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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Psychological safety...







Psychological safety...
















 Psychological safety... 























Psychological safety...

















    Segurança    
 psicológica 




Disse que tinha examinado a fundo a questão, lera tudo quanto lhe fora possível ler do que já se escreveu sobre a matéria, e estava convencido de que havia mestres, em diferentes partes do mundo.
Não se mostravam fisicamente, a não ser aos seus discípulos privilegiados, mas estavam em comunicação com outros homens, por outros meios.
Exerciam uma influência benéfica e guiavam os líderes do pensamento e da acção mundiais, embora esses líderes não o percebessem, e promoviam a revolução e a paz.
Estava convencido, e disse, que cada continente tinha um grupo de mestres, moldando o seu destino e dando-lhe as suas bênçãos.
Já conhecera vários discípulos de mestres, pelo menos estes lhe haviam dito que o eram, acrescentou cautelosamente.
Falava com toda a seriedade, e desejava mais informações a respeito dos mestres.
Era possível ter conhecimento directo deles, contacto directo com eles?
Como estava tranquilo o rio!
Dois alciões pequenos e brilhantes voavam, rio acima e rio abaixo, perto da margem, quase à flôr da água.
Algumas abelhas apanhavam água para as suas colmeias, e um barco de pesca estava ancorado no meio do rio.
As árvores marginais formavam com as suas opulentas frondes sombras densas e escuras. Nos campos, os arrozais novos eram de um verde muito vivo, e bandos de pássaros brancos esvoaçavam no meio deles, chamando uns aos outros.
Era uma cena muito pacífica e fazia pena ter de conversar a respeito dos nossos insignificantes problemas.
O céu tinha aquele azul terno do anoitecer.
As cidades ruidosas estavam muito longe. Havia uma aldeia do outro lado do rio, e um caminho sinuoso acompanhava a margem.
Um menino cantava com voz clara e alta, que não perturbava a tranquilidade daquelas paragens.
Somos estranhas criaturas, peregrinamos a lugares distantes, procurando uma coisa que está tão perto de nós.
Pensamos que a beleza só pode estar naqueles lugares, jamais aqui, a Verdade nunca se acha nas nossas casas, mas em alguma paragem remota.
Viajamos até ao outro lado do mundo à procura do mestre, e não damos atenção ao nosso empregado doméstico, não compreendemos as coisas triviais da vida, as nossas alegrias e lutas quotidianas, e queremos compreender o misterioso e oculto.
Não conhecemos a nós mesmos, mas estamos dispostos a servir e a seguir todo aquele que nos prometa uma recompensa, uma esperança, uma Utopia.
Enquanto estivermos confusos, o que escolhermos tem de ser também confuso.
Não podemos ver claramente, quando somos meio-cegos, o que vemos então só pode ser parcial: não real, portanto.
Sabemos de tudo isso, e no entanto, os nossos desejos e anseios são tão fortes que nos impelem para ilusões e sofrimentos sem fim.
A crença no mestre cria o mestre, e a experiência é moldada pela crença.
A crença em determinado padrão de acção ou determinada ideologia produz aquilo que ansiosamente desejamos, mas a que preço e à custa de quanto sofrimento!
Nas mãos de um indivíduo de capacidade, a crença se torna uma coisa potente, uma arma mais perigosa do que um canhão.
Para a maioria de nós, a crença tem mais significado do que a Realidade.
Para a compreensão do que é, não há necessidade de crença, pelo contrário, a crença, a ideia, o preconceito constitui um positivo empecilho à compreensão.
Mas nós preferimos as nossas crenças e dogmas, estes nos aquecem, nos dão promessas e estimulam.
Se compreendêssemos a natureza das nossas crenças e a razão porque a elas nos apegamos, desapareceria uma das causas principais do antagonismo.
O desejo de ganho, em benefício próprio ou de um grupo, conduz à ignorância e à ilusão, à destruição e ao sofrimento.
Este desejo não é apenas de confortos físicos cada vez maiores, mas também de poder: o poder do dinheiro, do saber, da identificação.
A ânsia de “mais”, é o começo do conflito e do sofrimento.
Procuramos fugir do sofrimento através de ilusões de toda a ordem, repressão, substituição, sublimação, entretanto, o anseio continua, porventura num nível diferente.
O anseio, em qualquer nível que seja, é sempre conflito e dôr.
Um dos mais fáceis meios de fuga é o guru, o mestre.
Uns fogem através de alguma ideologia política e suas respectivas actividades, outros, através das sensações dos rituais e da disciplina, outros ainda, através do mestre.
O meio de fuga, se torna então, importantíssimo, e o medo e a obstinação protegem o meio.
Não importa então quem sois vós, o mestre é que é importante.
Sois importante apenas, como acólito, o que quer que isto signifique, ou como discípulo. Para vos tornardes um destes, tendes de fazer certas coisas, ajustar-vos a determinados padrões, submeter-vos a certas provações.
Estais pronto a fazer tudo isso e mais alguma coisa, porque a identificação vos dá prazer e força.
Em nome do mestre, o prazer e o poder se tornaram coisas respeitáveis.
Já não estais só, confuso e desorientado, pertenceis a ele, ao partido, à ideia.
Estais em segurança.
Afinal, é isto mesmo o que quase todos queremos: estar a salvo, em segurança.
Estar perdido em companhia de muitos é uma forma de segurança psicológica, estar identificado com um grupo, uma ideia, secular ou espiritual, é sentir-se em segurança.
Por esta razão, a maior parte de nós está apegada ao nacionalismo, embora este traga dia-a-dia mais destruição e sofrimentos.
É por esta razão que a religião organizada, embora dividindo e gerando antagonismo, tem um domínio tão poderoso sobre as pessoas.
A ânsia de segurança individual ou colectiva acarreta destruição, e estar em segurança psicologicamente gera a ilusão.
A nossa vida assim, é ilusão e sofrimento, com raros momentos de claridade e alegria, e por isso aceitamos qualquer coisa que nos prometa um porto de salvação.
Alguns, percebendo a futilidade das utopias políticas, se tornam religiosos, o que significa encontrar a segurança e a esperança nos mestres, nos dogmas e ideias.
Visto que a crença molda a experiência, o mestre se converte numa realidade incontestável.
Depois de experimentar o prazer proporcionado pela identificação, a mente fica firmemente entrincheirada, e nada pode abalá-la, pois o seu critério, a sua medida é a experiência.
A experiência, porém, não é a realidade.
A Realidade não pode ser experimentada. Esta “é”.
Se o experimentador pensa conhecer a realidade, então o que ele conhece é só ilusão.
Qualquer conhecimento da realidade é ilusão.
O conhecimento ou a experiência tem de cessar para que se possa manifestar a realidade.
A experiência não se pode encontrar com a realidade.
A experiência molda o conhecimento, e este põe a experiência ao seu serviço.
Ambos devem cessar, para que a realidade possa ser.





Jiddu Krishnamurti
“Comentários sobre o viver”
















































































































































Tito Colaço
VIII _ XII _ MMXIV
























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