Talent is not a
wisdom…
Talent
is not a
wisdom…
Talent is not a
wisdom…
Talento
não é sabedoria
Deixa-me dizer-te francamente o juízo
que eu formo do homem transcendente em génio, em estro, em fogo, em
originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se
detesta, muitas vezes.
O homem de talento é sempre um mau
homem.
Alguns conheço eu que o mundo proclama
virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar.
O talento não é sabedoria. Sabedoria é
o trabalho incessante do espírito sobre a ciência.
O talento é a vibração convulsiva de
espírito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática
pelas regiões incógnitas da ideia.
Agostinho, Fénelon, Madame de Staël e
Bentham são sabedorias.
Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron são
talentos.
Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento?
Essa bela flôr porque tem no seio um espinho envenenado?
Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento?
Essa bela flôr porque tem no seio um espinho envenenado?
Essa esplêndida taça de brilhantes e
ouro porque é que contém o fel, que abrasa os lábios de quem a toca?
Aqui tens
um tema para trabalhos superiores à cabeça de uma mulher, ainda mesmo reforçada
por duas dúzias de cabeças académicas!
Lembra-me ouvir dizer a um doido que
sofria por ter talento. Pedi-lhe as circunstâncias do seu martírio sublime, e
respondeu-me o seguinte com a mais profunda convicção, e a mais tocante
solenidade filosófica: os talentos são raros, e os estúpidos são muitos.
Os estúpidos guerreiam barbaramente o
talento: são os vândalos do mundo espiritual.
O talento não tem partido nesta peleja
desigual. Foge, dispara na retirada um tiroteio de sarcasmos pungentes, e por
fim, isola-se, segrega-se do contacto do mundo, e curte em silêncio aquele fel
de vingança, que, mais cedo ou mais tarde, cospe na cara de algum inimigo, que
encontra desviado do corpo do exército.
Aí tem a razão por que o homem de
talento é perigoso na sociedade. O ódio inspira-lhe a eloquência da
traição.
Camilo Castelo Branco
“Coisas que só eu sei”
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