uma maneira ainda mais dominante, e
logo se me ajoelhou aos pés, suplicando-me lhe desse asilo e acolhesse
cordialmente, dizendo em tom adulador: `Olha Zaratustra: só um amigo pode
aproximar-se assim de um amigo!´.
A quem falar, porém, quando ninguém tem os
meus ouvidos? Por isso quero gritar a todos os ventos: Gente mesquinha, cada
vez vos amesquinhais mais! Gente acomodatícia, estai-vos esmigalhando! E
acabareis por irdes a pique com a vossa infinidade de minguadas virtudes,
minguadas comissões e de minguada resignação.
O vosso solo é demasiado fofo e
mole! E para uma árvore se tornar grande tem que se abraçar a duras rochas com
duras raízes.
Até o que omitís a tecer a teia do futuro dos homens, até o vosso
nada é uma teia de aranha e uma aranha que vive o sangue do futuro. E quando
recebeis é como se furtásseis, mesquinhos e virtuosos; até entre ladrões,
contudo, diz a honra: `Só se deve furtar onde não se pode saquear´. Isto dá-se:
tal é também uma doutrina de resignação; mas eu vos digo, a vós que amais as
vossas comodidades: isto toma-se e tomar-se-á sempre ainda mais de vós. Ai! se
não acabardes de uma vez com essa vontade a meias! Não saberdes ser decididos
tanto para a preguiça como para a acção! Ai! se não compreenderdes estas palavras
minhas: `Fazei sempre o que quiserdes; mas sede desde logo daqueles que podem
querer!´.
`Amais sempre o vosso próximo como a vós mesmos: mas sede desde logo
dos que se amam a si mesmos, dos que se amam com grande desdém´.
Assim falava
Zaratustra, o ímpio.
`Mas, para que falar, quando ninguém tem os meus ouvidos?
Ainda é hora demasiada matutina para mim. Eu sou entre esta gente o meu próprio
precursor, o meu próprio canto de galo nas ruas escuras. Chega, porém, a sua
hora! Chega também a minha! A cada hora se tornam mais pequenos, mais pobres,
mais estéreis: pobre erva! pobre terra! Breve estarão na minha frente como erva
seca, como uma estepe, e verdadeiramente fatigados de si mesmos, e mais
sedentos de fogo que de água!
Ó! bendita a hora do raio!
Ó! mistério dantes do
meio-dia! Há de chegar a vez de eu os converter em corrente de fogo e em
profetas de línguas de chamas. Até profetizarão com línguas de chamas: já vem,
já se aproxima o Grande Meio-dia!´.
Assim falava Zaratustra.”
Friedrich Nietzsche
"Assim falou Zaratustra"
t.
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