Dangerous
convictions...
A convicção
é sempre cega
O intelecto humano, quando assente numa convicção (ou por já bem
aceite e acreditada porque o agrada), tudo arrasta para seu apoio e acordo.
E
ainda que em maior número, não observa a força das instâncias contrárias,
despreza-as, ou, recorrendo a distinções, põe-nas de parte e rejeita, não sem
grande e pernicioso prejuízo.
Graças a isso, a autoridade daquelas primeiras
afirmações permanece inviolada.
E bem se houve aquele que, ante um quadro
pendurado no templo, como ex-voto dos que se salvaram dos perigos de um
naufrágio, instado a dizer se ainda se recusava a aí reconhecer a providência
dos deuses, indagou por sua vez:"E onde estão pintados aqueles que, a despeito
do seu voto, pereceram?".
Essa é a base de praticamente toda a superstição,
trate-se de astrologia, interpretação de sonhos, augúrios e que tais:
encantados, os homens, com tal sorte de quimeras, marcam os eventos em que a
predição se cumpre, quando falha, o que é bem mais frequente, negligenciam-nos e passam adiante.
Esse mal insinua-se de maneira muito mais subtil na filosofia e
nas ciências.
Nestas, o de início aceite tudo impregna e reduz o que se segue,
até quando parece mais firme e aceitável.
Mais ainda: mesmo não estando
presentes essa complacência e falta de fundamento a que nos referimos, o
intelecto humano tem o erro peculiar e perpétuo de mais se mover e excitar
pelos eventos afirmativos que pelos negativos, quando deveria rigorosa e
sistematicamente atentar para ambos.
Vamos mais longe: na constituição de todo
o axioma verdadeiro, têm mais força as instâncias negativas.
Francis Bacon
“Novum organum”
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