Creation...
Creation...
Creation...
O absoluto
do Ser
- Deus não
é bom?
- Não, para falar com propriedade, Deus não é bom: é.
- Não, para falar com propriedade, Deus não é bom: é.
Bom, mau,
são pobres palavras que se aplicam a um conjunto de regras respeitantes a
alguns pormenores da nossa vida material.
Porque é
que Deus seria limitado pelas nossas pobres palavras e valores?
Não, Deus
não é bom.
É mais do
que isso.
É a forma
mais rica, mais completa, mais poderosa do ser, de qualquer maneira.
Torna
concreta a abstracção mesmo da forma do ser.
E penso
que o “envisagement” do ser não podia ser possível se Deus não lhe
tivesse dado anteriormente o seu estado.
Deus é a
criação.
É pois um
princípio inextinguível, não orientado, a própria vida. Lembrem-se das
palavras: “Eu sou Aquele
que sou”.
Nenhuma
outra palavra humana compreendeu e relatou melhor a forma divina.
Intemporal,
não, nem sequer intemporal e infinita. O princípio.
O facto de
que há qualquer coisa no lugar onde não havia nada.
- Mas então, Deus não tem necessidade...
- E até mesmo para lá de toda a expressão.
- Mas então, Deus não tem necessidade...
- E até mesmo para lá de toda a expressão.
Se quiser,
eu sou Deus.
Não há
dúvida a sustentar, pergunta a fazer. Você existe. Portanto é Deus.
Você não
pode existir de outro modo. Se você não fosse Deus, não existiria.
- Um panteísmo, de certa maneira?
- Não, porque não se trata de louvar Deus em todas as coisas. Deus é exterior, e se eu lhe dizia que você é Deus, que eu sou Deus, não era para lhe dar a ideia que, segundo eu, Deus é uma espécie de corpo no interior do qual nós vivemos.
- Um panteísmo, de certa maneira?
- Não, porque não se trata de louvar Deus em todas as coisas. Deus é exterior, e se eu lhe dizia que você é Deus, que eu sou Deus, não era para lhe dar a ideia que, segundo eu, Deus é uma espécie de corpo no interior do qual nós vivemos.
Não, eu
queria apenas insinuar uma espécie de analogia entre as duas palavras da frase,
agir no ser determinando-o, por Deus.
Sendo o
Ser de certa maneira uma dimensão própria, tão relativa mas tão real como o
tempo e o espaço. E Deus sendo o absoluto desta dimensão, como o infinito é o
absoluto do espaço, e o eterno o absoluto do tempo.
De facto,
o absoluto do Ser é também o absoluto do espaço e o absoluto do tempo.
Eis porque
Deus é neste ponto inimaginável para os pobres espíritos dos homens.
J.-M. G. Le Clézio
“A Febre”
Tito
Colaço
VIII _ XII _ MMXIV
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