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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Creation...

















Creation...















Creation...











Creation...





















O absoluto do Ser





- Deus não é bom?
- Não, para falar com propriedade, Deus não é bom: é.
Bom, mau, são pobres palavras que se aplicam a um conjunto de regras respeitantes a alguns pormenores da nossa vida material.
Porque é que Deus seria limitado pelas nossas pobres palavras e valores?
Não, Deus não é bom.
É mais do que isso.
É a forma mais rica, mais completa, mais poderosa do ser, de qualquer maneira.
Torna concreta a abstracção mesmo da forma do ser.
E penso que o “envisagement” do ser não podia ser possível se Deus não lhe tivesse dado anteriormente o seu estado.
Deus é a criação.
É pois um princípio inextinguível, não orientado, a própria vida. Lembrem-se das palavras: “Eu sou Aquele que sou”.
Nenhuma outra palavra humana compreendeu e relatou melhor a forma divina.
Intemporal, não, nem sequer intemporal e infinita. O princípio.
O facto de que há qualquer coisa no lugar onde não havia nada.
- Mas então, Deus não tem necessidade...
- E até mesmo para lá de toda a expressão.
Se quiser, eu sou Deus.
Não há dúvida a sustentar, pergunta a fazer. Você existe. Portanto é Deus.
Você não pode existir de outro modo. Se você não fosse Deus, não existiria.
- Um panteísmo, de certa maneira?
- Não, porque não se trata de louvar Deus em todas as coisas. Deus é exterior, e se eu lhe dizia que você é Deus, que eu sou Deus, não era para lhe dar a ideia que, segundo eu, Deus é uma espécie de corpo no interior do qual nós vivemos.
Não, eu queria apenas insinuar uma espécie de analogia entre as duas palavras da frase, agir no ser determinando-o, por Deus.
Sendo o Ser de certa maneira uma dimensão própria, tão relativa mas tão real como o tempo e o espaço. E Deus sendo o absoluto desta dimensão, como o infinito é o absoluto do espaço, e o eterno o absoluto do tempo.
De facto, o absoluto do Ser é também o absoluto do espaço e o absoluto do tempo.
Eis porque Deus é neste ponto inimaginável para os pobres espíritos dos homens.




J.-M. G. Le Clézio
“A Febre”



























































































































Tito Colaço
VIII _ XII _ MMXIV



























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