The hypocrisy...
The
hypocrisy...
The hypocrisy...
O sofrimento
do hipócrita
Ter mentido é ter sofrido. O hipócrita é um
paciente na dupla acepção da palavra, calcula um triunfo e sofre um suplício.
A premeditação indefinida de uma acção ruim,
acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente
reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma
fadiga.
Compor a candura com todos os elementos
negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar,
reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o
rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma
perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, pôr açúcar no veneno,
velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada
mais difícil, nada mais doloroso.
O odioso da hipocrisia começa obscuramente no
hipócrita.
Causa náuseas beber perpétuamente a
impostura.
A meiguice com que a astúcia disfarça a
malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na
boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento.
Engolir essa saliva é coisa horrível.
Ajuntai
a isto o profundo orgulho.
Existem horas estranhas em que o hipócrita se
estima.
Há um “eu“ desmedido no impostor.
0 verme resvala como o dragão e como ele
retesa-se e levanta-se.
O traidor não é mais que um déspota tolhido
que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel.
É a mesquinhez capaz da enormidade.
O
hipócrita é um titã-anão.
Victor Hugo
"Os trabalhadores do mar"
Tito Colaço
XXIII _ XII _ MMXIV
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