Me...
Hoje tomei a decisão
de ser Eu
Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do
meu mister, e por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia
sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha
viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina
consciência da minha Missão.
Hoje só me quero tal e qual o meu carácter nato quer que eu
seja, e o meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma.
Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores.
A superioridade não se mascara de palhaço, é de renúncia e de
silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto.
Reconheci, ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e
infantil de “lançar o Interseccionismo”, a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez.
Nasci.
Fernando Pessoa
“Páginas íntimas e de
auto-interpretação”
Tito Colaço
X _ XII _ MMXIV
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