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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ab initio..


















Ab initio...

































A indagação 
das causas 
e dos princípios





Visto que esta ciência (a filosofia) é o objecto das nossas indagações, examinemos de que causas e de que princípios se ocupa a filosofia como ciência, questão que se tomará muito mais clara se examinarmos as diversas ideias que formamos do filósofo.
Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem contudo possuir a ciência de cada uma delas em particular.
Em seguida, àquele que pode alcançar o conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves dificuldades, não lhe chamaremos filósofo?
De facto, conhecer pelos sentidos é uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em nada tem de filosófico.
Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros em todas as ciências.
E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma, só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus resultados, assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se encontra subordinada a qualquer outra. 
Não, o filósofo não deve receber leis, mas sim dá-las, nem é necessário que obedeça a outrem, mas deve obedecer-lhe o que seja menos filósofo.
(...)
Pois bem: o filósofo que possuir perfeitamente a ciência do geral tem necessariamente a ciência de todas as coisas, porque um homem em tais circunstâncias sabe, de certo modo, tudo quanto está compreendido sob o geral.
Todavia, pode dizer-se também que se toma muito difícil ao homem alçar-se aos conhecimentos mais gerais, as coisas que são seus objectos como que estão mais distantes do alcance dos sentidos. 
(...)
De tudo quanto dissemos sobre a própria ciência resulta a definição da filosofia que procuramos.
É imprescindível que seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque uma das causas é o bem, a razão final. 
E que não é uma ciência prática, prova-o o exemplo dos que primeiramente filosofaram.
O que, a princípio, levou os homens a fazerem as primeiras indagações filosóficas foi, como é hoje, a admiração.
Entre os objectos que admiravam e que não podiam explicar, aplicaram-se primeiro aos que se encontravam ao seu alcance, depois, passo a passo, quiseram explicar os fenómenos mais importantes, por exemplo, as diversas fases da Lua, o trajecto do Sol e dos astros, e finalmente, a formação do universo.
Ir à procura duma explicação e admirar-se é reconhecer que se ignora.
(...)
Portanto, se os primeiros filósofos filosofaram para se libertarem da ignorância, é evidente que se consagraram à ciência para saber, e não com vista à utilidade. 




Aristóteles
“Metafísica”





























































































































Tito Colaço
IX _ XII _ MMXIV


















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