Psychological safety...
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Psychological safety...
Segurança
psicológica
Disse que
tinha examinado a fundo a questão, lera tudo quanto lhe fora possível ler do
que já se escreveu sobre a matéria, e estava convencido de que havia mestres,
em diferentes partes do mundo.
Não se
mostravam fisicamente, a não ser aos seus discípulos privilegiados, mas estavam
em comunicação com outros homens, por outros meios.
Exerciam
uma influência benéfica e guiavam os líderes do pensamento e da acção mundiais,
embora esses líderes não o percebessem, e promoviam a revolução e a paz.
Estava
convencido, e disse, que cada continente tinha um grupo de mestres, moldando o
seu destino e dando-lhe as suas bênçãos.
Já
conhecera vários discípulos de mestres, pelo menos estes lhe haviam dito que o
eram, acrescentou cautelosamente.
Falava
com toda a seriedade, e desejava mais informações a respeito dos mestres.
Era
possível ter conhecimento directo deles, contacto directo com eles?
Como
estava tranquilo o rio!
Dois
alciões pequenos e brilhantes voavam, rio acima e rio abaixo, perto da margem,
quase à flôr da água.
Algumas
abelhas apanhavam água para as suas colmeias, e um barco de pesca estava
ancorado no meio do rio.
As árvores
marginais formavam com as suas opulentas frondes sombras densas e escuras. Nos
campos, os arrozais novos eram de um verde muito vivo, e bandos de pássaros
brancos esvoaçavam no meio deles, chamando uns aos outros.
Era
uma cena muito pacífica e fazia pena ter de conversar a respeito dos nossos
insignificantes problemas.
O céu
tinha aquele azul terno do anoitecer.
As
cidades ruidosas estavam muito longe. Havia uma aldeia do outro lado do rio, e
um caminho sinuoso acompanhava a margem.
Um
menino cantava com voz clara e alta, que não perturbava a tranquilidade
daquelas paragens.
Somos
estranhas criaturas, peregrinamos a lugares distantes, procurando uma coisa que
está tão perto de nós.
Pensamos
que a beleza só pode estar naqueles lugares, jamais aqui, a Verdade nunca se acha
nas nossas casas, mas em alguma paragem remota.
Viajamos
até ao outro lado do mundo à procura do mestre, e não damos atenção ao nosso
empregado doméstico, não compreendemos as coisas triviais da vida, as nossas alegrias
e lutas quotidianas, e queremos compreender o misterioso e oculto.
Não
conhecemos a nós mesmos, mas estamos dispostos a servir e a seguir todo aquele
que nos prometa uma recompensa, uma esperança, uma Utopia.
Enquanto
estivermos confusos, o que escolhermos tem de ser também confuso.
Não
podemos ver claramente, quando somos meio-cegos, o que vemos então só pode ser
parcial: não real, portanto.
Sabemos
de tudo isso, e no entanto, os nossos desejos e anseios são tão fortes que nos
impelem para ilusões e sofrimentos sem fim.
A
crença no mestre cria o mestre, e a experiência é moldada pela crença.
A
crença em determinado padrão de acção ou determinada ideologia produz aquilo
que ansiosamente desejamos, mas a que preço e à custa de quanto sofrimento!
Nas
mãos de um indivíduo de capacidade, a crença se torna uma coisa potente, uma
arma mais perigosa do que um canhão.
Para a
maioria de nós, a crença tem mais significado do que a Realidade.
Para a
compreensão do que é, não há necessidade de crença, pelo contrário, a crença, a
ideia, o preconceito constitui um positivo empecilho à compreensão.
Mas
nós preferimos as nossas crenças e dogmas, estes nos aquecem, nos dão promessas
e estimulam.
Se
compreendêssemos a natureza das nossas crenças e a razão porque a elas nos
apegamos, desapareceria uma das causas principais do antagonismo.
O
desejo de ganho, em benefício próprio ou de um grupo, conduz à ignorância e à
ilusão, à destruição e ao sofrimento.
Este
desejo não é apenas de confortos físicos cada vez maiores, mas também de poder:
o poder do dinheiro, do saber, da identificação.
A ânsia
de “mais”, é o começo do conflito e do sofrimento.
Procuramos
fugir do sofrimento através de ilusões de toda a ordem, repressão, substituição,
sublimação, entretanto, o anseio continua, porventura num nível diferente.
O
anseio, em qualquer nível que seja, é sempre conflito e dôr.
Um dos
mais fáceis meios de fuga é o guru, o mestre.
Uns
fogem através de alguma ideologia política e suas respectivas actividades, outros,
através das sensações dos rituais e da disciplina, outros ainda, através do
mestre.
O meio
de fuga, se torna então, importantíssimo, e o medo e a obstinação protegem o
meio.
Não
importa então quem sois vós, o mestre é que é importante.
Sois
importante apenas, como acólito, o que quer que isto signifique, ou como discípulo.
Para vos tornardes um destes, tendes de fazer certas coisas, ajustar-vos a
determinados padrões, submeter-vos a certas provações.
Estais
pronto a fazer tudo isso e mais alguma coisa, porque a identificação vos dá
prazer e força.
Em
nome do mestre, o prazer e o poder se tornaram coisas respeitáveis.
Já não
estais só, confuso e desorientado, pertenceis a ele, ao partido, à ideia.
Estais
em segurança.
Afinal,
é isto mesmo o que quase todos queremos: estar a salvo, em segurança.
Estar perdido
em companhia de muitos é uma forma de segurança psicológica, estar identificado
com um grupo, uma ideia, secular ou espiritual, é sentir-se em segurança.
Por
esta razão, a maior parte de nós está apegada ao nacionalismo, embora este
traga dia-a-dia mais destruição e sofrimentos.
É por
esta razão que a religião organizada, embora dividindo e gerando antagonismo,
tem um domínio tão poderoso sobre as pessoas.
A
ânsia de segurança individual ou colectiva acarreta destruição, e estar em
segurança psicologicamente gera a ilusão.
A
nossa vida assim, é ilusão e sofrimento, com raros momentos de claridade e
alegria, e por isso aceitamos qualquer coisa que nos prometa um porto de
salvação.
Alguns,
percebendo a futilidade das utopias políticas, se tornam religiosos, o que
significa encontrar a segurança e a esperança nos mestres, nos dogmas e ideias.
Visto
que a crença molda a experiência, o mestre se converte numa realidade
incontestável.
Depois
de experimentar o prazer proporcionado pela identificação, a mente fica
firmemente entrincheirada, e nada pode abalá-la, pois o seu critério, a sua
medida é a experiência.
A
experiência, porém, não é a realidade.
A
Realidade não pode ser experimentada. Esta “é”.
Se o
experimentador pensa conhecer a realidade, então o que ele conhece é só ilusão.
Qualquer
conhecimento da realidade é ilusão.
O
conhecimento ou a experiência tem de cessar para que se possa manifestar a realidade.
A
experiência não se pode encontrar com a realidade.
A
experiência molda o conhecimento, e este põe a experiência ao seu serviço.
Ambos devem
cessar, para que a realidade possa ser.
Jiddu Krishnamurti
“Comentários sobre o viver”
Tito Colaço
VIII _ XII _ MMXIV
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