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Macbeth´s world...
Ambição
e Poder
Examinemo-nos
no momento em que a ambição nos trabalha, em que lhe sofremos a febre, dissequemos
em seguida os nossos “acessos”. Verificaremos que estes são precedidos de
sintomas curiosos, de um calor especial, que não deixa nem de nos arrastar nem
de nos alarmar. Intoxicados de porvir por abuso de esperança, sentimo-nos de
súbito responsáveis pelo presente e pelo futuro, no núcleo da duração,
carregada esta dos nossos frémitos, com a qual, agentes de uma anarquia
universal, sonhamos explodir. Atentos aos acontecimentos que se passam no nosso
cérebro e às vicissitudes do nosso sangue, virados para o que nos altera,
espiamos-lhe e acarinhamos-lhe os sinais. Fonte de perturbações, de transtornos
ímpares, a loucura política, se afoga a inteligência, favorece em contrapartida
os instintos e mergulha-os num caos salutar.
A
ideia do bem e sobretudo do mal que imaginamos ser capazes de cumprir regozijar-nos-á
e exaltar-nos-á, e o feito das nossas enfermidades, o seu prodígio, será tal
que elas nos instituirão senhores de todos e de tudo.
À
nossa volta, observaremos uma alteração análoga naqueles que a mesma paixão
corrói.
Enquanto
sofrerem o seu império, serão irreconhecíveis, presas de uma embriaguez
diferente de todas as outras. Tudo mudará neles, até o timbre da voz.
A
ambição é uma droga que faz um demente em potência daquele que se lhe entrega.
Esses estigmas, esse ar de fera desvairada, essas linhas inquietas, e como que
animadas por um êxtase sórdido, quem não os tiver observado nem em si próprio
nem em outrem permanecerá estranho aos malefícios e aos benefícios do Poder,
inferno tónico, síntese de veneno e de panaceia.
Emil Cioran
“História
e utopia”
Tito Colaço
VIII _ XII _ MMXIV
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